POV'S Koharu

Uma nova manhã ensolarada em Portugal. Com os raios de sol que passavam entre as cortinas do meu quarto, fui abrindo lentamente os meus olhos.
Há uma semana que a pequena aguardava a minha decisão dentro daquela caixa mágica. As notícias continuavam a alertar sobre aqueles monstros, ou melhor, vultos que assombravam a escola. Se nada fosse feito, iríamos ter que mudar de escola, coisa que por aí não iria faltar, visto que pai de Adrien era um dos homens mais ricos do país se não, o maior.

Levantei-me espreguiçando-me. Mais um dia sem ação nenhuma, sem fazer absolutamente nada. A semana repetitiva estava a cansar-me. Ia tomar banho mas o meu estômago resolveu roncar. Desci as escada e segui rumo à cozinha, local onde fiz duas torradas e me sentei no sofá.

— O que irei ver? São 11 horas por isso, vou ver se na Disney Channel está a dar algo de interessante.

Estava a dar Jessie. Cruzei as pernas enquanto saboreava as minhas torradas até ouvir o meu telemóvel a tocar. Subi muito depressa a escadaria e olhei para o telemóvel. Nana era quem me chamava.

— Estou?

— Koharu! Tudo bem?

— Sim, e aí? Está tudo bem em casa?

— Sim! Bem, eu vou voltar para aí daqui a uma semana. Tenho de desligar, beijinhos!

— Está bem, até logo!

Uma chamada rápida, mesmo para matar as saudades.
Por segundos, desviei o olhar para a caixa. Dei um suspiro e voltei a ir para baixo. Aquele ser mágico não tem fome? Afinal, está lá há uma semana. Voltei a olhar para a televisão e estava a dar publicidade. Voltei a sentar-me no sofá e mudei de canal. Mais uma vez, a falar da minha escola. Ia mudar assim que falaram de um super herói.

— Estamos em direto no local! Uma coisa nunca antes vista. Um rapaz com poderes para além que um ser humano pode possuir, de cabelos azuis e roupas brancas, é o novo herói de Portugal!

Um novo super herói? Masculino? Porque Annenya não me contou?

"O meu criador criou 3 jewels, eu, Edwen e Lyan. Edwen era o único rapaz de lá, ele é tão fofo!!"

Agora recordei do que Annenya disse. Somos três. Mas como diz o ditado, 2 é bom mas 3 é demais O melhor é ficar no meu cantinho mesmo. 

" Lyan é a fada do mestre."

Significa que afinal somos só dois? ...

Deitei a cabeça sobre o sofá e comecei a ouvir música. Fechei os olhos e cruzeis os braços e as pernas. Queria descontrair. 

Se há um super herói agora, não é necessário existir outra para atrapalhar, certo? Se é rapaz, o seu Jewel deve ser o Edwen. De todas as formas, eu quanto era pequenina sempre sonhei em ser um género de Pretty Cure*. Ter super poderes, voar! Fazer magia!  - suspirei dando um sorriso de leve - E agora que tenho essa boa oportunidade, deixo-a passar... - bufei - Mas...  se apenas eu experimentar,...não irá fazer mal, não é mesmo? Sim, eu farei isso!

Tirei os phones e corri em direção de Annenya que me esperava dentro da caixa. 

— Anne! - apelidei - Eu quero fazer isso! Experimentar não custa, certo?

A rosada espreguiçou-se.

— Ah! Finalmente, Koharu! Eu sabia! - disse esboçando um sorriso nos lábios.

— É só para experimentar... - olhei para o lado e voltei a encarar a pequenina - Explica-me tudo, por favor!

— Claro! Vai buscar o medalhão.

Eu segui a ordem dela. Fui à caixinha e peguei naquele belo medalhão. Voltei para ao pé dela.

— Agora - fez suspanse - Só tens de dizer " Miracle Ultimate, transforma-me! "

— Wut? - eu comecei a falar entre risos da frase que me pareceu cómica - Miracle Ultimate... - ri - transforma-me?

Sem saber o que fazer, a minha expressão mudou para preocupação logo quando uma luz me envolveu. Eu não me lembro de nada e quando a luz desapareceu, olhei para mim e estava com roupas diferentes. Fui para à frente do espelho e aquilo não tinha nada a ver com a minha pessoa original. Cabelos meios rosados e violeta prendidos por uma elástico em cada lado, que caíam até mais ao fundo das costas. Os meus olhos eram da mesma cor do cabelo mas mais vivos. Vestia uma camisa branca com uma gravata violeta e, ao meio da gravata, era onde o meu medalhão se situava. Tinha botas altas pretas, uma saia preta com detalhes rosa e violeta, e o que tinha nos braços nem sei bem explicar, mas se eram luvas, eram bem estranhas. Olhei um pouco mais abaixo do meu ombro esquerdo e estava escrito 01. 

— Mas o que é isto? Anne?! Estás aí? Anne! - gritei. O que ouvi foi o eco da minha casa. 

Fui à casa-de-banho tentar retirar aquele número. Não dava. Depois de tanto esfregar o braço, fiquei com ele vermelho. O meu coração estava descontrolado, sentia as batidas fortes na minha garganta de nervosismo e ao mesmo tempo, euforia. Mal podia esperar. 

— Será que posso saltar muito alto como as pretty cure? - Murmurei.

Encolhi um pouco as pernas e comecei a rezar. Iria saltar das escadas abaixo. Num impulso, saltei... e alto de mais. Sem crer, dei com a cabeça no teto e a minha sorte, foi mesmo cair em cima do meu sofá.

— Ai, ai! - coloquei as mãos na cabeça - Grande sorte de principiante...

Desliguei a TV e olhei em volta. Num lance, comecei a saltar daquelas casas em direção à escola. Aquela sensação de liberdade, aquela felicidade de realizar o meu sonho de quando era pequena. Foi uma questão de minutos até chegar à escola. Fui bem mais rápida que o autocarro, bem me podia habituar se não tivesse Nana comigo, pessoa a qual o meu segredo não devo revelar.

Parei num prédio e olhei para baixo. Vários jornalistas e polícias estavam do lado de fora do portão, filmando e averiguando a situação. Dei mais alguns pulos enquanto ouvia vozes de espanto.

"Quem é aquela?!", "Uma nova heroína?" (...) Ignorei todos os comentários daquelas caras de pasmo e posicionei-me mesmo à frente da escola. Observei atentamente, tentando ouvir de onde os ruídos de destruição vinham.

— Esquerda! - Com rapidez, fui a correr para um dos corredores.

— Ah, tu és muito chato! - Era possível ouvir uma voz masculina e passos pesados correndo na minha direção mas... eu não sei de onde vinha. Só ouvia mesmo o barulho.

Num ápice, um rapaz de cabelos azuis pegou-me pela cintura e fomos contra uma parede. Que constrangedor... As minhas pernas estavam entrelaçadas na cintura do rapaz, e batemos contra parede. Eu não tive dor, já que uma das suas mãos estavam nas minhas costas e outra mão dele na minha cintura.

— Humanos não devem estar aqui! - Falou com voz preocupada - Deixa isto para quem foi escolhido.

Olhei para ele, ele tinha um rosto lindo. Assim que ele disse "escolhido" percebi que era ele.

— Achas mesmo que tenho aparência de ser uma simples humana? - Reclamei. Ainda por cima, estávamos numa posição um pouco desconfortável...para mim.

Ele bufou e logo deu sorrisinho de lado.

— Ajudante?

— Qual ajudante, qual quê? - resmunguei - Tenho um poder de uma Jewel também.

Ele sorriu de orelha e orelha e não pude deixar de corar de leve.

— Vamos destruir aquele black pearl então, parceira. - ela fez uma vénia e eu ri.

— Eu não sou nenhuma celebridade por isso, não é caso para tanto. Eu ainda não percebi bem a história... Quantos black pearls estão aqui?

— Três. Temos de nos livrar deles... 

— Retirando a pétala negra situada no coração deles, certo?

Ele coçou a cabeça como se fosse a primeira vez que estivesse a ouvir isso.

— Parece que tu é que és meu ajudante. - ri e coloquei as mãos na cintura.

— Bem, de todas as formas há que ser cavalheiro. Sou o Edwen.

Se não me engano, ele disse o nome do seu Jewel.

— Annenya. - demos um high five de forma a dizer que agora somos parceiros, uma equipa.

— O teu Jewel é o medalhão, não é? - ele encarou o medalhão - É muito bonito.

— Sim - olhei para o meu medalhão - Acho o mesmo. Nota-se bem que é um objeto com raridade. Acho que nem os maiores ricos iriam conseguir comprar - gargalhei sozinha. Acho que nem mesmo Adrien poderia comprar aquilo.

— Tens a certeza? - ele arqueou a sua sobrancelha. Logo, puxou uma das mangas do seu longo casaco branco e mostrou-me a sua pulseira.

— Woow, é linda! - exclamei.

Depois de observamos bem as nossas raridades preciosas, notemos que ambos tínhamos algo em comum nos elementos. Um género de diamante, sendo que a minha era rosa e centrada no centro do medalhão e a dele era azul, pendurada numa das correntes da pulseira.

Ouvimos um estrondo e fomos a correr juntos para o pavilhão, local onde vinha o barulho

— JEWEL! -Aqueles três black pearl's gritavam como se não houvesse amanhã.

— Temos de lutar. - Edwen posicionou-se.

— E-E-Eu t-t-tenho medo! - disse entre gaguejos - Eles são três! 

— Somos poucos mas bons. - ele sorriu com um olhar de determinação. Não pude contrariar a não ser retribuir. O seu sorriso trazia-me um certo conforto e confiança. Coloquei-me pronta também.

— Aos três. Vamos atacar um de cada vez. Se formos aos três iremos perder vantagem. Assim podemos deixar inconsciente cada black pearl, um de cada vez.

Ele parecia ter já experiência no assunto. Era alguém com alguma maturidade. Penso que uma certa pessoa iria aprender muito com este rapaz.

— Agora! - Ele ordenou e ele foi pela esquerda e eu pela direita mas assim que cheguei perto do monstro, bloqueei. Comecei a entrar em pânico sem saber o que fazer. Edwen, pelo contrário, acertou-lhe em cheio no rosto já um pouco desfeito daquele black pearl. Ficou inconsciente de imediato.

— O que estás a fazer? Não é uma boa altura para descansar! - ele exclamou enquanto lutava e eu ficava apenas assistindo. Ele parecia tomar bem conta do assunto sem mim. Mas assim que deixava um inconsciente, outro reanimava.

— Jewel! Felicidade! - Outro Black Pearl se levantou e falou aquelas palavras. Pelo que me pareceu, era maior do que os outros. Porque era maior? - Odeio meninos ricos! - Aquela voz suou-me familiar. Tentei pensar melhor e... Louis! Aquela voz era tão semelhante à do Louis! Espera... tristeza, eles sugam a alma deles... a parte da tristeza e Louis revoltou-se naquele dia... vultos saíram dele... por causa do maldito Adrien! - a minha expressão mudou para fúria e fechei o punho. Edwen reparou.

— Tudo bem? - perguntou enquanto lutava mas eu não respondi - Hey... Uma ajuda seria bom!

Coragem, Koharu! Tu consegues! 

Num impulso, saltei para cima do monstro em que Edwen estava a batalhar. Olhei para a pétala, basta retirá-la, certo? 

— Edwen, eu vou prender os braços e tu tiras a pétala!

— Entendido.

O monstro não parava de girar, e eu estava a ficar tonta. Aquilo não era motivo de eu desistir assim, tão facilmente. Tentei desconsiderar a situação de querer vomitar e com todas as minhas forças, agarrei com as pernas os ombros do monstro hipnotizado e com as minhas duas mãos, agarrei o seu pescoço. Edwen num movimento apressado tirou a pétala e o monstro deitou-se, desta vez totalmente desmaiado.

— O que é suposto fazer agora? Porque ele não volta à forma normal? - Edwen aproximou-se.

— Eu não sei... A minha jewel não me disse nada...

Sem dar tempo para pensar, um Black Pearl atacou Edwen enquanto estava de costas e, como eu estava à frente de Edwen, levei por tabela. Batemos os dois contra a parede e desta vez doeu. Caímos e Edwen ficou por cima de mim. Apesar do choque me ter doído, quem levou foi ele.

— Edwen? Edwen?

— Dói... - Era notável que estava a sofrer. Assim que tirei as mãos das costas de Edwen vi sangue. M-Mas como? Contemplei que as mãos daquele black pearl tinham cortantes. Se nos acertasse iria ferir-nos imenso.

— E... agora? - Estava a ficar desesperada. Edwen era como o líder. Parecia entender mais sobre o assunto do que eu.

— Utiliza... o teu poder... - disse numa voz fraca.

Como assim, poder? Porque raios eu não tirei dúvidas com Annenya? Eu não entendo nada e batalhar sem mais nem menos, não dá...

— Como se volta ao normal? - perguntei a Edwen que estava deitado no chão, sem conseguir se levantar.

— Basta...tocares na cor do teu Jewel... o diamante que está no centro...p-porquê? - perguntou numa voz fraca.

— Desculpa, Edwen. Assim eu não estou pronta...

Peguei no Edwen desviando-me de alguns ataques daqueles seres malignos e o levei até à sala.

— Vais desistir? Agora? - Edwen estava indignado.

— Para quê estar a lutar se não conheces os poderes que tens... Eu volto já, não podemos revelar as nossas identidades, não é mesmo? - Deitei Edwen em cima de uma mesa. 

— Dou-te 5 minutos.

— Eu não me vou arranjar para sair. - ri e passado uns dois segundos, ele também riu.

— Se todas as meninas fossem como tu.- colocou a sua mão em cima da sua cabeça.

Saí do local e toquei no centro do meu medalhão, quando fechei a porta de uma das salas. Annenya saiu. Afinal, eu transformo-me e ela desaparece porque praticamente, vai para o meu corpo... pelo  que pude entender.

— Tens muito a me explicar, sê rápida, por favor! - Era possível ouvir estrondos. A qualquer momento, qualquer black pearl podia sair e encontrar Edwen que não está em condições para lutar.

— O teu poder é "Rise! Miracle Love", um pequeno bastão irá sair. Primeiro, tens de tirar a pétala do monstro e, quando tiveres o bastão e a pétala na mesma mão, gritas "Miracle Melody" e uma luz irá rodear o black pearl e o irá purificar, de seguida... - interrompi a Anne.

— É o bastante, Miracle Ultimate, transforma-me! - transformei-me - Não há tempo a perder... Rise! Miracle Love! uma luz rosa foi em direção às minhas mãos. Um bastão mágico saiu e eu nem tive tempo de prestar qualquer tipo de atenção nele. Ouvia coisas a partir e tinha medo que se aproximassem de Edwen. Corri até à sala onde Edwen se localizava só que, porém, ele não estava lá. Fiquei pálida e voltei a correr até ao local onde se podiam escutar todos aqueles barulhos. Desta vez estavam na sala onde eu tive aulas pela primeira vez. Edwen estava a lutar e já não havia nada nas suas costas.

— EDWEN! - Gritei e ele logo olhou. Estava a tirar a terceira pétala. Ele não necessitava mesmo de mim. Senti-me um pouco inútil.

— Foste arranjar-te para sair? - riu - Um dos meus poderes é o da cura. Consegui utilizar a meu favor. Resta-me menos de 3 minutos até voltar ao normal. 

Ele foi se aproximando de mim.

— Menos de 3 minutos? - Perguntei.

— Sim, a tua Jewel não te disse que só podemos usar o poder uma vez e depois disso, só temos 5 minutos até voltar ao normal? A seguir, só nos podemos transformar meia hora depois.

Eu interrompi Annenya enquanto estava a falar e não o devia ter feito. Agi sem pensar mais uma vez mas, faz sentido... Porém se só posso utilizar uma vez, tenho de buscar o outro black pearl ao pavilhão o quanto antes. 

— Dá-me as pétalas, por favor. - ele entregou-me e fomos até aos corpos - Eu levo um e tu outro, vamos num instante para o pavilhão, tenho de os purificar e não há muito tempo.

— Ás ordens! - ele pegou num e eu noutro. Numa corrida veloz, chegámos ao pavilhão e colocámos os Black Pearl's em cima de uns dos outros. Tal como Anne disse, coloquei as pétalas na mesma mão onde segurava a bastão e proferi: 

— Chega de mágoas, certo? Toda a gente merece sorrir sinceramente. "Miracle Love!". 

Uma luz os envolveu e logo foram desaparecendo. Tinham as caras das almas negras, e como pensei, uma delas era Louis. Desvaneceram como vultos brancos.

— Louis... - pude ouvir Edwen a murmurar.

— Conheces-o? - Olhei para ele.

Ele logo se atrapalhou e colocou a sua mão na nuca.

— N-Não.. er... si-sim... Bem, está na altura de ir... - ele comentou ainda meio desajeitado - Espero que nos continuemos a ver, obrigado.

Ele parecia ser tão gentil. Porque agradecia?

— Porque agradeces? Fizeste o trabalho todo sozinho, só purifiquei.

— É por isso que preciso de ti. - ele voltou a sorrir. Aquele sorriso mexeu comigo, tais como as palavras que pronunciou. Fez um sinal de High Five e foi-se embora. Aqueles olhos azuis do céu e aquele cabelo da cor do mar... E-Espera, quanto tempo me resta exatamente? Tenho de chegar rapidamente a casa!

Voltei a sair da escola, jornalistas e policiais continuavam lá. 

"Obrigada, Annenya!" Era o que alguns diziam. Como eles sabiam o meu nome? Será que o Edwen veio falar com eles? Olhei para o meu medalhão e só tinha uma luzinha acesa. Pelo sim e pelo não, fui rapidamente para casa, local onde voltei logo ao normal assim que entrei pela janela.