Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 15
Capítulo 15 - Chamas


Notas iniciais do capítulo

Se vocês tiverem lenço de papel, é bom buscar agora.



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Quando as aulas terminaram, Adrien saiu correndo da sala. Tinha duas aulas de esgrima no final da tarde e não queria chegar atrasado. Ele não viu, mas atrás de si Marinette segurava a sacola de papel com o cachecol e as luvas, com uma mão estendida na direção dele no exato momento em que ele ia embora. Baixou a cabeça, gemendo.

"Eu nunca vou conseguir entregar isso pra ele." sentiu um toque sobre o ombro.

"Vai sim. Você já conseguiu uma vez, com certeza vai conseguir uma segunda." Alya sorria para a amiga, incentivando-a.

"Marinette, você fez a tarefa de ciências da semana passada pra amanhã?" Rose perguntou, sentada na classe dos fundos.

"Fiz sim, mas não sei se está certo. Levei dois dias pra responder tudo." coçou a nuca sem jeito, lembrando que não tivera muito tempo livre nos últimos dias.

"Posso comparar as nossas respostas? Tô precisando de nota em ciências, mas não consegui entender várias das questões." Rose falava sem jeito, segurando o caderno de capa azul contra o peito.

"Claro, aqui!" Marinette tirou o caderno que já havia guardado dentro da mochila e foi até a classe do fundo, onde Rose e Juleka estavam sentadas. Ao lado delas, Nathanael estendeu o pescoço, interessado "Se quiser pode vir também, Nathanael" Marinette sorriu para ele, e foi o suficiente para que ele pegasse a própria cadeira e puxasse até eles.

Alya escondeu o rosto, segurando a risada, ao ver Marinette juntar os colegas à volta.

"Pára de rir, Alya! Eu sou muito boa em ciências, tá?" Marinette encheu as bochechas de ar, fingindo estar indignada.

"Ainda bem, né Marinette? Senão ia ser mais uma matéria em recuperação!" Alya já não conseguia mais conter o riso, e segurava a barriga com as gargalhadas.

Cerca de 15 minutos depois, o zelador da escola enfiou a cabeça para dentro da sala de aula.

"Pessoal, já fechei a porta dos fundos! Vou estar na minha sala se precisarem de mim. A porta da frente está só encostada. Não se matem de estudar!" ele riu e deixou os cinco na sala de aula.

Cerca de meia hora depois, com todas as questões conferidas e terminadas, eles estavam prontos para ir para casa. Marinette às vezes esquecia o quanto gostava dos colegas. Não passava tempo suficiente com eles, mas quando tinha a oportunidade, lembrava do quanto eles eram importantes pra ela.

Quando estavam quase prontos para sair, ouviram o alarme de incêndio da escola disparar. Rose, Juleka, Nathanael, Alya e ela se entreolharam confusos. Eram os únicos que ainda estavam dentro da sala de aula.

"Será que é outra daquelas pegadinhas do pessoal da sala do lado?" Rose perguntou em um tom nervoso.

"E-Eu acho que não, a essa hora todo mundo já deve ter ido pra casa" Alya sentiu a voz estremecer "Vamos embora." sugeriu, dirigindo-se para a porta.

Marinette ouviu estrondos e correu para onde Alya estava. A estrutura acima da quadra de esportes começava a desabar, tomada pelo fogo que consumia as telhas e estourava as lâmpadas. Olhou em volta rapidamente, mas não encontrou um akuma. Sentiu um tremor percorrer seu corpo. Sabia o que fazer se aquilo fosse obra do Hawkmoth, mas seu Talismã não funcionaria contra um incêndio comum. Apertou a pequena bolsa a tiracolo onde carregava Tikki. Ali, era inútil como Ladybug.

"Vamos, vamos sair daqui!" Marinette gritou, e sentiu os colegas lhe acompanharem correndo. Quando estavam perto da grande porta de entrada, um grande pedaço do telhado caiu em chamas na frente deles, fazendo-os recuar. Rose caiu de joelhos e colocou a cabeça entre as mãos, gritando. Juleka abaixou-se ao lado dela, tentando fazê-la levantar.

Marinette corria os olhos em volta, tentando procurar outra saída. Correu para a porta de metal dos fundos e a empurrou, mas estava trancada com um grande cadeado. Forçou a tranca por mais alguns segundos, mas viu que seria inútil, então correu de volta para onde estavam os outros colegas gritando ideias uns para os outros, em pânico.

"Nós vamos precisar atravessar!" Marinette gritou o mais alto que pôde, e todos lhe olharam.

"O quê!? Você tá louca!?" Alya gritou em resposta "Não sei se você percebeu, mas tem destroços pegando fogo na nossa frente!"

"Eu sei!" Marinette havia começado a tossir por causa da fumaça escura tomando conta do lugar "Mas se todos corrermos ao mesmo tempo, vamos conseguir empurrar a porta e passar! Vamos!" ela olhou confiante para os quatro amigos, mostrando que estava falando sério e acreditava no plano. Todos acenaram positivamente com a cabeça, pondo-se em pé.

"Se isso der certo, eu te devo um milkshake." Alya falava para Marinette, olhando a barreira de fogo e destroços que bloqueava a saída.

"De morango." Marinette completou, sorrindo nervosa para a amiga, que sorriu de volta "No três! Um... Dois... Três!"

E os cinco colegas saíram correndo, atravessando os destroços enquanto gritavam, de olhos fechados. Menos de cinco segundos depois, todos estavam na rua, caídos sobre os joelhos, tossindo e recuperando o fôlego, sãos e salvos.

"Meu Deus, crianças, vocês ainda estavam lá dentro?! Graças a Deus estão bem!" o zelador correu até eles, abraçando-os "Achava que vocês já tinham saído!"

"E os bombeiros?" Alya perguntou para o zelador que começava a levá-los em direção a uma das ambulâncias para serem checados.

"Estão terminando de controlar outro incêndio próximo ao Museu do Louvre. Daqui a pouco já devem estar aqui. Tinha mais alguém lá dentro?"

"Não, nós éramos os últimos." Marinette respondeu depois de recuperar o fôlego, e arregalou os olhos quando olhou para as próprias mãos. A sacola com as luvas e o cachecol havia ficado na sala de aula.

"Alya, segura isso pra mim." Marinette empurrava a pequena bolsa onde carregava Tikki para a amiga segurar. Não podia arriscar a segurança da kwami. Se fosse voltar, iria sozinha.

"Por quê? Onde você vai?" Alya sentiu o coração saltar no peito. Sabia o quanto Marinette podia ser precipitada e impulsiva.

"Eu deixei as luvas e o cachecol lá dentro."

"Nem pensar! Você não vai sair daqui!" Alya tentou agarrar Marinette pelo braço, mas a garota desviou e sorriu de volta, correndo em direção a escola "Marinette! Não! Alguém pára ela!" Alya gritava em desespero, mas as pessoas se deram conta tarde demais do que estava acontecendo.

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"Hey, isso não é no seu colégio?" Plagg assistia televisão enquanto Adrien arrumava as coisas para a aula de esgrima. O garoto desviou os olhos na direção que o kwami indicava, vendo a reportagem que filmava sua escola, com ambulâncias e helicópteros em volta.

"É sim, o que está acontecendo?" Adrien largou a bolsa e andou até a televisão.

"Parece que é... um incêndio?" Plagg se perguntava, tentando entender as imagens. Voou até a televisão e aumentou o volume.

"Um akuma?" Adrien tinha os olhos fixos na televisão.

"Não, acho que é um incêndio comum mesmo." Plagg respondeu, prestando atenção às imagens e ouvindo a repórter que comentava do lado de fora do prédio.

"...e agora parece que o último grupo e estudantes está saindo da escola. Todos parecem bem. Ainda estamos aguardando a chegada dos bombeiros, que estão tentando conter um incêndio próximo ao Museu do Louvre."

Adrien viu na televisão o grupo sair da escola, liderados por Marinette. Suspirou aliviado quando viu que todos estavam bem. Se ele não tivesse ido embora mais cedo, poderia tê-los ajudado. Felizmente, agora estava tudo bem. Virou as costas para terminar de arrumar suas coisas.

"Mas esperem! Aquela menina está voltando? O que ela está fazendo, Pierre?" a voz da repórter soou alto na televisão, fazendo Adrien virar nos calcanhares.

"Não sei, mas parece que ela está correndo em direção à escola. Será que ficou mais alguém lá dentro?" o repórter no local filmava de perto, e Adrien esqueceu de respirar ao ver Marinette disparando novamente em direção às chamas.

"Não, não. O que você está fazendo, Marinette? Sai daí!" Adrien gritou em direção à televisão, mas sabia que era inútil. Girou a cabeça em direção a Plagg.

"Vamos." Plagg disse, e Adrien tinha certeza que aquela era a transformação em Chat Noir mais rápida que já fizera.

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Chat Noir jogou-se janela afora, arremessando o corpo pelo ar. Sentia o ar faltar, mas sabia que era por causa do pânico, não pelo cansaço. Tentava inspirar e expirar devagar para manter a calma, mas era impossível. Errou o ponto de apoio do bastão duas vezes no meio do caminho. Não podia perder a concentração, ou colocaria tudo a perder.

Avistou a escola e a grande nuvem de fumaça negra que subia pelo telhado. Pousou em frente às escadas, onde Alya chorava descontroladamente, abraçada a Rose. Quando Alya o viu, correu para ele em desespero.

"Por favor, Chat! Ajuda ela! Por favor!" Alya gritava, agarrando a gola dele. Chat acenou positivamente com a cabeça na direção da garota e estendeu o bastão, subindo no telhado da escola, onde viu uma abertura no meio das telhas.

Chat caiu no meio da quadra de esportes e olhou em volta, mas não viu Marinette. Jogou a cabeça na direção da sala de aula onde estudavam e ouviu um barulho.

"Marinette!" gritou o mais alto que conseguiu enquanto tossia, subindo as escadas.

Quando atravessou a porta, Chat Noir sentiu o sangue gelar. O teto da sala de aula havia desabado e a fumaça ocupava cada canto do lugar.

"Marinette!" ele gritou novamente, cobrindo a boca para impedir que a fumaça atravessasse seus pulmões "Marinette!" gritou novamente, avançando em meio aos escombros, sentindo o suor escorrer pelo rosto.

No canto esquerdo, ao fundo da sala, perto do lugar onde Rose e Juleka normalmente sentavam, ele avistou movimento. Sem pensar duas vezes, estendeu o bastão e pulou por cima das chamas. Viu Marinette caída no chão, e atirou-se ao lado dela, empurrando os restos de telhas e cadeiras queimadas, afastando-os com o bastão.

"Marinette, me responde!" ele se abaixou ao lado dela e viu que ela estava deitada de bruços. Ao ouvir o próprio nome, a garota ergueu a cabeça com um ar confuso, e Chat viu que uma fina linha de sangue escorria de sua testa. Apesar da visão, algo dentro dele se acalmou quando viu que ela estava viva. Engoliu a pergunta que havia chegado a ponta da língua.

Por que você não se transformou?

"Vem, vamos sair daqui." segurou o braço dela, mas a reação foi contrária.

"Eu preciso tirar..." ela começou a falar, mas a fumaça a fez tossir "As telhas caíram..." a voz falhava entre tossidas. Chat olhou para as mãos de Marinette que seguravam algo, e estreitou a visão.

A sacola.
A maldita sacola.
Presa embaixo de uma enorme tábua da estrutura do teto que havia caído.

"Chega, isso não é importante!" Chat colocou o braço embaixo do dorso de Marinette, forçando-a a se levantar.

"NÃO!" ela gritou com uma fúria que ele nunca havia visto, e caiu em uma crise de tosse, desviando-se dele, puxando a sacola com as poucas forças que lhe restavam. Metade da sacola de papel rasgou, e Marinette foi atirada para trás. A lã azul apareceu, mas a fumaça tornava tudo mais difícil de enxergar.

"Sai daqui, Chat! Isso não é um akuma! Você não pode fazer nada aqui!" ela voltou o olhar obstinado para ele com a testa franzida e a bochecha direita preta de fuligem. Tossia entre as palavras, respirando ofegante.

Chat estalou a língua no céu da boca, lacrimejando de ódio. Sentiu uma raiva imensa de si mesmo por ter tirado aquela sacola de casa. Pôs-se na frente de Marinette e enfiou o bastão em um canto da tábua, tentando levantá-la, mas a madeira era mais pesada do que ele tinha forças para erguer.

"Eu ajudo." ela disse aproximando-se dele com o braço sobre a boca para controlar a quantidade de fumaça que respirava.

Os dois empurraram com toda as forças que tinham, movendo a tábua para longe das peças de lã. Marinette jogou-se sobre elas com os olhos arregalados e abraçou-as contra o peito como se fossem a coisa mais preciosa do mundo, e Chat sorriu ao ver a expressão aliviada da garota. Um segundo depois, viu ela balançar o corpo para frente e para trás em um movimento lento, e perder a consciência.

Chat atirou os braços e pegou-a no ar. Sob o corpo de Marinette, notou os dedos tremerem quando não sentiu a respiração da garota.

"Marinette... Marinette..." ele chamava em voz baixa, em choque "Por favor, Marinette, não faz isso comigo." começou a sacudir o corpo dela, sentindo os olhos arderem por causa da fumaça e das lágrimas que começavam a brotar. Colocou o ouvido sobre o rosto dela, esperando sentir o ar que entrava e saía das narinas dela.

Um segundo.

Nenhuma respiração

Dois segundos.

Nada.

Não podia ser verdade

Três segundos.

Não podia perdê-la.

Quatro segundos.

Não podia viver sem ela.

Sentiu algo molhado descer pela lateral do rosto, mas não tinha certeza se era suor ou lágrimas.

Ergueu o queixo de Marinette e pinçou o nariz da garota, sentindo a mão tremer. Levou os lábios aos dela e soprou com toda a força que conseguiu.

Uma vez.

Duas vezes.

Virou o rosto para esperar a respiração.

Nada.

Rapidamente cruzou as mãos sobre o peito dela e começou as compressões do tórax.

Uma vez.

Por favor, Marinette.

Duas vezes.

Não faz isso.

Três vezes.

Não me deixa aqui.

Quatro vezes.

Não me deixa sozinho.

Chat levou novamente os lábios de encontro aos dela, e naquele momento percebeu que as lágrimas corriam livremente pelo rosto. Já não conseguia mais controlar.

Assoprou uma vez.

Duas vezes.

Uma tosse. Um gemido.

E as cores do mundo de Chat voltaram no momento em que Marinette reabriu os olhos.

Sem pensar duas vezes, Chat levantou o peso de Marinette nos braços e o peso do mundo no coração. Não iria perdê-la. Não podia perdê-la. Olhou para baixo e viu os dedos dela entrelaçados nas peças de lã azul.

Correu até a janela da sala de aula e equilibrou Marinette sobre o ombro esquerdo "Segura firme, princesa." sussurrou, mesmo sabendo que ela não estava completamente consciente.

Impulsionou-os para fora em um salto, e desceu em frente ao colégio, colocando Marinette devagar no chão e vendo os paramédicos se aproximarem. Colocou as peças de lã embaixo da mão dela que repousava sobre o peito, entrelaçando os dedos nos dela, aflito em ter que quebrar o toque.

"Ela vai ficar bem?" Chat perguntou em um murmúrio para o paramédico que checava Marinette.

"Vai sim, foi só um pouco de fumaça. Algumas horas de reidratação e oxigênio e ela vai ficar 100%. Obrigada, Chat Noir."

"Cuidem bem dela." disse em uma última frase e pulou em direção ao prédio em frente a escola, vendo o carro de bombeiros dobrar a esquina com as sirenes ligadas. Em menos de 15 minutos, o incêndio já havia sido controlado.

Chat olhou para as próprias mãos que ainda tremiam e passou-as no rosto e nos cabelos. Nunca havia sentido algo com tanta força. Era uma sensação ainda mais poderosa do que ser o Chat Noir. Imaginar um mundo sem a Marinette nele. Aquela dor. Suspirou para evitar um soluço, contendo novas lágrimas. Doía como o inferno.


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Notas finais do capítulo

SEQUEM ESSAS LÁGRIMAS QUE AMANHÃ TEM MAIS CAPÍTULO!
Amo vocês, não me odeiem ♥



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