A Hóspede Insuportável Que Roubou Meu Coração! escrita por Dri Viana


Capítulo 46
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Meninas, esse capítulo é bem tenso e traumático. Acho que nem imaginaram ou sequer chegaram perto de imaginar a respeito de como foi a morte do irmão de Sara. Mas aqui está como foi tudo.



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Enquanto estávamos os três acomodados à mesa jantando um delicioso risoto preparado por minha mãe, Sara contou à mesma sobre como foi a festa de ontem. E como não podia deixar de ser, Sara fez questão de contar sobre eu ter dançado bastante na festa. Minha mãe mostrou-se surpresa com isso, pois ela sabia que eu morria de vergonha e dançar não era algo que eu fazia, mas entendeu que aquilo só aconteceu por eu estar bêbado. Depois de Sara ter dado o "relatório" completo à minha mãe de ontem, eu contei sobre o convite que Catherine fez a mim e Sara. Dona Beth disse que eu não merecia ir por conta de ter contrariado seu pedido de não beber na festa, mas como tinha Sara e ela queria ir, eu iria pra acompanhá-la, mas também era só por isso que eu ia.

Terminamos de jantar e ajeitamos a cozinha. Minha mãe disse que tava cansada e subiria pra dormir. Nos desejou boa noite e seguiu em direção às escadas. Logo ficamos apenas Sara e eu na sala.

—Ela ficou bem bolada com a história de eu ter bebido. Foi a primeira vez que aconteceu isso comigo. Acho que é mais por isso que ela tá assim bolada.

—Isso vai passar. Amanhã, ela já nem vai mais lembrar disso.

—Só se ela sofrer de amnésia durante a madrugada, algo que não vai acontecer.

—Ai, relaxa! Se quer saber? Minha mãe também ficou assim mesmo quando meu irmão tomou o primeiro porre dele, chegando bêbaço em casa. E olha que ele já tinha 19 anos.

—Sara, eu sei que você disse que não gosta de tocar nesse assunto, mas... como o seu irmão morreu?

Eu a vi ficar tensa e seu olhar perdeu o brilho como num passe de mágica. Me arrependi imediatamente de ter feito aquela pergunta. Não imaginei que ela fosse ficar assim diante do meu questionamento. Quando já ia pedir desculpas por isso e dizer que ela não precisava mais responder nada, Sara se pronunciou já de cabeça baixa.

—Ele morreu por conta de uma overdose. E eu o vi morrer disso na minha frente.

Nossa! Por essa eu não esperava!

Se eu já me arrependi só de ver como Sara ficou com a minha pergunta, agora que ela disse isso, eu fiquei mais arrependido ainda de ter feito essa pergunta.

Eu queria dizer algo à ela pelo que acabei de saber, mas sabe quando você quer falar e não consegue? Pois é, era assim que eu tava.

Sara me olhou e eu pude ver nos seus olhos a dor e o pavor estampados neles. Como eu não conseguia falar, fiz a única coisa que me ocorreu fazer naquele momento. Eu a abrecei e por não sei quanto tempo nós ficamos assim. Só sei que quando me afastei dela e desfiz nosso abraço, ela começou a me contar que um dia, há pouco mais de um ano, ela chegou da escola e seus pais não estavam em casa, pois eles tinham ido ao centro abastecer a dispensa da pousada. Então após deixar sua mochila no quarto, Sara foi ao quarto do irmão pra contar que tinha conseguido tirar uma boa nota no trabalho de matemática que ele havia lhe ajudado a fazer. Segundo ela seu irmão era muito bom em matemática. E que por conta disso, ele sempre lhe ajudava nessa matéria. E quando, ela chegou a porta do quarto... ela encontrou Sean caído no chão, convulsionando e babando.

—Por mais que eu tente, eu nunca esqueço o que eu vi naquele dia, Grissom.

Quem esqueceria tal cena, né? Deve ter sido apavorante, terrível!

—Na hora eu fiquei desespera. Corri até ele que se debatia e comecei a gritar na esperança que algum hóspede ouvisse e viesse ao meu auxílio. Mas eu sabia que ninguém viria, porque aquele horário geralmente, o povo tá na praia. De repente, o Sean parou de se mexer e eu me desesperei mais ainda. Temi pelo pior, sabe? Peguei o telefone e liguei pra emergência e pedi uma ambulância. Eles disseram que viriam o mais rápido possível.  Realmente, eles vieram. Só que já era tarde. Ele já tinha morrido no instante em que havia parado de convulsionar logo após, eu tê-lo encontrado no quarto.

No instante seguinte em que terminou de contar essa horrível tragédia, Sara começou a chorar e eu fiquei em choque com toda aquela história. Jamais ia imaginar que o irmão dela tivesse morrido dessa forma horrenda.

Mais uma vez a abracei. Ela parecia tão frágil naquele momento. Não era nem sombra daquela garota que eu tava acostumado a ver. Era outra Sara. Uma Sara que carregava um trauma que pessoa alguma merecia carregar.

Nos separamos um instante depois, porque ela tomou a iniciativa disso.

—Eu sinto muito pelo seu irmão, Sara. - Disse enquanto enxugava as lágrimas do rosto dela. Era a primeira vez que a via chorando e sabe? Não gostei dessa experiência. Lágrimas nela não combinavam. Pra mim, ela ficava muito melhor com um sorriso nos lábios. Mesmo que este seja um sorriso irônico, debochado, ou um sorriso sincero e espontâneo. Esse último por sinal, passou a ser o meu preferido nela.

—Por causa do que houve, eu tive que fazer acompanhamento médico, sabe? Fiquei traumatizada. Durante alguns meses, eu cheguei a tomar remédios. Não conseguia dormir sem ter pesadelos com aquele dia. Mas com o tratamento médico de um psicólogo, os remédios e o apoio dos meus pais, eu fui conseguindo superar o trauma. E de alguns meses pra cá, eu melhorei muito. Tanto que meu médico suspendeu a medicação e  minhas consultas com ele passaram a ser mensais.

—Você ainda vai ao médico?

—Sim. Mas segundo o doutor Maurice, meu terapeuta, eu logo não terei mais que ir "conversar" com ele.

—Conversar?

—Sim. É assim que eu chamo a minha consulta com ele. Torna a coisa menos macabra do que ela é.

—Hum...

—E quando eu senti vontade de vir passar um tempo aqui com minhas primas e a tia, tanto meus pais quanto Maurice deixaram na hora. Eu precisava respirar novos ares. Ver gente nova. E eles acharam muito boa essa ideia pra mim, pois eu não saia de casa há tempos. E devo confessar que vir pra cá tá sendo muito melhor do que eu pensava que seria. Te conhecer foi muito bom, quatro olhos. E, agora, a gente juntos, tá sendo melhor ainda.

Eu sorri compartilhando dessa mesma opinião dela.

—Que bom! Eu também acho a mesma coisa. - Pisquei pra ela e segurei em sua mão. Sara sorriu. Assim ela ficava mais bonita. _Posso te fazer uma pergunta?

—Faz!

—Você e seus pais sabiam que o seu irmão usava...

—Meus pais sabiam sim que ele usava drogas. Já eu apenas desconfiava disso. Sean começou a ficar estranho com nossos pais. Comigo não. Ele continuava o mesmo irmão carinhoso e atencioso. Mas eu via o quão estranho ele ficou com os nossos pais. Ele passou a agir diferente, ser rebelde, respondão, coisa que ele nunca foi. E esse comportamento dele começou pouco depois que ele entrou pra uma fraternidade logo após entrar na faculdade. Os caras dessa fraternidade eram caras estranhos sabe? E Sean passou a circular direto com esse pessoal. Foi começando a chegar cada noite mais tarde em casa. Passou a frequentar festas barra-pesadas. A beber frequentemente. Andar com essas companhias foi a perdição do meu irmão, Gil.

Aquela história que ela contou me fez lembrar de uma de um amigo meu. Só que a do meu amigo teve um final melhor que a do irmão de Sara.

—O ano passado, um colega de classe meu também se meteu com gente assim que o levou à essas coisas. Ele inclusive, veio me oferecer drogas dizendo que aquilo deixava a pessoa "legal". Mas eu recusei a "oferta" dele. E ainda disse pro meu amigo cair fora dessa, pois isso era um caminho perigoso, mas pensa que ele me ouviu na época? Que nada! Só que alguns meses depois a ficha dele caiu, quando ele viu um dos caras que era " amigo" dele morrer por conta dessas coisas. Aí, ele pulou fora dessa logo, enquanto dava. E, segundo ele tá limpo desde então.

—Quem dera o Sean tivesse caído na real como seu amigo e largado essas coisas. Meu irmão estaria aqui comigo. Eu sinto tanta dele, sabe? Ele era um cara super do bom, legal. Eu e ele éramos muito unidos mesmo. Meu irmão era o melhor irmão do mundo. Eu o amava demais.

Eu devo confessar que senti um pouco de inveja de ouví-la falar assim da relação dela com o irmão. Adoraria ter tido um irmão, alguém com quem brincar, dividir coisas e segredos, implicar. Ser filho único era bom. Mas acho que ter um irmão devia ser melhor. Pena que eu não tive essa experiência.

—O que foi? Você ficou calado depois do que eu disse do meu irmão.

—Ás vezes gostaria de ter um irmão, sabia? Parece ser tão bom ter um.

—Bom... você pode ter ainda. Quem sabe, sua mãe e o Phil não providenciam um.

—Sara, eu tô falando sério.

—Eu também, tá? Sua mãe tem que idade?

—Vai fazer 39 daqui à três meses.

—Ainda dá pra ela ter um baby. Tem mulheres que tem filhos com quarentena ou mais.

—Não! Ela que não apronte uma dessas pra mim.

—Ué?! Mas não foi você que disse agorinha que gostaria de ter um irmão? Então!

—Eu gostaria disso quando eu era pequeno. Não agora!

Deus me livre! Eu com um irmão pequeno a essa altura da minha vida. Não! Nem pensar.

—Eu acho que você seria um irmão tipo babão. 

—E eu acho que você já tá melhor, né? Tá até me zoando já.

Ela sorriu e eu gostei disso.

—Essa sou eu!

—E eu gosto que seja assim. Até prefiro.

—Sério? Tenho pra mim que antes, você detestava.

—Não exatamente. Eu apenas não gostava. Mas aprendi a gostar. - Confessei aproximando meu rosto do dela e em seguida, quando estávamos próximos o suficiente, a beijei.

—Obrigada!

Eu sabia que aquele seu agradecimento era por eu tê-la ouvido e lhe confortado durante ela ter me revelado todas aquelas coisas.

—De nada. - Pisquei pra ela.

—Eu vou subir e dormir.

—Também vou.

Desliguei a TV e a gente subiu. Como meu quarto ficava antes do dela então a gente se despediu ali na frente da porta do meu quarto.

—Boa noite. Qualquer coisa, eu tô aqui.
—Valeu, quatro olhos. Boa noite.

Ela me abraçou e beijou. Depois seguiu para o quarto dela.


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Notas finais do capítulo

A forma como se deu essa morte do irmão de Sara, infelizmente, é uma realidade em alguns lares. Jovens que se metem com essas porcarias e tem suas vidas ceifadas por isso. Mas há quem consiga sair disso antes do pior acontecer.

Um grande beijo e até breve.



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