Coffee Breaks escrita por Kira Queens


Capítulo 5
Intimacy, Champagne


Notas iniciais do capítulo

Ok, vocês devem estar querendo me matar. Ou não. Mas de qualquer modo, minhas mais sinceras desculpas, eu andei tão ocupada com a escola, gente, sério, além de eu ter feito provão semana passada to tendo a maior dor de cabeça porque tem um tanto de coisa errada no gabarito e eles passaram nota errada pra gente, to ficando é louca.
Masss pra compensar esse é o maior capítulo da fic e eu adorei, achei que ficou bem amorzinho. Se ficou amorzinho demais desculpa tbm, eu to meio carente, não vou mentir pra vcs. E é isso, até lá embaixo!



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Quando as pessoas marcam de sair, ir a algum lugar ou simplesmente o clássico “fazer alguma coisa”, na maioria das vezes elas não estão realmente com a intenção de saírem juntas. Por isso quando Finnick Odair fez a sugestão, eu não pensei que ele estivesse falando sério. Mas ele estava.

— Eu não tenho roupa para esses eventos! — resmunguei enquanto mexia no meu guarda-roupa. A verdade é que além de sempre ter sido discreta, eu nunca dispus de muito dinheiro sobrando, então minhas roupas sempre foram básicas.

Katniss estava deitada na minha cama brincando com a minha gata e devorando um pacote de amendoim — o meu pacote de amendoim, diga-se de passagem.

— Coloque o azul — ela sugeriu — Você nunca usou esse.

Peguei o vestido a qual ela se referia e o encarei durante alguns segundos. Eu nunca o havia vestido antes justamente porque ele fazia parecer que eu estava me esforçando demais para estar bonita. E essa era uma coisa que, honestamente, eu nunca fizera. Para mim, futilidade era uma perda de tempo e vestidos caros e bonitos não eram nada além de uma estratégia capitalista que eu me sentia incapaz de apoiar.

Por outro lado, eu já havia experimentado várias roupas, inclusive algumas que Kat ofereceu para me emprestar, e nenhuma pareceu apropriada. E aquele vestido havia sido feito pela minha mãe, foi um presente do qual eu tentei ao máximo convencê-la de que era uma péssima ideia, mas de nada adiantou.

— Tudo bem — suspirei e entrei no banheiro para me vestir.

O vestido era azul-marinho rodado. Decotado demais para o meu gosto e deixava meu ombro exposto. Retornei ao quarto e Katniss soltou uma exclamação ao mesmo tempo em que batia palmas.

— É esse! — ela afirmou.

Calcei um salto prateado e não muito alto e olhei-me no espelho. De fato, minha aparência estava boa. Meus cabelos castanhos estavam ondulados e penteados de lado, caindo por cima do meu ombro até um pouco abaixo dos meus seios. Entretanto, eu ainda me sentia desconfortável.

— Isso não é um encontro — afirmei — Nós somos apenas bons amigos. Você acha que ele vai pensar que eu tive a impressão errada?

— Você claramente está tendo a impressão errada — ela murmurou. Eu olhei para cima e abri a boca para contestar, mas ela continuou a falar — Tudo bem, não quero discutir. Mas eu acho que você está apenas vestida para a ocasião. Não fique tão tensa, Annie, credo.

Já fazia alguns dias desde que Finnick e eu havíamos nos encontrado a última vez. Ele me ligara no dia seguinte, mas não foi para combinar nada e sim para dizer-me que não seria possível sair como ele havia sugerido. Pelo o que ele contou, ele andava bastante ocupado e a situação em casa não estava agradável. Eu disse que estava tudo bem e nós mantivemos contato. Até que foi organizada essa festa em sua casa para comemorar os 50 anos do escritório de advocacia dos Odair, e ele me ligou, implorando por tudo o que é mais sagrado que eu o acompanhasse.

Eu relutei o quanto pude, dizendo que não fazia ideia de como me comportar em um evento de pessoas ricas, então ele me acusou de estar sendo preconceituosa e eu o culpei pela grande desigualdade social do nosso planeta e comecei um discurso sobre como apenas 2% da população concentram mais da metade da riqueza mundial, o que fez com que ele se sentisse culpado e ofendido, argumentando que ele não possuía culpa por ter nascido naquela família. Por fim, eu concordei após ele prometer que começaria a fazer trabalho voluntário e que iria a “eventos de pessoas menos favorecidas economicamente” quando eu quisesse.

Além disso, seu monólogo sobre como eu era a única pessoa que ele realmente queria ver naquela festa me conquistou um pouquinho. Eu provavelmente teria ido só por isso, mas gostei de sua insistência.

— Essa é uma péssima ideia — eu falei, sentindo meu coração acelerar à medida que eu lutava contra o desespero iminente — Vão me odiar, eu não me encaixo nem um pouco.

Katniss soltou um suspiro exageradamente longo.

— E daí? O cara te adora, é só o que importa, não é? — observei pelo espelho ela dar um amendoim para Mia, que, ao invés de comer, ficou brincando com ele com suas patas, como se fosse um inseto a ser aniquilado — E se você quer saber, eu acho de verdade que isso seja um encontro. Só que vocês não querem admitir.

Eu a ignorei e poucos instantes depois ouvi uma buzina e imediatamente senti minhas pernas fraquejarem. Olhei pela janela e vi a BMW de Finnick parada em frente ao meu prédio.

— Eu tenho que ir. Obrigada pela ajuda — eu agradeci a ela — Dê ração à Mia antes de ir embora, por favor, e não se esqueça de trancar a porta.

— Tudo bem, eu sei, é pra isso mesmo que eu tenho a chave — Kat se levantou pra me dar um abraço — Não fique nervosa, vai dar tudo certo.

Saí do apartamento e desci as escadas lentamente para que não houvesse o risco de que eu começasse a suar caso andasse rápido demais. Mas provavelmente a possibilidade era mínima já que o tempo estava um pouco frio, mesmo assim, achei melhor não arriscar.

Encontrei-me com Finnick mantendo minha melhor expressão serena e tranquila, mesmo que por dentro eu estivesse um poço de ansiedade. Ele estava esperando por mim encostado em seu carro, vestindo um terno preto. Assim que me viu, abriu um sorriso contente. Cumprimentamo-nos com um beijo no rosto. Fechei os olhos ao inalar seu perfume e estremeci sentindo sua barba por fazer arranhar de leve a minha bochecha.

— Você está muito bonita.

— Você também não está tão mal.

Nós entramos no carro e ele começou a dirigir, seguindo um caminho que eu nunca havia percorrido antes.

— Obrigado por vir — as luzes da cidade iluminavam seu rosto e eu não pude evitar pensar em Katniss falando que aquilo era sim um encontro. Precisei lutar contra a parte de mim que queria que fosse mesmo — E já peço desculpas antecipadamente pela minha família. Eu estou sendo egoísta em te levar, mas nem sequer me importo, eu descobri que você torna as coisas melhores.

— Eu causo mesmo esse efeito nas pessoas — brinquei e ele sorriu divertido.

— Mas é sério, se você acha que eu sou um babaca favorecido pelo capitalismo, espere até ver meu pai — o tom de sua voz indicava tanto alerta quanto uma certa preocupação — Minha mãe é uma pessoa agradável, você vai gostar dela. O problema é que ela se deixa muito ser controlada pelo meu pai. Meu pai é péssimo, você não vai gostar dele. E nem ele de você, provavelmente. Mas não é nada pessoal, é que ele não gosta nem de mim.

Notei que ele estava ansioso, então coloquei a mão em seu braço, apertando de leve e afagando em seguida.

— Calma, eu tenho certeza que consigo lidar com um bando de advogados malvados por uma noite — eu o tranquilizei.

Finnick sorriu, mas balançou a cabeça negativamente. Reparei que toda vez que sua família era o assunto ele ficava agitado e nervoso.

— Hoje você vai entender melhor os meus problemas e tudo mais. Espero que você ainda goste de mim amanhã.

— Sua família não tem nada a ver com quem você é. É lógico que eu ainda vou gostar de você.  

Ele virou o rosto para mim, fitando-me com seus grandes olhos verdes.

— Por que você gosta de mim? — ele perguntou, notavelmente intrigado.

Sua pergunta me deixou sem palavras. Eu não sabia exatamente o que responder e nem imaginava que tipo de resposta ele gostaria de ouvir. Olhei de volta para ele, mas não mantivemos o contato visual por muito tempo, já que ele estava dirigindo.

— Eu acho que porque a gente combina — respondi-lhe — Não sei, é fácil conversar com você.

Não tivemos tempo para conversar mais, porque o carro parou em frente a uma belíssima mansão. Ele usou o controle para abrir o portão e eu observei enquanto as grades abriam o caminho para que nós pudéssemos entrar.

— Fala sério, eu achei que essas casas só existissem na TV — ele não pareceu muito a vontade com a brincadeira, então permaneci em silêncio até que o carro estivesse estacionado.

Finnick ofereceu-me seu braço para que eu apoiasse a minha mão, então caminhamos até a entrada da casa e eu não pude disfarçar minha expressão maravilhada. Fiquei pensando nas piadas que minha mãe faria se me visse naquele momento. Ela diria que eu estava me juntando à realeza.

Entramos e já havia uma boa quantidade de pessoas espalhadas pelo local, todas vestidas com uma elegância extraordinária. Senti-me no seriado Gossip Girl e pela primeira vez eu estava me sentindo uma verdadeira intrusa: eu claramente não pertencia àquele cenário.

— Eu estou usando o meu melhor vestido e agora eu me sinto como se tivesse me arrumado para ir à padaria — comentei com Finnick.

— Não se preocupe, você está mais bonita do qualquer um aqui — assegurou-me com um sorriso simpático.

— Seu pai nunca te ensinou que mentir é feio?

— Não, na verdade, ele me ensinou que mentir é necessário — nós rimos — Mas só deixar registrado, eu não estou mentindo.

Estava tocando uma música clássica que eu achei um tédio. Corri meu olhar pela sala e encontrei os violinistas num canto.

— Típico — murmurei.

Nós andamos pela casa e percebi que Finn estava procurando alguém. Fomos em direção a uma dupla de casais que conversavam educadamente. Uma das mulheres possuía o cabelo loiro escuro e os olhos esverdeados no mesmo tom que os de Finnick, por isso concluí que fosse sua mãe. Ela tinha a expressão tranquila e elegantemente simpática. O homem ao seu lado, no entanto, não demonstrava emoções, mantendo o rosto frio e indecifrável.

A mulher abriu um sorriso alegre quando viu o filho, caminhando até ele para envolvê-lo num caloroso abraço. Ele retribuiu com a mesma alegria. Fiquei sem graça por um momento, sentindo-me uma estranha por não conhecer ninguém e precisar ficar grudada no meu amigo o tempo todo. Mas também fiquei feliz por ele, percebendo que havia alguém naquela família que não o deprimisse.

— Finnick! — ela exclamou, separando-se do filho — Então essa é a garota que você disse que traria! — ela disse, virando-se para mim.

— É mesmo? Ele não me disse que traria alguém — o homem que julguei ser seu pai aproximara-se.

— É a minha casa também, eu não preciso da sua permissão — interferiu Finnick e pelo olhar que seu pai lhe dirigiu eu percebi que não gostara nada da resposta.

A mulher os olhou como se estivesse fazendo um pedido a eles, e pelo o que reparei, essa era uma atitude comum da parte dela.

— Eu sou Meredith Odair, querida, muito prazer — ela me cumprimentou com um beijo em cada bochecha — Esse é meu marido, Derek Odair.

— Muito prazer — disse-lhes, forçando para sorrir. Cumprimentei o pai com um aperto de mão — Eu sou Annie Cresta.

— O que você faz, Srtª Cresta? — perguntou-me Derek. Analisei o casal e, sem dúvida, Finnick se parecia mais com a mãe, possuindo poucos traços do pai.

— Eu sou escritora, mas também trabalho num café — sua intenção provavelmente era me intimidar, mas eu não possuía vergonha alguma nem de me considerar uma escritora e nem do meu atual emprego.

— Faculdade?

— Estou juntando dinheiro, quero cursar jornalismo.

Pela primeira vez desde que eu o vi, suas feições expressaram algo: desgosto e desprezo. Como se não entendesse o que eu estava fazendo frequentando sua não tão humilde residência. Como se eu tivesse me esquecido da minha posição econômica e social na sociedade. Mas eu sabia muito bem que eu estava longe do topo dessa pirâmide, a questão é que eu não me incomodava nem um pouco.

Finnick desvencilhou-se de minha mão em seu braço e puxou o pai com certa agressividade para o lado. Meredith elogiou a minha aparência e disse que eu devia ser muito inteligente para ser escritora, pois ela tinha dificuldade até para escrever a lista de compras do mercado. Agradeci a simpatia, mas não deixei de prestar atenção na conversa entre pai e filho ao meu lado.

— Você está fazendo isso para me implicar, Finnick? — perguntou o pai — Trazer uma garçonete pra dentro da nossa casa!

— Você fala como se fosse péssimo, mas eu não consigo achar o problema nisso! — retrucou Finnick.

Quando eles perceberam que Meredith e eu podíamos escutar, calaram-se. Derek virou-se para mim.

— Não se preocupe, Srtª Cresta. A senhorita quase consegue se passar por uma mulher de classe — havia pura ironia em sua voz.

— E o senhor quase consegue se passar por um homem de caráter — devolvi, mostrando-lhe um sorriso sarcástico.

Finnick colocou o braço ao redor da minha cintura e me puxou com ele para longe do pai, ainda a tempo de ouvir Meredith verbalizar um pedido de desculpa.

— Você é a minha pessoa preferida no mundo todo — Finnick disse quando cessou o riso — Obrigado por não se deixar abalar.

— Tudo bem, eu não me importo — tranquilizei-o.

— Vamos pegar umas bebidas — concordei, mas não pudemos andar muito antes de uma garota loira nos parar.

Tentei avaliar pela reação de Finnick se ela estava incluída no grupo seleto de pessoas que ele gostava ou na maioria que ele detestava, mas não fui capaz de dizer.

— Finnick, querido — ela o cumprimentou com um beijo educado na bochecha, tocando seu rosto com uma mão — Seus pais te avisaram que eu viria?

— Não, na verdade, mas eu imaginei — ele respondeu — Glimmer, essa é Annie Cresta — ele me apresentou. A garota me olhou parecendo decepcionada, mas podia ser só impressão minha — Annie, essa é Glimmer Morley, uma amiga da família — nós nos cumprimentamos educadamente — Eu vou buscar nossas bebidas e já volto — Finn disse a mim, saindo em seguida.

— Belo vestido — Glimmer elogiou — Quem o desenhou?

Senti uma imensa vontade de rir, mas contive-me.  

— Courtney Cresta — respondi, divertindo-me com sua expressão confusa.

— Creio não conhecer ainda o trabalho dela — falou — Então, você e Finnick estão juntos? — ergui a sobrancelha, assustada com a mudança repentina de assunto. Ela riu — Perdão pela intromissão, é que eu o conheço há muito tempo. Ele nunca gostou de compromisso.

Balancei a cabeça positivamente, mas pelo jeito que ela me olhava constatei que ela ainda esperava por uma resposta.

— Bom... Nós estamos juntos aqui — gesticulei, sem saber exatamente o que dizer. Ela se mostrou confusa.

— De qualquer modo, vocês ficam bem juntos — antes que eu pudesse esclarecer ou que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Finnick retornou com duas garrafas de champanhe.

Ele me entregou uma e acenou para Glimmer, puxando-me escada acima. Eu não aguentei e comecei a rir.

— Eu esperava que você fosse voltar com duas taças e não duas garrafas!

— Só tinha champanhe, meus pais têm essa mania de não comprar bebidas muito fortes, então peguei bastante — ele explicou — Mas meu pai bebe whisky quando minha mãe não está por perto.

No andar de cima, o barulho da música e das pessoas conversando parecia bem distante.

— Por que estamos aqui? — indaguei enquanto ele me guiava pelo corredor, até entrarmos em um dos quartos.

— Porque essa festa está um porre — explicou — E eu prefiro ficar sozinho com você.

Percebi que estávamos em seu quarto. Era bem grande e organizado, com a decoração em preto e branco. Havia alguns livros e CDs distribuídos em uma estante e uma televisão na parede de frente à cama king size. Andei pelo quarto até chegar em sua cama, onde sentei-me e tirei meus sapatos.

— Você é casado e não me contou? Pra que essa cama enorme só pra você? — perguntei, tomando a liberdade de deitar por cima do edredom, com os braços esticados ao longo do meu corpo.

Era tão confortável que eu quis ficar ali de olhos fechados até dormir. Ouvi o barulho das garrafas sendo depositadas em cima de algum móvel e, em seguida, senti o colchão afundar ao meu lado. Finnick e eu ficamos em silêncio, um ao lado do outro. Nossas mãos se tocaram e, timidamente, se enlaçaram.

Eu pensei se deveria dizer alguma coisa, mas sentia que qualquer coisa que eu dissesse iria estragar o clima. Fazia tão pouco tempo que nós nos conhecíamos, mas a sensação era de que já fazia anos tal era a forma como nos sentíamos à vontade um com o outro. Abri os olhos e virei-me para ele. Sua face estava serena e seus olhos fechados, como se estivesse dormindo. Com a mão livre, toquei seu pescoço com a ponta dos meus dedos, subindo até seu maxilar e percorrendo o caminho até sua orelha, seguindo para sua maçã do rosto até chegar em seus lábios. Foi aí que ele abriu os olhos. Não soube dizer exatamente como ele estava me olhando, mas eu sabia que poderíamos nos beijar ali mesmo. Perdi a coragem e tirei a mão.

— Vamos beber — eu sugeri, erguendo o corpo, ficando apenas sentada na beirada da cama. Ele piscou algumas vezes, como se estivesse retornando à si e passou a língua nos lábios.

— Vamos — concordou.

Abrimos a primeira garrafa de champanhe e, só com um gole de cada um, bebemos praticamente a metade. Talvez porque queríamos ficar bêbados logo, talvez porque nem eu nem ele sabíamos ou tínhamos o que dizer. Tive medo de que o clima fosse ficar estranho e fossemos, eventualmente, obrigados a falar sobre o que tinha acontecido — mesmo que, na realidade, não tivesse acontecido muita coisa. Era mais sobre o que aquele breve momento íntimo nos fizera sentir do que o de fato acontecera. Entretanto, para o nosso alívio, alguns goles de champanhe depois e já estávamos conversando animadamente sobre várias coisas.

—...aí ele ficou falando que a gente iria se afastar, porque nós tínhamos planos diferentes e tudo mais — eu contava a ele sobre a noite da minha formatura e o meu par — Então eu, aproveitando o que restava da minha adolescência, soltei o seguinte clichê: “Por isso mesmo, tudo o que nós temos é o agora, então vamos aproveitar” — Finnick soltou uma gargalhada e eu dei uma pausa na minha história, aproveitando para rir também — Depois disso nós dormimos juntos e tudo mais, e ele ficou me ligando no dia seguinte, mas eu ignorei e nós nunca mais nos falamos.

— Destruidora de corações.

Eu ergui a cabeça um pouco para mostrar-lhe um olhar indignado. Finn sorriu. Eu estava esticada em sua cama enorme com os pés em seu colo enquanto ele fazia massagem neles.

— É que eu não sou muito boa em relacionamentos e eu sentia que ele queria ter uma DR ou algo do tipo, e... Sei lá, eu não sou assim, eu não faço isso — Finnick me passou a segunda garrafa, já pela metade, e eu ergui a cabeça novamente para poder dar um gole.

— O quê? Ter um relacionamento ou ter uma DR?

— Os dois — respondi gemendo em protesto só de pensar na ideia — Eu estava meio bêbada aquela noite — soltei um suspiro pesado — Primeira e última vez que eu transei.

— A última vez que eu transei foi com uma amiga do Peeta — ele contou — A gente estava beeem bêbado. E foi horrível, ela ficou falando umas obscenidades e eu fiquei com vontade de rir. E depois eu descobri que ela tinha namorado.

Nós rimos.

— Destruidor de lares.

Levantei o corpo, ficando sentada ao seu lado. Dei uma olhada no espelho e percebi que meu cabelo, que eu havia arrumado cuidadosamente antes de sair, estava todo bagunçado.

Repousei a cabeça no ombro de Finnick e ele pegou a garrafa da minha mão, tomando um gole e analisando-a em seguida.

— Meio cheia ou meio vazia? — perguntou-me.

— Meio vazia — nós nos entreolhamos — É sério, já passou da metade.

— É mesmo — ele concordou, após olhar novamente. Nós rimos.

Começamos a beber mais devagar, porque a segunda garrafa estava quase chegando ao fim e nenhum de nós dois estava arrumado o bastante para descer e pegar mais.

Finnick passou bastante tempo falando sobre a sua família, com a cabeça deitada no meu colo enquanto eu acariciava seu cabelo.

— Minha mãe fala que meu pai não era assim antes do casamento — ele contava, falando tranquilamente, mesmo que estivesse óbvio que falar de seus pais o afetava — Na adolescência ele ainda conseguia sorrir e, sei lá, ser normal. Mas eles não se casaram exatamente porque se amavam demais, e sim porque era conveniente. Minha mãe foi infeliz por muito tempo, mas aí eu nasci e ela disse que, por mais que não fosse mais capaz de amar meu pai, ela me amou desde o começo.

— E por que ela não se divorcia? — perguntei — Agora você já é um rapaz crescido, formado, pode sair de casa, trabalhar, trilhar o próprio caminho.

— Porque ela acha que estaria perdida sem meu pai. Você fala umas coisas sobre a sociedade patriarcal e tudo mais e é bem assim. Depois que eles se casaram, minha mãe não sentiu necessidade de trabalhar de forma independente em relação ao meu pai — explicou — Ela ajudava e ajuda até hoje com a parte administrativa da empresa, mas se eles se separarem, o que ela vai fazer? Quando o pai dela morreu e as dívidas apareceram, ela e a mãe perceberam que estavam falidas, então o casamento foi o que as salvou. Sem faculdade e sem muitas habilidades, ela não se vê sobrevivendo sem o meu pai, entende?

— Isso é horrível.

— É sim.

— E você? — perguntei, descendo a mão do seu cabelo para o seu peito. Seu cabelo estava desgrenhado, a gravata frouxa e dois botões de sua camisa, agora amassada, estavam abertos. O blazer estava jogado no chão — Por que não faz o que quer? — voltei a mexer em seu cabelo.

— Porque se eu simplesmente sair de casa, a briga seria interminável. Meu pai iria me odiar e iria descontar na minha mãe, que ficaria deprimida novamente. Meu pai faria da minha vida um inferno se eu me recusasse a cuidar do escritório quando ele não pudesse mais.

— Isso é horrível — eu disse novamente.

— É sim.

Ficamos em silêncio por um tempo e dividíamos os últimos mililitros de champanhe.

— Eu nunca fui exatamente feliz, sabe? — confessou Finnick — E se tem alguém que pode mudar isso eu acho que é você.

— É que eu sou muito engraçada — respondi — E bebo champanhe como ninguém.

— E você ofendeu meu pai — completou rindo. Começou com uma risada baixa, mas cada vez ele ria mais e mais alto — Cara, eu nunca vi ninguém ofender meu pai. Não na frente dele, pelo menos.

Eu ri também. O líquido na garrafa finalmente acabou.

— Quero mais champanhe — Finnick reclamou.

— Eu também.

— Se a gente descer lá assim vão achar que a gente transou.

— Vão mesmo — concordei.

— Minha perna está dormente

— Desculpa — ele disse e levantou-se, tirando a cabeça do meu colo. Ele passou o braço ao meu redor e eu deitei a cabeça em seu peito.

Peguei seu celular de cima do criado-mudo ao meu lado e olhei a hora. Já era mais de três da manhã.

— Está tarde — comentei, sabendo que eu tinha que ir embora, mas eu não queria.

— Verdade — ele confirmou, mas nenhum de nós sequer se moveu — Nós devíamos dormir juntos.

— Em que sentido?

Comecei a ficar desconfortável novamente e troquei de posição, deitando ao contrário, com os pés em direção ao Finnick e a cabeça nos pés da cama.

— Em todos.

— Também acho, mas atrapalharia a amizade — falei — E nós somos tão bons nessa de amigos.

— Eu sei, por isso mesmo que eu nem falei nada antes — ele respondeu, colocando a mão no meu tornozelo.

Fechei os olhos e percebi que estava com sono. Já estava quase dormindo quando comecei a pensar nas nossas conversas anteriores e visualizei nós dois, na praia, ele sendo feliz como queria e eu me sentindo inspirada pra escrever.

— Lembra que outro dia a gente falou sobre ficar um tempo na praia sem fazer nada? — perguntei e ele murmurou um “Uhum” em concordância — Diga que nós vamos mesmo, mesmo que seja só por falar.

— Nós vamos — respondeu-me Finnick, suas mãos agora subindo e descendo pela minha canela — Vamos fazer castelos de areia e nadar pelados no mar.

— Obrigada — sussurrei, desejando ficar ali com ele para sempre. Provavelmente era só o efeito do álcool e de uma boa companhia, mas eu me sentia como se não existissem preocupações.

Finnick me arranjou uma camisa larga dele para que eu pudesse dormir e eu fui ao banheiro me trocar. Lavei o rosto para tirar a maquiagem, tirei os brincos e vesti a camisa. Quando retornei ao quarto ele estava vestindo apenas uma calça de moletom, já deitado por baixo do edredom.

— Vem, está frio — deitei-me ao lado dele, sentindo seus braços me envolverem.

— Finn, promete que amanhã, quando estivermos sóbrios, o clima não vai ficar estranho? — pedi-lhe.

— Nada vai mudar, Annie, prometo — concordou.

Assenti, torcendo para que isso fosse mesmo verdade. Torcendo para que uma noite de honestidade induzida pelo álcool não fosse capaz de alterar a amizade que nós estivemos nutrindo.


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Notas finais do capítulo

Me falem o que vcs estão achando. Sério, podem falar mesmo, dar sugestões e tudo mais, eu gosto quando vcs dão opinião. Espero que vcs tenham gostado, prometo que vou tentar não demorar tanto pra postar, mas agora só semana que vem mesmo. Obrigada a todos que estão lendo e comentando!
Ah e eu não revisei o capítulo ainda, desculpa se tiver erro.
Beijos ♥