Guerra dos Seres - volume1 escrita por Pedro Teressan


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Antes de você começar a ler esse capítulo, algumas coisas devem ser esclarecidas: cada região da Pangeia tem um sotaque diferente, aqui você vai ler nomes com trema (¨), no caso do 7º Reino, o Ë tem som de A.
Exemplo: Regën=Regan.

Boa leitura!



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7° REINO

Os raios de sol da manhã entravam pelos vitrais da sala do trono de Regën, o Sétimo rei. Os pássaros matutinos cantavam do lado de fora do palácio e seus cantos harmoniosos chegavam até a majestade.

Regën era um homem alto de pele clara; cabelos castanhos, um pouco ondulados, iam até o fim de seu rosto, na altura do queixo; um cavanhaque cor-de-chocolate, semelhante ao cabelo, circundava a boca do rei; a majestade tinha olhos negros, com a cor tão escura que lembrava a noite. O Sétimo Rei vestia as roupas reais daquela região: um manto grosso e vermelho, com bordas brancas; botas feitas de couro de boi, algo raro naquela região, sendo que bois eram mais comuns ao sul; uma coroa repousava na cabeça do rei, a peça era adornada por joias raras e preciosas; a mão direita de Regën era repleta de anéis, em seu dedo indicador havia um anel dourado, símbolo da união do Homem com a Coroa; no dedo médio havia um anel prateado, anel dado aos príncipes; em seu dedo anelar, havia uma aliança de casamento, outra igual encontrava-se no dedo anelar da rainha: Hylis; no dedo mindinho do rei tinha um anel prateado com um rubi em cima, cravado, aquele anel era mais um objeto de luxo do que algo simbólico; o polegar do rei não tinha anel, pois nas crenças do Sétimo Reino, o polegar era o dedo sagrado.

A sala do trono tinha um corredor extenso de trinta segundos até o trono; as janelas daquele cômodo, eram vitrais coloridos com a imagem de cada rei que já passara por ali; um tapete vermelho estava estendido até o trono onde Regën sentava; uma enorme porta dourada encontrava-se na parede oposta a cadeira do rei; nas costas do trono, havia o desenho de um quadrado com um triângulo no meio, era um símbolo religioso que significava algo como "Que os deuses abençoem o rei e a realeza".

O Sétimo Reino, assim como outros doze reinos, fazia parte da Liga dos 13; uma aliança entre os treze primeiros reinos humanos. Estes não eram nomeados com nomes, mas sim com números por ordem de criação. Os reinos que faziam parte dessa liga eram os mais poderosos do mundo, cada um com uma especialidade diferente. A principal lei dessa Liga dizia que se um reino fosse atacado, todos os outros 12 deveriam se unir para ajudar. Não tinha uma sede definida para essa liga, logo, eles se encontravam em lugares previamente marcado. Outra lei proibia os reinos de se atacarem, pois isso iria contradizer a primeira lei de aliança. Obviamente, nem todos os reinos do mundo faziam parte da Liga dos 13, a maioria era de reinos sem uma aliança definida.

De todos os 13 reinos, o Sétimo Reino era o terceiro mais estável economicamente. Ele se sustentava a base do comércio de peixe, mas não qualquer peixe, apenas os Peixes de valor: eram os peixes mais nutritivos e saborosos do mundo, encontrados apenas no Lago Rico, um lago situado próximo da Grande Montanha, o habitat dos dragões. No ano de 1350, após o crescente interesse pelo Lago Rico, os humanos entraram em uma discussão para ver quem ficaria com a posse do território, o Sétimo Reino venceu após uma eleição. O Sétimo Reino, por isso, tinha o título de Reino Pescador.

A política era muito bem balanceada: o rei era carismático, conseguindo o apoio do povo mais pobre; e para os mais ricos, ele fazia uma espécie de desconto sobre o preço dos peixes conseguindo, assim, o apoio da burguesia também. Esse reino não tinha nenhuma inimizade, era querido por todos. Suas rotas comerciais atravessavam o mundo, ligando o Sétimo Reino aos reinos da Liga dos 13 e, também, à outros reinos.

Mas o mais importante desse reino, era o exército. Era o segundo exército mais poderoso do mundo, sendo passado para trás apenas pelo Primeiro Reino. O exército do Sétimo Reino era extremamente leal ao seu rei e ao povo. O rei e o exército tinham os mesmos ideais: Defender o reino e prevalecer com a paz. Quando o pai de Regën morreu, e esse assumiu o poder, ele usou um discurso que ficou famoso no reino inteiro e que fez o povo erguer suas esperanças em relação ao novo rei:

— Essa coroa não representa o meu cargo — dissera Regën em seu festival de coroação — Essa coroa representa a obrigação que tenho com vocês! A obrigação de protegê-los em uma guerra, a obrigação de honrar a nossa bandeira! Fora de nossas muralhas, temos a fama de um povo fraco! Porém isso irá mudar; farei do nosso exército o maior e mais forte do mundo! E todos irão temer no enfrentar, pois seremos grandiosos! Seremos poderosos! Seremos indestrutíveis!

Regën cumprira a promessa. Na verdade, era isso que o povo achava, pois o rei ocultava os dados verdadeiros. Ele ocultava o fato de que o Primeiro Reino tinha o exército mais poderoso, e não o sétimo reino, tudo isso pra não perder o apoio do povo.

Superficialmente, não havia nenhum pingo de corrupção, mas bastava levantar o tapete para ver a sujeira escondida: Assassinatos de traidores, dinheiro suspeito, comércio proibido, tudo que era de ruim estava sob o tapete, e o povo, ignorante, não sabia disso, na verdade, não tinha como eles saberem, pois tudo era muito bem escondido.

Estava Regën sentado em seu trono, seus olhos olhando para o nada, em tom imaginativo; o rei lembrava-se da sua infância e de como aquela sala parecia maior quando ele era pequeno, mesmo que seu festival de coroação acontecera há três anos. Aquele era Regën: um homem imaginativo e nostálgico, com propósitos na vida de melhorar o seu reino, de tornar-se uma potência mundial. Quando criança, ele sempre fora bajulado pelo pai e pelo resto da corte, porém ele nunca pôde acompanhar os assuntos políticos do reino, e essa foi a maior mudança em sua vida. Agora, Regën podia intervir onde ele quisesse na política; ele, pela primeira vez, tinha o poder em suas mãos.

A porta da sala do trono abriu-se e entrou um homem. Era um homem baixinho de cabelo castanho e olhos da mesma cor, tinha a barba raspada recentemente, uma roupa simples, porém nobre, esse era Zeltern, o mensageiro. O homem aproximou-se do trono e apoiou-se apenas com um joelho no chão, abaixando a cabeça e depois ergueu-se. O rei, em resposta, apenas abaixou um pouco a cabeça.

— Senhor — começou Zeltern — Trago-te notícias do Sul.

Na mão do mensageiro, ele segurava dois rolos de pergaminho.

— A primeira, vem da sua estação de pesca no Lago Rico — o homem abriu um pergaminho — Esse pergaminho foi escrito pelo líder dos pescadores, Luf, com um destino urgente para o senhor; Luf escreveu o seguinte: "Hoje o dia foi agitado, mesmo com uma visão reduzida da Grande Montanha, conseguimos avistar cinco dragões-de-bico partindo em direção da montanha dos Gigantes; os dragões estavam todos montados por homens, ou algo do tipo, pois não tínhamos uma vista muito clara, enxergamos apenas as silhuetas. Os répteis voavam rápido, como se fossem fazer um ataque. Horas mais tarde avistamos dois Bellator Reptile indo na mesma direção, também montados por humanos. O que temíamos aconteceu, senhor. A segunda Guerra de Gigantes começou." Luf pediu para que eu trouxesse esse recado o mais rápido possível.

Regën parecia preocupado, sua cabeça estava em um turbilhão de pensamentos.

A primeira Guerra de Gigantes fora algo destruidor, com proporções gigantescas. Havia sido o conflito entre Gigantes e Dragões. Há dois mil anos atrás, mais ou menos, Gigantes e Dragões viviam no mesmo lugar: Um complexo enorme de montanhas enfileiradas, nessas montanhas, uma linha marcava o fim do território dos Dragões e o início do território dos Gigantes; era algo muito bem balanceado e equilibrado para os dois povos. Na época, os humanos ainda não existiam direito, havia apenas 13 humanos no mundo inteiro, os outros seres eram Dragões e Gigantes. As montanhas em que esses seres gigantescos habitavam, eram ricas de minérios resistentes, algo excelente para os gigantes que já tinham ideias de arquitetura e outros assuntos, logo, eles queriam todas as montanhas para eles. Os Dragões iam contra a dominação total da montanha e essa divergência de ideias deu início à maior guerra já vista, até então. Fora quase uma aniquilação total das duas raças. No final, os gigantes venceram e dominaram todo o complexo de montanhas e morros ricos em minérios, dando aos Dragões apenas uma montanha, porém a maior.

— E a segunda mensagem? — perguntou Regën.

— A segunda vem do Nono Reino, escrita pelo rei, Logan — respondeu Zeltern abrindo o segundo pergaminho — É um convite, senhor, para uma reunião da Liga dos 13.

— Leia o que Logan escreveu, por favor — pediu o rei.

— Claro! Bem, Logan escreveu: "Regën, rei do Sétimo Reino! Acredito que nunca nos encontramos pessoalmente, certo? Mas a culpa é minha, eu não tenho costume de sair muito do meu castelo, porém isso irá mudar, caro amigo. Convido-te a vir me visitar aqui no meu reino, farei uma festa e depois iremos fazer uma reunião: eu, você e os outros onze reis. A reunião e a festa serão no dia 14, conto com a sua presença. Atenciosamente, Logan".

— Zeltern, escreva uma carta para Logan dizendo que irei sem falta. Agora, para Luf... peça para ele se proteger, e, se algo acontecer, peça para ele retornar para o reino. Dispensado!

Zeltern curvou o corpo em modo de reverência, virou-se de costas e saiu. Regën ficou parado pensativo, mesmo sabendo que isso estava planejado pra acontecer.

Regën desceu do trono e saiu de sua sala, passou pelo Saguão Principal e subiu a escada que ficava grudada na parede e dava voltas até o topo do castelo, entrou em seus aposentos e dirigiu-se para a varanda. O lugar tinha uma vista sensacional de uma planície verdejante, ensolarada, que se fundia com a escuridão de uma densa floresta que seguia até onde a vista alcançava. As trilhas da floresta levavam até um reino que não fazia parte da Liga. Era um reino sem muitas regalias, mas que vivia apoiado pelo Sétimo Reino. Mais além desse reino, havia o Décimo Terceiro Reino, principal exportador de uva, uma fruta importante, principalmente para a fabricação de vinho, uma bebida muito apreciada em festas e comemorações.

Regën soubera dos estragos feitos pela Primeira Guerra de Gigantes e não queria sofrer com os estragos de uma possível Segunda Guerra. Aquele homem de barba cheia com olhar poderoso carregava em suas costas um fardo. Seu pai fora um grande guerreiro e todos esperavam do filho a mesma bravura. Regën sentia-se na obrigação de defender o seu povo a qualquer custo.

O rei sentiu uma mão pousar em seu ombro esquerdo de maneira suave, uma pessoa surgiu ao seu lado: Hylis, a rainha.

— O que faz aqui, querido? — indagou a mulher.

— Hylis — começou Regën, ele estava com uma expressão séria — O que eu temia aconteceu. O Ancião estava certo.

— Os Gigantes e os Dragões estão em guerra novamente?

Regën não disse nada, apenas assentiu com a cabeça, olhando para o nada.

— Vai tomar alguma providência?

— O que eu posso fazer? Não posso parar a guerra.

— Mas pode nos defender!

— Querida, somos humanos! Não significamos nada para os Gigantes. Se ficarmos quietos, nada de ruim acontecerá.

— Mas o Ancião disse que sangue inocente de humano será derramado!

— Confie em mim, nada irá dar errado.

Mesmo com uma expressão séria por fora, Regën estava com medo, por dentro. Lembrava do dia em que fora falar com o Ancião. Fora no dia de sua coroação:

O céu estava limpo, lembrava-se o rei, uma grande lua cheia iluminava a estrada de pedra pela qual a caravana real viera. Estrelas enfeitavam a vaga escuridão do céu. A caravana estava composta por Regën, o general Soi, o mensageiro Zeltern e alguns guardas. Quando já estavam longe do reino, envoltos na escuridão, avistaram uma pequena cabana. Uma residência humilde, maltratada pelo tempo. Vinhas escalavam as paredes externas da casa, feitas de pedra; tochas, com as chamas fracas, iluminavam um pequeno espaço; a porta de madeira um pouco judiada com uns poucos cortes. Quando o grupo aproximou-se mais da cabana, um pobre animal saiu voando e granindo, pela penugem negra, deveria ser um urubu ou alguma ave do tipo. Todos aproximaram-se da porta e um dos guardas bateu à porta, todos ficaram em silêncio. Pode-se ouvir um movimento vindo de dentro da casa; algo de madeira batia contra o chão, provavelmente a bengala do homem. Quando o som já estava bem perto da entrada da casa, o Ancião tossira e então abrira a porta.

Era um homem velho, de pele branca e enrugada, pequeno, as costas um pouco curvas; vestia um manto roxo e segurava uma bengala de madeira, a qual viera batendo no chão. O velho não pareceu se surpreender com a caravana, ao invés disso, fez uma cara de como se já soubesse que eles iriam até lá.

— Rei Regën, é uma honra recebê-lo! — disse o Ancião.

— A honra é minha, Ancião. — respondeu o rei.

— Sentem-se por favor — disse o Ancião mostrando com a mão uma mesa redonda com uma vela acesa no centro, a mesa tinha cadeiras por toda a sua volta.

Regën foi o primeiro a sentar, o Ancião sentou a sua frente, o resto da caravana sentou nas cadeiras que sobraram.

— Sinto muito pela morte de seu pai — começou o Ancião em tom solene.

— Obrigado — respondeu o rei — Foi um grande impacto para nós, do reino.

— Realmente foi — concordou o Ancião — Bem, vamos falar do seu destino, do destino de seu reinado.

— Por favor — pediu Regën.

— Dê-me sua mão — pediu o velho estendendo a sua.

Regën obedecera e segurara a mão do Ancião. Nesse momento ele sentira-se invadido, como se o Ancião estivesse sabendo de todos os seus segredos e os roubando; o rei fora invadido pela tentação de largar da mão do velho; lembranças voltaram à tona em sua mente, coisas que ele nem lembrava mais. O Ancião soltou sua mão rápido e ficou boquiaberto olhando pro nada, como se tivesse acabado de ver coisas horríveis.

— O que houve, senhor? — perguntou Regën — O que o senhor viu?

— Em seu terceiro ano de reinado, os Gigantes se erguerão novamente contra os Dragões; sangue de humano inocente será derramado; vejo discussões, guerras, revoltas; vejo um pedaço de terra flutuando na água; vejo um mundo vermelho de sangue e ódio; vejo o seu fim, muito próximo!

— Tem certeza? — perguntou Hylis, tirando Regën de suas lembranças.

— Não sei... — respondeu o rei.


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Notas finais do capítulo

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