À Primeira Vista escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 2
Capítulo 02 – Destino


Notas iniciais do capítulo

Mia S, sua danada! Você me fez uma grande surpresa ao recomendar a fic, fiquei feito doida quando vi. Muito obrigada, de coração. Espero não te decepcionar com esse capítulo.


Obrigada também por todos os comentários deixados no capítulo anterior.
Espero que gostem desse também :)



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Naquela noite, eles foram juntos ao cinema como haviam combinado. O filme escolhido havia sido uma comédia romântica que entrara em cartaz por aqueles dias. Dividiram a pipoca. Riram juntos. E, o mais importante, souberam apreciar a companhia um do outro.

Ao fim de uma noite agradável e divertida, se despediram em frente ao prédio dela com um beijo.

O que Rose não imaginava era que as irmãs esperavam acordadas, e, com ajuda da mãe, bombardearam-na com perguntas.

Na semana seguinte, saíram juntos quase todas as noites. Fosse para ir ao cinema, dançar numa das varias casas noturnas da cidade, ou apenas um jantarzinho tranquilo a dois. Emmett sempre a levava de volta pra casa e a despedida, ocasionalmente, terminava em beijo.

No domingo, ele aceitou o convite para almoçar com a família dela. As gêmeas praticamente o intimaram a fazer um ensaio fotográfico delas. Emmett se viu sem saída, por isso acabou deixando agendado para fotografá-las no fim de semana seguinte, quando elas não estariam na escola.

As fotografias de Rosalie foram entregues na data prevista. Porém, ele havia ficado com cópias de todas elas em seu apartamento. Rose ainda não conseguia acreditar no quanto tinha ficado boas.

Na terceira semana ela sentia-se confiante o bastante para ir ao apartamento dele. Não se surpreendeu muito. Encontrou lá o típico apartamento de um rapaz solteiro; nada de flores ou cores claras. Com o detalhe de que era tudo muito organizado. Mas a coisa de mais gostou fora mesmo de suas fotos dividindo o espaço com a decoração masculina. Algumas se encontravam emolduradas, dividindo espaço nas paredes com outras fotografias, como se fossem verdadeiras obras de arte.

Estavam completando um mês de namoro quando se entregaram a força do sentimento, fazendo amor pela primeira vez. Emmett não já não era nenhum garotinho, sua experiência no assunto era vasta. Mas nenhuma antes fora com tanta entrega e sentimento. Quanto a Rosalie, ela tinha certeza que estava pronta para esse grande passo em sua vida amorosa.

Tudo aconteceu ali mesmo, no apartamento dele, depois de um jantarzinho romântico a luz de velas.

Rosalie teve certeza de que jamais esqueceria aquele momento de sua vida. E não se devia apenas ao fato de ter sido sua primeira vez, mas sim pela forma como ele se portou; sempre cuidadoso e paciente. Até mesmo quando pensou em desistir.

Quando acordou pela manhã, sentindo frio embaixo das cobertas, Emmett não estava ao seu lado. Tudo o que encontrou foi uma rosa vermelha, cuidadosamente posta do lado de seu travesseiro. E o cheiro dele misturado ao seu nos lençóis e na pele.

Ela pegou a rosa, naturalmente levando-a ao nariz para sentir o perfume. Roçando as pétalas macias na bochecha por um instante. Ouviu ruídos na cozinha, e ao olhar naquela direção, encontrou Emmett preparando a bandeja do café da manhã pra dois.

Assim que ele deu a volta em torno da ilha que o balcão formava no centro da cozinha, percebeu que usava apenas uma cueca boxer preta. Seu corpo inteiro se arrepiou recordando os momentos íntimos que tiveram a poucas horas. A forma como aquelas mãos grandes as tocaram. E tudo o que aqueles lábios macios e corados haviam feito sentir.

Enrolou-se no cobertor amarrotado e quando fez menção de se levantar, Emmett alertou que ficasse onde estava. Ele levou a bandeja até ela e, ao sentar-se na cama, lhe beijou os lábios sem pressa. Seu cheiro recendia a sexo.

— Eu te amo – ele declarou em voz roca. Rosalie já havia ouvido aquela mesma frase no decorrer dos trinta e um dias milhares de vezes, mas sempre sentia como se ouvisse pela primeira vez.  

Nos dias que se seguiram, Rose voltou ao apartamento dele e ao estúdio algumas vezes.

Ultimamente Emmett andava com a ideia fixa de fotografá-la em trajes íntimos. No entanto, Rose vinha protelando. Alegando sempre estar pensando no assunto.

Voltaram a fazer amor muitas outras vezes, mas, nunca nenhuma parecia igual. As sensações estavam sempre se renovando, e o impulso do desejo crescendo a cada contato físico. A necessidade de estarem juntos crescia como chamas num galpão cercado de produtos inflamáveis.

Oito meses haviam se passado desde o primeiro encontro.

No último sábado à noite, depois de um passeio de moto pela cidade, voltaram juntos para o apartamento dele. Depois de fazerem amor, Rose ficou de um lado a outro do apartamento usando sobre a lingerie minúscula uma camisa cinza de botões que pertencia a ele.

Voltava de uma ida ao banheiro quando encontrou a porta do quarto escuro aberta. Havia uma luz fraca brilhando lá dentro. Imaginou que não haveria problema em da uma espiadinha.

Encontrou Emmett organizando algumas fotografias no que parecia ser um álbum.

Jamais havia estado ali antes. A porta estava sempre fechada, mesmo quando ele não estava revelando.

Emmett abriu um sorriso ao sentir sua presença. O cheiro de seu perfume havia a entregado quase que no mesmo instante.

Virou-se na direção de onde ela estava. Chegando um pouco mais perto, ergueu a mão para afastar o cabelo dela do rosto, para em seguida beijar no canto de seus lábios.

— Eu não entendo por que nunca tinha estado aqui antes – comentou, dando uma rápida olhada ao redor. Percebendo que realmente não havia nada além do que espera encontrar num lugar como aquele.

— Bem – disse Emmett, com a mão na têmpora direita dela –, não tem nada demais. Só bagunça e fotos. Fotos em qualquer direção que você olhe. De pessoas e de lugares.

— Legal – ela falou, apenas.

Foi quando o telefone fixo tocou na sala de estar.

Emmett beijou novamente no canto dos lábios dela. – Volto num instante. – ele avisou, movendo o corpo para a direita alcançando a porta rapidamente.

Rosalie prendeu a mesma mecha de cabelos que ele antes tentara arrumar, atrás da orelha. Olhou o vão da porta por onde ele havia desaparecido. Depois tornou olhar as coisas dentro do quarto escuro, que não estava tão escuro assim agora, afinal. Os armários e as várias fotografias. As embalagens plásticas contendo líquidos que ela desconhecia. Nada fora do comum.

Chegou mais perto da bancada para ver as fotos que ele antes estivera organizando num álbum. Eram todas de casamento. Não reconheceu o casal. Deixou pra lá. Encontrou uma foto deles registrada durante um beijo, estava encostada na parede sobre a bancada. Foi difícil conter o riso que marcou seus lábios. Moveu a mão para pegá-la e, sem querer, esbarrou numa caneca de café entornando o líquido escuro na superfície de mármore atingindo alguns objetos.

— Merda – resmungou, olhando rapidamente pra porta, imaginando se Emmett estaria voltando. Rapidamente começou a olhar em volta em busca de algo que pudesse usar para limpar a sujeira, ou ao menos disfarçar.

Avistou algo que parecia ser toalhas de papel em um dos armários nos fundos do quarto. Precisou ficar nas pontas dos pés para alcançá-lo. Puxou as folhas de papel, ou ao menos o que pensou que fosse e, de repente, aconteceu.

A garrafa ao lado virou com a tampa aberta. O líquido atingiu seus olhos. Aquilo ardeu de tal maneira que não foi capaz de se manter de pé. Desabou no chão, com as mãos no rosto, gritando de dor e desespero.

Outros objetos caíram sobre ela. O varal de fotografias se partiu e todas as imagens chegaram ao chão ainda que presas à cordinha.

Todo aquele barulho, junto com seus gritos, chegou até Emmett como um soco no estômago. Ele largou imediatamente o telefone no tapete, imaginando o que teria acontecido.

Seu coração se partiu em pedaços ao vê-la no chão, agoniada, chorando e gritando de dor, tudo ao mesmo tempo. Correu até ela, sentindo as pernas fraquejarem. Pisou sem querer no frasco vazio de líquido revelador.

— Droga! – esbravejou. E, ao se dar conta do que tinha acontecido, resmungou repetidamente. – Não, não, não, não. – Pegou Rose no colo. Na agonia gritou por ajuda. Foi quando um dos vizinhos ligou para emergência.

Ele não soube quanto tempo levou para chegar ao hospital. Tudo parecia acontecer em câmera lenta. O choro de Rosalie. A movimentação dos paramédicos. Os primeiros socorros. A maca sendo empurrada pelos corredores da emergência do hospital. A família dela; a mãe e as irmãs gêmeas, Avery e Zoey, assustadas.

Esme tentou se agarrar a filha quando a maca passou do seu lado ás pressas. Dois enfermeiros a tiraram do caminho. A maca levando sua filha mais velha desapareceu através das portas duplas, na metade de um corredor enorme. Em pânico, chorou e gritou pela filha. Deixou-se desmoronar nos braços daquelas pessoas estranhas.

— Rose... filha... Minha menina – um som estranho escapou de sua garganta. E o soluço foi incapaz de deixá-la.

As garotinhas gêmeas, chorando, correram para junto da mãe. E as três, abraçadas, sentadas no chão frio daquele corredor hospitalar, choraram. Choraram sufocadas com o medo do que estava por vir e pela dúvida que se instalara.

Foi quando um homem louro, de jaleco branco, apontou no corredor. Apressando o passo para encontrar com elas. Sequer percebeu Emmett ali.

— Papai! – gritou Avery, se pondo de pé. Os olhos vermelhos de chorar, e uma expressão de medo no rosto. Zoey fez o mesmo.

Ele ajudou Esme a ficar de pé. Ela parecia desolada.

— Carlisle – ela falou com a voz esganiçada. – Nossa menina... – sua voz falhou, ficando presa na garganta, incapaz de se libertar. E ele viu medo nos olhos dela.

— O que houve com a nossa menina? Eles não me disseram muita coisa, apenas que estavam trazendo ela pra cá.

— Eu tinha acabado de chegar em casa quando me ligaram – outro soluço, e ela se esforçou para falar. – Disseram alguma coisa sobre ter caído algo nos olhos dela. Ao que parece é um produto químico usado na revelação de fotos.

Carlisle a abraçou mesmo sabendo que corria o risco de ela recusar.

— Nossa menina corre o risco de perder a visão... Meu Deus... Como isso foi acontecer... – ela lamentou. Trêmula diante do ex-marido. E ele beijou seus cabelos, no alto da cabeça. Sabendo que a única coisa que poderia tranquilizá-los era a confirmação de que a filha estava enxergando.

As gêmeas choraram ainda com mais força. A agonia dos pais estava se tornando a agonia delas também.

— Não quero que a Rose fique cega – gaguejou Zoey. – Papai cura ela. Tira aquela coisa dos olhos dela. Faz parar de doer... – implorou. – Faz a Rose ficar boa logo.

— Carlisle – Esme olhou pra ele, com suplica no olhar. – Você trabalha aqui. Vá até lá e procure saber de nossa menina. Fale com alguém. Faça alguma coisa.

— Tá certo – ele respondeu, beijando outra vez os cabelos dela. – Verei o que poso fazer.

Ele se apressou pelo mesmo corredor por onde tinha chegado minutos antes.

As três voltaram a se abraçar no corredor da sala de emergência.

Emmett se levantou do banco onde estava sentado pronto para sair dali. Sentia-se miseravelmente culpado. A cena que a família junta acabou de protagonizar só serviu para fazê-lo sentir-se pior.

Não tinha cara para olhar pras eles.

Voltou para o apartamento mesmo sabendo que não era onde queria estar. Tomado por uma crise de culpa e raiva destruiu grande parte do quarto escuro. Pisou novamente sem querer na mesma garrafa vazia. Sentiu tanta raiva que quis explodi-la. Pegou-a embaixo dos pés atirando-a na parede.

Viu a fotografia que eles apareciam trocando um beijo, e a pegou no meio de toda aquela bagunça. Rasgou ao meio separando seus rostos e deixou que caísse outra vez no chão.

A raiva que sentia de si mesmo era tão grande que o sufocava. Voltou para o quarto de dormir com as mãos na cabeça. O mundo parecia fora do lugar, e sua cabeça, a ponto de explodir.

[...]

Horas mais tarde, Rosalie se encontrava deitada num dos leitos do hospital. Seus olhos estavam encobertos por gazes e por uma faixa branca que circundava sua cabeça.

Esme estava sentada ao lado dela, numa poltrona branca. Preocupação e tristeza estampavam seu rosto. Olhava a filha sedada o tempo todo, imaginando quando acordaria.

Carlisle tinha ido com as gêmeas até a lanchonete do hospital. As meninas não tinham comido nada no jantar. Por isso mãe e filha estavam sozinhas no quarto agora.

Esme soltou o ar dos pulmões com nítida angustia. Notou no mesmo instante, Rose mexer os dedos da mão direita e então os segurou entre as suas. Ficou ansiosa e se pegou desejando que Carlisle estivesse ao seu lado. Temia o momento que ela descobriria estar escuro, e não sabia por quanto tempo iria ser assim.

As pálpebras dela se moveram por baixo da gaze, mas seus olhos não se abriram. Esme percebeu o nervosismo tomando conta da filha. O corpo todo ficou inquieto. As mãos se moveram para encostar-se aos olhos.

— Mamãe! – Rose chamou por ela num rompante.

Esme pulou da poltrona no mesmo instante. Esforçando-se para manter as mãos dela abaixadas, longe dos olhos.

— Mamãe, mamãe, mamãe! – Rose estava tremendo. Sua voz se perdendo em aflição e medo.

— Estou bem aqui, querida. Estou bem aqui, ao seu lado.

Rosalie apertou o braço da mãe com a mão. – Não vejo nada! Mamãe, eu não consigo ver nada – tornou a gritar.

Esme estremeceu, e muito rápido seus olhos se encheram de lágrimas. O coração estava que era só agonia.

— Há algo errado... Não consigo abrir os olhos. Mamãe, o que está havendo? Por que não consigo abrir os olhos?

As lágrimas rolaram no rosto da mãe. E ela se viu na difícil tarefa de dizer à filha o que estava acontecendo.

— Isso é porque você está com os olhos enfaixados, meu amor. Eles precisavam fazer isso. É pro seu bem.

Rosalie puxou as mãos, se desvencilhando das mãos da mãe até poder encostá-las ao próprio rosto. Reconhecendo no toque a faixa que encobria seus olhos. Sentiu medo, e moveu as mãos trêmulas para longe como que pudesse queimá-las apenas no ato de encostar.

— Estou cega – o grito saiu esganiçado. – Estou cega... – lamentou, tomando consciência da tragédia. E se pegou com uma dor infinita querendo fazer moradia em seu coração.

Se os olhos dela não estivessem encobertos por aquela coisa, a mãe teria visto que chorava. E veria tanto medo quanto, quando criança, Rose quebrou o braço ao cair de bicicleta e achou que fosse morrer.

— Estou cega, mamãe... – ela soluçou enquanto as palavras pareciam lhe rasgar por dentro.  – Oh, meu Deus, estou cega. Cega...

— Meu amor, fique calma... – Esme pediu, enquanto a abraçava. – Você não está cega. Só está com essa coisa tapando seus olhos. Ainda não pode abri-los. É preciso ficar assim por um tempo. Foi o que os médicos disseram. Eles irão tirar...

— Quando? – se precipitou, chorando.

— Eu não sei. Em alguns dias, talvez.

Naquele instante, a porta do quarto foi aberta e Carlisle passou por ela com as meninas, uma de cada lado seu.

— Carlisle – Esme implorou sua ajuda com um simples olhar.

Avery e Zoey correm, preocupadas, para junto do leito que a irmã mais velha ocupava no quarto do hospital.

— Papai? – Rose chamou em voz alta. – Está aqui?

Fazia tanto tempo que ela não se dirigia ao pai que Esme sentiu-se péssima por eles terem se afastado tanto nos últimos tempos. O ressentimento e a magoa tinha os afastado.

Esme ainda segurava suas mãos longe do rosto quando ela voltou a falar. 

— Papai?

— Estou aqui, filha. – A voz dele soou tranquila, como já era esperado numa profissão com a sua. Mas o amor pela filha estava em cada letra. Em cada pronuncia. Com alguns passos se aproximou, também, da cama.

— Estou com medo... – ela admitiu em um soluço. – Não quero ficar cega. Não quero viver a vida no escuro.

Ele tocou no ombro dela fazendo um afago. – Vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem.

— Está mentindo pra mim. Não acredito em você.

— Não. Eu não estou mentindo. Eu não mentiria pra você.

— Você já mentiu uma vez. Mentiu pra todas nós... E é por isso que você e a mamãe não estão mais juntos.

De canto de olho, Carlisle reparou em como Esme reagia à acusação feita a ele pela filha. Depois, voltou olhar inteiramente pra ela.

— Eu errei querida, mas, acredite em mim, estou muito arrependido do que fiz. Não tem um só dia de minha vida que não me arrependa disso. Não há um só dia que não deseje minha família de volta. Aquilo não significou nada pra mim. Foi uma aventura estupida, que me custou caro demais.

— Quando vão tirar isso dos meus olhos? – ela ignorou toda aquela falação pondo sua dor à frente de tudo.

— Em dois ou três dias, talvez.

— Eu não vou suportar... Não vou suportar esperar tanto tempo pra ter certeza de que não estou cega. Estou morrendo de medo, papai.

— Seja forte querida. Estamos todos com você. Vai dar tudo certo. Confie.

De repente, Avery começou a falar. – Se você ficar cega nós podemos dar pra você um cão-guia.

— Mamãe... – Rose chiou.

— Avery, sua irmã não vai ficar cega. Os médicos disseram que ela vai ficar bem.

— Desculpa Rose. Eu só queria ajudar. Não foi por mal.

Zoey chegou perto do ouvido de Rose e cochichou:

— O papai e a mamãe não estão mais brigando. Acho que é por que você está aqui. Você os fez parar de brigar. Obrigada. Obrigada, irmã.

E Rose percebeu a emoção no tom de voz dela. Moveu a cabeça para o lado onde a irmã estava, ainda que não pudesse vê-la. Passado um instante, voltou a falar.

— E o Emmett? Por que não está aqui com vocês?

— Tudo isso é culpa dele – Carlisle acusou. – Ele é o culpado do que te aconteceu. Ele e aquelas fotografias idiotas.

— Não. Não é culpa dele. Foi um acidente. O que aconteceu foi um acidente, papai. Emmett não estava por perto quando aconteceu. Ele não tem culpa de nada.

Carlisle se afastou da cama, não querendo falar coisas que a magoassem. Já estava sendo difícil o bastante, pra todos eles.

— Mamãe, onde ele está? O Emmett.

— Eu não sei querida. Ele esteve aqui mais cedo. Veio junto com você na ambulância, mas depois foi embora sem dizer nada.

— Ele vai voltar? Vocês falaram com ele? O que disseram?

— Não sei. Eu realmente não sei filha. Sequer percebemos quando partiu.

[...]

Três dias haviam se passado desde o acidente. A família estava novamente reunida no quarto de hospital que Rosalie ocupava. Dessa vez, porém, aguardando que o médico responsável fizesse a retirada da bandagem que protegia seus olhos da luz.

Avery e Zoey estavam diante os pés da cama. Uma trazia um urso de pelúcia marrom nos braços. A outra, um balão de gás hélio vermelho em formato de coração. Esme e Carlisle estavam logo atrás das duas.

Rosalie se encontrava sentada na cama, ainda usando as roupas do hospital. Tremendo, e ansiosa demais para falar qualquer coisa.

Lentamente, o médico retirou as faixas que circundavam a cabeça de Rosalie.

Esme soltou o ar dos pulmões devagar, e apertou na mão de Carlisle. As meninas olharam da irmã para os pais, apreensivas.

O médico retirou, com todo cuidado, primeiro a gaze do olho direito, depois do esquerdo. Ele inclinou a cabeça de Rose e pingou algumas gotas de colírio em seus olhos.

As pálpebras dela se moveram com o que pareceu um tremor. Sentia-as pesadas. Seus olhos arderam um pouco, e as imagens começaram a surgi em um borrão. Ainda assim reconheceu a família, especialmente os pais, de mãos dadas.

— O que está vendo? – sondou o médico.

— Está borrado, mas eu consigo ver. Mamãe. Papai. Avery e Zoey. Médico de cabelo grisalho.

— Graças a Deus – as palavras deixaram os lábios de Carlisle livremente.

Esme por pouco não desmoronou. Sentiu tanto medo. Mas ela estava ali, vendo-os outra vez. Chorou e riu ao mesmo tempo. Avery e Zoey deram pulos de alegria.

— Isso é temporário. Em pouco tempo sua visão deve melhorar. Você é uma menina de sorte.

Então, Rose dirigiu-se especificamente aos pais.

— Fizeram-me esperar muito tempo para vê-los assim outra vez.

Todos os quatro juntos foram abraçá-la na cama.

Passado um momento, Rosalie voltou a perguntar por Emmett e a resposta não foi diferente de todas as outras que recebeu. Começava ficar preocupada. De repente, sentiu uma imensa vontade chorar. E dessa vez nada tinha a ver com o medo de estar cega.

Ela permaneceu no hospital por mais alguns dias. E quando finalmente voltou pra casa, quis muito ir procurá-lo. Precisava saber as razões para ter desaparecido assim de sua vida.

Com o passar dos dias sua visão foi melhorando. No entanto, foi descoberto que seu olho esquerdo, o mais afetado, perdera vinte por cento da capacidade de enxergar.

Jasper ficou surpreso, em encontrá-la no estúdio naquele fim de tarde.

— Como você está? – perguntou. Ele se encontrava no lado de dentro. Ela, no corredor. Apenas o umbral da porta os separava.

— Ainda estou me recuperando... Meu olho esquerdo, ele não é mais como antes. Acho que terei de usar óculos para algumas atividades como a leitura, por exemplo.

Jasper moveu a cabeça, concordando. – Foi um susto e tanto – disse.

— Onde está o Emmett? Por que ele não foi me ver no hospital uma única vez?

— Ele foi embora – Jasper respondeu, olhando a maçaneta da porta. Sem coragem de olhar pra ela.

— Ele o quê?

— Ele deixou a cidade. E pediu pra dizer que você merece alguém melhor.

A essa altura Rosalie estava com os olhos cheios de lágrimas. Não conseguia acreditar que ele tivesse mesmo feito isso.

— Por que ele mesmo não foi até lá falar comigo?

— Eu não queria ter de te dizer isso, Rose. Eu juro que não queria.

— Sabe para onde ele foi? Era o melhor amigo dele, tem de saber alguma coisa.

— Voltou para a Carolina do Sul. É lá que vivem os pais e a irmã dele.

Que os pais e a irmã dele viviam lá, isso ela já sabia.

Rose moveu a cabeça, se recusando a acreditar. – Que droga! Por que ele faria isso? Ele construiu toda uma vida aqui, com muito esforço. Nada disso não faz sentido. Por que deixaria tudo pra trás?

Jasper parecia incomodado com alguma coisa. Ele evitava olhar nos olhos dela quando falava de Emmett.

— Posso entrar um pouco? Por favor, Jasper, eu preciso desse momento. Por favor.

Ele concordou. – Vou deixá-la sozinha. – E, então, no instante seguinte estava no corredor. – Chame se precisar.

Rosalie não disse nada, apenas foi andando rumo às recordações. Reconhecendo em cada detalhe momentos que viveram juntos. Os risos, as brincadeiras bobas. As fotografias.

Deslizou a palma da mão sobre cada coisa que encontrou pela frente. Tinha a estranha necessidade de senti-las. Seu peito tremia com a carga de soluços que se formava. O choro foi inevitável. Sentou-se no chão encostada à parede forrada por uma cortina branca. As luzes do estúdio todas posicionadas para ela, embora desligadas.

— Por que disse que eu tinha que encontrar alguém melhor? – soltou as palavras que estavam presas na garganta, sufocando-a. – Por que assim? Por que terminou desse jeito, Emmett? Eu merecia mais que isso – a voz dela soou trêmula. – Você é igual a todos os outros caras. O que aconteceu quando dizia que amava?

Chorou por um longo tempo, sentada no chão. Até sentir-se exausta.  Então se pôs de pé.

— Você deveria ter me dito que não me amava mais.

Não aguentou mais ficar ali, vendo tudo o que lembrava ele. Correu para a porta, passando como um borrão por Jasper no corredor.

— Rose? – Jasper chamou. Mesmo assim, ela não parou para ouvir.

Desistiu de esperar pelo elevador, descendo depressa os vários lances de escada.

Jasper entrou no elevador, pensando em encontrar com ela no térreo. Quando enfim as portas do elevador se abriram, ela já estava com os pés a um passo das portas do edifício.

Ele gritou, com a mão estendida, como que pudesse pará-la mesmo estando tão longe.

— Ele... Rose? Emmett...

Ela não ouviu. Ou talvez tenha fingido não ouvir.

Jasper desistiu. Talvez assim fosse melhor.

Rosalie seguiu pelas ruas com lágrimas no rosto. Vendo tudo passar pelos seus olhos feito um borrão. O coração estava doendo e ninguém poderia fazer parar, a menos claro, Emmett estivesse ali dizendo pra ela que tudo não passava de uma grande mentira.

Voltou pra casa e se trancou no quarto. Não queria ser forte agora, e não iria ser.

Chorou largada na cama por tempo demais. A família bem que tentou fazê-la abrir a porta do quarto e conversar com eles, mas de nada adiantou.

Estava com uma fotografia dele nas mãos. Ao menos ainda existiam as fotografias para lembrá-la de que o que viveram juntos fora mesmo real.

— Por que Emmett? Por que disse que eu tinha que encontrar alguém melhor? Sinceramente, não quero que você seja feliz – gaguejou para o Emmett da foto. – E se você encontrar alguém melhor que eu? Não consigo suportar nem mesmo a ideia de você ter alguém melhor. Estou com tanta dor, porque ainda continuo te amando.

[...]

Foram dias de tristeza irreparável. A saudade era imensa. Os dias se arrastaram junto à mudança de estações. A única coisa boa em meio a tudo que aconteceu foi Carlisle e Esme voltarem a viver juntos. E a família ter voltado a morar no antigo apartamento, ao lado do Central Parque.

Todos pareciam felizes, exceto Rosalie. Não havia um só dia que não pensasse em Emmett. E no que o motivara sumir.

Rose finalmente entrou pra faculdade. Foi aceita em três delas. Optando por Columbia University, para que pudesse estar perto da família mais tempo.

Eram meados de dezembro, as férias de inverno tinham chegado. Muitos dos alunos deixaram o alojamento para estar com suas famílias. Aproveitando as festividades de fim de ano.

Embora estivesse muito frio lá fora, Rose quis dar uma volta pelo Central Parque. Era tão belo no inverno quanto no outono, sem dúvida. Estivera pensando demais em Emmett nos últimos dias. E qual lugar melhor para lembrar-se dele, senão o local onde se conheceram.

Caminhava distraída, mantendo as mãos enluvadas o tempo inteiro dentro do bolso do sobretudo bege. O cachecol escuro em volta do pescoço se encarregava de mantê-la aquecida. Os cabelos soltos, balançando ao mais leve soprar da brisa gelada. As bochechas levemente coradas. Os óculos de armação escura e moderna, remodelava seu rosto.

Não sabia ao certo aonde ir. Apenas seguiu em frente. Já estava próximo a estatua de Alice, quando percebeu algo sendo arrastado pelo vento, saltando os pequenos montinhos de neve que caíra durante a noite. A princípio, acreditou ser um objeto qualquer, mas, ao chegar perto para conferir, reconheceu sua fotografia; a mesma que Emmett havia tirado sem querer, ali mesmo no Central Parque, no outono de quase dois anos atrás.

Foi difícil controlar as emoções. Estava tremendo quando se abaixou para recolher a fotografia. Estava úmida, então ela usou as mãos enluvadas para secá-las, mesmo que apenas um pouco.

Tomando conhecimento do que aquilo implicava, encobriu a boca com a mão. Recuou alguns passos, tomada por uma ansiedade incomum. Deus, ele tinha de estar em algum lugar ali. Olhou em volta, mas não encontrou nenhum sinal de Emmett.

Queria gritar, contudo, a voz parecia incapaz de deixar sua garganta.

— Há quase dois anos conheci uma mulher... Uma garota.

Rose ouviu aquela voz e pensou que fosse desmaiar.

— E mesmo que não possa estar com ela, ainda continuo amando-a.

Tomada por um impulso irrefreável, Rose deu a volta em torno da estatua de Alice. Sua respiração estava pesada. O coração golpeando com fúria o peito. Esperança e medo se misturando. Assombrando-a. Enlouquecendo-a.

— É a garota da foto que você deixou cair? – Rosalie não reconheceu a segunda voz.

— Sim. Por isso preciso encontrá-la, Edward. Voltei de tão longe para ter comigo algo que fizesse parte de nossa história. Tê-la somente na memoria e no coração não é o bastante. Todas as fotografias dela tinham ficado pra trás. Eu tinha que buscá-las, de alguma maneira. E agora a minha favorita se perdeu.

Aquela era a voz dele, Rose tinha certeza disso. Não seria possível confundir uma voz que esteve por tanto tempo sussurrando palavras de amor ao seu ouvido. A mesma voz que lhe trazia paz e conforto.

De onde estava, conseguiu apenas ver dois homens. O que estava de pé era esguio, com cabelos numa cor que lembrava o bronze. Seus olhos eram verdes, e seus cabelos, meio bagunçados.

O homem que se encontrava de costas pra ela estava numa cadeira de rodas. Naquela posição, e com tanto agasalho, ficava difícil ter conhecimento de sua figura.

— O que aconteceu? – Edward pediu.

— Fui covarde... Estava indo embora. Sentia-me culpado pelo que tinha acontecido a ela. Mas não pude fazer isso. Eu a amava demais. Por isso decidir voltar. No entanto, quando mudei de pista para fazer o retorno, fui atingido por um caminhão que transportava madeira. Não pude chegar até ela. Estive por muito tempo no hospital, e o resultado foi esse. Você sabe, estou condenado a essa maldita cadeira de rodas.

Rosalie tremeu tanto que pensou não ser forte o bastante para suportar o peso do próprio corpo.

— Eu destruí tudo. Ela merece alguém melhor. Merece mais do que isso.

— Não! – Rose se precipitou, elevando o tom de voz. Atraindo a atenção dos dois.

A cadeira de rodas girou após ter sido acionado um botão. Emmett estava agora de frente para ela. Os olhos azuis brilhando através de uma cortina de lágrimas.

— Eu preciso de você. Só de você – ela declarou numa voz engasgada de emoção. E se precipitou indo para junto da cadeira de rodas. Deixando as emoções no comando.

Ela se abaixou para poder tocar no rosto dele com as mãos. Ele usava a barba bem aparada. Estremeceu ao senti-las nas pontas dos dedos. Era tão real quanto pensou que fosse. Tão real quanto tinha sido um dia.

Emmett tornou acionar o botão, porém, dessa vez, a cadeira de rodas recuou.

— Não... – Rosalie lamentou. – Não vá embora outra vez.

— Eu não sirvo para você... Não mais.

— Não é verdade.

Emmett olhou para o amigo que o trouxe até ali.

— Vamos embora, Edward.

Edward ficou na dúvida. Se eles tinham assunto inacabado, então que resolvessem de uma vez por todas. Por isso não se moveu.

— Então diga, olhando nos meus olhos, que não me ama mais – Rosalie insistiu. – Eu preciso ouvir você dizer que não me ama mais – ela gritou de coração partido.

— Eu não posso.

— Por quê?

— Porque eu ainda a amo.

— Então me deixa voltar fazer parte de sua vida. E dessa vez pra sempre.

— Não posso. Olha só como estou. Não percebe? Você merece mais que isso.

— Dessa vez sou eu quem decide – ela bradou. – E eu decido que quero você. Tem ideia do quanto sofri, por achar que tinha mentindo pra mim? Que era igual a todos os outros caras. Que nunca havia me amado de verdade. Imaginando pra onde teria ido todo amor que dizia sentir. Quase me enlouqueceu com seu sumiço.

Emmett bateu com o punho no peito. – Ele sempre esteve aqui – disse com remorso. – Me lembrando todos os dias o quanto fui covarde.

— Então fique comigo. Prove pra mim que não é esse covarde.

— Ah, Rose... – ele lamentou. – Eu pus sua vida em risco. E, além do mais, veja só como estou. Não sou mais o homem que você conheceu.

— Eu não me importo – admitiu em voz baixa. – Eu realmente não me importo – tornou a dizer, chegando um pouco mais perto. – Pra mim você continua sendo o mesmo. O meu amor. O meu Emmett.

Como Emmett não demonstrou recusa, ela sentou, de lado, no colo dele. Ele passou os braços em torno do corpo dela, apertando-a contra seu peito. Aspirando com vontade o aroma de seu perfume. Ainda era o mesmo. E ele se odiou mais uma vez por um dia ter pensando em deixá-la. Por ter pensado que seria capaz de viver longe dela.

— Foi culpa minha você ter sofrido o acidente de moto – ela desabafou. – Tudo começou comigo. Se eu não tivesse ido mexer onde não devia... Aquele segundo não teria definido nossas vidas.

Ele retirou os óculos dela por um instante e beijou seus olhos muito lentamente, recordando a agonia vivida no passado.  Dando graças a Deus por ela estar bem.

— Já nos culpamos demais, meu amor. Se quisermos fazer isso dar certo, precisamos parar agora – disse.

— Eu vou estar com você, Emmett, não importa o que aconteça. Não importa o que tivermos de enfrentar. Só confie em mim pra fazê-lo feliz.

— Eu confio querida. Eu confio.

Ainda que tenha havido as adversidades da vida, o verdadeiro amor soube triunfar sobre todas elas.

O acaso os aproximou.

A vida os levou pra longe.

O destino os uniu outra vez.

Fim


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, essa foi a segunda e última parte. Como disse, era uma on-shot que por ter ficado muito grande precisei dividir. Espero que tenham gostado.
Se quiser deixar um comentário, quem sabe uma recomendação, eu ficaria imensamente feliz.

Obrigada a todos pela atenção.
Beijo, beijo
Sill