Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 5
Acampamento Meio-Sangue




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Acordei com o som de um sino tocando, um tanto desorientada, mais ainda ao notar que haviam paredes de madeira me cercando, e havia sons de pássaros. Era como se eu esperasse acordar de um sonho esquisito, mas aquilo não poderia ser mais real. Eu realmente imaginava que tudo pudesse vir do meu subconsciente? Acho que não. Somente Claire estava acordada, já que dormiu assim que se deitou. Arrumamos nossas coisas e acordamos os garotos. Descemos as escadas com nossas coisas. Quíron estava na sala de estar, este parecia tranquilo, como se nada pudesse atordoá-lo.

— Limonada? – ofereceu ele, aceitamos. – Não acho que vão se sentir a vontade tomando café no pavilhão com os outros campistas, afinal não foram reclamados ainda, e não tenho ideia se são gregos ou romanos.

— Hã? – murmurou Max, irritado, provavelmente por não entender o que Quíron queria expressar.

— Sentem-se e comam um pouco.

Sentamos-nos em sofás, algum tempo depois um homem entrou na sala. Era pequeno, mas gorducho. Tinha um nariz vermelho, grandes olhos chorosos e cabelo cacheado tão preto que era quase roxo. Parecia um querubim que chegou à meia-idade em um acampamento de trailers. Usava uma camisa havaiana com estampa de tigre na cor laranja néon, bermuda roxa num tom muito forte e sandálias na cor da blusa, suas roupas tinham um contraste tão forte que faziam os olhos arderem.

— Ah, este é o Sr. D, diretor do acampamento. – disse Quíron. – Sr. D, estes são Max, Dylan, Claire e Leah, os semideuses que o novato Tony e o experiente Tyler estão encarregados de proteger.

O Sr. D resmungou algo que não pude entender.

— Já sabe de quem são? – perguntou, Quíron balançou a cabeça negativamente.

— Espere... Você nos chamou de quê? – perguntou Claire.

— Vocês sabem que Tony e Tyler são sátiros, eles, assim como vocês, pertencem à um mundo diferente do que estão acostumados. E seu amigo Denis é filho de um deus com uma humana.

— Filho de Deus? – perguntou Dylan.

— Não Deus com D maiúsculo, estamos tratando de deuses politeístas. Um deus romano, no caso dele.

— Você quer dizer Júpiter, Plutão, Febo... esses? – perguntou Max.

— Isso.

— Mas o que temos à ver com isso? – questionei.

— Vocês são jovens especiais.

— Tão especial quanto posso ser tendo TDAH e dislexia? – resmungou Dylan, surpreendendo-me por ter o mesmo quadro que eu.

— São filhos de humanos com um desses deuses. Já vão entender os recursos disto. – disse Quíron.

— Denis é filho de quem? – perguntou Claire.

— Febo, a versão romana de Apolo.

— E você? – perguntei.

— Não sou como vocês, meu pai é Cronos.

— Você quer dizer o titã que fatiou o pai, Urano? – murmurei.

— Exato.

— Mas então... o que você é? – perguntou Claire.

— Acho melhor eu mostrar. – pronunciou Quíron. – Sigam-me.

Quíron dirigiu a cadeira de rodas até a grande varanda enquanto o seguíamos. Então ele se levantou da cadeira, o que me apavorou, mas o que me apavorou mais ainda foi a visão que, da cintura pra baixo, Quíron era um cavalo.

— Que diabos... – começou Claire.

— Centauro – murmurou Quíron, e deu uma risadinha.

— Mas você não morreu? – eu disse, reconhecendo o centauro que havia sido treinado por Ártemis e Apolo e lecionara Jasão. Quíron abriu um leve sorriso, como se gostasse da pergunta.

— Você diz a versão em que Zeus me colocou entre as estrelas e formou Sagitário. Bom, esta é correta também, mas nós nunca descobriremos os segredos da mitologia, então pode me considerar vivo.

— Você diz que nós somos semideuses... Então quem seria nosso pai? – perguntou Claire.

— É uma boa pergunta, vou esperar que sejam reclamados até de noite. – respondeu Quíron.

— O Sr. D... O que ele é? – questionou Max.

— Um deus. Dionísio, o deus do vinho, está aqui por uma punição concedida por Zeus, perseguiu uma ninfa além dos limites, creio. Chame-o só de Sr. D.

Denis apareceu algum tempo depois, ao seu lado uma mulher de cabelos louros encaracolados e olhos cinzas tempestuosos. Ela usava uma camiseta laranja escrito o nome do acampamento.

— Bem-vindos. – disse a mulher – Sou Annabeth Jackson, filha de Atena, vou mostrar o acampamento para vocês.

Começamos pela Quadra de Vôlei, que ficava próxima à Casa Grande. Havia o Pinheiro de Thalia que ficava na Colina Meio-Sangue, na entrada do acampamento.

Havia também Artes & Ofícios, onde ficavam as oficinas. Logo abaixo do anfiteatro, às margens do lago. Lá são feitas espadas, arcos, escudos, flechas... Também é lá que estuda-se arte: dança, pintura, escultura, música e literatura. O anfiteatro possuía uma estrutura grega muito bem acabada. De acordo com o que Annabeth dissera, era mais usado para o chamado de "cantoria". A parede de escalada nível 1 tinha 15 metros de altitude, era totalmente reta com exerção dos últimos 3 metros que eram levemente inclinados. Enquanto o nível crescia, as paredes apresentavam dificuldades, como pequenos pedregulhos, filetes de lava e tremores. O lago tinha superfície amena, águas claras, leves e passivas de oscilação. Uma cabana estava armada à sua borda, onde se guardava as canoas. Todavia pesca ali não havia, por que de fato, era improvável, já que se imaginava que não haviam peixes.

Depois de Annabeth nos apresentar todo o acampamento, paramos diante de um grande rio.

— É o Pequeno Tibre, liga o Acampamento Meio-Sangue ao Acampamento Júpiter. – disse Annabeth.

— Acampamento Júpiter? – perguntei.

— É o acampamento romano. Tecnicamente é a cidade de Nova Roma, unimos os dois acampamentos há poucos anos, quando finalizamos a rivalidade entre as duas nações. Eu e meu marido nos mudamos para lá quando casamos, mas frequentemente visitamos o Acampamento Meio-Sangue.

Annabeth nos mostrou Nova Roma, que era como um Sítio Arqueológico das maravilhas da Roma Antiga. Como esperado, tinha uma aparência mais militar e formal em relação ao acampamento grego. A Via Principalis era ataviada de lojas. Umas vendiam suprimentos curativos, outras armaduras e escudos, haviam também lojas de animais, música, armas, joalherias e até Casa de Tatuagem. A Linha Pomeriana era como uma reprodução da Antiga Roma, como se estivessem dentro do set de um filme ou em um RPG. Havia o senado, o fórum, o coliseu e Circus Maximus. Os templos Jupiter Optimus Maximus, Pluto, Bellona e Mars Ultor habitavam a Colina dos Templos, tinham teto alto sustentados por finas colunas. Após conhecermos o básico do Acampamento Júpiter, voltamos ao Acampamento Meio-Sangue, que apesar de não ser distante do acampamento romano, era extremamente diferente, os campistas de cada lado não se misturavam como era no mínimo imaginado. E, ao mesmo tempo que Nova Roma estava ali, era como se não estivesse. Como se estivesse em outra dimensão, mas ligado por um portal. Eu havia percebido isso quando vi arredores de uma cidade estranha da Colina dos Templos.

Voltamos para a varanda da Casa Grande, onde estava Quíron, fora da cadeira de rodas. Ele olhava fixamente para algo acima das cabeças de Dylan e Claire.

— Parece que Poseidon esteve se divertindo esses últimos anos. – disse Denis, com um sorriso sarcástico.

Segui o olhar de Quíron e vi um tridente verde brilhando acima da cabeça de Dylan, acima da cabeça de Claire brilhava o mesmo símbolo.

— Chalé 3, senhores. Vamos ver se mais um deus irá se redimir agora. – disse Quíron.

Em questão de alguns segundos, um símbolo de elmo em vermelho vivo brilhou acima da cabeça de Max.

— Ares. Não fosse por isso eu não descobriria, geralmente os garotos de Ares aparentam ser agressivos. – murmurou Quíron – Chalé 5.

As horas passavam, mas quem quer que fosse minha mãe não parecia ter a intenção de se declarar. Ajax, a coruja, havia encontrado o acampamento e sobrevoava a Casa Grande quando o tom gradiente entre azul e laranja do crepúsculo adornava o céu.

Em uma colina dentro do Acampamento fica o Refeitório. Haviam grandes mesas de madeira, do tipo que se encontra em parques, reservadas para piqueniques, cobertas com toalhas brancas e roxas. O pavilhão era ladeado por grandes colunas de mármore, com tochas que são acesas durante a noite. Cada mesa era grande o suficiente para os integrantes de cada chalé e, no centro de toda a configuração, queima uma grande fogueira, em um braseiro de bronze, onde são feitas as oferendas.

As ninfas passavam com as bandejas de comida, ajudando no serviço do Acampamento, antes delas próprias sentarem-se à mesa para as refeições, dividindo-se entre os chalés de Deméter e Perséfone, no caso das dríades, e Poseidon, no caso das naiádes, enquanto os sátiros compartilhavam a mesa de Dionísio. As bebidas surgiam magicamente nos copos, bastando um pedido do semideus - desde que não fosse nada alcoólico.

As harpias só surgiam para retirar a louça e limpar o local - e não ficariam muito felizes se alguém estivesse as atrapalhando.

Fiquei na mesa de Hera, já que esta não tinha filhos semideuses, por não ter sido reclamada até aquele ponto. Não fiquei muito tempo ali, joguei uma parte do sanduíche de tofu no fogo e pensei: "À quem quer que seja minha mãe, que me reclame logo".

Estávamos ao redor da fogueira depois do jantar, os campistas cantavam, os filhos de Apolo dominavam essa parte, contavam histórias e conversavam animadamente. Annabeth estava ali, ao seu lado estava um homem de cabelos negros e olhos verde-mar como os de Dylan e Claire, julguei ser de Poseidon. Entre eles estava um lindo garotinho, parecia ter seis anos de idade, os cabelos eram louros e os olhos verdes, deveria ser filho de Annabeth com o homem que provavelmente era seu marido. O menininho gesticulava com as mãos e era sorridente.

Senti todos os olhares se voltarem para mim, eram olhares duvidosos e surpresos.

— Atena – disse Claire, ao meu lado – Atena é sua mãe.

— Por que será que não me reclamou antes? – resmunguei.

Quando deu a hora de dormir, Annabeth e sua família vieram em minha direção.

— Esse é meu marido, Percy, e este é o nosso pequeno Luke. Fico feliz de saber que somos meio-irmãs, mas admito que fico um pouco surpresa, você não se assemelha aos outros filhos de Atena. Chalé 6, fique à vontade. Até mais.

Acenei para Annabeth e ela se dirigiu à cidade de Nova Roma. Ás vezes eu estranhava o fato de Annabeth se demonstrar tão prestativa comigo, como se já soubesse da minha existência há anos.

Caminhei até o Chalé 6, acompanhada da conselheira, Alice. Tinha a mesma idade que eu, mas era mais bronzeada, tinha cabelos louros e ondulados e olhos cinzas.

Entendi o que Annabeth quis dizer com "não se assemelha aos outros filhos de Atena", eram quase todos louros, todos de olhos cinzas e com perfeito físico, muitos estudavam à todo o tempo.

O Chalé 6 erara um prédio prateado, nada elegante, com cortinas brancas simples e uma coruja entalhada na pedra acima da porta. Os olhos ônix da coruja pareciam me acompanhar à medida que eu me aproximava.

Após a porta metálica, havia uma enorme sala. As paredes eram brancas, decoradas com desenhos prateados aleatórios. De um lado do recinto havia várias almofadas gigantes, muito confortáveis; do outro, algumas mesas contráteis e móveis, para serem colocadas onde os usuários quiserem. Havia também, empilhados em um armário, vários computadores portáteis, um para cada campista; eles possuíam quaisquer mecanismos de pesquisa, anotações, instrumentos para programações de protótipos e tudo mais que pode-se imaginar; porém, não há conexão com a internet: isto denunciaria o local do acampamento para incontáveis monstros. Uma dúzia de televisões de 42 polegadas estavam espalhadas pela maior parede contrária a porta; elas conseguem conectar-se a quaisquer canais que os campistas quiserem: desde ‘Dysney Kids’ até a ‘TV Hefesto’.

Os beliches estavam todos agrupados em uma parede, como se dormir não tivesse muita importância. A maior parte do quarto estava ocupada por bancadas de trabalho, mesas, estojos de ferramentas e armas. Os fundos eram uma imensa biblioteca entulhada com antigos pergaminhos, livros encadernados em couro e brochuras. Havia uma mesa de arquiteto com um jogo de réguas e transferidores e com algumas maquetes de prédios em 3-D. Mapas de guerra enormes e antigos cobriam as paredes até o teto. Armaduras pendiam sob as janelas, as placas de bronze cintilando ao sol.

Deitei em um dos beliches e dormi rapidamente, o que era um tanto estranho, considerando que eu não dormia brevemente, não achei que fosse mudar num lugar desconhecido.

Acordei no dia seguinte com Alice batendo palmas para acordar aos outros.

Tomei banho e vesti uma camiseta do acampamento, jeans e coturnos.
Fomos até a mesa de Atena no pavilhão, avistei Dylan e Claire na mesa de Poseidon e Max na de Ares, este não parecia bem adaptado.

Beberiquei um suco de laranja.

— Hoje depois do jantar teremos Capture a Bandeira. – informou Alice.

— Geralmente Atena comanda um lado e Ares o outro. – disse Fred, um de meus irmãos.

— Ei, você ainda não escolheu uma arma, não é? Vou te levar no arsenal mais tarde. – disse Alice.

Depois do café da manhã, Alice me levou até o arsenal para escolher uma arma.

Vi um par de facões e os toquei.

— A lâmina é de pura prata. São os facões de Ares, dizem que se o dono souber usá-la, as lâminas ficam em chamas. Deslizam facilmente, ou seja, facilita se você quiser cortar a cabeça de alguém.

Peguei os facões e os analisei. Eram um pouco pesados, mas por esse mesmo motivo os punhos ficavam firmes e trazia o tipo de segurança de que não iria deixar aquilo cair no meu pé. As lâminas eram curtas e agressivas, também largas, o que poderia servir como um bom escudo improvisado, era a arma perfeita.

— Vou ficar com esses – eu disse.

— Você também pode escolher uma segunda arma, alguns campistas fazem isso, geralmente os que não usam espadas.

Peguei uma adaga.

Tivemos treino de esgrima e arco e flecha naquele dia, eu havia utilizado apenas a adaga, já que ainda não me sentia pronta para testar os facões.


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