Enquanto dormia, sonhava estar caindo num poço muito denso, tamanha profundida que me impedia  de acalçar o seu fim.

Sentia-me apavorada, era uma sensação muito real. 

Acordei berrando pelos meus pais, as luzes dos outros cômodos foram se acendendo um por um até chegar no meu quarto.

Minha mãe correu desesperadamente e se posicionou do meu lado na cama.

Olhei para os meus lenções, que uma vez jaziam brancos e agora ensopados de sangue.

Notei também que o meu nariz escorria muita seiva. 

Rapidamente a ambulância chegou, graças as atitudes ágeis de papai, ligando logo para o meu médico. 

Não me lembro de muita coisa depois de chegar aqui. Apenas de medicamentos pesados para dormir, fora isso, tudo se tornou preto e sem cor.

A enfermeira disse que dormi por quatro horas e todo aquele sangramento  excessivo consistia na falta minha de tratamento contra a doença. 

Mamãe me fez companhia por algumas boas horas, não consegui me comunicar com ela, apenas acenava com a mão.

Sabia que ela estava se sentindo culpada, ou talvez irritada com o que a minha teimosia levara.

Pensei em tudo o que tinha vivido até agora. Valia realmente a pena deixar o tratamento contra a leucemia? O que aconteceria com os meus pais se eu morresse? Isso levaria muito tempo? Eu não sei, não sei mesmo. Mas queria ter consciência sobre isso.

Tive alta dois dias depois. Ainda me sentia tonta, como se a qualquer momento pudesse cair. Angel diariamente vem aqui em casa, nós não conversamos muito, esforços só pioram a minha dor de cabeça e histerismo.

 Ontem à noite, vomitei baldes de sangue, água e alimento, parece que eu não estou me dando muito bem com a comida, ou qualquer coisa que altere o meu corpo.

— Eu não aguento mais isso! - berrou papai, depois de me ajudar a se levantar de mais um desmaio. - Vou ligar pro hospital e chamar um carro agora mesmo, quero mandar continuar com esse tratamento infeliz! Não posso ver a minha filha morrer dessa forma.

Encarei o seu semblante triste e enfurecido. Sentia as lágrimas desceram ardentemente e escorregar pelo rosto. 

Eu não conseguia dizer uma só palavra. Apenas chorar, o que tornava a minha dor de cabeça ainda pior. 

Mamãe também começou a prantear, dizendo muitas vezes que me amava e que não queria me perder.

Foi uma sensação horrível. Era como querer morrer mas ao mesmo tempo continuar viva.

Por que a vida tinha que ser tão cruel? Adolescentes não deveriam ser submetidos à tamanha pressão.

Eu queria ser apenas uma garota normal, que vive uma vida normal, tem amigos e estudar numa escola normal.

Eu não queria ser uma doente. Preferia morar d'baixo da ponte, todavia ser saudável do que carregar esse fardo terrível.

Chorei da ambulância até o hospital. Não queria sentir tanta dor. Não queria chorar ou me mostrar vulnerável.

De novo eu fui sedada pelas enfermeiras, passei muito tempo dormindo.  Não sei quanto mas tenho a certeza que foi muito. Acordei sentindo grande dor e o corpo inteiramente mole.

Minha visão ficou embasada. A luz atrapalhava bastante. Depois tudo começou a melhorar, ajudando muito.

Os primeiros rostos nítidos eram de papai, depois o da minha mãe. Seguidos por Angel, Henry e senhora Martin. 

Emudeci os lábios. Incapaz de declarar qualquer coisa. 

— Querida. - mamãe gemeu. Seus olhos estavam muito enxado e a sua aparência era péssima. Parecia que não dormia por pelo menos duas noites. - Pensei que... Todos pensamos...

— Que... Que dia é hoje? - perguntei. Minha voz saiu estranhamento baixa e rouca. Tentei mover o meu rosto, que por consequência me fez gemer de dor. 

— Faz cinco dias que você está aí. Os médicos deram você como morta. - respondeu papai. Olhei para o seu rosto, abatido, triste e enxado. - mas o seu estado melhorou bastante.

Vi também uma lágrima brilhante sair dos olhos de Angel.

Olhei para Henry, o que mais me doeu. Instantaneamente me lembrei do que dissera, a dor que causava a minha família.

Fechei os olhos de novo e apaguei por completo.