Imperium Lan - A Queda de Um Império escrita por Accord2


Capítulo 5
Olly: Uma saída a dois




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            Por baixo dele passavam árvores a toda a velocidade. A nave ia o mais depressa que podia. Não conseguia parar de pensar no que ia encontrar quando chegasse à vila. Estava certo que as casas destruídas e os corpos carbonizados ainda estariam lá, mas o que ou quem mais estaria? Em voou quase rasante ia por cima da floresta por entre as árvores. O verde era magnifico, o velho tinha razão em dizer que nas colónias estavam mais próximas da natureza que o resto do Império. Mas a certa altura o verde deu origem a um negro cor de carvão. Não estava muito longe da vila e começou a tirar velocidade à nave. Foi então que avistou a vila, junto do grande lago, bem no meio das duas grandes montanhas que a ladeavam. Pelos deuses, como isto ficou. A área num raio de cinco quilómetros da vila estava totalmente arrasada.

            Na antiga base encontrou Gerge, que tentava perseguir umas enormes baratas.

            -Olá Gerge. Voltei.

            -Olá. Olha vem comigo. Quero-te mostrar um coisa. – disse alegremente deixando escapar as baratas. - Enquanto estiveste fora tive a dar uma volta pela área e encontrei isto. – Disse Gerge abrindo devagar a porta da sala médica. Os olhos de Olly ficaram húmidos ao ver quem estava deitado na cama. – Eu sabia que ias ficar feliz em vê-la. Está em coma e não sei quando vai acordar. – Olly correu para a abraçar e beijar no rosto, estava em lágrimas. – Encontrei-a no abrigo da vila, foi uma das poucas pessoas a chegar lá, os outros também estão em coma. Se não tivesse chegado a tempo tinha sido carbonizada, parece que os deuses foram bondosos. Bem, vou deixar-vos as sós.

            Olly chorava de felicidade, o amor da sua vida estava vivo, o seu pior pesadelo não se tinha concretizado, afinal sempre havia esperança. Com as suas mãos tocava-lhe o rosto cuidadosamente. É bom voltar-te a ver. Sim, como era bom voltar a vê-la.

            -Então Gerge pensei que já tivesses partido.

            -Nasci aqui e aqui hei de morrer, além disso não podia abandonar aqueles que sobreviveram. Se não forem levados para um hospital rapidamente vão morrer.

            -Eu mais logo já ligo para o hospital de Libertus e trato disso. Os deuses foram mesmo bondosos. Já ouviste do ataque dos rebeldes à capital?

            -Sim. – respondeu cortando as cenouras e atirando-as para dentro da panela. – É bom saber que as divisões das outras colónias ripostaram. Só ainda não sei muito bem se foi um boa ideia, claro que é bom ver que lutaram por nós, mas a guerra entrou num outro nível e não sei se estamos preparados.

            -Acho que estamos, à anos que nos preparamos. Acho que chegou a altura. – Olly cheirou o ar. – O que é isso que cheira tão bem?

            -Sopa de legumes. Vai mas é tratar daquilo do hospital que é mais importante.

           Olly ligou para o hospital geral de Libertus, iriam busca-los por volta do sol posto. O tempo passou devagar. Olly passou o resto da tarde ao lado de Garci. A rapariga podia estar em coma, mas Olly relatou-lhe tudo o que aconteceu entretanto. Estava tão feliz por a ter encontrado viva que por momentos se esqueceu que a sua família tinha sido ceifada, que o seu mundo tinha se desmoronado. Apenas o confortava saber que não tinham sofrido. Os médicos chegaram por volta das horas planeadas e rapidamente levaram os doentes. Olly seguiu atrás deles na sua nave, de volta a Libertus. Despediu-se de vez de Gerge, já não tencionava voltar. Não havia ali nada que o fizesse voltar. O seu futuro esperava-o noutro sitio, esperava-o no espaço infinito e não ali naquela terra queimada.

            O hospital tinha a típica arquitectura fascista do regime. Era o maior edifício que o rapaz já vira. O seu interior era um complexo e confuso conjunto de corredores e salas e salinhas. Garci foi transportada com os outros pacientes para a zona de internamentos, mas só depois de os médicos lhes terem feitos exames para confirmar se estava tudo bem. Ninguém sabia quando acordariam.

            Olly esperou pacientemente na sala de espera até que lhe foi permitido entrar para junto da rapariga. Nessa noite dormiu bem junto de Garci e finalmente conseguiu dormir sem acordar a meio da noite. Nunca se tinha sentido tão feliz, tão bem consigo mesmo.

            No dia seguinte voltou-se a encontrar com Jon, na sua bela casa amarela.

            -Tem novidades?

            -Se tenho. Recebi pelo rádio amador que os rebeldes de Boris estão a recrutar gente. Pensei logo em ti. Procuram gente que saiba pilotar.

            -Não sei se me deva juntar. – disse duvidoso. – Tenho uma amiga no hospital, gostava de estar ao seu lado quando acordasse. Os médicos não sabem quando pode acordar do coma.

            -Devias rapaz, tenho a certeza que a tua amiga quereria que continuasses com a tua vida. – Jon servia um quente chá na sua melhor porcelana humana, acompanhado de bolachas de manteiga. – Pensa bem rapaz, devias juntar-te. A guerra verdadeira só começou agora. Tudo o que aconteceu até agora, comparado com o que vem aí, foi apenas uma brincadeira de criança. Se não sabes quando ela vai acordar devias juntar-te e voltar quando ela acordasse.

            O tempo foi passando. Dias, semanas, meses. Garci continuava em coma, deitada imóvel na sua maca, ligada às máquinas que a permitiam sobreviver dia após dia. Olly alistou-se no exercito rebelde de Boris e lutava com a sua nova nave. Boris era um planeta vizinho. Era conhecido pelo seu enorme deserto inóspito e quase nada via aí. Era uma das colónias mais pobres da galáxia. A sua maior cidade era Pax, mas nada comparada a Libertus. Era conhecida pela troca de peças de sucata, já que grande parte das naves velhas eram para aí enviadas. Isso permitia aos rebeldes a construção da sua frota e a cada dia que passava aumentavam em número e poder. Nos últimos meses tinham lançado mais ataques ao Império, atacando e libertando várias colónias que, suportando os rebeldes, ergueram a bandeira vermelha da revolução.

            Olly tinha feito novos amigos na sua nova casa.

            - Ganhei-te outra vez. – disse Geronimus, soltando altas gargalhadas. Jogavam matraquilhos numas das muitas salas da base.

            -Fogo, isto não tem piada. – Olly adorava jogar matraquilhos, um dos seus jogos preferidos. Jogava com Ums na sua equipa, um humano de olhos verdes. O seu nome significava humano em lanseit. Na equipa adversária jogavam Geronimus e Cesarus. Geronimus tinha nascido naquela colónia mas Cesarus era uma minione, nascido em Minoris, na metrópole. –Mas agora já vais ver. Toma! Marquei um golo.

            -Sorte de iniciante.

            -Logo te digo se é sorte de iniciante.

            Olly tinha-se tornado líder de um batalhão, o batalhão rebelde vinte e quatro, graças à sua excelente prestação em batalha. Como os colegas disseram, um excelente amigo, um excelente colega, um grande lutador. Sempre que lutava Olly levava consigo o relógio de Jon para lhe dar sorte. Colocava-o pendurado sobre os painéis da nave para o poder ver bem e lembrar-se pelo que tinha que lutar, para se lembrar que Garci estava à sua espera. Já se tinham passado vários meses mas ainda tinha esperança que ela acordasse, afinal, acreditava que os deuses estavam do seu lado.

            A noite era mortalmente fria naquele planeta. Era conhecido pelas altas temperaturas de dia,  chegando facilmente aos cinquenta graus e pelas baixas temperaturas de noite, que facilmente chegavam aos negativos trinta. O rapaz saíra para contemplar um pouco as estrelas, dói-lhe a cabeça do barulho do interior da base, e deitado no chão fitava a cúpula celeste. Havia milhões de estrelas e sem a luz das grandes cidades podia-se ver na perfeição a galáxia, que de branco pintava o céu de uma ponta à outra. Sabia que os seus pais eram uma daquelas estrelas. Procurou a constelação do guerreiro, Boris ficava no mesmo sistema solar e as constelações apresentavam pequenas diferenças entre si. Rezou ao guerreiro por forças. Pediu a Frodos, o Deus da guerra, coragem para continuar a lutar no lado dos rebeldes. Conhecia quase todas as constelações.  O pai era um apaixonado pela astronomia e desde sempre o ensinou. Ensinava-lhe as constelações, as estrelas e os seus nomes, os planetas e asteróides. Sabia que para norte apontava sempre a ponta da lança. Era a constelação mais fácil de ver, três estrelas em linha recta faziam o cabo da lança e outras três em pirâmide fazia a ponta que apontava sempre para norte. Em Boris não havia constelação da lança, mas sim a do olho da serpente, muito similar.

            -Então rapaz que fazes cá fora?

            -Dói-me a cabeça de estar lá dentro. Vim cá fora sentir um pouco do frio da noite, gosto de o sentir na pele.

           -Queres ir à cidade dar uma espreitadela à coisas? – Cesarus gostava de ir à cidade durante a noite e vaguear. Costumava faze-lo quando dormia mal ou quando não tinha sono.

            -Fazer o que?

            -Anda, vamos dar uma volta. Vais gostar.

            A cidade comparada com Libertus parecia uma aldeia. Os edifícios não ultrapassavam os cinco andares e um cheiro a dejectos de pessoas e animais empestava ao ar. Não havia carros, apenas carroças puxadas por burros e bois. Parecia que se estava na era medieval. A cidade era conhecida pelos seus bordeis, que proliferavam como cogumelos num tronco de uma árvore. Àquela hora da noite ninguém andava na rua mas no interior dos estabelecimentos a realidade era outra. Os dois rapazes entraram num bar e pediram duas cervejas. O exército não os permitia sair à socapa, quanto mais beber. Dado o nível de alerta dos últimos meses tinham que estar todos sempre a postos para um eventual ataque surpresa do exército imperial.

            O bar estava pulsava de vida. Homens de todas as idades e de todas as raças deliciavam-se com belas mulheres que dançavam entre eles. Um delas, humana, foi meter conversa com Olly e Cesarus. Chamava-se Lina e ofereceu-lhe um par de bebidas. Era uma jogada que Cesarus já conhecia bem, pagavam a primeira bebida, embebedavam-no e faziam-no pagar por uma noite a dois. O rapaz já conhecia bem os truques daquele negócio, passava muito tempo em casas como aquelas.

            -Pode ser bebé, mas hoje não me vais enganar.

            -Já vi que és esperto. – disse ela jogando-lhe as mãos ao que tinha entre as pernas.

            -Espertos são os cães. - A rapariga depressa perdeu o interesse e foi se embora, procurando outras vítimas.

            Os dois rapazes beberam e tornaram a beber. A noite estava a correr bem, até que os deuses decidiram mudar o rumo jogo. Eram por volta das três horas da madrugada quando a unidade de choque do império entrou. Mesas voaram, bebidas foram atiradas contra as paredes, homens e mulheres cuspidos para o chão. Os imperiais, com os escudos e os cassetetes, batiam em quem tentava fugir, falava, ou simplesmente respirava. Olly foi atirado para o chão com toda a força que o imperial tinha e levou com o bastão negro de ferro na cara. Cesarus tentou resistir e foi espancado com as grossas luvas do polícia. Os imperiais alinharam todos contra a parede.

            -Ora ora, vejam bem o que temos aqui. Dois jovens rebeldes à solta na cidade. Mas que sorte que tivemos, rapazes.

            -Cabrão, vais pagar por isto. Eles não tem culpa nenhuma. Solta-os e leva-nos a nós.

            -Esmagar e ganhar, esmagar e ganhar. Já ouviste dizer isso? Bem, sabes, recebemos ordens para meter uma bala na cabeça de toda a gente que suporte os rebeldes.

            -Eles nem sabiam que éramos rebeldes. Solta-os.

            -E se eu não os soltar que vais fazer? Bater-me? Ah, deixa-me rir. Rapazes, podem começar. - O líder do esquadrão sentou-se numa das cadeiras e tirou um charuto do bolso do uniforme e começou a fumar. O seu uniforme era todo azul escuro e no seu braço esquerdo trazia uma tira de pano azul claro com a estrela vermelha da bandeira imperial. Os seus soldados apontaram as armas e começaram a matar todos os que estavam em fila, um a um. – Ainda não sei o que hei de fazer com vocês. Não sei se vos leve ou se vos mate. – As mulheres choravam e os homens pediam misericórdia tentando-se salvar. – Não façam tanto barulho, não sabem morrer em silêncio? Francamente…

            -Solta-os. Pelos deuses, pára com isso.

            -Pelo deuses? Mas acreditas que os deuses te podem ajudar agora? Estás sozinho, absolutamente sozinho neste mundo, nem os teus amigos rebeldes te podem ajudar agora.

            Depois de mais de cinquenta tiros e um charuto o líder, um homem alto e forte, levantou-se e puxou a cabeça de Olly para trás.

            -Como te chamas? Eu disse como te chamas! – como resposta recebeu uma cuspidela na cara. – Filho da mãe, vais pagar por isso. Levem-nos daqui, peguem fogo a este putedo e vamos embora rapazes. Esmagar e ganhar!

            -Esmagar e ganhar! – ladraram em uníssono.

            Os dois foram arrastados pelos largos corredores da nave imperial enquanto ouviam o líder falar interminavelmente sobre o que tinha planeado fazer aos outros rebeldes. Ia fazê-los correr pela base e caça-los um a um e dar-lhes um morte lenta e horrível. Queria vê-los cheios de sangue e vomito e lágrimas.

            -E a vocês, nem fazem ideia do que vos espera. Se pensam que isto vai acabar bem para o vosso lado, é porque não têm tomado muita atenção. - Os dois rapazes foram atirados para uma sala escura. – Fiquem bem, traidores.

            A porta fechou-se num grande estrondo e ficaram sozinhos no escuro.

—E agora? – A voz de Cesarus estava rouca e fraca. – Eles vão mata-los a todos e nós não podemos fazer nada.

—Há sempre alguma que se possa fazer, só temos que pensar e arranjar um plano.


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