—Ainda não acredito que me convenceu a vir estudar nesse lugar... - Jessica falava irritadiça com Trish Walker, em frente a porta da sala de aula a onde teriam seu primeiro período do dia. Educação Artística, pelo que a placa na entrada da sala afirmava. 

                                                      
—Dá para você parar de reclamar por um minuto, por favor? Nós duas sabemos por que está aqui - Trish respondeu em tom severo a amiga. As duas haviam crescido juntas e eram consideradas praticamente irmãs. Os pais de Jessica haviam falecido há muito tempo e a mãe de Trish assumiu sua guarda após o incidente. Mas apesar de serem melhores amigas/irmãs, a diferença entre elas não poderia ser maior. Jessica era introvertida, grosseira e impetuosa. Já Trish era comedida, carinhosa e muito simpática. O aposto completo da amiga - Pensei que quisesse entrar em uma boa universidade...

—E eu quero! - respondeu emburrada - Só não imaginava que esse lugar ia ser assim. Gente metida para todo o lado, tudo cheio de muita frescura. Qual é, Trish? Tá na cara que esse lugar não é para mim! 

—Esse lugar vai te trazer um ótimo certificado de conclusão do colegial, junto de um lindo histórico escolar - a loira falava agora de força amena. Enganchou seu braço esquerdo no da amiga e continuou - E são essas duas coisas que vão te levar até Harvard. 

Jessica sorriu de lado e deu um empurrãozinho no ombro da amiga. Era sua maneira desajeitada de dizer "Valeu pelo incentivo". 

—Sinceramente, não achei que fosse estar tão chateada com a escola. Você ainda nem encontrou o Kevin - dito isso a loira viu Jessica bufar e revirar os olhos. 

—Graças a qualquer coisa divina por aí. Quero passar bem longe desse cara. Aliás, você me deu certeza de que ele não estaria estudando mais aqui esse ano. 

—Era o que eu pensava! – justificou-se - Todo mundo sabia que ele ia embora, não sei o que fez ele ficar...

— Ah, eu sei... - disse Jessica em um tom mais baixo. Como se não quisesse que fosse mesmo pelo motivo que imaginava. 

—Falando no diabo... - Trish disse apontando com a cabeça em direção ao corredor, aonde vinha um garoto alto, de cabelos bem penteados e de uniforme impecável. Ao ver as duas meninas, Kevin Kilgrave abriu um grande sorriso. 

—Jessica! - cumprimentou em um tom alegre, como se reencontrasse uma velha amiga. Bom, de certa forma estava reencontrando alguém. 

Jessica inflou o peito de raiva ao ouvir seu nome sendo pronunciado pelo rapaz. Ela havia tido um passado com ele, uma passado a qual ela nunca gostaria de voltar. Com uma expressão de puro desprezo, puxou Trish para dentro da sala de aula ignorando completamente o rapaz. Ao entrar, esbarrou com força (e raiva) em alguém, mas nem se deu ao trabalho de olhar. O sinal tocaria em breve, a sala já estava recheada de alunos dentro e fora, aproveitando o tempo para conversar e fazer brincadeirinhas idiotas. 

—Selvagem! - Gwen disse em voz alta após o esbarrão de Jessica. A convivência já não estava sendo fácil dentro do quarto, ter que dividir as aulas com ela seria pior ainda. A loira resolver sair da porta para evitar ser empurrada mais uma vez e foi em direção ao amigo que se aproximava no corredor. 

—Hey, onde estava? Fiquei aqui esperando por você...

—Hm, digamos que eu estava pouco ocupado, minha amada Gwen - Harry Osborn respondeu brincalhão. 

— Ocupado é? Com o que? Estava dormindo? - a garota riu e viu o amigo virar discretamente o pescoço para o lado evidenciando um hematoma arroxeado em seu pescoço. UM CHUPÃO. 

—Harry! - exclamou surpresa dando um tapinha no braço do garoto que riu - É o primeiro dia de aula. Deus, como conseguiu se agarrar com alguém? 

—Eu tenho meus truques. Aliás, o primeiro dia de aula sem me agarrar com alguém, não é primeiro dia de aula - garota ria indignada com a liberdade que Harry tinha em relação a relacionamentos/ficantes/pegação. Ele sempre fora assim. Gostava de se sentir livre. “Ser do mundo”, como ele dizia.

Harry há algum tempo havia assumido sua homossexualidade, sendo muito bem aceito pelos amigos (que já suspeitavam). Ele costumava dizer que agora já era hora de Peter sair do armário, porque ele não enganava ninguém. É claro que Peter sempre negou até o fim uma possível queda por rapazes. Dando uma olhada em volta, Gwen perguntou baixinho a Harry - Quem foi a vítima dessa vez? É do segundo ano? 

— Hurrum - o garoto confirmou com a cabeça olhando discretamente um rapaz alto, de cabelos loiros, que se encontrava no meio de um grupo de amigos. 

—Sério? Olha ele até que é bem bonito...

—Pois é! Mas o que tem de bonito tem de sonso. Mal tínhamos dado UM beijo e ele já estava me  perguntando se eu ia estar livre no sábado - Harry revirou os olhos. Ele sabia e Gwen sabia que o garoto fugia de relacionamentos como o diabo foge da cruz - Aí eu caí fora quando tive a chance! -Gwen não pode deixar de rir. Finalmente, a loira pareceu sentir  falta de seu outro amigo, Peter. Muitas pessoas já estavam próximas a sala e Peter ainda não tinha dado as caras. 

—Cadê o Peter? Eu não o vi depois do almoço - disse a loira procurando-o em volta. 

—Não sei... – Harry também deu falta do amigo - Achei que ele estivesse com você. 

—Estava só até a hora do almoço... Vem, vamos procurar ele! - antes que pudessem avançar muito, escutaram o barulho irritante do sinal, alertando os alunos de que o primeiro período começaria. Logo, um inspetor baixinho apareceu mandando todos os alunos entrarem para sala. Os adolescentes se arrastavam. Gwen e Harry deram meia volta e resolveram esperar por Peter na sala mesmo. Afinal, eles tinham os mesmos períodos nesse dia. 

Harry caminhou em direção ao fundo da sala, sentando-se na fileira do meio, bem na ultima carteira. Gwen pulou uma carteira e sentou na frente de Harry. Era um código de amizade, sempre guardavam lugar para qual deles estivesse atrasado. Os alunos continuavam entrando e se a acomodando quando o garoto loiro que Harry apontará anteriormente caminhava em sua direção. Sorriu. 

—Oi Harry! - falou simpático e olhou para Gwen - Oi. Você é a Gwen, não é?  - a garota acenou com a cabeça e deu um sorriso simpático, olhando em seguida para Harry. Ele não parecia estar contente com a presença do loiro ali. 

— Oi Nate - Harry cumprimentou, tentando parecer o menos desinteressado na conversa que conseguia. 

— É... Eu posso me sentar aqui - o loiro apontou para a cadeira do meio. Harry sorriu de maneira exagerada. 

— Foi mal... É o lugar do Peter - disse levantando-se e caminhando para a frente da sala. Nate pareceu desapontado e Gwen o olhou envergonhada, como se pedisse desculpas pelo amigo. Harry viu que a maioria esmagadora dos alunos já havia chegado à sala e Peter ainda não. Reparou então no colega de Peter sentado bem a frente, com seu inseparável amigo, Foggy. O garoto caminhou até os dois e sentou-se atrás de Matt. 

— Murdock! – o chamou se inclinando em direção ao rapaz, com o intuído de ser ouvido melhor, devido a todo o ruído das conversas na sala. Foggy, que estava sentado na fileira ao lado, observava distraidamente uma garota chamada Karen Page, nem notando a presença de Harry.

O chamado fez Matt virar o rosto atento em direção à voz, não percebendo o quão próximo ficou do rosto de Harry até o mesmo perceber.

 
— Opa, opa... Que tal um jantar primeiro? - Harry disse brincando,  fazendo menção a um suposto beijo que quase acontecerá ali. Matt entendeu a brincadeira e assumiu uma vermelhidão instantânea fazendo Harry rir - Relaxe, Murdock. É só brincadeira! 

Uma mulher de estatura média, cabelos cacheados trançados de lado com duas grandes bolsas entrou na sala cumprimentando os alunos.

— Boa tarde, classe. Eu sou a nova professora de Educação Artística. Podem me chamar de Anna – a mulher sorriu e se acomodou á mesa do professor. Enquanto a professora continuava sua introdução, Harry voltou a falar com Murdock.

— Então, você sabe a onde está o Peter? Ele ainda não chegou... – falava agora mais baixo e mais longe do outro.

—Não sei – Matt respondeu, tentando prestar a atenção no que a professora dizia.

— Você não o viu por aí? No corredor, sei lá...

— A última vez que vi ele foi no quarto – respondeu virando um pouco o rosto – Ele estava arrumando o material.

— Há umas 2 horas, como é que é? – Harry disse em deboche. Antes que Matt respondesse, ouviram a professora os chamando a atenção.

— Rapazes, silêncio um minuto – disse calma – Estou explicando como será a primeira performance artística da turma.

Os garotos ficaram quietos, assim como o resto da turma. A ideia do trabalhado da nova professora parecia assustar os adolescentes. Eles iriam se reunir em duplas e realizar uma performance que metade da turma não compreendeu bem o que era, de fato. Harry resolveu por fim voltar a seu lugar, Murdock não sabia de nada mesmo. Ao se levantar a professora o repreendeu.

— Sr...? – perguntou Anna.

— Harry Osborn – respondeu em tom orgulhoso bem no meio da sala.

— Sr. Osborn, por favor, permaneça sentando enquanto eu estiver explicando – pediu apontando para o lugar atrás de Matt – Sentado no mesmo lugar.

Harry sentou-se de mal grado e a professora continuou sua explicação. Logo ela começou a separar a turma em duplas, como disse que faria. Os alunos pareciam ainda mais descontentes sabendo que ela escolheria as duplas.

— Srta. Clark pode se juntar a Srta. Mendes, por favor – os alunos se movimentavam na sala procurando seus parceiros – Sr. Thompson pode se juntar a... Onde está o Sr. Thompson?

Passado alguns minutos, todas as duplas estavam formadas. A professora fez questão de deixar Harry e Matt juntos, já que segundo ela, eles pareciam querer continuar a conversa anterior. Harry viu Gwen juntar-se a uma menina bonita, de pele negra e estatura baixa. O fiel escudeiro de Murdock juntou-se a uma garota loira que ele encarava desde o começo da aula e a colega de Gwen, a selvagem, se juntou a outra garota loira. Pareciam amigas.

—Você já reparou quantas garotas loiras tem nesse colégio? – Harry disse a Matt, naturalmente, puxando conversa. Um tempo depois pareceu perceber o deslize – Tem muitas, se quer saber...

Matt ignorou o comentário e continuou prestando a atenção na professora. Não gostava de fazer trabalho em dupla, principalmente quando seu parceiro não era Foggy. Era um sacrifício fazer as outras pessoas entenderem que ele conseguiria desenvolver o trabalho perfeitamente bem, mesmo com sua deficiência. A Professora Anna distribuía aos grupos algumas folhas e os organizava para sair da sala. Disse que teriam a aula lá fora, no ginásio.

[...]

Peter andava desesperado pelos corredores. Estava muito atrasado e sabia disso. O problema foi quando resolveu guardar seus livros no novo armário. O garoto não saberia dizer quanto tempo ficou a esmo nos corredores procurando seu armário. Reviu o numero diversas e diversas vezes, mas sua visão parecia ignorar o armário correto. Acabou não encontrando o armário e corria em direção a sala do seu primeiro período com todos os livros na mão, rezando para que o deixassem entrar. Enquanto andava o mais rápido que podia, (ele não ia literalmente correr no corredor, não é mesmo?) sentiu um esbarrão forte no ombro direito, derrubando-o no chão com todos os livros. Ótimo. Peter olhou furioso para trás procurando a bendita pessoa que o empurrara ali no meio do corredor vazia. Cara, a pessoa tinha o corredor inteiro para passar. Precisava passar justo por cima de mim?

— Olha por onde anda, nerd! – disse um garoto enorme. Ele era loiro e tinha os cabelos bem curtos. Também era musculoso e parecia ser aquele típico praticante de bullying profissional. Peter ficou em silêncio, afinal, conhecia bem aquele tipo de cara. Apanhou de pessoas assim o fundamental inteiro, sabia que não seria espertou retrucar.

Juntando os livros do chão com puro desanimo, o moreno viu outra pessoa passar por cima de si. Na verdade, essa tinha apenas pisado por cima de seus livros e papéis. Qual é o problema com essas pessoas?

O garoto viu que dessa vez era um cara muito mais alto do que o anterior. Só que diferente do outro, pareceu nem perceber o que tinha feito. Continuou caminhando, coberto pelo capuz da blusa de moletom vermelha. Pensei que todos deveriam usar o uniforme.

Enquanto Peter se levantava, percebeu finalmente que sua grade horária não se encontrava mais em meio aos livros. Olhou ao seu redor procurando a folha e avistou o papel grudado na sola do tênis garoto de vermelho. Droga, droga, droga. Peter saiu correndo em direção ao garoto, pedindo para que parasse.

— Ei, espera! Você está com o meu horário! – para a infelicidade de Peter, o garoto o ignorou e continuou andando. Peter o alcançou.

— Você está com meu horário na sola do seu tênis! – disse cutucando o braço do rapaz, chamando enfim sua atenção. Ele tirou o fone de ouvido. Peter entendeu que ele não tinha nem ao menos lhe ouvido.

— Meu horário está grudado no seu tênis – repetiu apontando para o pé do maior – Pode me devolver?

—Ah, foi mau cara! – a rapaz abriu um sorriso percebendo então a folha grudada no seu pé. Puxou o papel já todo amassado e sujo – Acho que sujou...

Peter olhou a folha de papel desapontado. Teria que pediu outra a coordenadora Gibs. Gwen havia lhe contado que a mulher não era muito fácil de agradar.

—Tudo bem – respondeu pegando a folha – acontece.

— Eu sou o Wade – o maior sorriu de novo lhe estendendo a mão. Peter o cumprimentou. Acho que já ouvi esse nome, não ouvi?

— Peter Parker. Me desculpa, eu estou meio atrasado para o primeiro período – o moreno disse já com a intenção de começar a andar.

— É? Eu também, cara! Não sou muito bom com horários – Wade disse começando a andar.

Peter ficou pensando se o tal de Wade também estudava em sua classe. Ele parecia ser bem mais velho do que os alunos do segundo ano. O caminho foi feito em um silêncio desconfortável para o moreno. Ele tinha a impressão de o rapaz de vermelho o estava seguindo, mas provavelmente era porque tinham o mesmo período. Deveria ser um repetente.

Ao chegar finalmente na sala de aula, Peter viu o rapaz passar na sua frente e sem cerimônia abrir a porta.

—Foi mal, o atraso professora – Wade se desculpou. Peter notou que todos os alunos estavam de pé em duplas. Notou também que o cara que o tinha empurrado no corredor também estava em sua sala e já havia encontrado um parceiro.

—Desculpe o atraso professora...Anna – leu no quadro – Eu me perdi procurando meu armário.

— Tudo bem, Sr...Parker? – a professora perguntou olhando a lista de chamada – É o  que está faltando. Pode fazer dupla com Sr. Wilson, só sobraram vocês dois – a mulher lhe entregou algumas folhes a pediu para que fossem para o final da fila, disse que sairíamos da sala. Os alunos olhavam Peter surpresos e alguns até pareciam estar com pena dele. Estranhou o comportamento dos colegas e olhou para seu parceiro, o tal de Wade. Espera...Wade?

“Pode fazer dupla com o Sr. Wilson...”

Wade Wilson? Peter definitivamente já havia ouvido aquele nome. O garoto procurou Harry pela sala e o viu ao lado de Matt. O amigo lhe olhava de forma piedosa, como se dissesse “Peter, eu sinto por você”.

O moreno olhou mais uma vez seu parceiro. Ele parecia interessado demais no teto da sala e ainda não havia tirado o fone de ouvido que recolocará após o incidente do corredor. Mas Peter conversara com ele. E ele havia sido gentil, até mesmo se desculpou por ter pisado em seu horário. O garoto não entendeu o porquê de todos aqueles olhares. Ele nem parece tão doidão assim.