Cap. 2 - Tentando voltar ao normal.

A vida é uma caixinha de surpresas.

Mas olha só que ironia da vida, do destino, dos seres cósmicos, seja o que for, a minha caixinha, vem com um brinde.

E eu não gostei nada desse brinde.

Tudo bem, eles já tinham conseguido me convencer de que eu estava com perca de memória à longo prazo, ou sei lá o que, mas… Caralho, eu tinha perdido boa parte da minha vida, incluindo das pessoas à minha volta. Tudo bem que eu não tinha sido a melhor pessoa da face da Terra, mas… Porque logo comigo? O que eu fiz meu Deus?!

Agora estou aqui, com cara de idiota, sentada na maca enquanto James, sua namorada - eu acho, foi o que deduzi - e… Alex, estavam conversando com o médico sobre o que deveriam fazer em relação à minha situação. Eu não estava prestando muita atenção na conversa dos três, pois os braços de Alex conseguiam chamar muita atenção por causa daquela blusa social com as mangas arregaçadas até o cotovelo, simplesmente um Deus grego... Eu deixava ele sair na rua assim?

Balancei a cabeça de um lado para o outro com força e rapidez. O que eu estava pensando?

— … Voltar a rotina normal. Será melhor para que ela se acostume e pegue o ritmo das coisas mais rápido. Aconselho que façam com que ela tenha bastante contato com o que antes era visto diariamente em sua vida. - o médico concluiu olhando para mim rapidamente.

— Não falem desse jeito, como se eu não estivesse aqui. - resmunguei aborrecida cruzando os braços sobre o peito e me encostando na cabeceira da maca. Era desconfortável aquela situação.

— Skye… - começou James vindo até mim, suspirei soltando meu braços e deixando-os ao lado do corpo. - Quer ir embora?

— Óbvio. - estava estampado na minha cara que o cansaço era enorme.

Eu queria simplesmente ir para nosso apartamento, comer na frente da televisão e dormir o dia inteiro sem me importar com nada. Sem perda de memórias, sem algum cara se dizendo meu marido. Apenas eu, eu e James na frente da televisão engordando. Isso parecia uma lembrança de tão longe.

— Ela vai precisar de algum tratamento psicológico? Algum remédio? - perguntou a provável namorada do James.

— Bem, apenas faremos alguns exames para saber se ela já está pronta para ir para casa. Mas, fora isso, ela precisará de descanso, não poderemos fazer muita coisa, o cérebro humano ainda é algo muito complexo e desconhecido para a medicina. - explicou. - Por isso, recomendo que ela viva sua rotina normalmente, como se nunca tivesse se esquecido de nada. - concluiu.

Ótimo… Voltar à rotina normal significa ter que ir para casa junto do Alex, ficar num ambiente estranho e desconhecido. Com uma pessoa estranha e desconhecida. Isso é loucura. Eu não vou viver debaixo do mesmo teto de uma pessoa que eu nem conheço. Não mesmo!

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Eu tinha dito que não ia viver sob o mesmo teto de Alex não é? Pois estão… James não aceitou essa afirmação muito bem.

— Você vai sim. Ele é o seu marido. Isso é para o seu bem, o médico disse que poderia fazer bem à sua memória. Essa sua ideia idiota está fora de questão.

— Eu não vou! Eu nem o conheço. Todos vocês falam que ele é o meu marido, mas a única coisa que eu sei sobre ele é o nome. Eu não vou para casa de alguém que apenas vi pela primeira vez a algumas horas atrás! - cruzei os braços e bati o pé. Tudo bem que eu parecia uma criança mimada fazendo pirraça, mas o James tinha que entender que eu não ia para casa de alguém que era totalmente estranha na minha vida.

Meu peito subia e descia muito mais rápido que o normal por eu ter gritado, James estava de olhos arregalados e surpreso pela minha atitude. Olhou na direção da porta e suspirou por encontrá-la fechada. Alex e a suposta namorada de James haviam saído do quarto pouco antes para ver os documentos necessários para minha alta e buscar algumas roupas minhas para que eu pudesse me trocar após os exames que teria que fazer. James tirou os olhos das porta e se virou na minha direção com uma pitada de raiva, mas antes de falar alguma coisa, implorei com o olhar e argumentei:

— Vai James, me deixa ficar no nosso apartamento. - ele suspirou e assentiu coçando os olhos com uma das mãos.

— Tudo bem, apenas alguns dias. Mas você não pode morar lá o resto da vida Skye. - avisou. - Entenda uma coisa por favor. Querendo ou não, você é legalmente casada com ele, você tem uma casa própria, carro e trabalho, lembrando ou não, uma hora você vai ter que voltar à rotina.

Olhei nos olhos dele e vi, que estava implorando, pedindo misericórdia, para eu entender aquilo. E eu entendia… Mas ele também tinha que entender meu lado. Fazer coisas que você não está acostumada a fazer era difícil. Eu iria ter que aprender as coisas normais tudo de novo.

É… Isso ia ser difícil.

Depois de mais alguns outros exames por precaução, alguns com agulhas, deixando meus braços todo cheio de furinhos, fui liberada para voltar para casa. James e eu estávamos caminhando lado a lado para a saída, onde a sua “namorada”, chamada Clary de não me falha a memória (por mais que ela já esteja fudida) e o Alex estavam nos esperando.

Clary estava do lado de um carro preto, que parecia ser caro, encostada na porta do carona mexendo no celular, alheia de tudo que estava acontecendo à sua volta, e Alex… Estava maravilhosamente encostado no carro ao lado, numa pose digna de um ator famoso tirando fotos para uma revista, o olhar fixo no sol que estava desaparecendo no horizonte fazendo com que os raios, ainda que poucos, batessem em sua pessoa deixando seu corpo, através da camisa social pouco transparente, à mostra e deixando seus olhos mais claros que da última vez que os vi…Estava absurdamente lindo.

Que merda eu estava pensando?! Se eu quisesse ficar babando assim pelo meu “marido” eu estaria indo para casa junto com ele e não com James… Certo?

— Skye! - gritou Clary do estacionamento interrompendo meus pensamentos nada decentes do Alex. Ela me deu um abraço, me deixando um pouco desconfortável com aquela situação.

Depois de me soltar fomos andando com James até estar próximo dos carros e de Alex. E percebi que sua atenção agora estava direcionada diretamente sobre minha pessoa. Desviei o olhar para Clary, que estava abraçada na lateral do namorado novamente.

— Então… - começou James coçando a nunca, uma mania que aparentemente não tinha ido embora de quando ficava nervoso. - Alex, Skye vai passar uns dias no meu apartamento para que ela se acostume com… Tudo que está acontecendo. - explicou olhando para o Alex e depois para mim repetidas vezes.

A cara de Alex era indescritível. Ele estava impassível de emoções, mas em seus olhos dava para ver que tinha um pouco de mágoa, talvez eu tivesse acabado com as poucas esperanças que ele ainda nutria.

Eu estava começando a me sentir culpada.

— Ela vai ficar apenas até o fim dessa semana, porque na próxima terei uma palestra para dar em um dos hospitais de Washington e Clary vai junto, pois tem uma sessão de fotos na cidade. - explicou ele olhando dessa vez para o meu rosto, explicando que eu iria para a casa do Alex - que também era minha - mais cedo do que eu imaginava.

Eu não estava pronta para tudo que ia vir a partir daquele momento. Passar uns dias no apartamento de James - que antes era nosso -, parecia a solução para todos os meus problemas, pelo menos era assim na minha visão. Mas não para James.

Ele queria que eu vivesse minha vida o mais normal possível, conversando com as pessoas que eu não conhecia sobre meu passado, voltando a morar na minha suposta casa com Alex, reaprendendo as coisas…

É… Eu estava fudida.