Sob o Signo da Traição escrita por Dhessy


Capítulo 8
Asas de corvo, Pena de Morcego


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores!
É com mutia alegria que venho postar mais um capitulo.
Espero que gostem :D



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Ele não sentia mais as dores no corpo. A batalha ao seu redor parecia ter cessado, ou pelo menos era isso que acreditava. Só se lembrava de uma voz familiar lhe dizendo que havia usado seu cosmo além do limite aceitável, mas o que era Cosmo?
As pálpebras do rapaz tremulavam conforme ele tentava se lembrar. O som de passos fez com que sua consciência tivesse o necessário para se recordar. Ele era Giovanni Argenta filho de um homem que por causa de seu vício em drogas se envolveu com a máfia. Sobretudo ele era Mascara da Morte, o guardião da casa de Câncer.
Ao abrir os olhos, o dourado se viu em um ambiente que muito lembrava a aldeia de Sankt Kastl, mas, mais movimentada. Alguns homens usavam uma espécie de túnica modelada até as pernas, outros um gibão abotoado na frente, os que mais se assemelhavam a agricultores usavam uma bata de tecido grosseiro e uma jaqueta de couro sem mangas de comprimento curto. As mulheres usavam vestido de mangas longas de diferentes tipos de tecidos, alguns mais simples enquanto outros eram adornados e de tecidos mais finos como veludo. Tudo parecia ter saído de uma pintura, que abordavam o período Tudor.
—Ai carazo! Onde diabos eu me meti? Não me lembro de ter desmaiado.
—Você não desmaiou. Eu e meus companheiros o trouxemos aqui para que consiga entender mais sobre Rothbart. - Ao lado do cavaleiro estava á camponesa que avistou no bosque. Ela trajava as mesmas vestes, mas em seu rosto um sorriso triste podia ser visto. -O tempo está acabando.
—Qual tempo?
—O de Odille. Minha filha ainda não conseguiu encontrar a solução. A maldição precisa ser quebrada ou Rothbart se tornará mais poderoso do que já é.
—Para onde me trouxe?-O dourado perguntou desconfiado.
—O trouxe para o ano de 1487. Ano em que a caça as bruxas se tornou ainda mais violenta graças ao Malleus Maleficarum.  Foi nesse ano que Rothbart se tornou o mago que é. Sua inveja o moldou.
—Pelo visto o conhecia bem.
—Eu me casei com o irmão dele. Franz deixou seu título de conde para viver comigo no campo. A família Bäumler nunca se conformou com isso, principalmente Rothbart.

—Ei você ouviu as últimas notícias? -Duas jovens passaram ao lado de ambos. Pareciam cochichar enquanto iam em direção a um jovem rapaz que oferecia verduras. Uma delas era a versão mais jovem da mulher a seu lado.

—Qual delas? -A jovem perguntou dando uma risadinha. Era possível ver o ventre levemente elevado de uma gravidez de pouco mais de três meses, que a mesma acariciava com carinho.

—O filho do conde Hans Bäumler voltou. Dizem que ele estava estudando fora.

—Franz vai gostar da notícia. Faz anos que não o vê o irmão. Desde que se casou comigo…

—Não sei não Eveline. Dizem que ele está mexendo com… - A jovem olhou para um lado e para o outro antes de sussurrar. -Bruxaria.

—Não diga tolices. Se alguém escutá-la você vai correr o risco de ir para uma fogueira. Acusar um nobre é muito grave. Ainda mais o filho do conde Hans Bäumler.

—Não estou acusando ninguém. É o que dizem.

Uma névoa modificou o cenário à sua volta. Nela uma Eveline se encontrava sentada sobre uma cama com algumas roupas de bebê ao seu redor. Na parede oposto uma cruz de prata decorava o quarto. Seu rosto parecia pálido e as olheiras ao redor de seus olhos pareciam cada vez mais profundas conforme as lagrimas escorriam.

—Estou adorando o tour. O que significa isso agora?-O italiano perguntou com ironia ao revirar os olhos.

—Essa sou eu depois que minha menina, uma de minhas meninas foi transformada em cisne. Das minhas lágrimas nasceu o lago do qual Odette foi e do qual Odille é a rainha.

Giovanni pensou em soltar uma de suas frases irônicas, mas desistiu ao olhar para o espírito ao seu lado e ver que ela falava sério.

—Rothbart, porque fez isso? Por quê? - Na única janela do quarto um corvo pousado observava a jovem. -Eu sei que observa meu sofrimento. Não tem coração?

Uma risada sarcástica preencheu o cômodo antes do corvo, tomar a forma de um homem. Rothbart tinha cabelos castanhos batendo no ombro, vestia um casaco que ia até o joelho, um gibão de gola alta adornado com plumas negras com o ombro almofadado e uma capa curta sobre os ombros. No pescoço em um colar de prata se destaca um imenso rubi.

—Isso é reflexo dos seus atos. Não foi você que escolheu se casar com meu irmãozinho? Não foi você que teceu sobre ele seu feitiço, bruxa?

—Eu rejeitei você uma vez e o rejeitaria novamente. Sempre me viu como uma reles camponesa com quem poderia brincar e usar para depois descartar. Entre nós só há um bruxo e é você!
—Vós me magoais com tais palavras. Não sou bruxo e sim mago. -Uma risada estridente encheu o quarto. - Se é o que pensas sobre mim, não posso culpá-la. Só mesmo meu amado irmãozinho viria em você uma esposa.

—Porque veio aqui? Para rir de mim? Você já tirou de mim uma das minhas filhas. O que quer mais?

—Uma filha? Pelo que me disseram você esperava gêmeas? -Eveline arregalou os olhos pelo choque da descoberta. 

—Foi você!

— Elas são mais parecidas entre si do que parecem. São graciosas e cheias de si. Só dei um empurrãozinho para que surgissem algumas diferenças. Inveja, ódio, vaidade... Uma destruirá a outra, não acha isso maravilhoso? -As lágrimas escorriam dos olhos da jovem camponesa conforme o mago se vangloriava de seus atos.

—Louco. Você está completamente louco! Vendeu sua alma para poder me destruir. O que ganhará com isso?

—A vida eterna.

O rubi do colar do mago brilhou de modo que a jovem teve de proteger os olhos. O cheiro de queimado alertou Eveline do que Rothbart estava planejando.

—Não!

—Largue-me bruxa. -A jovem cegamente agarrou a capa do homem à sua frente. O desespero a fez puxar a corrente de prata começando assim uma disputa pela posse do cordão.

—Não deixarei que as machuque!

As chamas consumiam tudo ao redor, destruindo pinturas, queimando roupas e ceifando a vida que restava naquele lugar. Apenas uma coisa saiu viva daquele lugar naquela noite... Um mal que trançava os fios do destino a seu bel prazer ou era aquilo que imaginava.

As gêmeas cujas teias do destino ele havia modificado quase se destruíram conforme ele planejava. Apenas uma de suas teias havia sido destruída, mas outra havia perdurado. Fraca e sozinha. Pecadora. Uma forma do mesmo recuperar os poderes caso acontecesse a si o pior. O que realmente chegou a acontecer.

*~v~*

Havia um horror no olhar de Odille que Aiolia definiu ser o de ver o mago com a mesma aparência que ela... Ou seria a da antiga rainha dos cisnes? Ele não tinha total certeza, mas não gostava do que via.

As criaturas conjuradas pelo mago que haviam resistido ao ataque de Saga observavam o cavaleiro adormecido, como se esperassem que o mesmo abrisse os olhos para lançá-los a Outra Dimensão.

Mu se aproximou da jovem rainha pegando o geminiano em seus braços. O olhar de Rothbart acompanhou cada passo do lemuriano com o mesmo sorriso de escárnio que ele lançou a Odille.

—É uma tristeza ver que aqueles que juraram protegê-la caindo um a um. É realmente algo trágico. - O mago colocou uma mão sobre seu peito de forma teatral.

—Desde quando aprendeu a sentir tais sentimentos? Que eu saiba sentir tristeza não faz parte da sua personalidade. -Odille retrucou.

—Você nunca aprende. Talvez eu possa ensiná-la. -Acendendo seu cosmo, Rothbart lançou uma rajada de cosmo contra a jovem, que rebateu o ataque da mesma forma. Uma onda de poeira se elevou fazendo com que todos tivessem que proteger os olhos com o braço.

Uma espécie de batalha se iniciou entre o mago e a bruxa. Como se tivesse recebido autorização, as crias de Rothbart avançaram contra os dourados.

Afrodite não tinha exata certeza em quem prestava atenção: Rothbart e seu exército de criaturas sombrias ou em Máscara da Morte que parecia em transe. A mediunidade do canceriano era muito grande a ponto do mesmo não apenas ver e falar com os espíritos como também mediá-los, algo que acontecia naquele momento.

O pisciano elevou seu cosmo fazendo brotar ao redor do companheiro e de Helena e Sarid uma espécie de roseira que contra atacava com uma rajada de espinhos qualquer uma das criaturas comandada pelo mago.

 Aquelas palavras mexiam com o morcego. O escorpiano pensava que o que a mulher agora sentada na grama segurando sua cabeça entre as mãos estava com medo, mas não era o que acontecia.

Gehässig olhava Milo defendê-lo sentindo um misto de vergonha e pesar. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. A lealdade era algo que em excesso se tornava um fardo principalmente a quem não a merecia.

Os sons emitidos pelas criaturas de Rothbart pareciam soar como risos em seus ouvidos.

“Tolo! Tolo!”

Aiolia se defendia como podia. Mu estava enfrentando sérios problemas ao tentar ajudá-lo e para defender Saga que permanecia inconsciente. Os pensamentos do leonino voltavam hora ou outra para Odille.

O cosmo da jovem rainha cobria totalmente a área em que eles lutavam oferecendo certo apoio aos dourados através de suas gavinhas negras. Apesar disso, a batalha contra o exército do mago ainda era acirrada.

*~v~*

Os olhos azuis, do cavaleiro ainda estavam fechados. Os gritos de dor haviam cessado e talvez tivesse sido isso que o motivou a abri-los novamente. 

A paisagem havia mudado. Ele estava novamente na mesma praça de sua primeira visão. A única diferença era a neve que caia dificultando a caminhada dos pedestres.

Uma figura chamou a atenção de Máscara da Morte. Talvez pela sua magreza, quem sabe pelas roupas chamativas, mas totalmente oposta daquelas que ele havia avistado antes ou talvez tenha sido a criança que segurava sua mão e tinha aparência totalmente oposta a sua. Ela usava uma capa elaborada sobre o vestido, caminhava com a elegância de uma nobre e sorria de forma doce para seu acompanhante.

—Porque está me mostrando esse homem? -Giovanni perguntou a Anelise que tinha acabado de aparecer ao seu lado.

—Esse é Gehässig, o servo leal de Rothbart. Vê a jovem a seu lado? -O canceriano assentiu. -Aquela é Odille.

—Como?-Havia surpresa estampada no rosto do cavaleiro. -Mas como você… Você não havia morrido?

—Eu a encontrei apenas uma vez. Pensei que era uma ilusão da minha mente fragilizada ou alguém muito parecida com Odette. Mas isso foi muito tempo antes da noite em que morri.

—Pelo que Odille nós contou, ela não parece ser o tipo de pessoa que aceitaria ser vista com um homem como aquele.

—Você fala a verdade, mas Gehässig era uma exceção. Ela o amava como se ele fosse um irmão.

—Conheceu esse homem antes?-Havia descrença na voz do dourado.

—Gehässig era uma figura conhecida de todos. Um homem sem eira e nem beira, mas de bom coração. E com uma lealdade cega.

—Por que está me mostrando isso?

—Porque quero que entenda a natureza desse homem e compreenda a lealdade que ele tem por Rothbart.

A cena mudou, nela o mago se encontrava em frente a um espelho. Suas vestes indicavam sua posição como conde. No pescoço um cordão de prata brilhava sob a luz do castiçal. Sentada em uma cadeira Odille escovava seu cabelo sobre o olhar atento de Gehässig.

—Pode nos dá licença querida?- Rothbart disse suavemente dirigindo sua atenção para a jovem. - Quero passar a ele as coordenadas do livro, caso algo aconteça.

—E o que poderia ocorrer meu pai? Odette está presa em seu lago.

—Toda precaução é necessária. -O mago acariciou o rosto da jovem para depois tocar o rubi que a mesma carregava no pescoço. Uma gema igual aquela, que ele carregava.

—Não entendo isso que me mostra.

—Isso aconteceu depois da minha morte. Fantasmas, não tem memórias como os vivos.

—Mas tem conseguem captar a aura gravada nos objetos que uma vez foram tocados pelos vivos.

—Exato. Estou usando a aura do colar de Rothbart.

—Sir?- O homem se pronunciou hesitante. -O que deseja falar com Gehässig?

—Estou tomando medidas para que tudo saia perfeito nesta noite. A começar por esse cordão. - O mago colocou o pingente de rubi entre as mãos com delicadeza. - Ele liga minha vida com a de Odille.

—Mas e o livro sir?

—Há mais de uma forma de se guardar poder do que sua mente minúscula pode imaginar. De qualquer modo… - Rothbart passou os dedos carinhosamente no livro que estava aberto no suporte em cima da penteadeira. -Quero que guarde segredo sobre a ligação entre o meu colar e o de Odille. Ela não pode descobrir.

—Tudo bem, sir.

Elevando seu cosmo, o mago fez com que a forma de Gehässig se transmutasse para a de um pequeno morcego albino que pousou adormecido no chão desaparecendo em seguida conforme gavinhas negras o cobriam o levando para outra dimensão.

Máscara da Morte estava assustado ao olhar o livro acima do suporte.

—Você compreende agora.

—Nunca foi o livro. Temos que destruir aquele cordão!

—Não é tão simples cavaleiro. O amor verdadeiro é a chave… -Aos poucos Mascar da Morte conseguia ver novamente o que se passava ao seu redor. -A canção não falada que ninguém pode escutar. A maldição que somente o amor verdadeiro pode quebrar. A traição não pode acontecer ou para sempre um cisne há de ser.

—Amor verdadeiro! Caspita! Onde vamos encontrar amor verdadeiro no meio desse campo de batalha? Até onde sei amor unilateral não serve nesses casos.

—O amor está debaixo dos seus olhos.

—O que quer dizer com isso?

—Quem é aquele que daria sua vida por Odille e dormiu por tantos séculos?-O fantasma de Eveline aos poucos se tornava opaco, desaparecendo.

—Gehässig...Onde posso encontrar…?

—As aparências enganam, mas não o que está no coração. -Dizendo aquelas palavras, o que havia sobrado do espírito da camponesa desapareceu.

*~V~*

—Rosas diabólicas reais! -Afrodite pulou na frente do canceriano o assustando com sua proximidade. -Vejo que finalmente acordou de seu transe.

—O que diabos eu perdi?-Perguntou o dourado desviando de um ataque vindo do alto. Uma das crias de Rothbart havia escalado em uma das árvores e usado isso como um fato surpresa.

—Arles quase deu suas caras e Odille está usando sua magia contra Rothbart, para nos dar apoio. Não muito.

—Maledizione! Temo que tenhamos, um grande problema.

—Quando não tivemos? Acho que essa última sessão mediúnica mexeu com seus miolos.

—Não darei a você a resposta que merece, porque não temos tempo pra isso.

—O que você viu?

—Não existe livro nenhum. É o colar que Odille carrega no pescoço. Ele liga a vida dela á daquele miserável. É dessa forma que ele usou para ter sobrevivido após a enchente.

—Vamos destruí-lo!-Disse Afrodite colocando uma rosa entre os lábios.

—Não é tão simples. Tem toda aquela lenga-lenga de amor verdadeiro. Além disso, Eveline me disse que há um homem que pode quebrá-lo e que o amor verdadeiro está bem debaixo dos nossos olhos.

—A companheira de Odille, Sarid?

—Não, é um tal de Gesing. Acho que é assim que pronuncia. Em todo caso, na visão que ela me mostrou, esse cara foi apagado. -Afrodite olhou assustado para Giovanni.-Apagado não nesse sentido.

—Deixe-me ver se entendi. Temos que encontrar um homem capaz de quebrar a maldição cujo nome você não sabe pronuncia e onde não temos nenhuma pista do paradeiro? Isso só pode ser vingança dos deuses!

Um trio das criaturas de Rothbart saltou para lançar um ataque, mas foram consumidas por uma rajada de fogo fátuo invocado por Máscara da Morte.

—Essas pestes parecem ratos!

—Tive uma ideia.

—É por isso que gosto de você. -Afrodite lançou uma rajada de rosas em direção a uma das criaturas que surgiu atrás do italiano apenas para aplicar um chute no meio das costas.

—Primeiro temos que abrir caminho até aquele feiticeiro de uma figa. Depois quero que chame a atenção de Odille e conte para ela o que viu. Talvez ela saiba onde encontrar esse homem antes que seja tarde.

Com uma troca de sorrisos malignos, Afrodite e Máscara da Morte abriram caminho na direção do olho daquele furacão de cosmos conflitantes que era o de Odille e Rothbart.

*~V~*

Conforme Odille usava sua magia contra Rothbart o rubi que ela carregava pendurado no cordão em torno do seu pescoço se tornava translúcido. Pouco a pouco o fio da teia que unia sua vida ao mago se afinava perigosamente. Aos poucos a sombra das asas do corvo cobria as negras penas do cisne.

 


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