Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 4
Um leão nos ataca e vamos à um lugar seguro




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A semana passou como um filme, Tony e Tyler continuavam desviando de nossas perguntas, e ninguém parecia ter notado o sumiço da Srta. Hannover, pelo contrário, agiam como se ela nunca tivesse existido. De acordo com o que disseram, a professora de matemática da Berkeley Carroll desde o ano anterior era uma tal de Lauren Cooper, que até a quarta-feira eu nunca nem tinha ouvido falar.

É, talvez eu tivesse tido um pesadelo mesmo, mais provável que não, eu não poderia ter sonhado dois dias seguidos, poderia? E Claire, Dylan e Max não pareciam saber quem era a tal da Sra. Cooper, e, assim como eu, não tiravam o olho de Tony e Tyler, esperando um tropeço para que pudéssemos descobrir algo.

Já estava no dia da excursão para o zoológico de Manhattan, os alunos, especialmente dos primeiros anos do ensino fundamental, estavam todos ansiosos pela ida à cidade.

Sentei-me ao lado de Claire na parte de trás do ônibus, ao nosso lado estavam Max e Tony, na frente Dylan e Tyler.

Demorou algum tempo para chegarmos, mas o percurso foi tranquilo, já que estávamos no caminho da ponte do Brooklyn, que no amanhecer de uma quarta-feira não ficava tão agitada.

Descemos do ônibus e o professor Paul Baldwin, de história, nos mandou formar três grupos. Um deles iria com ele, outro com o diretor Stuttgart e o último com a professora de Ciências, Lisa Field.

Eu e Claire ficamos no grupo de Denis Stuttgart, assim como Dylan e Tyler, já Max e Tony ficaram no grupo do professor de história.

Depois de algumas horas, fizemos uma pausa para lanche, reunindo a turma toda e os dois outros primeiros anos, Tyler a todo momento cochichava com Tony e o diretor Stuttgart.

De repente um leão invadiu a lanchonete em que estávamos. As pessoas começaram à gritar e atirar bandejas, talheres e outros objetos, os clientes correram para fora do lugar gritando coisas como: "Onde estão os zeladores desse lugar?" ou "Leão à solta, corram". Inclusive alunos da Berkeley Carroll já haviam abandonado o local, muito provavelmente porque não tinham sua prudência tão danificada quanto a sanidade.

O leão tinha o tamanho de uma picape, com garras prateadas e pelo dourado. Rugiu tão alto que meu cabelo esvoaçou, uma parte interrompendo minha visão.

O problema? Ele estava olhando diretamente para mim, que até então não havia reparado que era a única que havia ficado parada ali.

— Tá esperando o quê? Corre! – exclamou Dylan, puxando-me, mas o leão, que com certeza não era um leão comum, pulou sobre mim e Dylan, prendendo-nos no chão. Seu bafo e seu corpo imenso não permitia que nos mexêssemos, dando-nos como boas presas. Quando pensei que já estaríamos perdidos, Tony se atirou contra o leão, afastando-o de nós.

— Tony! – gritou Claire.

As muletas e o gorro de Tony haviam ficado para trás e... as calças também. Suas pernas eram peludas e tinham cascos, como pernas de burro ou... bode.

— S-suas p-pernas...? – gaguejou Claire.

— Explico depois, agora corram! – gritou Tony.

Eu e Dylan nos levantamos e corremos com Tyler, Max e Claire. Olhei para trás para verificar se Tony corria conosco, mas ele havia ficado para trás, balançava um hambúrguer que pegara de um prato na frente do leão, que avançou com tanta força que quase engoliu o braço de Tony junto, o leão lhe deu uma patada, derrubando-o, e veio atrás de nós.

Alguns zeladores já estavam no local, mas os ouvi dizer coisas como: "Esse leão não pertence ao zoológico".

O diretor Stuttgart correu, colocando-se entre o leão e eu, Tyler, Dylan, Claire e Max. Ele murmurou algo ininteligível e sua mochila transformou-se em uma aljava, e a pasta que estava em sua mão virou um arco.

Tyler jogou o hambúrguer para o leão, no mesmo momento Denis atirou uma flecha, mas por pouco não pegou na boca, eu não entendia porque não atirava uma flecha nos flancos de uma vez. Os dois tentaram de novo, desta vez conseguiram acertar uma flecha na boca, o leão tentou se livrar da flecha, mas quase rompeu o maxilar, os olhos da criatura reviraram-se, e parecia num colapso nervoso, depois de girar desnorteadamente, caiu no chão com um estrondo.

O leão parecia estar se dissolvendo, até que mais nada havia a não ser seu casaco de pelos, que parecia estar escolhendo ao tamanho de um leão normal.

Tony pegou a pele do leão.

— Que diabos aconteceu aqui? – exclamou Dylan.

— Leão de Nemeia. Creio que devemos explicações. – disse Stuttgart.

— Ah, pode crer. – resmungou Max.

— Mas agora não temos tempo para isso. Tyler, avise à Paul que vamos voltar para o Brooklyn, explique o motivo, depois diga que vamos para o acampamento.

Tyler assentiu e sumiu na Alameda das Tartarugas.

— Acampamento? Que acampamento? – perguntei.

— Um acampamento de verão, certamente seu pai lhe falou disso, não?

— Não. – respondi.

— Tony me disse que ele sabia.

— E ele sabe. – disse Tony.

— Você conhece meu pai? E do que ele sabe? – perguntei.

— Que você não é uma humana comum. Nenhum de vocês é. São muitas perguntas, serão respondidas quando estiverem em segurança.

Eu já ia contestar, mas Tyler desceu a alameda, ele estava sem calças.

— Uma pergunta: Por que vocês têm pernas de burro? – perguntou Claire.

— São pernas de bode. – rebateu Tyler, ofendido.

— Vocês são... – engoli em seco – Sátiros?

— Isso. Ainda bem que não tive que explicar. – disse Tony.

— Vocês ainda tem muito que explicar. – disse Dylan.

— Vamos. – disse o diretor Denis.

Fomos todos no carro do diretor, que tinha duas divisões, portanto o espaço bastou. Eu fui atrás com Max e Claire, Dylan no meio com os dois sátiros.

O diretor dirigiu como louco, como se corrêssemos perigo, o que àquela altura eu entendia que não. Em pouco tempo chegamos ao leste do Brooklyn, estávamos na frente da casa dos Bulfinch, os dois entraram para falar com a mãe e voltaram, depois Denis me deixou na minha com os seguintes dizeres:

— Pegue só o que precisar, diga ao seu pai que vamos ao Acampamento Meio-Sangue, não demore.

Assenti e entrei em casa. Eram seis e meia da noite, papai saía do trabalho às 17h nas sextas. Estava na sala, assistindo TV com Joe.

— Pai. – chamei, meu pai me olhou e notou que eu estava, provavelmente, mais pálida que o comum.

— Querida, está tudo bem? – perguntou, levantando-se e vindo na minha direção.

— Estou indo... Para o Acampamento Meio-Sangue. – eu disse, sem ter a mínima ideia do que aquilo significava. Papai suspirou, assentindo em seguida. Joe também se levantou, obviamente sabia do que se tratava.

— Por que nunca me disse que eu não sou... uma "humana comum"? – perguntei.

— Quanto mais se sabe, mais corre perigo. E você é muito sabida, qualquer coisa que eu dissesse seria uma grande pista para você.

— Preciso pegar minhas coisas, eu já volto.

Subi as escadas e peguei algumas roupas e coloquei numa mochila, coloquei outras coisas, "Os Portões de Roma" e "Inferno". Olhei para Mike, que me rodeava o tempo todo. Abaixei-me e acariciei sua cabeça.

— Tchau garoto. – disse.

Olhei para Ajax e tive uma ideia.

Peguei um pedaço de papel e escrevi: "Acampamento Meio-Sangue", a letra saiu desleixada pela pressa, eu não sabia onde o acampamento ficava, então escrevi apenas isso. Soltei a coruja e dei o papel a ela, que saiu voando pela janela, com sorte chegaria ao lugar certo.

Desci as escadas e dei um abraço forte em Joe, despedi-me dos dois e saí.

Denis levou-nos até a casa de Max, que morava com a avó. Depois seguiu na direção oeste da Avenida Atlantic.

Ficamos quatro horas em um silêncio confortável, trocando poucas palavras. O caminho era longo e um trânsito se formava na hora em que partimos. Tínhamos muito no que pensar, em tudo o que acontecera desde a última semana.

Claire havia dormido com a cabeça encostada na janela, Tony dormia inocentemente no banco da frente. Tyler comia algo que parecia uma lata de refrigerante. Ele havia nos oferecido, mas negamos rapidamente.

— Sinto muito não ter deixado vocês comerem antes de sair – disse Denis.

— Tudo bem – respondi, mesmo estando com uma baita fome.

— Onde fica o acampamento? – perguntou Dylan.

— Long Island. – respondeu Denis.

Já eram 22h quando chegamos ao meio do nada na ilha, andamos por entre algumas árvores até encontrarmos um arco que servia de porta de entrada, estava escrito no topo: "Acampamento Meio-Sangue".

— Entrem – disse Denis.

Nós entramos, estava escuro, mas eu podia enxergar estranhamente bem. Notei que uma galinha voadora do tamanho de um humano vinha voando com tudo na nossa direção. Esquivamos-nos rapidamente.

— São harpias, sua função é devorar campistas que vagam por aí depois do toque de recolher ou que ficam depois do fim do verão sem avisar – explicou Denis. – Xô, são novos campistas.

A harpia voou para longe.

Denis nos guiava para algum lugar, havíamos passado por estábulos, um riacho e uma quadra de vôlei até chegarmos a uma casa com revestimento de madeira e uma grande varanda.

Entramos no lugar e andamos por corredores até chegar à sala de estar. A sala parecia ter sido engolida por uma selva, haviam videiras do piso ao teto. Denis ligou um interruptor, havia um velho homem dormindo numa cadeira de rodas, ele abriu os olhos assim que a luz atingiu seu rosto.

— Desculpe acordá-lo a esta hora, trouxemos os jovens do Brooklyn. Leah Goldwyn, Max Stone, Claire e Dylan Bulfinch.

— Bem-vindos – disse o senhor, bondoso. – Sou Quíron, diretor de atividades do acampamento. Sei que têm muitas perguntas, mas antes precisam de uma boa noite de sono. Denis, tem alguns beliches no quarto de cima, leve-os até lá.

— Espere... Quíron? Eu conheço esse nome! – exclamei. – Não consigo lembrar...

— Quem sabe você não se lembre disto amanhã? Sei como se sentem, mas não vou despejar mais informações depois de um dia cheio que sei que tiveram.

Como que para confirmar, a cabeça de Claire despencou no ombro de Dylan.


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