Conhecimento Adquirido e Não Confesso escrita por Tai Bluerose


Capítulo 5
Um Namorado de Coração Partido


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que leram e aos que comentaram. ♥
Desculpe qualquer erro.
Boa leitura.



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Um Namorado de Coração Partido

 

Walter estava sentado na sala reservada aos visitantes, assistindo a um jogo de beisebol. Eu estava no quarto, ao lado do leito de Molly, esperando que ela acordasse. Eu me sentia muito mal por eles dois, a vida de ambos tinha acabado de mudar drasticamente, graças a mim. A maior tragédia na vida deles, até então, foi ter perdido alguém querido para um câncer. Agora eu os colocara na mira de um psicopata assassino. Nem eu, nem Molly e Walter poderíamos voltar para casa enquanto o Dragão não fosse pego.

 – Ele está atrás de você agora? O tal Dragão. É por isso que ele veio atrás de nós? – Molly me perguntou alguns minutos após ter acordado.

 – Ele foi atrás de vocês porque Hannibal disse a ele para fazer isso.

Molly fez uma careta. Não era uma sensação agradável, eu sabia.

 – E por que esse Hannibal fez isso? É vingança porque você o prendeu?

 – Pode ser.

Molly ficou um bom tempo em silêncio. Eu podia sentir a parede crescendo entre nós. Eu odiava isso.

 – Jack Crawford tem um local seguro para você e Walter ficarem até que tenhamos apanhado o Dragão.

 – E quanto tempo isso vai levar? – Eu podia sentir a impaciência e a tensão dela. Eu sabia que ela estava incomodada e assustada com toda aquela situação e isso me entristecia.

 – Eu não sei, Molly. Pode demorar.

 – Mas e a loja? Ia chegar mercadoria nova essa semana.

 – Esqueça a loja por enquanto, Molly. Temos que pensar na sua segurança e na do Walter.

 – Tudo bem. Mas não quero ir para nenhum lugar que Jack Crawford indique.

 – Ele só está tentando ajudar.

 – Ele já ajudou o suficiente – havia ironia e agressividade no seu tom. Passei as mãos pelo rosto.

 – Certo. Para onde, então?

 – Para a casa dos avôs do Walter. É longe. Não acredito que esse louco saiba sobre os avôs do Walter.

 – Tudo bem. Se vai te fazer se sentir melhor....

Depois que Molly saiu do hospital, tive que levá-la a linha de tiro do FBI, para ensiná-la a atirar. Ideia do Jack. Ela precisava saber se defender, caso encontrasse o Dragão novamente.

 Usávamos um revolver 22. Posição de ataque. O movimento era sempre o mesmo. Ela sacava o revolver da bolsa a tira colo e disparava contra a silhueta do alvo a nossa frente. Fizemos isso repetidas vezes.

Para meu desgosto, Molly levava jeito para a coisa. Em quatro horas, ela evoluíra de balas disparadas em qualquer direção para tiros certeiros no ponto central dos alvos.

Quando fui devolver os fones de proteção e o equipamento ao Diretor, o homem elogiou minha habilidade de ensino e o progresso espantoso de Molly. Provavelmente ele achou que isso me deixaria orgulhoso. Tentei forçar um sorriso, mas nada saiu de mim. Senti como se tivesse testemunhado uma perda irreparável. Como se mais uma parte da Molly que eu conhecia e amava acabava de se quebrar. Como se a vida que eu tinha construído por três anos estivesse se despedaçando aos poucos.

Por que é tão difícil segurar as coisas boas? Tudo é tão... escorregadio. Escapa entre os dedos como água.

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Às vezes, nós não temos plena consciência do que fazemos. Simplesmente fazemos e depois nos perguntamos qual era nossa motivação, o que pretendíamos.

Não sei ao certo o que eu pretendia ao marcar um horário com Bedelia Du Maurier.  Mas, enquanto conversávamos percebi que eu estava em busca de algumas explicações sobre ela, sobre Hannibal, sobre o período que eles passaram juntos na Itália. Ou, talvez, eu só queria poder conversar com alguém que realmente entendia o que significava estar envolvido com Hannibal Lecter e que não me julgasse por isso.

 – O que você vê quando olha para sua esposa? – ela fez a mim a mesma pergunta que Hannibal faria. Havia muito de Hannibal em Bedelia, assim como havia muito de Hannibal em mim. Ela enxergava isso em mim, assim como eu era capaz de perceber nela.

 – Eu vejo Molly deitada no lugar da senhora Leeds e da senhora Jacobi, banhada em sangue e com os espelhos sobre os olhos e boca. Vestida de dourado como a mulher da pintura de Blake. E... Eu me vejo matando ela, várias e várias vezes. Assim como me vejo matando a senhora Leeds e a senhora Jacobi. É difícil olhar para ela e evitar que esses pensamentos surjam. Eles simplesmente vêm. Carregados de prazer e culpa – suspirei. Estava cansado de tudo aquilo. – A loucura começa a invadir os espaços da minha mente que eu havia criado para Molly e Walter.

 – E agora o Hannibal caminha livremente por esses espaços também. É difícil prever quando materiais frágeis irão se partir. Hannibal te deu três anos para construir uma família, sabendo que ele encontraria um jeito de tirá-la de você.

 – E ele encontrou – eu me sentia a deriva, a correnteza me levava cada vez mais longe de Molly e Walter. Quanto mais eu tentava me aproximar deles, mais eles sofriam. – O que Hannibal irá tirar de você?

Vi o canto dos lábios de Bedelia se curvar num sorriso. Ela olhou para mim como se chegasse a uma constatação final.

 – É importante para você que ele tire algo de mim? – não respondi, mas, sim, era. – Eu sei que você não gosta de mim, Will Graham. O seu desgosto é aparente, você nem mesmo tenta escondê-lo. Acredito que esse despeito por mim tenha começado quando Hannibal me levou em uma viagem que você deveria ser o acompanhante.

Hannibal e eu passamos semanas planejando uma fuga que eu sabia que jamais aconteceria, porque eu não pretendia ir com ele de verdade. Eu pretendia prendê-lo antes disso. O que eu também não pretendia era me tornar tão próximo dele durante aquele período, não pretendia ficar me perguntando como seria se eu realmente fosse com ele. Hannibal dizia que havia um lugar seguro para nós dois e que havia lugares que ele gostaria que eu conhecesse.

Mas Hannibal descobriu a minha farsa e a do Jack. O plano falhou de maneira desastrosa e com consequências fatais.

“Eu deixei que você me conhecesse. Deixei que me visse. Eu te dei um presente raro, mas você não quis. Você queria tirar minha liberdade, queria me confinar numa cela.”

Só percebi que ele tinha realmente se tornando um amigo, alguém realmente importante para mim, quando senti meu coração se partir de todas as maneiras possíveis. Ele tirou Abigail de mim, mais uma vez, naquela noite e não consegui odiá-lo por isso. Eu me sentia ferido, me sentia um traidor. Eu sabia que ele também estava sofrendo... por minha causa. E ele se foi, sem mim.

E levou Bedelia em meu lugar. Eu a desprezava por isso.

 – Por que você foi com ele? – indaguei. Queria saber o que a motivou a fazer o que eu não tive coragem. Ao contrário de mim, Bedelia tinha muito a perder. E mesmo assim, ela abandonou tudo para fugir com um assassino extremamente perigoso.

 – É difícil não se sentir seduzido pelos encantos de Hannibal. Somos facilmente atraídos a sua orbita, alguns mais facilmente que outros. Mas eu tinha outro motivo, um mais racional.

Ela se levantou e serviu uma taça de vinho para mim e para si mesma. Voltou a sentar em sua poltrona, cruzou as longas pernas, e saboreou um gole antes de voltar a falar.

 – Eu sabia que Hannibal pretendia me matar. Pensei que, se eu mostrasse que estava do lado dele e que o compreendia, ele poderia reconsiderar sua decisão. Mas eu estava enganada a respeito dele e a respeito de mim. Eu não compreendo o Hannibal totalmente, eu apenas o conheço melhor do que as outras pessoas. Eu não o compreendo como você o compreende. E certamente não estava preparada para viver e tolerar todas as ações de alguém como ele. Eu transpirava medo e Hannibal sempre teve um excelente olfato.

Bedelia continuava com sua máscara de tranqüilidade e autocontrole, mas, mesmo eu, podia perceber sua tensão.

 – E como você estava enganada a respeito dele?

 – Hannibal sempre cumpre as suas promessas. Durante nossa estadia na Itália, em nenhum momento ele me deixou esquecer que ainda pretendia me matar. Você queria saber o que Hannibal tiraria de mim? É isso. Hannibal ainda quer me matar, mas ele só fará isso se puder fazer com suas próprias mãos e se puder me comer. Ele não pode fazer nenhum dos dois agora.

Eu não gostava do modo como Bedelia se fazia parecer vitoriosa sobre Hannibal. Orgulhando-se por ter escapado da fera sem nenhuma cicatriz, quando eu estava coberto delas, por dentro e por fora. Ela escapara com vida, mas isso era temporário. Hannibal acabaria matando ela e isso seria muito bem feito.

 – Há um custo para qualquer pessoa que se envolva com o Hannibal Lecter. Se você jogar, tem que pagar.

Devo ter soado cruel ou arrogante, porque Bedelia olhou-me de modo estranho.

 – E você pagou caro, não é? De todos, é quem mais se envolveu com ele... Sua esposa sabe o quão intimamente você conhece Hannibal Lecter?

 – Ela sabe o suficiente – falei entre dentes.

Houve um minuto de silêncio entre nós, e eu só conseguia enxergar o sorriso de sarcasmo de Bedelia.

 – Todas as atenções de Hannibal estão voltadas para você. Excita-o saber que você está marcado... desta forma particular.

 – Por quê? – cuspi as palavras.

 – Por que você acha?

Lembrei-me do corpo que Hannibal tinha deixado na Capela dos Normandos em Palermo. Um recado para mim, um recado grotesco em três dimensões. O corpo de um homem dobrado, desossado e retorcido para se assemelhar a um coração humano, sustentado por três espadas formando um tripé.

 Um coração transpassado por três espadas. O símbolo da taromancia para a traição, a rejeição e a separação. Mas se invertido, assim como a escultura na capela, simbolizava o perdão e a reconciliação.

No momento em que vi aquela escultura, me senti ligado ao Hannibal mais do que a qualquer outra pessoa. Eu sabia que ele havia deixado aquilo para mim, ele estava deixando pistas que me levariam ao seu paradeiro. Ele queria que eu o encontrasse. Eram ações de um namorado de coração partido.

 – Hannibal está... apaixonado por mim?

As palavras saíram de mim incertas. Precisei dizê-las em voz alta e precisava da confirmação de outra pessoa para saber que aquilo não era apenas uma idéia tola da minha cabeça.

 – Poderia ele diariamente sentir uma pontada de fome por você e encontrar alimento apenas em olhá-lo? Sim. Mas você... sofre por ele?

Não pude responder. Na verdade, não soube o que responder. De repente, tudo estava muito confuso dentro de mim.

 – Sendo Hannibal um psicopata, sabemos que ele não é realmente capaz de amar. Mas podemos afirmar isso com certeza? Hannibal não é como os outros, ele é capaz de compreender e sentir empatia. Ele tem um interesse obsessivo, mas genuíno por você. De alguma forma, ele acredita que você já pertença a ele. Durante nossa estadia na Itália, não houve um só dia em que ele não tenha mencionado o seu nome. Naquele tempo, Hannibal sabia que você havia se tornado a fraqueza dele e que a única maneira de corrigir isso seria te matando. Mas é óbvio que ele não conseguiu dar um fim a você. Porque ele gosta de você assim, vivo. Penso que o que Hannibal sente em relação a você, Will Graham, é o mais perto que ele já chegou do amor.

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Quando entrei na sala/cela, Hannibal estava encostado na parede, de olhos fechados, semblante tranquilo. Ele devia estar em algum lugar do seu Palácio da Memória, revivendo momentos felizes ou desfrutando de companhias mais agradáveis. As paredes estavam vazias. Sem livros, sem desenhos, sem material para desenho, sem cama ou móveis adicionais. Alguma punição de Alana, eu supus. Apenas Hannibal num grande espaço vazio e fechado. Cheguei a desejar vê-lo fora dali. Em liberdade.

Era um absurdo.

 – Pensei que não fosse mais vê-lo, Will, depois do que aconteceu com sua família – Hannibal se pronunciou ainda de olhos fechados. Encostei-me na parede ao lado dele, o espesso vidro entre nós.

 – Só vim para te dizer que o Dragão está morto. Achei que gostaria de saber.

 – Você o matou?

 – Não. Foi suicídio. Ele percebeu que a polícia o pegaria e se matou. Ele sequestrou uma mulher negra e cega, Reba McClane. Parece que tinha um envolvimento romântico com ela. Ele incendiou a própria casa e deu um tiro na própria cabeça. Reba conseguiu escapar. Francis Dolarhyde. Era o nome verdadeiro dele.

 – Então ele não foi tão forte quanto o Dragão. É uma pena, Will. Você veio até aqui e não conseguiu matar ninguém.

 – Eu vim para parar o Dragão. Ele foi parado.

 – Sua família está segura agora – Hannibal virou-se de frente para o vidro, ereto e com as mãos para trás. Elegantemente imponente. – Você pode voltar para casa. Se ainda houver algum sentido. Há algum sentido?

 – Eu gosto da minha vida lá – falei com sinceridade e me afastei.

 – Você verá que não será a mesma. E o conhecimento adquirido viverá com você como uma companhia indesejada na casa.

 – Molly e eu queremos que seja a mesma – repliquei.

 – Quando a vida se tornar irritantemente educada, pense em mim, Will. Não se preocupe comigo, pense em mim.

Eu sabia o que ele sentia por mim e eu o compreendia. Sabia o que ele representava para mim. Mas era loucura pensar em dar continuidade a isso. Hannibal estava exatamente onde devia estar e eu voltaria para Molly.

Aproximei-me do vidro e o toquei com minha mão. Senti Hannibal me analisando por completo naquele momento.

— Você se entregou para que eu sempre soubesse onde você estaria. Você só faria isso se eu te rejeitasse – eu sabia que aquela tinha sido a cartada final do Hannibal, uma tentativa desesperada de me manter preso a ele. De fato, eu sempre soubera onde ele estava, e eu voltei quando precisei. Mas agora tudo estava acabado. Eu iria embora, e ele ficaria preso ali para sempre. – Adeus, Hannibal.

 – Você só me rejeitou, Will, porque tem medo do que está dentro de você. Acha que ficando longe de mim poderá anular sua transformação. Acredita mesmo que isso dará certo? Eu posso ajuda-lo a ser mais forte e poderoso do que você poderia imaginar, Will.

 – Tudo o que você quer é estabelecer uma relação de dependência.

 – E qual o problema disso? Você estabeleceu uma relação de dependência com sua família.

 – Humph!

 – Você os usa como ancoras para se manter preso a uma vidinha pacata e sã. Pode mentir, se quiser, mas sabe que é verdade. Pode fugir de mim, mas não vai conseguir ficar longe.

 – Eu fiquei. Por três anos.

 – E voltou na primeira oportunidade. Você não pode retardar sua transformação, Will, porque ela já se completou há muito tempo. Quando você tirou a vida de Randall Tier com suas próprias mãos. Quando transformou o corpo dele em um monumento em sua própria homenagem.

— Randall Tier me obrigou a matá-lo.

 – Ele não te obrigou a gostar. Sua transformação já se completou, Will. Você só não teve coragem para sair da crisálida... ainda. O cordeiro se transforma em leão.

 – Está enganado.

 – Estou? Você se deleita com a maldade, mas se priva do prazer.

 – Não. Você se deleita. Eu apenas tolero. Eu não quero ser poderoso e definitivamente não quero ser um assassino.Eu não sei o que você pensa Hannibal, mas eu jamais poderia ir com você. Eu não tenho o seu apetite. Eu seria apenas um empecilho, você logo notaria isso. Além disso... O que você tem a me oferecer, Hannibal, além de uma vida de assassínio e uma trilha de corpo?– Hannibal não respondeu, continuou impassível, como uma estátua de mármore. – Você não vê? Isso nunca daria certo.

Preparei-me para sair.

 – Will... Foi bom me rever?

Era um quase imperceptível tom de súplica em sua voz? Os olhos deles estavam brilhantes e senti minha garganta apertar.

 – Bom? – a voz saiu embargada. E tomei força para conseguir mentir. – Não.

Foi uma das raras vezes em que vi Hannibal demonstrar tristeza genuína.

 – Por que me deu a chave para entrar, Will, se insiste em manter-me do lado de fora?

 – Não te dei a chave, Hannibal. Você a roubou.

 – Não. Eu a conquistei. É diferente. Você só não admite.

As lágrimas se formaram em meus olhos, não pude impedi-las. Não respondi. Saí antes que ele pudesse falar mais alguma coisa. Me distanciei a passos largos. Ignorando até mesmo Alana Bloom, com quem esbarrei no corredor. Não sabia dizer se ela tinha ouvido qualquer coisa da minha conversa com Hannibal. Esperava que não.

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O Dragão não tinha morrido, eu soube disso antes da polícia descobrir que Francis Dolarhyde tinha forjado a própria morte. O Dragão veio até a mim, ele queria vingança, achava que Hannibal o tinha entregado a polícia.

Quando Jack trouxe a notícia para mim, tentei parecer surpreso. Eu tinha prometido levar Hannibal até o Dragão, só precisava fazer o Jack concordar o plano.

 – Usaremos Hannibal como isca. O deslocamos para outro lugar sob custódia federal e forjamos uma fuga. Levamos Hannibal para um local onde possamos vigiar de perto. O Dragão irá até ele.

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 – Acredita que esse plano pode funcionar? – Alana Bloom lançou a pergunta a Jack Crawford quando Graham saiu da sala.

 – Acredito que ele pode dar errado de todas as formas possíveis.

Alana olhou para o policial grande e moreno, de aspecto imponente. Mas o rosto dele estava cansado e preocupado.

 – E acredita que é uma boa idéia deixar o Hannibal com Will?

 – Para ser sincero, Alana, não consigo confiar plenamente no Will Graham desde aquela noite na cozinha do Hannibal.

 – Todos nós temos cicatrizes daquela noite. Will tem a pior de todas. Hannibal abriu uma porta na mente Will e ninguém sabe ao certo se ela voltou a se fechar, nem mesmo o Will. Hannibal vai tentar manipulá-lo a seu favor e Will vai se sentir tentado a cooperar.

 – Mas no fim, Will Graham sempre faz a coisa certa. Vou torcer para que esse lado dele fale mais alto. Além disso, Will sabe que sua família estará em perigo enquanto o Dragão estiver vivo. Ele não vai parar até pegar esse sujeito.

Alana girou o copo de Martini nas mãos, observando o líquido se mover de um lado a outro.

 – O que eu sei é que Will foi visitar Hannibal mais vezes do que era aconselhável. Não estou dizendo que Will esteja tramando com Hannibal pelas nossas costas, Will não seria capaz disso, pelo menos não conscientemente. Mas Hannibal já pode ter domínio sobre ele a essa altura.

— Eu tenho consciência disso, mas Will tem razão em uma coisa. Dolarhyde vai atrás do Hannibal para matá-lo e Hannibal não vai querer ser derrotado por um assassino estreante. Se Dolarhyde matar o Hannibal, Will matará Dolarhyde e nos livramos de dois monstros de uma só vez. Mas se Hannibal matar o Dolarhyde, teremos que torcer para que Will seja capaz de matar o Hannibal.

 – E se Will morrer em qualquer uma dessas equações?

 – Às vezes precisamos fazer sacrifícios. Precisamos estar prontos para o pior. O pior para todos nós.

.

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Hannibal foi colocado numa jaula dentro de um furgão da policia. Usava camisa de força e estava amordaçado por uma máscara. Sentei-me de frente para ele. Nossos olhos se encontraram diversas vezes, senti que ele segredava com uma parte de mim, uma parte que teimava em tomar decisões próprias. Eu sabia que em poucas horas, Hannibal estaria livre. Não uma liberdade forjada, como eu e o restante do FBI tínhamos planejado. Livre de verdade. Ele encontraria um jeito. Eu sabia que o plano estava fadado ao fracasso, só não sabia em que momento ocorreria.

Eu poderia ter evitado isso. Poderia jamais ter sugerido tirar Hannibal de dentro do Hospital Penitenciário. Mas eu estava curioso sobre o que aconteceria se Hannibal se encontrasse em liberdade mais uma vez... se ele encontrasse o Grande Dragão Vermelho.

Dois policiais armados nos acompanhavam dentro do furgão e mais duas viaturas faziam a escolta. Poderíamos ter tomado medidas de segurança melhores, deveríamos, mas queríamos que Dolarhyde se sentisse confiante para tentar uma aproximação.

Ele tentou. E foi mais audacioso do que esperávamos.

Dolarhyde matou um policial e roubou sua viatura, interceptou o nosso comboio e matou todos os policiais com tiros certeiros na cabeça. O furgão saiu da estrada e ficamos atordoados com o choque. Dolarhyde matou os dois policiais que estavam comigo antes que eles pudessem sacar as armas, arrebentou a tranca da jaula de Hannibal e fugiu deixando apenas nós dois com vida.

 – Ele não vai nos matar aqui. O que ele planejou para nós exige um lugar mais privado.

Hannibal se livrava da máscara e da camisa de força. Meus ouvidos ainda zumbiam com o barulho dos tiros.

 – O que você está fazendo?

 – Sabe, Will, você se preocupa demais. Ficaria mais confortável se relaxasse um pouco – Sorriu para mim. Hannibal retirou o corpo dos policiais que estavam na viatura da frente e estacionou diante de mim. Com a mão esquerda ainda no volante, ele abriu a porta do passageiro e apoiou o braço direito sobre o encosto do banco.  – Quer uma carona?

Olhei para ele por alguns segundos antes que meus pés me guiassem até o banco do passageiro. Coloquei o cinto de segurança e encarei um Hannibal sorridente, nem lembro qual foi a última vez que o vi com tanto bom humor. Seus olhos castanhos claros cintilavam de felicidade quando olharam para mim.

 – Para onde vamos? – indaguei. O carro de Dolarhyde já havia sumido de vista.

 – Para casa. É onde ele gosta de matar as famílias. Ele vai nos procurar lá.

Os olhos de Hannibal continuaram fixos na estrada e eu decidi ignorar a insinuação dele de que nós éramos uma família. De repente me ocorreu que eu era realmente a única pessoa que ele possuía. E eu o deixara sozinho por três longos anos.

De repente, me senti feliz e empolgado por estar com ele novamente. Sem paredes de vidro, sem enfermeiros, sem guardas, sem policiais nos vigiando.

Olhei pelo retrovisor do carro os policiais mortos que ficaram na estrada. Não fiquei tão surpreso ao perceber que eu não me importava.


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Notas finais do capítulo

As coisas estão melhorando, aos pouquinhos mas estão.
Fiquem a vontade para dizer o que acharam.
Espero que tenham gostado e obrigada por lerem até aqui.
Beijos ^3^
Tai



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