Eu passei a semana inteira avoada. Queria ver a Mori novamente. Algo naquela garota me intrigava, talvez por ela ser tão diferente de tudo que eu conheço, talvez não... Eu pensava nisso o dia todo, todos os dias. Obviamente Sophie reparou no meu olhar vago, como se eu estivesse olhando, mas não vendo.

— Vai voltar lá hoje? - Ela me perguntou, me pegando de surpresa no corredor vazio.

— Vou. - Respondi.

— Cuidado.

— Sempre.

Ela não tentou me impedir, mas algo em sua expressão fez eu pensar que ela não estava tão bem com aquilo. Que bipolar... De toda forma, eu fui. Estava nervosa, andava devagar, tentando, por algum motivo, não fazer som algum. Fiz a mesma coisa de antes, tirei o uniforme, olhei em volta, e entrei no lago. Eu fiquei observando o lugar por um tempo, ela não estava lá. Claro que não. Por que estaria?

— Oi! - Falou alguém atrás de mim, dei um salto.

— Mori?! - Eu me virei, ela sorria. - Você não.. Mas.. Quê?

— Achou que eu não viria?

— Uhum.

— Você pode ter até me deixado dormindo da última vez, mas isso não me chateou.

— Desculpa por isso...

— Não.

— Eh?

— Não desculpo.

— Mas você disse que tava bem com isso.

— Mudei de ideia.

— Mas.. Mas.. O quê?

Mori ria do meu pequeno desespero e da minha confusão.

— Eu te perdoo. - Ela começou. - Mas vai ter que me pegar pra isso. - Ela mergulhou e apareceu bem longe. - Eu tô muito chateada. - Eu a persegui, mas ela mergulhou novamente, indo para o outro. - Você me deixou sozinha e indefesa, numa floresta escura à noite. - Ela fez de novo. - Como pôde? - Dessa vez fui por um lado diferente e consegui sair bem na frente dela.

— Desculpa. - Falei, colocando a mão em seu ombro, meio ofegante. Ao encarar novamente aqueles olhos azuis, fiquei perdida, tanto que quase não a ouvi falar.

— Tudo bem. Só estava brincando com você. Tá desculpada. - Ela riu.

— Você me preocupou a toa? Não acredito! Me preocupei de verdade sabia.

— Desculpa, desculpa. - Ela riu.

— Não.

— Não?

— Não!

— Revanche?

— Sim.

— Então você me perdoou mas diz que não?

— Não perdoei não.

— Perdoou sim.

— Não perdoei não.

— Perdoou sim.

—Não perdoei não.

— Perdoou sim.

— Ok, perdoei, feliz?

— Muito. - Ela sorriu novamente, aquele sorriso era tão bonito... - Pensei que você não viria também.

— Eh?! Por quê?

— Você me deixou lá... E se eu tivesse te assustado? Não marcamos de nos ver novamente...

— Queria me ver de novo. - Ri.

— Queria. - Levei um susto quando ela falou.

— Eu tava brincando. - Respondi, envergonhada.

— Então não queria me ver também? - Ela fez uma cara triste.

— Não disse isso...

— Então queria?

— Acha que eu voltei pra...?

— Pra relaxar.

— Foi pra te ver. Se fosse só pra relaxar, teria vindo mais tarde...! - Parei na hora em que notei o que falei. Morri de vergonha. Como eu admitia algo como aquilo tão normalmente? Abaixei, só deixando dos meus olhos para cima fora da água. Mori riu.

— Você vai ter que respirar alguma hora. - Ela disse, fiz que não com a cabeça. - Como não? Fez um feitiço pra respirar de baixo da água? - Neguei novamente, mas fiquei me perguntando o por quê de eu não ter tentado. - Então, como? - Eu tentei falar algo, o que, obviamente, não deu certo. - Ok, vamos ver o quanto você aguenta então.

Ouvia-se apenas as cigarras ao longe e o calmo canto dos pássaros. Eu sabia que meu fôlego não era grande coisa, mas forcei ao máximo para não me dar por vencida. Mas claro que teve uma hora em que eu não aguentava mais, foi aí que levantei, ofegante novamente.

— Parabéns, foi melhor do que eu esperava! - Mori falou.

— Obrigada..! Pera, como assim?

Ela riu. Ficamos ali, mais uma vez, apenas conversando, rindo e nos divertindo. Eu me sentia realmente muito bem perto dela. Passamos horas sem pensar em nada mais. Até que realmente começou a ficar muito escuro, e se eu não voltasse, iam notar que não estava lá.

— Tenho que ir... - Falei.

— Mas já?

— Pois é, se não for logo, vão notar minha ausência.

— Ah, é verdade, será que sabem que eu não tô lá...? - Ela fez uma breve pausa. - Bom, nos vemos no próximo domingo?

— Claro. Mesmo horário?

— Uhum.

— Então... Até.

— Até. - Sorriu como sempre.

Eu saí de lá com certa dificuldade. Não queria ter que ir, queria ficar ali, conversar mais, saber mais sobre ela... Por que eu tinha que voltar para aquela escola? Foi por causa dela que tudo começou, mas... Mas aquele lugar mais parecia um reformatório disfarçado de escola da elite, era realmente um saco. Bom, eu não podia fazer nada. Quando cheguei, fui direto tomar banho, comer e dormir. Sophie apenas perguntou se Mori havia aparecido, e mais nada, o que era bem estranho, ela sempre queria saber exatamente tudo o que eu fazia... Mas estava cansada, então preferi deixar quieto.