América, 3201

— Princesa – sussurros suaves, porém, repetitivos acabam por acordar Charlotte que tentava controlar os teimosos olhos pesados que insistiam em se fechar.

— Elise – A princesa sussurra levando a mão aos olhos – Aconteceu algo? – Ela senta-se em sua grande cama ainda coçando os olhos que queriam voltar a se fechar.

— A rainha pediu para eu lhe acordar as seis – Elise murmura constrangida. – Melhor levantar logo antes que ela venha lhe chamar. – Ela conclui solidária.

— Tudo bem – Charlotte suspira e levanta-se. – Ela disse para onde tenho que ir? – Pergunta ao caminhar em direção a porta do quarto.

— Para o quarto dela – Elise responde enquanto começa a arrumar a cama da princesa.

Charlotte anda caminha a passos vagarosos pelos corredores do castelo, até o quarto de seus pais.

— Papai? – Charlotte admira-se ao encontrar o Rei andando pelo corredor.

— Sua mãe me expulsou do quarto – O rei ri explicando-se – Mas vai valer a pena. Vejo você a noite – Seu pai dá um longo beijo da testa de princesa e continua seu caminho.

— Expulsou papai do quarto? – A princesa questiona ao adentrar no quarto de sua mãe.

— Foi necessário – A rainha explica-se – Venha, vamos começar.

Charlotte anda, a contragosto, até sua mãe que sorria.

— O que vamos fazer? – A princesa perguntou curiosa.

— Deixar você mais linda ainda – A rainha respondeu sorrindo.

Enquanto isso, em outra parte do castelo, Victor conversava com o rei.

— Como acha que ela irá reagir quando eles chegarem? – Victor pergunta enquanto observa as fotos dos escolhidos que estavam sobre a mesa.

— Espero que reaja bem, afinal um deles vai ser marido dela – O rei responde sério.

— Papai, quando vai contar para mamãe sobre as cartas? – Victor muda de assunto cautelosamente.

O rei que até aquele momento mantinha-se olhando pela janela do escritório de costas para o filho, se vira com uma feição seria.

— Sua mãe não pode saber Victor, bom pelo menos por enquanto – O rei alerta – Ninguém deve saber.

— Nem Charlotte? Afinal ela é a herdeira. – Victor murmura confuso.

— Charlotte pode ser a herdeira, mas não está preparada para enfrentar uma guerra – Rei Markus adverte o filho. – Ninguém está.

— Acha mesmo que é uma guerra? Afinal podem ser só brincadeiras.

— Ah, Filho, é uma guerra sim. – Rei Markus sussurra – As pessoas acham que vencemos aquela guerra, porém isso não é verdade. – A guerra a qual o rei refere-se é a grande guerra.

— Ela não acabou não é – Victor pondera – Ela só foi dormir, e agora depois de duzentos anos, a guerra dá sinais de que cansou de dormir e que está pronta para acordar.

— Tempos escuros vem por aí – O rei conclui. – Temos que estar preparados.

— Charlotte terá que ser forte e muito sábia – Victor fala ao andar e parar ao lado pai, que mantinha o olhar novamente no horizonte.

— Vamos ajudá-la – O rei garante.

— Como saber em quem podemos confiar? – Victor pergunta.

— Não sabemos.

— Acha prudente trazer quatro pessoas estranhas para o castelo agora? – O príncipe pergunta.

— Isso vai dar distração as pessoas. E no momento precisamos que elas se distraiam, não a necessidade alguma do povo saber que a guerra está voltando, não agora, vamos primeiro saber com quem estamos lidando. – O rei fala uma última vez.

No restante do dia, Charlotte não saiu de dentro do quarto da rainha, nem para almoçar.

— Mamãe só veremos ela a noite? – Victor pergunta chateado.

— Certamente – A rainha responde e sai andando com uma Elise atrás dela levando o almoço da herdeira.

O tempo voou naquele dia, ah lembro de pessoas correndo por todos os lados do castelo, preocupadas e animadas.

A noite o castelo estava lotado. Todas as famílias reais do mundo foram prestigiar Charlotte.

— A família real africana não veio mesmo – Victor percebe.

— Eles disseram que não viriam – Rei Markus murmura.

Em determinado momento enquanto os reis conversavam, os príncipes e princesas se sentaram juntos ao longe.

— Que horas ela descerá? – Sophia, a princesa europeia perguntou.

— Acalme-se, você já fez essa pergunta milhões de vezes, e Victor sempre responde a mesma coisa. Ele não sabe – Alexander, o príncipe herdeiro europeu e irmão de Sophia responde cansado.

— Chato – Sophia sussurra mostrando a língua para o irmão que rir.

— Mas ela está demorando muito, não está – Mia, a princesa herdeira da Oceania fala timidamente.

— Toda princesa demora, não importa a ocasião – Akira, príncipe herdeiro da Ásia fala.

— Não demoramos não – Sophia fala ofendida – Apenas precisamos de mais tempo do que pessoas normais.

— Pessoas normais Sophia? – Alexander repete a fala de sua irmã.

— Sim. – Sophia fala docemente.

— Gente acalmem-se, ela logo descerá – Victor interrompe a briga iminente.

— O que será que eles conversam tanto? – Sophia fala observando seu pai, o Rei Leopoldo, e os outros reis conversarem ao longe.

— Deve ser negócios, problemas, coisas de rei – Mia fala.

— Victor, você já viu os escolhidos? – Sophia muda de assunto.

— Já vi sim – Victor responde.

— São gatinhos? – Sophia fala e leva um olhar severo do irmão.

— São bem afeiçoados. – Victor responde divertido.

— Ela vai demorar muito? – Sophia pergunta mais uma vez.

— Sophia – Todos ali presentes a reprendem. Fazendo a princesa de encolher perto do irmão, que passou o braço pelo o seu pescoço.

— Acalme-se – Alexander ri e beija o topo da cabeça da irmã.

As luzes do castelo começaram a se mover, os príncipes e princesas assim como todos os outros convidados rapidamente olharam em direção a luz que indicava para o topo da escada.

— Ela vai descer – Victor murmurou levantando-se – Tenho que ir – Então ele sai e vai em encontro ao pai, no pé da escada.

Chegando lá, olhou para cima e viu, no topo da escada a Rainha e Charlotte.

Ambas estavam lindas, lembro-me daquela noite como se fosse ontem.

Charlotte estava tão feliz, tinha até se esquecido de todas as responsabilidades que caiam sobre ela.

Pobre moça, mal sabe que um terrível destino a esperava.

Todos estavam maravilhados com a beleza da princesa e de sua mãe.

Charlotte, usava um lindo vestido do estilo tomara que caia, cor de musgo, com detalhes em volta da cintura. Sua maquiagem estava perfeita, escura com alguns detalhes em verde, seu cabelo estava perfeitamente preso em um coque, a tiara que a herdeira usava naquela especial noite, era dourada com pequenos detalhes com diamantes.

Sua mãe não ficava atrás, lembro-me que rainha Selene, usava um esplendoroso vestido, também tomara que caia, porém, a cor era um verde mais claro, meio opaco, com detalhes em volta da cintura. A rainha estava com seu cabelo loiro também preso em um coque, sua tiara era toda coberta por pequeninos diamantes.

— Estão lindas – O rei falou pegando a mão da rainha quando a mesma e a herdeira chegaram ao último degrau.

— Parabéns – Victor murmurou segurando a mão de sua irmã.

— Obrigada – Charlotte murmurou.

Depois de falar com todos os reis, Charlotte, sempre acompanhada pelo irmão, foi em direção aos amigos.

— Charlotte – Sophia gritou abraçando a herdeira.

— Sophia – Charlotte falou sem graça e rindo.

— Parabéns – Sophia e os outros falaram em uníssono.

— Obrigada – A herdeira responde sem graça.

— Está tudo muito lindo Charlotte – Mia falou sorrindo.

— Agradeça a rainha – Victor fala pela irmã.

Todos se sentaram nos bancos ali perto, Charlote sentou-se entre Victor e Sophia, que se sentou ao lado do irmão.

— Charlotte você ainda não viu seus escolhidos? – Akira pergunta.

— Ainda não, mas devem ser garotos lindos – Charlotte respondeu.

— Victor já os viu – Alexander se pronúncia.

— Mas não posso falar quem são, ou como são – O príncipe rapidamente defende-se.

A festa de Charlotte foi uma das melhores que já observei. Não costumo observar os vivos, principalmente porque eu sendo quem sou, geralmente os vivos tem medo de mim, acham que apenas por eu ser a morte, trago comigo só a desgraça, porém as vezes o destino pode ser pior que eu. Mas a alma de Charlotte me interessou, quando tomei conhecimento dela, resolvi observá-la, para descobrir como uma alma tão pura e bondosa poderia carregar um peso e um fardo tão grande.

A festa chegava ao seu fim, quando o bolo foi cortado. O primeiro pedaço foi para Victor, que não podia estar mais feliz.

Logo depois, perto da grande festa acabar, Rei Markus anunciou que era chegada a hora de revelar os nomes dos escolhidos de Charlotte.

Todos estavam tensos, principalmente a herdeira que mal sabia o que fazer.

— Preparados? – O rei perguntou tentando disfarçar a ansiedade – Então vamos começar logo. Os escolhidos são, Mason Herondale do Norte – Rei começou – Henry Waters também do Norte, Ken Soth e Isack Durwam da região central. – O rei falou bem rápido, terminou de falar e sorriu, tentando conter o nervosismo – Esses serão aqueles que disputaram o coração de minha filha, Charlotte A herdeira.

Quando a confusão e surpresas pelos os nomes revelados passou e as pessoa foram embora, Charlotte ainda não conseguia acreditar que tinha realmente acontecido.

— Ainda não acredito – A princesa murmura e recebe um olhar solidário de Victor.

— Eles chegaram amanhã, a tarde irá onhece-los – A Rainha revelou fingindo não perceber a confusão estampada no rosto de sua filha.

— Eu vou me deitar – Charlotte falou der repente.

— Mas já? – Victor indagou surpreso.

— Estou cansada – Charlotte murmura.

— Boa noite minha herdeira – Rei Markus sorriu.

Victor acompanhou a irmã até a porta de seu quarto e lá a abraçou.

— Seja forte, vou te ajudar no quer for necessário – Ele falou.

— Boa noite Victor – Charlotte sussurrou cansada, quando fechou a porta atrás de si desabou a chorar.

Geralmente não me comovo vendo os vivos chorarem, pois não tenho sentimentos, mas devo confessar que ver a alma de Charlotte chorar foi uma das coisas mais tristes que vi em toda a minha existência.

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Em algum lugar longe do castelo, homens comemoravam enlouquecidamente.

— Parabéns rapaz – O mais velho, o chefe daqueles homens falou a um rapaz menor que ele.

— Obrigado pai – O menor respondeu animado.

— Você entrou – O mais velho falou com um sorriso vitorioso nos lábios. – Vamos acabar com a família real americana começando por dentro.

O menor sorriu meio de lado.

— O que tenho que fazer quando chegar lá? – O menor perguntou.

— O que lhe ensinei. Faça a princesa Charlotte se apaixonar por você, faça ela acreditar que você é o melhor rei que a América poderia ter. – O mais velho falou.

— E depois? – O menor perguntou mais uma vez.

— Vamos acabar com eles – O mais velho respondeu sorrindo.

— Deixe comigo, a princesa vai estar tão apaixonada que não conseguirá ver um palmo a sua frente – O rapaz menor sorriu.

— Eles acharam que a guerra tinha acabado – O mais velho falou alto para todos ali escutarem – Mas ela só dormiu e agora chegou de hora de acordar. – O mais velho gritou, em resposta todos os outros ali presentes gritaram com ele.

 Comemorando que o filho do chefe dos rebeldes tinha entrado para a lista de escolhidos da princesa herdeira Charlotte...