A Dama da Meia Noite escrita por Genevieve Beaumont


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, obrigada por terem escolhido essa história! Eu fico realmente muito feliz e espero que ela alcance suas expectativas.

— Eu nunca escrevi uma história com 5k, então estou morrendo de medo de ter ficado maçante ou muito confuso. Caso isso tenha acontecido, peço desculpas.
— Eu revisei, mas é bem provável que ainda tenha erros, palavras "comidas". É que, às vezes, minhas mãos não são páreo para meu cérebro e as coisas digitadas acabam ficando sem terminar :(
— Espero você nos comentários! ♥

Com amor,
Genevieve Beaumont.



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Porque, de longe, ouviam-se os sussurros melancólicos

De belas damas apaixonadas

Que seus amores nunca verão

Pois de manhã elas dormem, em um fúnebre sono

E de noite acordam, procurando por seu amado

Fantasmagóricas e alvas

Esperando que um único beijo

Da maldição a tornem salvas.

 

I

Sussurros. Lamúrias. Choros. E o pequeno Aimery acordou assustado naquela noite fria.

A madeira estava gélida e rangia conforme seus pequenos pés corriam desesperados até o quarto dos pais. A chama da vela quase se apagava conforme o pequeno corria até encontrar a familiar porta empenada. Quando girou a maçaneta, lá estavam eles: Adeline e Matthieu Sauville, dormindo tranquilamente. Aimery caminhou de modo lento até que seu passo em falso na madeira a fez ranger.

— Aimery. — O pai chamou gravemente, mesmo que de olhos fechados. Sua cara estava um pouco amassada e uma parte de seu cabelo estava em pé como um gato raivoso. Mas incrivelmente seu bigode parecia intacto.

O pequeno garoto arregalou os olhos e parou. Então ele ouviu de novo os sussurros.

— Tem algo lá fora, papai. — Sua voz estava fraca e irritantemente infantil. Droga, Aimery odiava ter um tom tão fino. Pigarreou. — Eu posso ouvi-las. — Agora sim, ele pensou.

Matthieu se contorceu em sua cama quente. Maldito garoto medroso, ele pensou, enquanto se levantava com seus cabelos “em choque”. Coitado, ele não tinha culpa por ter madeixas tão rebeldes quanto o seu temperamento. Matthieu coçou as costas e olhou para o menino com a vela em mãos.

— Tira isso de perto do rosto, quer queimar a sua cara? — Ele ralhou enquanto se levantava com dificuldade. Matthieu tinha sérios problemas de coluna. Um estalo alto e grave rompeu parcialmente o silêncio quando ele esticou as costas. Soltou um suspiro de alívio e tomou a vela das mãos do garoto.

Os dois caminharam em silêncio até o quarto do menino. O frio fazia ambos tremerem e o pai de Aimery teve que se controlar para não dar uns bons tabefes no pequeno. Era só uma tempestade de inverno! Ora essa.

Então, o pai abriu a porta. O quarto de Aimery estava mergulhado em uma escuridão pavorosa, com uma única luz funesta que partia das lâmpadas a gás do lado de fora da casa. A cama do pequeno garoto agora parecia querer engoli-lo enquanto permanecia imóvel e fria. O pequeno criado-mudo aparentava querer dizer algo; algum aviso como: “O garoto está certo!” ou “Vão dormir agora!”. Matthieu engoliu em seco.

— Viu Aimery, não tem nada aqui. Agora deixe de bobeira e vá dormir.

— Eu não disse que tinha algo aqui, papai. Disse que tinha lá fora.

O pai do garoto olhou pela janela perfeitamente limpa, mas não conseguiu ver nada além de um vasto espaço em cinza. A tempestade caía forte lá fora e, por um momento, veio à mente de Matthieu como estaria seus animais (principalmente seu cavalo, Siarl). Ele apenas revirou os olhos e olhou para seu filho.

— Escuta aqui, garoto, se quer que eu vá lá fora ver se tem alguma assombração você ‘tá muito enganado, ouviu? Está fazendo um frio dos diabos lá fora e eu quero muito dormir. Então vê se para de bobeira, feche seus olhos e durma. Você me entendeu?

— Sim, pai. — O garoto disse num tom monótono, que aqui significa: Eu sei que você nunca faz nada.

Matthieu suspirou e apontou para cama, e o garotinho logo entendeu que teria de voltar a tentar dormir. Deitou relutante; seu pai colocou a vela no criado-mudo e o cobriu até o queixo, depositando um beijo em sua testa (ele aprendeu direitinho com Adeline).

— Boa noite. — Ele disse.

— Boa noite. — Aimery o respondeu.

Todavia, quando seu pai estava prestes a dar as costas e voltar para sua cama, Aimery ouviu mais um sussurro e gritou fazendo seu pai parar. Ele o olhou profundamente com certo pesar — seu filho estava apavorado. Foi então que uma ideia surgiu em sua cabeça. Na realidade, o motivo pelo qual o menino estava tão assustado. A história.

— Escuta, Aime — seu pai sentou-se na beirada da cama — está com medo por causa da história que contei a você e a sua irmã? É isso que o está amedrontando tanto?

O menino fez que sim com a cabeça. Matthieu suspirou. Ele não devia ter contado sobre a lenda da Dama da Meia Noite para Aimery. Adeline disse que o garoto não iria aguentar e ficaria assustado depois, porque era muito imaginativo.

— Olha, Aime, isso é apenas um conto. Ninguém sabe se é verdade ou não. O que você está ouvindo não são sussurros. É o som que o vento faz quando... Está muito forte. Escute, você precisa dormir. De acordo?

Aimery soltou uma lágrima, mas balançou a cabeça confirmando. Seu pai bagunçou seus cabelos e sorriu, garantindo que tudo ficaria bem. Levantou e saiu do quarto do pequeno, fechando a porta com um rangido. O menino estava sozinho de novo.

Ele se encolheu em suas cobertas, as lágrimas rolando. Por que os adultos nunca acreditam? Ele sabia muito bem que não era o som do vento. Eram sussurros. Ventos não cantam. Ventos não dizem...

Volte para mim, Matthieu. Volte para mim.

II

O jovem Sauville caminhava pelas ruas, completamente devastado. Ele não sabia que um amor impossível fosse ser tão ruim assim (a duquesa de Salazar parecia tão encantadora). Ele sabia que alguém como ele nunca teria chance com alguém como ela, ainda mais de uma família rica. Coisas como essa só acontecem em contos de fadas e Matthieu estava cansado demais de viver neles.

Chegou a casa e encontrou seus irmãos brigando de novo. Sua mãe estava de cama e sua irmã provavelmente havia fugido. Ele tinha que tomar conta da situação outra vez. Odiava quando isso acontecia, mas infelizmente estava se tornando cada vez mais frequente já que Jacques não retornara desde a última vez em que dissera haver bons negócios nas Américas. Matthieu levou em conta a hipótese de que ele provavelmente tinha feito uma nova família bem longe de Montreal, a zona rural em que viviam.

— Eu te odeio Sebastien! Odeio como nunca odiei outra pessoa!

— Vá para o inferno, Russel! Margot nunca será sua futura esposa! Eu só fiz o necessário!

— Filho da...

E rolaram as escadas, um em cima do outro, se batendo. Matthieu apenas observava a cena com indiferença, uma hora eles parariam e pediriam desculpas. Ele já estava cansado de brigar com os dois. A única coisa engraçada era que o motivo das brigas mudava diariamente (e todos fúteis) e os insultos eram sempre os mesmos, como uma grande encenação. Matthieu suspirou e subiu as escadas para ver como sua mãe estava.

O chão estava limpo, o que significava que ela devia ter feito algo pela manhã (ou enquanto Matthieu estivera fora) e ela estava mais cansada do que o normal, como se a doença estivesse sugando cada parte vital do seu corpo. Seus olhos fechados e sua expressão imóvel quase fizeram Matthieu pensar no pior.

— Mãe? — Ele a chamou.

Aos poucos ela foi mexendo sua expressão. Abriu os olhos de maneira vagarosa e movimentou os lábios quase em um sussurro.

— Matthieu?

— Sim, mãe. Sou eu. — Ele sorriu. — Vim avisar que já cheguei. Estarei pondo sua sopa logo, logo.

— Onde está Prune? — Sua mãe arregalou de leve os olhos e balançou a cabeça para os lados, como se a procurasse. Matthieu colocou uma mão em seu rosto, delicadamente. — Por que ela ainda não preparou...

— Está tudo bem, mãe. Prune deve estar na casa de suas novas amigas. Volte a dormir, de acordo?

Ela murmurou o que provavelmente foi um sim e fechou os olhos logo em seguida. A expressão tornou-se serena e fria ao mesmo tempo e a respiração era quase imperceptível. Mesmo assim, Matthieu teve a certeza de que ela estava bem.

Ele desceu as escadas e encontrou seus irmãos conversando e Prune entrando pela porta da cozinha com lama na barra do vestido. Ela estava sorrindo e um pouco descabelada e Matthieu ficou furioso. Irresponsável, ele pensou.

— Onde estava? — Disparou enquanto pegava alguns legumes. Prune pareceu um pouco surpresa, porém logo se recompôs.

— Não é da sua conta.

— Sério? Sabia que mamãe está lá, doente, e você nem ao menos prepara alguma coisa para ela comer? Você sabe o que isso significa, Prune? — Ele aumentava o tom de voz na medida em que as palavras saiam de sua boca.

— Você acha que eu sou obrigada a ficar trancada dentro desta casa, o dia inteiro, apenas cuidando dos deveres domésticos? Quem você pensa que eu sou?

— Não é simplesmente ficar trancada, é cuidar da nossa mãe! Você deu banho nela hoje? — Prune se preparou para falar, contudo Matthieu a interrompeu. — Oh, mas é claro que não! Você nunca faz nada! — Ele largou a faca que estava cortando as batatas e ela caiu no chão. — Você é uma irresponsável! Você sabe que eu trabalho o dia inteiro para entrar um mísero dinheiro nessa casa e ao invés de me ajudar cuidando da mamãe, apenas fica de conversinhas com suas amigas indolentes! — Ele berrou.

— Chega! Você não manda em mim, Matthieu! Você pensa que pode substituir nosso pai, mas não pode! — Ela gritou, saindo logo em seguida de casa pela porta da cozinha. Matthieu a seguiu.

— Prune! Prune! — Ele gritou.

— Me deixe em paz! — Ela gritou, as palavras ficando cada vez mais distantes. — Volte com a sua vida insignificante, seu medíocre!

Matthieu se encolheu dentro de si e fechou os olhos, deixando um suspiro de insatisfação sair de seus lábios. Ah, como ele odiava quando brigavam! Ele sempre desejou apenas uma ajuda, alguém que assistisse sua mãe (e nem precisava ser em todo o momento, somente na parte da tarde!). Mesmo assim, ele confirmou uma coisa que já sabia, porém que ainda não conseguia admitir: Matthieu conhecia o fato de que ninguém o ajudaria. Era tolo por ainda pensar nesta forma.

Voltou à cozinha, se deparando com seus irmãos estatelados. Ambos estavam sentados no sofá olhando, sem piscar, para Matthieu. Isso o deixou com certa raiva.

— Não têm mais nada para fazer? — Ele ralhou, voltando a destacar batatas.

— Si-sim, Matt. Até logo! — Respondeu Sebastien, seguido por Russel, que já subia as escadas bem depressa acompanhando o irmão.

E, mais uma vez, com um suspiro, Matthieu abanou a cabeça e noite prosseguiu.

A Lua já estava alta no céu e Prune não voltara. O coração de Matthieu estava cada vez mais apertado à medida que o tempo se passava e sua irmã não aparecia. A ideia de ela ter fugido para sempre o assolou de maneira aterradora, transformando todo o tipo de pensamento em algo sombrio. Logo, quando não conseguiu mais esperar, vestiu suas roupas e acendeu a lamparina de ferro, por onde segurou em sua alça, no topo. Bateu na porta do quarto de seus irmãos, os acordando com um salto.

— Vou atrás de Prune. Vocês dois cuidem da mamãe. — Matthieu fez sua melhor cara de malvado para cima de seus irmãos caçulas, que concordaram no ato. Ele se virou e desceu as escadas rapidamente.

Entrou no estábulo onde encontrou Siarl acordado. Parece que também não está tendo uma noite das melhores, hein?, ele pensou, preparando o cavalo para logo em seguida montá-lo. Com a mão direita segurando a lamparina acesa, Matthieu cavalgava de maneira lenta, olhando para todos os lugares e gritando pelo nome de sua irmã. A noite caía densa como um véu negro e sombras emergiam de objetos sólidos, causando todo o tipo de ondulações estranhas. O tempo estava esfriando e não bastou muito para uma fina camada de névoa começar a se formar.

— Prune! — Ele gritava, o eco se formando a cada sílaba pronunciada de maneira alta e longa, como se Matthieu falasse para o vazio e este, debochador, lhe imitava, apenas para confirmar o que o jovem já pensava: estou sozinho aqui.

Amaldiçoou-se por ser tão idiota: é claro que sua irmã não estaria naquela trilha escura; é mais do que óbvio que se encontraria na casa de alguma amiga. Porém a única que Matthieu conhecia era Marie e ela provavelmente já estava dormindo. O motivo dele para acordar toda a família dela era plausível... Não era?

Quase como raio, eles cortaram toda a trilha rural, galopando em poças de água, desviando de pequenos troncos. Os cabelos de Matthieu já estavam molhados por causa da neblina e da grande umidade. Ele era o único ponto de luz em meio ao breu da madrugada. Pela posição da Lua, ele supôs, o Sol ainda iria demorar muito para raiar.

O terreno desnivelado e um pouco lamacento se transformou em uma estrada de paralelepípedos com pequenos estabelecimentos fechados. Ele continuou, passando rapidamente por toda a paisagem que já sabia de cor (por exemplo: a dois blocos depois da peixaria, você poderia encontrar o Hospital Dubois, no qual a mãe de Matthieu já foi consultada uma vez). Depois de virar três esquinas, seguir direto por duas ruas e virar a esquerda, finalmente ele encontrou a casa de Marie. Só depois que parou foi que percebeu como estava cansado.

Ajeitou os cabelos, a roupa e respirou fundo. Deu três batidas na porta. Não houve resposta. Mais duas batidas. Sem resposta. Maldição, eu não deveria ter vindo, pensou e quando estava prestes a montar em Siarl, a porta se abriu. Ele parou no ato e encontrou a empregada da família com os cabelos em pé e uma cara mal-humorada.

— O quer aqui, Matthieu? — Ele perguntou, o tom de voz mostrando claramente que estava chateada.

— Vim saber de Prune. Brigamos e ela saiu para não sei onde, mas até agora não voltou. Pensei que estivesse...

— Aqui? Ah, não, não, a senhorita Sauville não se encontra.

“Senhorita Sauville? Mas que diabos...”.

— Ela por acaso não entrou escondido pelo quarto de Marie? — Matthieu não desistiu. A ideia de que não poderia encontrar sua irmã lhe provocou pavor.

— Já disse. Se ela estivesse aqui, eu saberia. — A empregada torceu os lábios, em uma careta de nojo.

— Como assim, Augustine? Prune faz alguma coisa quando está aqui?

— Deveria conhecer melhor sua irmã, Matthieu. Nem todos são iguais a você. Boa noite. — E, com isso, Augustine encerrou a conversa fechando a porta.

Não!, ele quis gritar, entretanto não conseguia. Tudo estava engasgado demais para Matthieu. Por que a empregada usou um pronome de tratamento para se referir a sua irmã? Augustine sempre foi conhecida da casa. Nos finais de semana, ela e a mãe de Matthieu saiam para conseguir alguns retalhos a fim de fazerem roupas. A mãe dele trabalhou por dois anos junto com Augustine, portanto não era comum ela chama-los por pronomes de tratamento. E a maneira como ela se referiu a Prune... Não era bom.

Tudo estava girando rápido demais. Para onde ela foi? Com quem ela está? Por que Prune agia dessa forma? Matthieu encostou a cabeça na sela do cavalo, cansado. O sono começou a atingi-lo.

E, então, como uma vergonha para seu pai, ele derramou algumas lágrimas. Jacques sempre odiou o fato de Matthieu chorar. Desde a última vez, ele prometeu ao seu pai que não choraria com tanta frequência e, caso o fizesse, seria em um lugar isolado. Parece que as coisas não deram muito certo para ele.

— Droga. — Ele murmurou secando as lágrimas com força.

Está tudo bem?

Matthieu deu um grito grave de susto. Seus olhos arregalados pararam sob uma mulher de vestes prateadas, cabelos em um tom de loiro quase branco e tinha a pele mais pálida que ele já vira. Os traços eram perfeitos e angelicais, os lábios levemente finos, os olhos um pouco pequenos e azuis. Matthieu teve de piscar mais de uma vez para cair em si de que aquela mulher não era fruto de sua imaginação.

A moça continuou o observando com uma expressão serena, porém ao mesmo tempo preocupada e ele se perguntou se isso era possível. Ela ainda o encarava, talvez em busca em alguma resposta. Acorde, seu tolo, ele se repreendeu.

— Sim, senhorita, está tudo bem comigo, sim. — Droga, fale algo mais coerente!

— Se estivesse não estaria chorando, estaria?

Ela é inteligente, ele pensou, sentindo uma pequena admiração pela moça crescer em seu peito. Ele sorriu e abaixou a cabeça, como sempre faz quando fica sem jeito. Matthieu passou os dedos pela lamparina, que estava um pouco quente, presa na sela e tentou rapidamente pensar em algo digno como resposta, mas tudo estava lento demais. Estar com sono e conversar com uma garota bonita e de aparência exótica deixavam a mente de Matthieu atordoada.

— Tem razão, senhorita. Estou realmente desesperado por um acontecimento acontecido na minha cavalo. — Ele parou para pensar. MALDIÇÃO! — Digo, por um... Problema posto na minha casa.

A moça parou para pensar, ou talvez apenas para observar a expressão de Matthieu que se contorcia em várias. Ele olhava para todos os lados, menos para a moça. Mordia o lábio, mexia a boca, acariciava o cavalo. Ela sabia que Matthieu estava incomodado com ela. E ela achou isso muito fofo.

— Brigou com alguém? Sua esposa?

— Na-não! — Ele respondeu de súbito. Isso a fez abrir um sorriso. — Não tenho esposa. Briguei com minha irmã do meio.

Ela se aproximou e pôs a mão em Siarl, que não se incomodou. Matthieu pensou na possibilidade das mãos pálidas da moça ser bem frias.

— E ela fugiu de casa?

— Ah, sim! Na verdade, ela sempre o fazia, mas hoje demorou demais para voltar. Então eu vim procura-la. Tenho medo de que... — Matthieu não terminou a frase e abaixou a cabeça logo em seguida.

— Você se preocupa com ela. Veja, eu conheço toda a cidade. Talvez possa te ajudar a encontrar sua irmã.

Matthieu levantou a cabeça e sorriu de maneira melancólica.

— Agradeço pela sua ajuda, senhorita. Mas Prune tem muitas amigas. Mesmo que você conheça a cidade, não conhece suas amigas, portanto será impossível ajudar.

— Mas então o que pretende fazer?

— Sinceramente? — Ele suspirou. — Não sei. Acredito que voltarei para casa, e esperarei até que volte. É a única coisa que posso fazer.

Matthieu percebeu que a dama estava com seu olhar perdido nas ruas da cidade. Não piscava seus olhos azuis (muito azuis, quase como o azul do oceano. Quase artificial) e mantinha uma expressão vazia e distante. Ela ficou assim por alguns segundos, antes de piscar novamente.

— Prune... Acho que conheço esse nome...

Uma faísca de esperança surgiu no coração de Matthieu. Ele sorriu — desta vez, eufórico.

— Seu nome é Prune Sauville. Tem cabelos castanho-claros, olhos esverdeados como os meus e tem uma pintinha abaixo do nariz, no lado esquerdo. — A descrição foi mais rápida do que qualquer coisa que Matthieu já pudera falar.

A moça ficou pensando por alguns minutos. Ah, mas é claro que ela já sabia de Prune Sauville. Já estava os observando há anos. E, é claro, que ela também sabia onde Prune se encontrava. Mas quis apenas continuar encenando com Matthieu.

— Sim, eu lembro! Hoje, enquanto estava colhendo alguns rabanetes para o jantar, eu a vi correndo para uma casa que não fica muito distante daqui! 

O coração de Matthieu bateu mais forte. Ele quase abraçou a moça. Descontou sua alegria em Siarl.

— Fantástico! Vamos então, senhorita...

— Me chame apenas de Mireille. — Ela sorriu.

— Muito prazer senhorita Mireille. Me chamo Matthieu, filho de...

— Vamos logo, não há tempo para apresentações!

Ele apenas concordou, ainda tonto e a ajudou montar em Siarl, enquanto fazia o mesmo. E quando as mãos de Mireille o seguraram, Matthieu percebeu que elas não eram tão frias como pensava. Na verdade, estavam mais aquecidas que as mãos dele.

E então foram às pressas, seguindo todas as direções que a moça mostrava. Se não fosse pelos reflexos rápidos de Matthieu, eles acabariam se perdendo. Felizmente encontraram o lugar que, como disse Mireille, não ficava muito longe do centro da cidade (e nem da casa de Matthieu). Ele ficou pasmo quando começou a reconhecer o lugar, a casa e tudo o mais. Era onde seu melhor amigo morava.

Aquilo não o deixou com raiva. Deixou-o triste. Porque seu amigo sempre apoiava nas decisões que Matthieu tomava, sempre o incentivava. E quando ele tocou nesse assunto, de Prune sempre ficar fugindo por aí, ele apenas concordou com Matthieu, dizendo: “Você tem toda razão. Eu faria a mesma coisa em seu lugar”. Como ele pôde encobrir a irmã de seu melhor amigo? Talvez seja porque Bernard nutria algo por ela.

Matthieu desceu do cavalo, ajudando a Mireille fazer o mesmo. Ela disse que ficaria cuidando de Siarl e ele apenas concordou com isso, dando um “até breve” e seguindo pela pequena trilha até a casa. Quanto mais Matthieu seguia em frente, com menos vontade ficava de encarar sua irmã de novo. E se ela dissesse que nunca mais queria vê-lo? E se ela dissesse coisas horríveis para ele? E se Bernard o enxotasse de lá? Eram perguntas somente respondidas se ele continuasse caminhando.

Assim o fez, chegando à porta e dando uma breve olhada para trás. Pode vislumbrar um sorriso distante de Mireille e um aceno que ele retribuiu. Fitou a porta, respirou fundo, fechou a mão direita e deu três batidas. Seu coração em meio ao silêncio, não parava de bater de jeito nenhum. Matthieu queria muito arrancá-lo naquele momento. Seu peito estava doendo.

De quê, ele não sabia. As dúvidas ainda assolavam seu cérebro quando mais quatro batidas seguidas foram ouvidas, desta vez, mais fortes. Céus, eu só quero buscar a minha irmã! Impaciente, bateu mais duas vezes, sendo a terceira interrompida pelo abrir da porta.

Bernard estava muito bem para um garoto que dorme roncando, babando e em posições estranhas. Matthieu sempre odiou o fato de Bernard ser melhor em tudo: desde sua beleza natural até em sua persuasão de dar inveja. Inferno.

— Matthieu? Ora, o que faz aqui? — Ele perguntou, coçando os olhos. — E quem é aquela moça de branco ao lado do seu cavalo?

— Eu vim buscar a minha irmã. Aquela moça disse ter visto Prune entrar na sua casa.

Bernard pareceu ter despertado rapidamente, mas soube controlar sua expressão de espanto. Prune havia garantido que não foi seguida. Ela disse que esse seria o último lugar que seu irmão a procuraria. Como ele descobriu tão depressa? Bernard pôs os dedos entre os fios de seu cabelo e respirou fundo.

— Ela não está aqui. — Ele disse por fim. — Quer dizer, ela até veio. Jantamos e eu disse que ela precisava voltar para casa. Prune disse que iria assim que terminasse. Quando nos despedimos, achei que ela tivesse voltado para casa. Não voltou, pelo visto.

— Não... — As palavras sussurradas. Matthieu abaixou os olhos, entristecido, a possibilidade de ter perdido sua irmã para sempre tragando todo seu peito, o transformando em uma pequena casca de noz. Ele queria voltar no tempo, reconstruir novamente toda a cena. Uma pequena garra invisível projetou-se para agarrar a garganta dele.

— Acalme-se, meu amigo! Prune a de voltar! — Bernard sorriu, colocando a mão no ombro de Matthieu. Este levantou o olhar e tentou ao menos sorrir. Isto não foi possível.

Ele se afastou de Bernard e caminhou para ir embora, virando-se, os ombros caídos, a esperança esvaída. A angústia o dominou de maneira aterradora, a sensação de estar sendo carregado cada vez mais para o abismo tomou conta de seu peito, os piores sentimentos inundando sua consciência, o grito sufocado em seu peito e a garra apertando cada vez mais sua garganta, retirando toda a possibilidade de respiração. As mãos de Prune saindo do chão, agarrando seus pés, o fazendo cair; perfurando sua carne, o levando ao inferno. A mão cobrindo violentamente sua boca; o grito não pode sair. Não agora. Os passos lentos. A esperança... Vazia.

Matthieu? Você está bem?

— Prune...? — Ele levantou o olhar, fitando uma jovem desfocada e borrada. — Onde esteve?

Matthieu... — A voz bem longe, no fim de um túnel.

— Por favor... Me... Desculpe... Eu... — As lágrimas foram esmagadas por um abraço.

Ele sentiu as finas e delicadas mãos em seus cabelos, o afagando, o acalmando. Ele ouviu todos os animais cantando junto a ele, em sincronia: uma triste melodia. Vagalumes saindo de suas casas e os rodeando, finalmente o céu estava limpo e estrelas brilhavam. As lágrimas de Matthieu podiam ser confundidas com pequenos diamantes, a luz da Lua sendo refletida. Os lábios pressionados e o sabor salgado de suas lágrimas sendo sentido na medida em que escorriam. Os olhos fechados com força, tentando esquecer.

E quando ele soltou a moça, percebeu que Mireille também chorava um pouco. Não tanto quanto ele, claro, mas ele pôde ver algumas lágrimas em seu rosto. Ela sorriu ternamente e limpou uma das lágrimas que ainda estavam paradas na bochecha de Matthieu.

— Ela está bem.

— Como pode ter tanta certeza?

— Prune te ama, Matthieu. Assim como você a ama. Vamos voltar.

E assim caminharam, desta vez. Conversaram sobre várias coisas; coisas que o fizeram se esquecer de sua dor. Matthieu até arriscou algumas risadas e Mireille montou em Siarl quando seus pés começaram a doer. Ele a levou até sua casa (que estranhamente ficava bem próxima da de Matthieu) e se despediu beijando castamente a bochecha dela. Mireille sorriu, seguindo por uma risada rápida e sua palidez relevou o que foi uma cor rubra em seu rosto, dando certa vida nela. Matthieu montou em seu cavalo novamente e se despediu com um aceno, cavalgando para longe de Mireille, em uma das noites mais lindas que Montreal já teve.

Amanheceu para ele.

Os olhos de Matthieu se abriram com dificuldade, a sensibilidade de sua visão à luz do Sol era incomodante. Virou seu rosto para o lado contrário, protegendo-se dos raios solares. Ouviu o trinar dos pássaros, a fina melodia que fez sua cabeça latejar. O suspiro vencido de quem já perdeu o sono foi baixo, e ele se virou, fitando o teto. Os acontecimentos da noite anterior deram voltas e mais voltas em seu cérebro, o rosto de Mireille tomando cada vez mais espaço na mente do rapaz. Ele fechou os olhos e inalou o ar da manhã, seu coração um pouco pesado. O que era aquela sensação? Ele se levantou da cama, olhando sua cortina tão pálida quanto a pele da moça. Observou as partículas de pó que flutuavam delicadas com a luz dourada do Sol dando um belo contraste. Como uma pintura, ele observou, se levantou e passando a mão direita entre as partículas, deixando-as agitadas e olhando a graciosidade naquele detalhe tão banal.

Desceu para preparar o café da manhã, contudo já sentiu o cheiro de alguma coisa sendo preparada. A mente de Matthieu deu voltas. Mamãe, ele pensou, e pulou rapidamente os degraus, sendo surpreendido por uma Prune assustada.

— Matthieu! — Ela exclamou. — Que susto!

— Pru-Prune? O que está fazendo aqui? — Matthieu perguntou, atordoado. Percebeu que Prune tinha franzido o cenho, quando se sente ofendida. Ele logo tentou reformular a pergunta, chegando ao lado dela. — Quero dizer, pensei que fugira para sempre.

A expressão de Prune suavizou, e ela fez sinal para ele se sentar em uma das cadeiras. Matthieu assim o fez, agradecendo quando a irmã lhe trouxe uma caneca com café quente. Ela também se sentou em uma das cadeiras, mexendo na toalha de mesa bordada por sua mãe.

— Eu havia pensado na possibilidade. Mas... E-Eu não consegui. Quero dizer, acredito que não tenho coragem de abandonar nossa mãe. De... Te abandonar... — Prune sussurrou as últimas palavras. Matthieu arregalou um pouco os olhos, dando um gole no café.

— Não consegue se desfazer da família de caipiras, hm? — Ele brincou um pouco, arrancando um riso da parte dela. — Ora, Prune. Nunca irei te obrigar a fazer algo. Porém precisa prometer-me que não irá sumir novamente. Avise para onde for. Fiquei desesperado quando foi embora. Você não sabe... Eu... — Seu olhar se perdeu no tecido bordado. As últimas horas mágicas e devastadoras que esteve com Mireille. Os vagalumes. As cores fantásticas e os sonhos que quase se tornaram reais. O luar prateado. E a dor sufocante da perda.

— Matthieu?

— Hm? — Ele piscou, mirando novamente para sua irmã. — Desculpe, eu... Estava pensando. — Sua mão foi até a nuca, soltando um sorriso sem querer. Com o fim daquela conversa, Matthieu tomou rapidamente seu café, levantando-se logo em seguida e vestindo o que considerava serem suas melhores roupas. Arrumou os cabelos e encontrou seus irmãos brigando logo cedo. Revirou os olhos e observou sua mãe, que dormia tranquilamente. Com um beijo casto na testa, Matthieu se foi, fechando a porta atrás de si e descendo as escadas, apressadamente.

— Ei, Prune! — A moça se virou, com os cabelos presos. — Poderia cuidar da casa apenas por alguns minutos? Preciso muito visitar uma pessoa. — Seu sorriso o denunciou.

A expressão inquisitiva de sua irmã estava também muito divertida. Seu sorriso foi à confirmação a Matthieu de que ela já sabia de tudo.

— Volte antes do almoço. — Ela piscou e terminou o que estava fazendo. Matthieu a beijou na bochecha e saiu às pressas em seu cavalo, cavalgando de maneira rápida, seu coração explodindo no peito.

A paisagem diferente iniciou-se, e as lembranças da noite o inundaram de uma maneira boa. As folhagens das árvores eram de um verde claro e seus cipós floridos de pequenas violetas o encantaram. Gramíneas eram tão verdes quanto as árvore e borboletas enfeitavam alguns troncos caídos dos quais eram engolidos pelas heras. Tão mágico, Matthieu pensou. E em meio a tanta beleza, estendia-se a pequena cabana de Mireille, como uma pequena fortaleza, tão delicada quanto à moça. Havia também um pequeno riacho com um moinho, onde alguns dentes-de-leão enfeitavam a paisagem e se soltavam, dançando no compasso do vento. Matthieu desceu de Siarl, encantado demais para reparar que estava boquiaberto. Os pálidos vestidos de Mireille estavam postos no varal, em uma luz ofuscante. Ele deixou seu cavalo de lado, caminhando lentamente até a cabana.

Ele bateu na porta, que tinha ornamentos enfeitando suas laterais. A janela estava aberta, mas ele não ousou a entrar por ela. Bateu mais uma vez, mas nada foi ouvido; apenas o trinar dos pássaros que a essa altura não eram mais irritantes.

Preocupado, Matthieu contornou a casa, mas não conseguiu vislumbrar nenhum sinal de Mireille. Com o coração já apertado, ele volta novamente à porta, batendo com mais força — entretanto não encontrou nenhuma resposta. O seu cérebro foi inundado por suposições ruins e aterradoras, mas Matthieu tentou não ser levado por todas elas. Sua força de vontade se sobrepôs ao seu medo e ele entrou pela janela aberta, sendo atingido pelo forte cheiro de lavanda. Seus dedos passaram por toda mobília, encantado com o lugar onde Mireille morava. Ele quase sorriu. Então viu o braço pálido de Mireille para fora da cama. E tudo ao seu redor se desconectou.

O ar ficou mais pesado e metálico. Seu coração pesou mais do que ele mesmo e Matthieu desaprendeu a respirar. Seus lábios secaram, suas forças se esvaíram, e seu grito de horror quebrou todo o encanto daquele lugar.

Mãos frias e pálidas, sem vida. A expressão dura, a boca entreaberta. Os olhos abertos, o azul zombeteiro ainda vívido. Matthieu a pegou nos braços e tocou em seu peito. Ele não sentiu nada. Nenhum batimento. As mãos foram até ao rosto da mulher e ele implorou para que ela piscasse.

— Por favor, por favor, por favor.

Matthieu a sacudiu. Mireille permaneceu vazia. As lágrimas dele encontraram o seu rosto e uma delas passou pela boca de Mireille. Se contos de fadas existem, por favor, não a deixem morrer, ele pensou. Seus dedos acariciaram o rosto pálido demais e morto da sua amada.

Por favor. — Matthieu suplicou, enquanto chorava.

Uma pena que os mortos não podem atender aos pedidos dos vivos.

Uma pena que Mireille não estivesse morta de verdade.

O sono das Damas da Meia Noite

Fúnebre é.

Sem cor e sem vida aparentam estar

Para as pessoas que da lenda desconhecem

E a maldição ajudam a concretizar.

Pelo menos não ainda.

 

III

Mireille acordou dentro de alguma coisa pequena e sufocante. Era escuro lá dentro. Ela estava perdendo todo o ar. O que estava acontecendo com ela? Ela bateu no que poderia ser o teto de onde estava. Tentou empurrá-lo de todas as maneiras possíveis, mas nada acontecia. Estava ficando sufocada demais.

Colocou as mãos em seu pescoço, em busca do ar. A sensação claustrofóbica invadiu seu peito.

— Não... Não... — Seus olhos estavam arregalados. Ela tentou chutar com os joelhos o teto, mas nada acontecia. Também estava presa dos lados. Que lugar era aquele? Onde estaria?

— Matthieu... Não. Salve-me... Sa-Salve-e-m...

Ela morreu. Enterrada viva. Pelo amor de sua vida. Que da maldição desconhecia.

 

IV

Elas dançavam pelo vento, os cabelos longos e alvos voando suavemente, seguindo o precipitar da neve, delicadas e melancólicas. Elas cantavam, em uníssono, uma melodia triste e sombria, enquanto rodopiavam com seus grandes vestidos de seda, prateados, que eram facilmente confundidos com a nevasca. Os braços seguiam o ritmo delicado e as fantasmagóricas Damas da Meia Noite desceram na terra, fazendo seu caminho suave pela neve, porém não deixando rastros. O céu estava incrivelmente azul e não havia nenhuma nuvem no céu. Então como era possível a neve?

A resposta é simples: não era neve. As gotas cristalizadas nos choros incessantes das Damas caiam em demasiada pelo chão. Eram tantas, que provocavam a maior nevasca vista em Montreal. A lasciva dor era tamanha que quanto mais choravam e dançavam mais sufocadas ficavam; giravam e giravam, seus cabelos longos escondendo as faces entristecidas. O vento amigo levava as lamúrias para bem longe, até os quatro cantos da pequena Montreal.

Atravessaram o pequeno Mar Azul, que estava cinza naquela noite. No cais, as Damas fecharam seus olhos e se deixaram levar pelos ventos, que as conduziam até seus antigos amores. E os choros cresciam em um degrade fulminante à medida que elas descobriam que foram substituídas. As Damas choravam cada vez mais alto, entravam em casas sendo confundidas com um vendaval. Mas era quando elas atravessavam seus amados num ato desesperado por carinho que descobriam que nunca mais poderiam ser amadas. Que descobriam não haver volta. Em paz nunca ficariam. E até o final dos tempos, a maldição as assolariam.

Porque, de um beijo de amor verdadeiro não tiveram.

Os seus amores, enganados com o seu sono, um enterro fizeram.

A Maldição quebrada estará quando o beijo ele a conceder.

Impossível pedido, pois fantasmas matéria física não podem ter.

Elas morrem pelo amor inválido que lhes foi dado.

Pelo ato mais cruel feito por seu amado.

E de penalidade máxima, presas na Terra para sempre ficarão.

Observando com horror que quem uma vez as amou,

Hoje de sua memória para sempre as apagou.


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