—É...eu...eu não quis d-dizer...eu não...-Peter tentava em vão explicar, mais vermelho do que um tomate, seu comentário extremamente grosseiro. Matt já havia adentrado o quarto, seguido por Foggy que lhe indicava a cama não ocupada do cômodo.  

—Tudo bem. Eu ouço isso com mais frequência do que imagina - disse Matt tentando aliviar o clima embaraçoso, ele conseguiria perceber de longe o constrangimento do novo colega.  

—E-eu não sabia. Desculpe, não quis ser grosso - Peter finalmente falou, parecendo mais aliviado. Harry deitava-se novamente (agora na cama de Peter) totalmente alheio a situação.  

—Ei, então vocês não ficaram juntos esse ano – disse Harry em tom divertido apontando para Foggy e Matt – Separaram a dupla dinâmica. São mesmo uns cretinos, eu disse... 

—Regras do novo diretor - Foggy disse um pouco envergonhado – Estou em um quarto com o Wade Wilson agora.  

O comentário pareceu divertir Harry, que se sentou na cama, visivelmente mais interessado no assunto.  

—Sério? Não acredito que vai dividir o quarto com aquele cara! - o moreno ria – Ele não dormia sozinho ano passado? 

—Parece que não mais - respondeu Foggy apreensivo. Ele conhecia a fama de Wade Wilson e a cada minuto que passava, seu nervosismo crescia ainda mais.  

—Quem é Wade Wilson? - perguntou Peter perdido na conversa dos dois.  

—É um dos cara mais doidões daqui - Harry parecia exagerar nas palavras - Na verdade, eu acho que é o único cara doidão daqui. 

—Como assim "doidão"? Qual é o problema com ele?  

—Mas espera aí, ele não é bolsista – disse Harry tendo um estalo, levantando-se rapidamente da cama, ignorando a pergunta de Peter – Se tem alguma coisa normal naquele cara, é o fato da família dele ser podre de rica. 

O comentário fez algumas sobrancelhas se erguerem, mas o garoto pareceu não notar a arrogância das próprias palavras.  

—Eu não acredito nisso, Peter – Harry falava irritado agora – Como eles deixaram o maluco do Wilson com um bolsista e nós não? Quer saber? Eu vou resolver isso agora mesmo... 

Harry saiu do quarto a passos pesados, decido a desta vez, tirar satisfações com o diretor. A atitude fez Matt rir baixinho.

—Ele é sempre assim? - perguntou Murdock, olhando na direção a onde imaginou que Peter estaria.  

—Você se acostuma - brincou Peter, indo finalmente desfazer suas malas – Isso tudo é só marra...com o tempo você acaba gostando dele.  

—Sei... - disse Matt.  

[...] 

—Eu acho que a senhora não me entendeu muito bem - dizia Gwen tentando parecer o mais educada possível com a Sra. Gibs, a coordenadora rígida a sua frente - Nós não vamos conseguir conviver juntas... 

—Srta. Stacy, eu insisto em dizer que não mudaremos nenhum aluno de quarto nestas primeiras semanas. Acreditamos, que alguns dias são o suficiente para que todas as inimizades sejam desconstruídas - a mulher dizia as palavras com calma fúnebre e ensaiada, não deixando ao mesmo tempo, espaço para mais argumentos (ou quase).  

—Mas eu já disse que aquela garota é uma SELVAGEM! - Gwen aumentou o tom de voz já perdendo toda a compostura mantida com tanto esforço - Não quero ficar no quarto com aquela garota, sabe se lá Deus o que ela pode fazer comigo a noite. Ela poderiam muito bem, me sufocar com o travesseiro! – Ok. Eu sei que estou exagerando, mas o jeito é apelar, pensou a garota.  

—Srta. Stacy, minha decisão final é essa – A Sra. Gibs falava enquanto começava a escrever em um arquivo de maneira caprichada – De a si mesma o prazo de duas semanas e depois conversaremos.  

—ISSO NÃO É JUSTO – agora Gwen perdera a compostura de vez e olhava furiosa  a coordenadora.  

—Srta. Stacy, minha decisão é irrevogável. Agora, a Srta. deveria voltar para seu... - a coordenadora foi interrompida pela som da porta de sua sala sendo aberta bruscamente por um garota de cabelos escuros, jeans rasgados e uma jaqueta de couro.  

—Eu quero mudar de quarto! - disse Jessica Jones, com visível irritação na voz. Gwen revirou os olhos a notar quem era a garota. Afinal, era a sua colega de quarto, Selvagem.  

—Srta...? - a coordenadora olhava Jessica com puro desagrado pela falta de modos da garota. 

—Jessica...Jones.

—Srta. Jones, acredito que tenha passado despercebida pela placa de "Bata antes de entrar" no corredor.  

—Estou esperando lá fora a pelo menos meia hora! - Jessica se defendeu. A garota adentrou de vez a sala, percebendo só então, sua colega de quarto ali também. Então a patricinha já veio chorar no ouvido dos outros.  

—Acredito que a Srta. gostaria de aguardar lá fora, enquanto atendo a Srta. Stacy – a mulher estava quase a expulsando do lugar apenas com o olhar.  

—Não gostaria não. Aliás, é com ela mesma que eu divido o quarto e quero mudar! Não quero dormir lá sequer uma noite.  

—Como se eu quisesse! - Gwen rebateu com deboche.  

—Srtas! Quero que prestem bem a atenção. Não mudaremos ninguém de quarto por enquanto – a coordenadora levantou da cadeira com posição firme – E essa decisão é irrevogável. Agora, queiram se retirar de minha sala e se encaminharem para o devido quarto, a onde repartirão o espaço até segunda ordem! As aulas começam após o almoço. Vocês tem uma hora para se acomodarem.  

A Srta. Gibs não deixou mais brechas para discussões, fazendo Jessica sair nervosa, batendo a porta atrás de si.  

—Sra. Gibs... - insistiu Gwen. 

—Já basta Srta. Stacy – a mulher repreendeu-a duramente. Gwen bufou e saiu da sala, quase capaz de jogar a Srta. Gibs na frente de um trem. Do lado de fora, a garota percebeu Harry sentando no banco de espera, quase adormecendo ali mesmo.  

—Harry! - a loira chamou o amigo tirando-o de seu estado de letargia – Nem perca seu tempo, a mulher não dá o braço a torcer de jeito nenhum! – disse já imaginando o motivo de Harry estar ali.  

—Você insistiu? - perguntou Harry se levantando a acompanhando a amiga para longe da sala da Srta. Gibs – Insistiu mesmo? 

—Eu quase me ajoelhei, Harry! - com visível desânimo, os dois amigos foram caminhando em direção aos quartos.  

Logo as aulas começariam.  

[...]  

Foggy andava de um lado para outro na frente da porta a onde os nomes "Franklin Nelson" e "Wade Wilson" podiam ser lidos. Todos os alunos pareciam já terem encontrado seus quartos, pois os corredores permaneciam em agoniante silêncio. Foggy atrasara o máximo que pudera o encontro com seu novo colega, e suando frio, tomara a decisão de abrir logo a porta do quarto e enfrentar o que tinha de enfrentar de uma vez.  

Vacilando, o garoto adentrou o cômodo. O mesmo se encontrava extremamente silencioso e escuro. As persianas estavam todas fechadas, a luz apagada e Foggy percebeu um volume na cama ao lado da janela. Olhando ao redor, percebeu também que o lugar parecia um tanto quanto já "habitável". Alguns desenhos estavam colados na parede, mas Foggy não conseguia enxergar muito bem seus conteúdos. Alguns livros estavam espalhados na grande mesa de estudos e alguns pares de roupas estavam jogados no chão perto da cama do colega.  

Foggy concluiu que Wade estaria dormindo - apesar de ser um pouco incomum, levando em consideração o horário e calor escaldante lá fora – mas percebeu também que o ar condicionado estava ligado no máximo e bem ao fundo, podia-se ouvir uma batida de musica vinda de algum fone de ouvido. O garoto pigarreou tentando chamar a atenção do colega. Não surtindo efeito, resolveu então, acendeu a luz do quarto. Logo após ter apertado o interruptor, Wade Wilson virou-se na cama, tirando as cobertas que estavam sobre si, assim como o fone de ouvido. Com uma cara sonolenta, Wade sorriu de forma amigável.  

—Você deve ser o Franklin, alguma coisa... - esticou a mão - Prazer, sou o Wade.  

Foggy apertou a mão de Wade um tanto quanto temeroso, ele meio que esperava um ataque de loucura/raiva/violência a qualquer momento.  

—Se importa se eu deixar a luz acessa?  

—Não, tudo bem. Eu durmo de qualquer jeito, amigo - então, cobrindo-se novamente e colocando de volta seu fone de ouvido, Wade se virou para o "lado da parede" disposto a continuar dormindo. Antes de cair de fato no sono, ele virou-se rapidamente para Foggy.  

—Bom te conhecer, cara!  

Foggy viu Wade adormecer quase que imediatamente e depois de arrumar suas roupas no armário, deitou-se na cama mais aliviado. Vai ver o cara nem é tão doidão assim.