No capítulo anterior 

          Ao abrir a porta de seu quarto, Ichigo imediatamente se jogou em sua cama, e só então percebeu o quanto estava exausto, tanto fisicamente quanto mentalmente, tinha acontecido tantas coisas, nem todas boas, mas realmente tinha valido a pena.

         - Foi realmente um longo dia – Murmurou antes de dormir.

             Capítulo 14 – Nem todos conseguem deixar o passado para trás.

                        Wandenreich (império invisível)

Ishida já tinha perdido a conta de quantos lances de escada já tinha subido, não queria demostrar fraqueza, mas estava exausto, ter perdido os seus poderes, assim tão de repente o deixou muito vulnerável.

Será que ainda falta muito? Ele se perguntou.

— Estamos quase chegando - O homem chamado Jugram Haschwalth falou, para surpresa de Ishida, que por um momento pensou que tivesse dito aquilo em voz alta, Jugram estava andando na sua frente, ainda não havia falado para onde o tinha levado, muito menos por qual motivo, mas ele não tinha muitas opções a não ser segui-lo.

Em primeiro lugar por que tinha perdido seus poderes Quincies, no entanto, tinha a impressão que mesmo se ainda os possuísse, o resultado não teria sido muito diferente.

Enquanto andava, observou as pessoas que passavam por ele, todas elas vestiam o mesmo uniforme de Jugram, ou uma variação dela, porém nem de longe pareciam ser tão poderosos quanto ele.

Finalmente chegou a um local que mais parecia ser um templo feito com gelo, em cada extremidade havia uma espécie de torre, mas eram tão curvadas que mais se assemelhavam a chifres, era com toda certeza algo impressionante de se olhar, no entanto, ao ver Jugram o encarando por cima do ombro achou melhor seguir em frente.

Ao entrar no palácio Ishida percebeu que a parte de dentro não era tão surpreendente, em sua primeira análise se tratava apenas de um enorme salão, e estava completamente vazio.

Pelo menos era o que ele pensava.

No entanto, ao se aproximar viu o deslumbre do que parecia ser um trono, Ishida franziu o cenho ao chegar mais perto, era impressão sua ou o trono estava flutuando?

No entanto, rapidamente voltou sua atenção para o ser que estava sentado no trono, era uma figura imponente, sem dúvidas, que transbordava autoridade, poder.

E maldade.

Uma gota de suor desceu pelo seu rosto assim que o homem virou sua atenção para ele.

Tratava-se de um homem bem alto, com longos cabelos escuros, seus olhos eram castanho-avermelhado e tinha as sobrancelhas finas. Ele mantinha conservadas costeletas que se conectam com um bigode.

Sua vestimenta consistia num casaco branco trespassado, que tinha o símbolo Wandenreich no meio, com grandes abotoaduras, calças brancas e botas, ele usa uma capa preta, no comprimento dos tornozelos, e tinha uma fita vermelha perto do pescoço e estava fixado à esquerda com um único botão grande.

— Vossa Majestade – Jugram foi o primeiro a se pronunciar – Eu trouxe o jovem Ishida Uryu, como foi ordenado.

O homem, ainda em seu trono, não mudou sua expressão ao responder.

— Bom trabalho Haschwalth

Jugram fez uma pequena reverência, e permaneceu ali, esperando por alguma ordem, no entanto, o homem voltou sua atenção para Ishida.

— Uryu, Seja bem-vindo ao Wandenreich – Ishida franziu o cenho, nenhuma pessoa, além de seu pai, Ishida Ryuuken, o chamava pelo primeiro nome, no entanto, ele permaneceu um silêncio – Meu nome é Yhwach.

A mente de Ishida parou por um instante ao escutar esse nome, Yhwach? Pensou incrédulo, já tinha ouvido varias historias sobre Yhwach, o primeiro Quincy, o pai e percursor de toda a sua raça, mas nunca tinha acreditado nessas histórias de fato.

O Monarca arqueou a sobrancelha, parecia que estava lendo os pensamentos de Ishida.

— Eu sei que você deve estar confuso, e que provavelmente tem muitas perguntas para fazer, no entanto, antes de qualquer coisa quero lhe fazer um convite.

 - Convite? – Repetiu Ishida confuso.

— Isso mesmo, quero lhe convidar a fazer parte de meu exercito, com o treinamento adequado, em pouco tempo você receberá uma Schrift (A escrita) e poderá se tornar um Sternritter (Star Knights), meu exercito de elite.

Schrift? Sternritter? Ishida não fazia a mínima ideia do que isso tudo significava, mas de uma coisa ele tinha certeza, apesar de Yhwach ter dito que se tratava de um ‘’convite’’, caso ele dissesse não, provavelmente seria morto, por isso tentou contornar a situação.

— Com todo respeito, Vossa Majestade, mas no estado em que me encontro não vejo como poderei lhe ser útil.

As palavras de Ishida não fizeram Yhwach mudar sua expressão.

— Não precisa se preocupe com isso, Haschwalth, leve Uryu para o salão de treinamento 11, mas não leve muito tempo, em poucas horas terei que ‘’dormir’’.

Jugram assentiu mas Ishida não entendeu nada, Yhwach pronunciou a palavra ‘’dormir’’ como se ela tivesse um significado muito mais profundo do que ele imaginava.

— Espere um pouco - Pediu Ishida, mesmo sabendo que estava abusando da sorte – O que é esse salão de treinamento 11? E por que eu tenho que ir para lá?

— Isso é obvio – Respondeu o Monarca já se levantando de seu trono – Será nessa sala que você irá recuperar seus poderes Quincies.

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  Ishida estava seguindo Jugram por um enorme corredor, e ao mesmo, se perguntava que tipo de lugar era essa ‘’sala de treinamento 11’’, Yhwach parecia ter total confiança que ele iria recuperar seus poderes nessa sala, então concluiu que deveria ser algo no mínimo impressionante, ao chegaram no local em questão Jugram abriu a porta, e Ishida entrou primeiro, arregalando os olhos em seguida, não sabia exatamente o que esperava ver.

Mas definitivamente não era aquilo.

A ‘‘sala de treinamento 11’’ não passava de enorme galpão, parecia ser desprovido de paredes, mas ao se aproximar, Ishida percebeu que na verdade as paredes eram feitas de vidro, não que isso fizesse alguma diferença, se virou para Jugram, esperando uma explicação, no entanto, o Quincy simplesmente deu de ombros e ergueu suas mãos, que estavam sempre escondidas devido ao manto que usava, com sua mão direita fez surgir um arco feito de partículas espirituais, e com a esquerda criou uma flecha, Ishida não tinha um bom pressentimento sobre isso, suas suspeitas se confirmaram assim que Jugram disparou uma flecha que por questões de centímetros não afundou em sua testa.

— Ei, o que você está fazendo?

— O que você acha? – Retorquiu Jugram indiferente – Seu treinamento já começou.

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O ‘’treinamento’’ de Ishida consistia apenas em desviar das flechas que Jugram disparava, e até que ele estava se saindo bem nisso, no entanto, com o passar do tempo, Ishida já estava começando a perder a paciência.

— Ei, já se passaram horas, e eu ainda não senti meu poder espiritual retornando, isso realmente vai fun...?

— Você está duvidando das palavras de Vossa Majestade? – Perguntou calmamente - Minhas ordens foram bem claras – Explicou, e antes que Ishida pudesse reagir, uma flecha, muito mais rápida que as anteriores, perfurou seu ombro direito – Certamente você irá recuperar seus poderes – Enquanto Jugram  falava outra flecha, que parecia ser ainda mais poderosa estava se formando – Se não for morto antes disso acontecer, é claro.

                                 Soul Society

Rukia estava um pouco nervosa, acabará de entregar o seu relatório da sua versão sobre o que tinha ocorrido no Mundo Real, se sentia culpada, pois omitiu alguns fatos importantes, como a verdadeira identidade do Hollow, não sabia ao certo por que havia feito isso, mas algo dentro dela lhe dizia que era o certo a se fazer.

Também estava preocupada com Renji, logo após ter chegado a Soul Society, o Tenente pediu para ficar sozinho, Rukia não ficou chateada com o pedido, sabia que ele ainda estava muito abalado por causa de sua derrota, e que precisava de um tempo só para ele.

Mas esse não era o único motivo para o seu nervosismo, a Shinigame estava diante do quarto de Byakuya, ficou repetindo diversas vezes em sua mente o que iria falar, estava prestes a bater na porta, no entanto, para a sua surpresa, a inconfundível voz de Byakuya se fez presente.

— Pode entrar.

Rukia ficou em choque por um instante, mas então se lembrou com quem estava lidando, Nii-sama é um capitão, é claro que ele conseguiria detectar minha Reistsu.

A Shinigami entrou sem hesitação, se mostrasse qualquer sinal de fraqueza, com certeza seu pedido seria negado, no entanto, notou que Byakuya nem ao menos se deu o trabalho de virar o rosto em sua direção, a Shinigami tinha consciência que ele podia identifica-la através de outros meios, no entanto, gostaria que de vez em quando, ele mostrasse que se importava com ela, ao menos um pouco.

— Rukia – Ele finalmente a encarou – O que faz aqui?

— Nii-sam... – Ela fez uma pequena pausa... – Por favor, me treine.

O Capitão pareceu visivelmente surpreso com o pedido.

— O que?

— Eu quero que você me treine, eu... Eu quero ficar mais forte.

Byakuya encarou Rukia intensamente, parecia procurar no fundo de sua alma o motivo dela ter feito esse pedido, a resposta pareceu agrada-lo pois no final ele disse.

— Está bem.

Rukia arregalou os olhos, como se não acreditasse, mas conseguiu se recuperar.

— Muito obrigada Nii-sama.

— No entanto – Ele continuou – Se você reclamar ao menos uma vez dos meus métodos ou não atingir as minhas expectativas, irei dispensa-la imediatamente, fui claro?

As duras palavras de Byakuya não abalaram a determinação de Rukia.

— Eu entendo.

— Começaremos seu treinamento amanhã, pode ir.

A Shinigami assentiu e se retirou.

Após Rukia se retirar, tudo o que restou foi um Capitão pensativo, Byakuya ponderou sobre a mudança de atitude de Rukia, desde quando voltou do Mundo Real ela parecia mais disposta, mais feliz, mais... Viva e não pôde deixar de se perguntar

O que aconteceu com ela quando estava no Mundo Real?

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Rukia estava no seu quarto, encarando intensamente sua imagem no espelho, recordou-se da última vez que tinha feito isso, naquela vez, seus olhos não transmitiam nada além de tristeza, culpa e remorso. Agora eles emitiam um brilho diferente, renovado, aqueles eram os olhos de alguém que finalmente tinha superado o passado e que decidiu seguir em frente.

— Hoje – Rukia murmurou – Será a partir de hoje eu irei construir o meu futuro.

                            Hueco Mundo

                 Las Noches, quarto de Kanzaki

Kanzaki estava dormido, no entanto, ia de um lado para o outro da cama, era um milagre ela não cair fazendo isso, e também murmurava palavras desconexas, as únicas palavras que faziam sentido, eram quando ela sussurrava: Não, por favor, não faça isso, seu tom transmitia uma tristeza profunda, parecia estar sofrendo muito, mas até que isso fazia sentido.

Tendo em vista o terrível sonho que ela estava tendo.

O cenário desse sonho era o deserto infindável de Hueco Mundo, ela estava correndo em velocidade supersônica, seu corpo não o obedecia, parecia que ela estava em um daqueles jogos em que o personagem tem a visão em primeira pessoa, no entanto, ela não se mexia de acordo com a sua vontade.

Parou apenas quando avistou um pequeno grupo de Adjuchas, Kanzaki engoliu em seco, sabia o que iria acontecer em seguida, estava sentindo a sede de sangue.

— Não... Por favor, não faça isso – Kanzaki pediu, usava todas as suas forças para tentar assumir o controle e dar meia volta, mas sabia que seria inútil, era muito fraca, ou talvez ‘’ela’’ fosse muito forte, tentou gritar para os Adjuchas, alerta-los do perigo eminente, mas sua voz ficou presa na garganta, estava completamente impotente.

Hahahaha, você é tão ingênua.

Kanzaki estremeceu ao escutar essa voz, que conhecia tão bem, era seu outro lado, seu lado sombrio, ou talvez simplesmente fosse o seu lado sincero, que não se importava com nada além de satisfazer todas as suas necessidades, ela se chamava Kaguya, estava rindo sem parar, era uma risada maligna, quase demoníaca, parecia se divertir com as tentativas frustradas de Kanzaki impor sua vontade.

Resistir é inútil e você sabe muito bem disso, você é fraca, não soube aproveitar quando estava no controle, agora é a minha vez, então fique aí quietinha e aproveite a diversão.

— NÃO – Kanzaki gritou inutilmente, sabia que o conceito de ‘’diversão’’ da Kaguya era completamente diferente do seu.

O que ocorreu em seguida foi um verdadeiro massacre, os Adjuchas nem ao menos tiveram tempo de gritar, e no instante seguinte, tudo o que havia em sua frente eram membros espalhados e areia empapada de sangue, seguida de uma risada cruel.

Siiiim... Kaguya murmurou em êxtase, Isso... Isso é diversão. 

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— NÃÃOOO

Kanzaki acordou em sobressalto, estava ofegando, e encharcada de suor, seu corpo tremia levemente, e durante alguns minutos ficou apenas ali parada, sentada na cama, abraçando os joelhos, não queria voltar a dormir, não iria aguentar ter aquele sonho novamente. No entanto, bastava fechar os olhos e ela conseguia visualizar perfeitamente, mesmo que tudo aquilo tivesse acontecido em milésimos de segundos, a expressão de terror absoluto que os Hollows tinham ao sentirem que iriam morrer, o momento que a vida os abandoava assim que seus corpos eram brutalmente destroçados e o olhar de satisfação que Kaguya tinha ao sentir o sangue escorrendo pelos seus dedos.

Kanzaki olhou para suas mãos, elas não paravam de tremer, e sentiu-se frustrada, pensava que após ‘’aquilo’’ ter acontecido, Kaguya havia sumido por completo, mas no momento em que se tornou uma Arrancar, algo tinha mudado dentro dela, ou melhor, algo havia ‘’despertado’’.

— Então ela só estava dormindo? – Kanzaki murmurou para si mesma, mas ficou surpresa quando Kaguya respondeu.

Isso mesmo, na verdade eu ainda estou um pouco sonolenta, então é melhor aproveitar o máximo do tempo possível com seu corpo, por que muito em breve ele será meu novamente.

A Arrancar suspirou pesadamente, quando Ichigo apareceu em sua vida e o convidou a se juntar a ele, Kanzaki pensava que poderia começar a sua vida do zero, deixar o passado para trás e pensar apenas em seu futuro.

A risada de Kaguya ainda ecoava em sua mente.

Ela deveria saber que o passado não era algo que poderia ser apagado assim tão facilmente.

                                Continua...