Tudo O Que Sabemos escrita por Lab Girl


Capítulo 3
Explicando o Inexplicável


Notas iniciais do capítulo

É muito frustrante postar uma história, ter um grande número de visualizações e nenhum retorno. Postarei mais este capítulo aqui por pura persistência.



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O quarto não era muito grande e havia apenas uma cadeira diante da mesinha onde ele estivera sentado antes que ela batesse à porta. Mulder, então, indicou que ela se acomodasse na cama e sentou-se ao lado, no chão. Ele se lembrava vividamente dessa mesma noite, anos atrás, e foi inevitável sorrir.

“O que foi?” ela perguntou, confusa.

Mulder virou o corpo e o rosto para ela, apoiando uma das mãos sobre o colchão enquanto a olhava.

“Eu não tenho por que mentir pra você, Scully. Sei que é difícil para a Scully que você é agora acreditar em mim, mas se a Scully que você vai se tornar está aí dentro, em algum lugar…” ele apontou para a parceira, “...sei que ela vai sentir que é a verdade.”

Aquela conversa estava tomando um rumo extremamente estranho, e, em circunstâncias normais, Scully já teria deixado aquele quarto. Porém, algo a impedia de fazê-lo. O que Mulder dizia não estava despertando medo nem suspeita de loucura da parte dele (apesar de todas as histórias que tinha escutado sobre ele na Academia), mas curiosidade.

“O que está dizendo? Não entendo” ela falou, sincera, mas ávida por saber o que mais ele tinha a dizer.

Mulder balançou a cabeça, compreensivo. “Eu sei. Isso deve soar um tanto… Sinistro pra você agora” ele brincou com o apelido que ganhara nos corredores do FBI como se aquilo não o afetasse realmente. “E eu nem sei se este é o momento certo para lhe dizer o que eu acho que está acontecendo…”

“Por favor, me diga” ela pediu, sinceramente disposta a escutar. 

Mulder percebeu a mesma inocência e genuinidade da Scully de vinte anos atrás - perdida no meio de um caso insólito, mas disposta a saber o que ele pensava que estava acontecendo. Ele a viu apoiar o cotovelo sobre a cama, da mesma maneira que o fez no passado, e sorriu sem querer. Logo em seguida, tornou a ficar sério, os olhos caindo para o lençol da cama e as sombras que a água da chuva produzia ao cair sobre a vidraça da janela.

“Você e eu nos conhecemos há exatos vinte quatro anos atrás. Era o mesmo caso. Estivemos neste mesmo quarto, como estamos agora, falando sobre o desaparecimento da minha irmã quando eu tinha doze e ela oito anos de idade. De como eu acreditava que Samantha tinha sido levada por seres extraterrestres, e também sobre a conspiração perpetrada pelo nosso governo para manter a existência de tais seres em segredo.”

“Espere”, Scully franziu o cenho, erguendo a mão para interrompê-lo. “Já ouvi falar em vidas passadas e o que você está dizendo não corresponde a nada que tenha ouvido falar a respeito.”

Mulder conteve a vontade de rir. Então de tudo que tinha falado até agora, o que realmente a incomodava era a falta de padrão sobre vidas passadas, e não a existência de vida extra-terrestre? Interessante.

“Não falo de vidas passadas, Scully. O que está acontecendo aqui é mais como uma volta no tempo. Ou um universo paralelo, se preferir.”

“O quê?” ela parecia ainda mais confusa. “É impossível viajar no tempo.”

Ele sabia que ela diria isso. Como num caso que tiveram em que um cientista foi capaz de voltar do passado para impedir-se a si mesmo e aos colegas de fazerem essa descoberta.

“Bem, você cursou Física, tem um trabalho publicado sobre a teoria de Einstein a respeito do tempo, o Paradoxo dos Gêmeos…”

“Eu sei, mas nada corrobora cientificamente a possibilidade concreta de se viajar no tempo e voltar ao passado como está propondo.”

“Muitas coisas ainda não foram provadas cientificamente, Scully, mas estão aí, acontecendo todos os dias.”

Ela sentou-se sobre a cama, olhando melhor para ele, a expressão ainda perdida.

“Não posso acreditar no que está propondo. Como seria possível termos voltado ao passado, hipoteticamente falando, e você se lembrar disso e eu não?”

“Porque não é simples assim.”

“Então, como é?” ela perguntou, quase desesperada para entender.

“Apenas eu, Scully, voltei no tempo. De alguma forma que ainda não sei explicar, voltei ao passado, justamente ao tempo do nosso primeiro caso. No entanto, minhas memórias continuam as do tempo futuro, de onde eu venho.”

Ele viu Scully franzir as sobrancelhas e foi quase como ver as engrenagens do brilhante cérebro da parceira trabalhando para tentar extrair algum sentido de suas palavras, mas sem sucesso.

“Mulder, eu não posso, sinceramente, aceitar isso. É... é...”

“Bizarro? Cientificamente improvável? Escolha uma opção.”

“Você não pode estar brincando com uma coisa dessas” ela deixou o ar escapar pela boca num suspiro incrédulo.

“E não estou” ele respondeu, sério, sem deixar um só segundo de encará-la.

Scully ficou em silêncio, os lábios entreabertos como se fosse dizer alguma coisa, mas nenhum som saiu. Ela estava verdadeiramente confusa, mais do que antes, e Mulder se culpou por ser o responsável. Mas não poderia deixá-la no escuro. Ela queria entender e ele precisava explicar. Também era difícil para ele lidar com a situação, estar perto dela e ter que agir como se fossem meros recém conhecidos.

De repente, depois de alguns minutos de assimilação, Scully tornou a falar.

“É claro que você não tem nenhuma prova do que diz, mas…” os olhos dela se voltaram para ele com um misto de medo e curiosidade, “...disse que veio de vinte anos a frente” ela o viu menear afirmativamente a cabeça, então prosseguiu, “Qual é, exatamente, a natureza da nossa relação no que você alega ser o futuro?”

Scully fez a pergunta que estava em sua garganta desde que tinha entrado naquele quarto. Quando o viu parado ali, a forma como ele a recebeu - parecendo já saber o que tinha ido fazer ali - e como a acolheu nos braços dele… e as sensações que despertou nela com aquele abraço - faziam-na quase dar o benefício da dúvida àquela história maluca e se perguntar se teria acontecido alguma coisa mais… íntima… entre os dois.


Os lábios de Mulder esboçaram um leve sorriso. Talvez ela ainda não estivesse preparada para saber, mas, diante das circunstâncias, não podia - nem conseguiria - negar. Antes que abrisse a boca para respondê-la, porém, foi interrompido pela campainha do telefone.

 

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