Marinette ficou esperando o melhor momento para dar o cachecol e as luvas para Adrien durante a aula, mas cada vez que tentava falar com ele, algo acontecia. Pensou que talvez fosse um sinal dizendo que aquela não era a hora certa.

"Até eu já estou ficando nervosa com essa sacola, Marinette." Alya chamou atenção da amiga depois da quarta vez que via Mari guardar a sacola embaixo da classe.

"Não posso fazer nada, Alya! Parece que sempre acontece alguma coisa e eu não consigo nem chegar perto dele." Marinette jogou os braços sobre a classe, sentindo-se derrotada. O sinal para o intervalo havia soado e Adrien estava chamando Nino para ir com ele até a cafeteria.

"Eu vou dar um jeito nisso!" Alya levantou-se da classe "Nino, será que você pode esperar um pouco? Preciso falar com você." sorriu sem graça, empurrando a Marinette "A Marinette pode ir com você até a cafeteria, né Adrien?"

Marinette olhou para Alya com os olhos arregalados, mas a amiga piscou de volta. De onde, estava, parado à porta, Adrien não respondeu. Apenas baixou a cabeça e esperou que Marinette lhe alcançasse. Os dois então saíram da sala e foram andando até a cafeteria.

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O silêncio havia se tornado tão constrangedor que era quase como se uma bolha circundasse os dois. Adrien de vez em quando olhava para Marinette com o canto dos olhos, mas voltava a olhar para a frente em seguida. Marinette fazia o mesmo. Em nenhum momento os olhos dos dois se encontraram. Ambos estavam plenamente conscientes da presença do outro a seu lado.

Adrien pensava em como começar uma conversa. Tinha medo de falar algo e pressionar Marinette, ou pior, dar a entender que ele suspeitava fortemente que ela era a Ladybug. Uma frase errada e colocaria tudo a perder. Torceu para que ela puxasse assunto, assim seria mais fácil e menos arriscado.

Marinette não sabia o que falar. Ficara tão sem jeito na hora de sair da sala que esquecera a sacola embaixo da cadeira. Quanta ironia, logo a bendita sacola que ela tentara dar uma meia dúzia de vezes para ele entre os períodos de aula estava lá agora, longe dos dois. Agora ali, ao lado dele, parecia que não era mais uma boa ideia devolver a sacola. Perdera completamente a confiança. Mal sabia o que falar. Torceu para que ele puxasse assunto, assim ela teria menos chance de passar vergonha.

E assim ficaram, um esperando que o outro puxasse conversa primeiro. Quando chegaram na cafeteria, nenhuma palavra ainda tinha sido dita por qualquer um deles.

Os dois se aproximaram do balcão lotado de alunos que brigavam por um espaço. O caos era familiar. As mãos estavam no ar segurando notas de dinheiro e os gritos, cada qual mais alto que o outro, competindo para quem seria atendido primeiro.

Adrien sentia a cabeça latejar com a gritaria, mas ao seu lado Marinette apenas observava o garoto de cenho franzido com o dinheiro na mão. Ele não parecia muito saber como fazer aquilo.

"Eu juro que o Nino já me ensinou vinte vezes como fazer isso, mas na hora que eu chego aqui nunca consigo" ele sorria sem graça olhando para o balcão e as pessoas empurrando-o para pegar seus lanches. Adrien parecia perdido, quase que deslocado, em um mundo que fazia parte há pouco tempo e ainda estava tentando entender como funcionava. Marinette sentiu o canto dos lábios repuxar em sinal de determinação e pegou a nota da mão de Adrien.

"Mas o quê-" ele começou.

"O que você quer beber?" ela perguntou sem hesitar, olhando-o nos olhos, e Adrien ergueu uma sobrancelha sem entender "Me diz." ela insistiu, e o garoto disse 'Café' num ar incrédulo.

"Deixa comigo." Marinette falou em um segundo, e no próximo já não estava mais ali.

Ela aproveitou-se do fato de ser baixinha para entrar por baixo dos braços das pessoas amontoadas, esgueirando-se em cada canto que via, e chegando ao balcão. Fez o pedido, pegou o café, conferiu o troco e voltou para Adrien com um ar triunfante no rosto, avistando o garoto que a olhou com um sorriso de parabenização. Distraída, não viu um garoto que andava de costas em sua direção, sentindo tarde demais o impacto que a fez perder o equilíbrio e derramar o café quente sobre o próprio braço. Sentiu a pele queimar, encolhendo o corpo com a sensação, mas não largando o copo de café. Viu Adrien correndo na sua direção.

"Marinette, você tá bem?" Adrien baixou os olhos até o copo que ela segurava e viu a pele do braço de Marinette começar a ficar vermelha sob o café derramado. "Ah não." Sentiu uma raiva imensa tomar conta de si e ergueu os olhos para procurar quem havia tropeçado nela, mas o garoto já não estava mais ali.

"Tá tudo bem, não precisa se preocupar." Marinette sorriu, alcançando o copo de café e o troco para Adrien. Ela sorria, mas ele conseguia ver a ruga de dor estampada na testa dela.

"Não tá não. Vem, vamos." ele segurou o braço direito de Marinette, e estranhou ao sentir que ela contraiu sob o toque dele. Fechou os olhos e respirou fundo. Provavelmente era um dos ferimentos da luta da noite anterior contra a Fênix.

"Marinette..." Adrien olhava a garota que lhe lançava um olhar apreensivo. As palavras chegaram até a ponta da língua dele, todas ao mesmo tempo.

Por quê?

Por que você não me conta?

Me deixa te ajudar.

Me deixa ficar do seu lado.

Deixa eu te proteger do mundo.

Por favor.

Confia em mim.

Engoliu as palavras e fechou os olhos de novo, suspirando profundamente, sentindo o coração pesar mil toneladas.

"Vem, vamos" no final foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

Eles caminharam até a parte dos fundos do colégio, e perto de uma torneira Mari viu Adrien abaixar-se e ligá-la, olhando para cima "Coloca o braço aqui, vai ajudar."

Marinette abaixou-se devagar, olhando diretamente para o fluxo de água, sentindo as bochechas corarem. No momento em que a água fria tocou sua pele, o alívio foi imediato. Os dois continuaram ali, abaixados, ouvindo o som da água e as vozes dos alunos ao fundo.

Adrien olhava para a pele do antebraço de Marinette que ficava cada vez mais vermelha a cada segundo que passava. Poderia aparecer uma bolha, ou pior, deixar uma cicatriz para o resto da vida. E ele nem sabia o tipo de ferimento que Fênix havia causado, o que ela escondia embaixo da blusa. Devia ser muito pior, e ele não podia nem perguntar, pois sabia que qualquer coisa que ela dissesse seria uma mentira para proteger a própria identidade. Fechou os punhos com força.

"Desculpa." um sussurro saiu dos lábios dele, e Marinette levantou a cabeça rapidamente para olhá-lo. Os olhos de Adrien estavam fixos no braço dela sob a água, e ele se desculpava por milhares de coisas que não conseguia nem enumerar.

"Não, não! Não pede desculpas!" ela sacudia as mãos na direção dele, em sinal negativo "Eu que sou muito desastrada!"

"Mas foi por minha causa que isso aconteceu. E se ficar uma cicatriz?" Adrien levantou a cabeça, e o olhar de desespero dele chocou Marinette. Ele estava mesmo preocupado. Ela respirou fundo e sorriu.

"Se ficar uma cicatriz, eu vou ter que contar para as pessoas sobre a vez em que eu caí de um árvore depois de salvar um gatinho." Adrien fez uma expressão de quem não havia entendido, então ela continuou "Ou da vez em que eu impedi um roubo no supermercado onde eu estava calmamente fazendo compras e levei um tiro de raspão. Ou ainda da vez em que eu ajudei a Ladybug a capturar um akuma." abaixou a cabeça, rindo sem graça enquanto olhava a água sendo sugada pela terra abaixo dos seus pés.

"O que eu quero dizer..." Marinette continuou "...é que eu tô bem. Ser desastrada me fez resistente a muita coisa." ela percebeu que ele ainda estava com o copo meio cheio de café na mão "A-Adrien! O seu café!" ele baixou os olhos, como se estivesse vendo o copo ali pela primeira vez "Deve estar frio" Marinette murmurou franzindo a testa.

"Ah, isso?" ele derramou o café na terra, vendo Marinette entreabrir a boca para dizer algo "Era pra me manter acordado, mas essa aventura toda teve um efeito muito maior sobre o meu sono. Como foi mesmo? Um roubo no supermercado?"

Adrien fitava Marinette admirado. Ela devia estar com tanta dor e ainda assim pensava em como ele se sentia. Sorriu com o pensamento, mas sentiu algo apertar em seu peito. Quantas mentiras mais ela teria que contar enquanto sofresse sozinha em silêncio?

"Adrien?" Marinette chamava pela terceira vez quando ele voltou a si dos pensamentos "Tá tudo bem?"

"Tá sim, só tô um pouco cansado." ele respondeu, coçando o nariz para disfarçar a aflição. Marinette baixou a cabeça, desligando a torneira que ainda corria água sobre o braço queimado. Respirou fundo, juntando então coragem para gaguejar o menos posível.

"Eu s-sei que você teve muito trabalho comigo na noite em que eu estava doente, e ontem..." fez uma longa pausa "Q-quero dizer que eu te devo muito, e se eu estou bem é graças a você, então queria que você soubesse que se tem algo com o que e-eu possa ajudar, q-quer dizer, não quero parecer que estou me intrometendo, e-eu só..." ela parou percebendo que estava perdendo o controle da coerência nas frases.

"Obrigado." ela ouviu a voz de Adrien sair no meio a um sorriso "Eu fico feliz em saber que posso contar com você, Marinette."

O sinal de voltar para a aula soou. Por aquele breve momento, os dois haviam esquecido que ainda estavam no colégio.

"Mais três aulas até o fim do dia com o sono que eu tô? Isso sim que vai ser uma aventura." Adrien falou e os dois se levantaram rindo. Ela não sabia que ele tinha aquele tipo de senso de humor.

Marinette relaxou a expressão no rosto e sorriu abertamente. Aquele sorriso. O mesmo sorriso que havia causado todo aquele tubilhão de emoções estava ali novamente, e as sensações que percorriam o corpo dele eram muito semelhantes às da última vez. Não era coincidência. Nada daquilo era coincidência. Maldito sorriso perfeito. Maldita garota que o fazia perdeer a cabeça. Passou as mãos pelos cabelos, suspirando. Droga. Ele estava mesmo apaixonado por Marinette.