Clark Evans - Estados Unidos

— Ow Kyle?

— O que

— Você vai ligar esse video game ou não? - Kevin perguntou, deitando no tapete da sala. Kyle virou-se para ele, impaciente.

— Meu filho, ou você aquieta a bunda ou vem ligar essa porcaria.

— Aff, você é um inútil mesmo.

— Dá pra parar com a DR? - empurrei Kyle para o lado e conectei os fiozinhos do meu video game. Em instantes ele estava ligado.

— Aehooo! Kyle, você é um imprestável!

— Para com a viadagem! Eu não manjo desses video games modernos que o Clark inventa não!

— Cara! Tu roubou esse video game! Não é possível que você não saiba ligar!

— Epa, pera ae! Não roubei, peguei emprestado, o caso aqui é outro! E eu sei ligar sim, mas meus dedos estão doloridos.

— Admita que você não sabe! Eu que liguei esse video game enquanto ele tava em casa. - Kevin levantou a cabeça.

— Ta, fala com a minha mãozinha! - Kyle balançou a mão em formato de boca na direção de Kevin. - Ow produção, não vai rolar um lanche não? To com fome, ligar video game cansa! - Kyle se jogou pra trás, com a mão na cabeça.

— Para de drama que nem foi você que ligou, seu bosta. - Kevin deu um tapa na cabeça dele. Nesse momento, a porta se abriu e minha mãe Susan entrou cheia de sacolas. - Aí, a tia Susie chegou com o rango.

— Mãe! Você ta bem? - ajudamos a carregar as sacolas. - Não devia carregar tanto peso, a senhora vai se cansar.

— Obrigada meninos! Eu estou bem, não se preocupe. Vou fazer um lanche pra vocês.

— Deixa que eu faço! - respondi prontamente.

— Vá se sentar um pouco lá fora tia Susie, a senhora parece pálida! - Kevin colocou uma cadeira embaixo do sol.

— Eu estou perfeitamente bem, não se preocupem.

— Vocês dois! Procurem algum jogo pra gente jogar e eu vou fazer alguma coisa pra gente comer.

Ajeitei meus óculos e fui fazer lanches enquanto os irmãos Laker brigavam para escolher o jogo.

Fiz sanduíches de frango, coloquei alguns salgadinhos em um balde, muitos doces, é claro, uma garrafa de Coca-Cola e sentei no sofá junto com Kevin, Kyle preferiu o tapete.

— E ai? Vamos jogar o que?

— Sei lá, é um jogo que o Kevin achou aí!

Kyle colocou para multiplayer e eles ficaram jogando enquanto eu lia a carta que a empresa Jason EG me entregou quando eu e mamãe fomos até a sede. Ela listava todos os itens que eu precisava levar (e não eram muitos pois eles iam fornecer todo o material necessário no dia), que horário eu precisava estar na empresa e todo o cronograma dos dias que a gente ia passar lá.

— Parece que eles vão treinar vocês por duas semanas antes do jogo realmente começar! - Kevin desviou o olhar da tela da TV e espiou a carta.

— Pois é! Estou com medo, mas muito ansioso também!

— Mano, acho que tu devia mandar uma carta pra eles desistindo! É muito perigoso!

— Cara, essa é uma oportunidade única! Quando na minha vida eu ia imaginar participar de um jogo em realidade virtual da minha empresa de games favorita? E ouvi dizer que o vencedor ganha um prêmio em dinheiro. É a oportunidade perfeita pra mim comprar os remédios do tratamento da minha mãe e melhorar nossa vida!

— Acho que o Clark ta certo em participar! - disse Kyle, sem desgrudar os olhos da TV. -  É uma experiência única! Se eu pudesse, eu tinha mandado uma carta!

— Tem vários outros jeitos de jogar jogos em realidade virtual e a gente pode dar um jeito de comprar os remédios da sua mãe. Mano, esse negocio pode te matar, você sabe! Se você morrer, vai ser pior pra sua mãe! Ela já perdeu o marido, não sei se suportaria perder o filho também!

Pensei por um minuto.

— Prefiro arriscar!

— Ao contrário de você, meu querido Kevin, que não devia arriscar seu jogo para bisbilhotar os assuntos do Clark! - Kevin olhou para tela onde se lia: Player 2 - LOSE!

— Ah seu viado, não acredito nisso! Exijo uma revanche!

— Deixa que eu vou dessa vez! - Kevin me passou o controle.

— Se prepare pra perder Clarkzinho!

— Nem nos seus sonhos, meu jovem!

☆

Harry Brian Lawrence - Estados Unidos

Desta vez, São Francisco. Atena, minha madrasta que eu orgulhosamente chamava de mãe trabalhava muito e por conta disso, vivíamos viajando. Não negava que gostava de conhecer lugares diferentes, mas sentia falta de Santa Mônica, dos passeios no píer, da roda gigante do parque, dos vizinhos.

Corri para o meu quarto e pulei na cama, pegando o notebook e colocando o site da empresa Jason EG e no concurso Press Start.

Digitei a senha que veio na carta e li as instruções.

— E ae meu jovem? Sentiu minha falta? - meu amigo Cameron entrou pela porta, se jogando na cama.

— Oi Cam! É claro, quase morri com a sua ausência!

— Que ta fazendo?

— Dando uma olhada no cronograma do Press Start!

— É verdade, aquele game começa semana que vem né?

— Isso! Café da manhã, blá-blá-blá, almoço... Treinamento? Aqui diz que eles vão fazer um rigoroso treinamento antes do jogo começar.

— Harry meu amigo, te prepara que o negócio lá é pesado! Tenho um conhecido nessa empresa e ele disse que os estagiários contratados pra testar os games são fortemente exercitados num árduo treinamento.

— Não terei problemas. Me exercito várias vezes por semana. O treinamento não será um obstáculo pra mim.

— Ta bem, senhor altamente treinado. - ele disse com uma voz engraçada.

— HARRY! DESCE AQUI! - minha mãe gritou da cozinha. Desci correndo as escadas.

— Fale minha deusa grega! - ela riu.

— Leve o Max pra conhecer São Francisco. Cameron, gostaria de ficar para almoçar?

— Eu adoraria sra. Atena!

***

As praias de São Francisco eram bem movimentadas. Crianças com os rostos esbranquiçados de protetor brincavam na água gelada enquanto suas mães liam revistas de moda, mulheres desfilavam seus biquínis novos, homens exibiam tanquinhos obtidos a partir de horas na academia.

— Eu gostaria de saber por que, cargas d’água, a sua mãe acha que o melhor horário para passear com um cão é logo antes do almoço, justo no horário em que o sol se encontra nessa temperatura. Eu fritaria um ovo no asfalto.

— Relaxa Cam! O Max precisava sair um pouco daquele apartamento opressor.

— Ta, mas não dá pra sair pra andar e queimar calorias quando você não tem nenhuma! Eu to morrendo de fome! - ele me respondeu, indignado. Soltei uma sonora gargalhada. Max parou várias vezes para fazer xixi e cheirar o traseiro de outros cachorros. Cameron passou o caminho inteiro reclamando e comprando água de coco pra gente, pois o sol estava realmente forte demais.

— A gente podia vir surfar um pouco depois do almoço, o que você acha?

— Ta, mas beeem depois do almoço, porque você não faz ideia do quanto é difícil se segurar pra não dormir depois do almoço!

— Você é impossível Cam!

Max começou a pular na minha perna.

— Alá! O cachorro ta com fome!

— Vamos comprar algo pro almoço e voltar pra casa! - segui até o outro lado da rua, com um garoto bipolar no meu encalço e um cachorro histérico à frente.