Trina escrita por Gustavo Francisco


Capítulo 7
Capítulo 7 - A loja de paisagismo da esquina




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(Revisão #4)  

 

— Isso não é possível. – Ela olhava para os lados, desorientada - Eu tenho certeza que era nessa casa! Só faz um ano!

— Não, nós mudamos para cá em 2011.

— Eu sinto muito – falou Adriano, ainda segurando a mão dela.

— Então vocês acabaram de se mudar, certo!? – Damra olhava de um para o outro, como se esperasse essa resposta a muito tempo.

— Não – Disse Bruno calmamente, com um semblante preocupado. – Como dissemos já faz três anos que estamos aqui.

— Como?... Mas vocês mudaram esse ano... 2011 – A angustia e o nervosismo reprimidos em seu interior, fazia ela sentir que estava prestes a explodir.

— Não – Disse Adriano com calma, trocando um olhar com Bruno – Estamos no ano de 2014.

Ela puxou as mãos rapidamente, como se o contato com Bruno fosse feri-la.

— Eu só posso estar louca! – Ela se levantou e começou a andar falando alto consigo mesma. – Ou... eu estou dormindo! É um pesadelo! É isso! Só pode ser um...

— Eu sinto muito, querida, mas você não está sonhando – Bruno levantou, pegando o jornal de cima da mesinha e entregando a ela – Olha a data.

Ela o pegou com as mãos trêmulas.

14 de Janeiro de 2014.

"É verdade" – Ela caiu sentada no sofá aturdida, com um fragmento de memória no fundo da mente ganhando voz.

"Os tempos dos dois mundos correm juntos, mas não na mesma velocidade".

A verdade a atropelou.

— Eu já entendi – Ela falou quase em um sussurro – Foi tudo um engano.

Ela levantou, pegou suas coisas, enxugou as lágrimas e partiu em direção a porta.

— Calma, onde você vai assim?

— Você está muito abalada para sair daqui agora. Já está quase de noite!

Eles a seguiram até a porta, mas antes que pudessem dizer mais alguma coisa, ela os abraçou com uma intensidade, que levaria qualquer um a crer que já os conhecesse a anos.

— Muito obrigado pelo que vocês fizeram. Não é qualquer um que deixa uma estranha entrar na própria casa, ainda mais com crianças pequenas. – Ela desfez o abraço triplo. Segurando a mão de cada um deles - Inclusive são lindas, são seus filhos?

— Sim. – Agora Adriano segurava as lágrimas.

— Fertilização... – Concluiu Bruno.

— São lindos. Ótimos pais vocês. Quem dera eu tivesse tido a mesma sorte.

Ela soltou a mão de Adriano e enxugou suas lágrimas, pousando a mão em seu rosto firme e imponente com uma barba por fazer. Ela o olhou com tanta ternura, que ele sentiu seu coração se aquecer.

— Como pode... – Disse Bruno enxugando as próprias lágrimas – Como pode, a gente mal se conhecer e já ter esse sentimento louco aqui dentro? De querer o bem. De querer proteger.

— Eu sinto como se a gente já se conhecesse durante uma vida inteira – Disse Adriano, sorrindo enquanto outra lágrima escorria.

Damra sabia bem o porquê desse sentimento.

Ela apenas sorriu.

— Serena. Se você precisar de alguma coisa – Ele colocou a mão no ombro dela – Estamos aqui.

— É isso mesmo – complementou Adriano.

Houve um breve instante de silêncio antes que Damra assentisse com a cabeça e apertasse com mais firmeza a mão deles.

— Me chamem de Damra. É assim que meus amigos me chamam.

— Okay...

— Damra – Bruno completou.

— Volte para nos visitar.

Um grande aperto passou no coração dela. Ela tinha prometido para a amiga que voltaria, mas estava tudo diferente agora.

Ela concordou com a cabeça e logo saiu pela porta, deixando-os na soleira, olhando para ela, até que ela se perdesse de vista.

Damra nem sabia mais o que fazer. Continuou apenas caminhando pelas ruas, sem a necessidade de que seu cérebro comandasse suas pernas.

"Eu tenho que voltar. Mas como voltar? Eu não sei ao certo como eu vim parar aqui. E nem sei como eu fui para lá da primeira vez".

Damra não saberia dizer quanto tempo se passou desde o momento que saiu daquela casa, ela mal se dava conta do mundo ao seu redor, até que o corpo dolorido mostrasse sinais de cansaço, após a longa subida da rua e a trouxesse de volta ao presente.

Ela estava em frente a uma rotatória que dava acesso a várias ruas.

"Sabe o que isso significa?" – Ela disse a si mesma, enquanto alternava o olhar de uma rua para a outra – "Muitas possibilidades."

Perdida em devaneios, Damra teve sua atenção atraída pelos carros que contornavam a rótula. Eles pareciam triplicar, bruscamente, de velocidade quando estavam na periferia do círculo, até que saíssem pela rua desejada, e instantaneamente voltassem a velocidade anterior.

Depois de analisar o fenômeno com mais atenção durante o minuto seguinte, ela voltou o olhar para o centro da rótula com uma atenção renovada, e teve a impressão que seu gramado se estendia por muitos metros a mais do que jamais percebera antes. Não parecia possível que fosse um lugar tão grande. Era como se tivesse um cartaz fixado na borda da rotatória, dando a ilusão de profundidade.

"Como posso nunca ter percebido isso?".

Quanto mais ela tentava focar adiante, menos detalhes ela conseguia discernir, pois tudo parecia sumir como uma miragem. Quando focava seus olhos no gramado mais perto, conseguia perceber uma construção ao fundo, pela visão periférica, algo em amarelo desbotado, e vidro sujo.

Darma levantou a cabeça, decidida a chegar até lá, e tudo desapareceu.

Por um momento se perguntou se estava ficando louca, mas em acabou atravessando a rua em direção a rotatória, mesmo assim.

Quando seus pés tocaram a grama, tudo aquilo que antes era nebuloso, agora ganhou foco. O mundo pareceu aumentar de tamanho para abrigar todo aquele jardim que a circundava.

Curiosa, ela avançou a passos rápidos, mas seus olhos eram atraídos para as diversas flores e plantas que encontrava no caminho. Algumas tinham etiquetas de preços, enquanto outras tinham apenas nomes marcados.

Por fim, conseguiu chegar a entrada da edificação, onde havia uma placa de madeira envelhecida, pendurada logo acima da porta, que se lia em enormes letras cursivas:

"Jardim Secreto da Dona Margarida"

Não pareceu haver movimentação lá dentro, após seu primeiro toque à porta. Tentou novamente, agora chamando por alguém, porém permaneceu sem resposta.

Estava prestes a desistir, quando decidiu tentar uma última vez. Quando os nós de seus dedos tocaram com maior intensidade na madeira, a porta se abriu lentamente com um ranger oco, dando acesso a um ambiente escuro, iluminado apenas pela meia luz de um fim de tarde nublado.

— Olá! Alguém aí? – nada – olá?

Damra deu um passo para dentro, procurando sinal de algum ser vivo, mas um barulho vindo do canto da sala a assustou.

Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, Damra sentiu algo empurrando suas costas com força, jogando seu corpo dentro do espaço com um solavanco, que a fez tropeçar e cair no chão, ao mesmo tempo que a porta se fechava com violência.

Agora ela estava no escuro.


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