Roda do Tempo escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 16
Capítulo 16




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Draco encarou o documento sem saber ao certo o que estava sentindo. Daphne, altiva ao lado do oficial de justiça, o encarava com o queixo erguido.

— Temos mesmo que fazer disso um espetáculo? – ele perguntou, com um suspiro.

— Minha irmã e meu sobrinho desapareceram da sua casa, Draco. Seu pai e sua mãe não sabem deles e ninguém para quem tenho perguntado. Estou preocupada.

— Não sabe da história toda. – ele rebateu, desejando que o pequeno homem de olhos muito, muito curiosos, não estivesse presente.

— Engana-se. Tive uma conversa esclarecedora com seu pai.

Draco encarou a bruxa e teve a certeza de que ela não mentia, e isso o deixou gelado de raiva.

— Mesmo assim...

— Quero saber da minha irmã e do meu sobrinho, Draco. – ela reforçou, os olhos fixos nele – Não me importa muito as picuinhas dos Malfoy.

Com um gesto imperioso, ela deu a volta e saiu da sala como entrou, e o homem a acompanhou depois de lhe lançar um olhar aguçado. Draco observou pelo vidro a bruxa sair do escritório e desejou que estivesse morta.

Não conseguiu mais trabalhar, mas antes que pudesse literalmente sair correndo, sua mãe entrou na sala, com a expressão pesada. Os dois se encararam.

— Lucius não consegue parar, não é? – o bruxo murmurou, fazendo um feitiço para tornar o vidro da sala opaco.

Enquanto ele se deixava cair no sofá, Narcisa reforçou a privacidade com feitiços de silêncio e proteção.

— Falei com os pais de Astoria assim que lancei o feitiço e eles pareceram aliviados pela minha solução, sem mais escândalos. – ele balançou a cabeça – Mas pelo jeito Daphne não vai deixar...

Narcisa ergueu uma mão, o interrompendo.

— Acho louvável que não leia mais os jornais, mas isso te deixou em desvantagem. – Draco se endireitou e encarou a mãe, que suspirou – Seus sogros deram uma extensa entrevista para os jornais dizendo que você deu um fim em sua esposa por causa da “suposta” traição e que não acreditam que realmente aconteceu nem por um segundo. Louvaram a filha deles e pintaram um retrato terrível do casamento dela com você.

Draco fechou os olhos, controlando-se a custo.

— Ambos afirmaram que não conseguem contato com Scorpius e temem sua sorte. Na verdade, você é o vilão por que foi o juiz e o executor, e os condenou sem ter certeza da verdade. – Narcisa balançou a cabeça – Soube ontem à noite que pretendiam acusar você de assassinar sua esposa e seu filho.

O bruxo se levantou e pegou o documento sobre a mesa.

— A intimação não fala em acusação de assassinato. – constatou, sombrio.

— Uma armadilha! – ela o encarou, pálida.

Draco largou o papel e se sentou na outra poltrona.

— O que disse a eles? – Narcisa perguntou, baixo.

— Disse que eu e Astoria conversamos e que concluímos ser melhor ela e Scorpius se afastarem por um tempo. – a voz dele saiu muito baixa e ela franziu a testa no esforço para entender – Disse que era temporário e que quando as coisas estivessem melhores, eles retornariam.

— O feitiço em Scorpius... nunca perguntei... – ela olhou o filho.

— Minha intenção era me apagar permanentemente da memória dele, mas fraquejei no fim. Apenas alterei a memória dele... – ele riu sem humor – Fiz o mesmo que Hermione...

— Então podemos ir até eles e trazê-los de volta. – Narcisa falou, seca.

Draco a encarou por alguns minutos e ela balançou a cabeça, negando.

— Não, filho. Temos que desfazer o que fizemos, caso contrário será acusado de assassinato.

— E Lucius ganha de novo... – diante do olhar da mãe ele sorriu sem vontade e encolheu os ombros – Claro! Desfazendo tudo Astoria não se lembrará que me traiu e a única forma de me livrar dela é fazendo o teste de magia. Assim que eu fizer isso, Lucius vai reivindicar a paternidade de Scorpius e mesmo não podendo fazer muito estrago porque Scorpius já é maior de idade, tenho certeza que encontrará um meio para nos atormentar.

— A opção não é aceitável, Draco. Não pode ser preso por algo que não fez! – ela rebateu, os olhos cintilando.

Ele se levantou e deu alguns passos.

— Não sou tolo. Daphne sabe que tudo é verdade e deve ter um plano com Lucius ou não estaria se dando ao trabalho. – cruzou os braços, pensativo – Não podem requerer nenhuma indenização de mim, mas podem se fazer de vítimas e mesmo com nenhum efeito prático, podem alimentar os jornais com histórias por semanas... e Scorpius no meio disso, dividido e confuso.

— Draco...

Ele finalmente a encarou, sério.

— Reconheço que ser preso por assassinato não é aceitável, mãe. Estou apenas antecipando o pesadelo que tudo vai se transformar. Por Merlim! – exclamou, exasperado - Como Harry passou por isso?

 Narcisa elevou uma sobrancelha e encarou o filho.

— Soube de alguma coisa sobre ele? – perguntou, baixo.

— Não. Não estou na lista de natal deles depois que os deixei na mão. – Draco encarou as mãos, exausto – E isso também está pesando. Não sei se ele conseguiu ou não... acho que ainda não está morto ou os jornais estariam fazendo um circo... e isso é bom.

Ele se recostou à escrivaninha e cruzou os braços de novo, encarando a mãe.

— Pelo menos não estou sozinho no meio da tempestade... – encolheu os ombros e Narcisa sorriu de leve.


*****

O juiz encarou Scorpius e Astoria, olhando de um para outro. Lucius, sorrindo triunfantemente ao lado de Daphne, encarou o filho com altivez.

— Senhor juiz, quero registrar meu pedido para fazermos um teste de magia. – a voz de Scorpius oscilou levemente e tirou um pouco da arrogância de Lucius.

O homem olhou dele para o antigo comensal da morte. Narcisa não perdeu a chance.

— Está olhando muito para meu marido... tem algo a nos dizer? – perguntou, fria.

O juiz se assustou com o tom dela e tossiu, ajeitando os óculos na face.

— Não! É claro que não! Se ambos os responsáveis estão de acordo...

— Eu não estou! – Astoria se levantou e balançou a cabeça – Não entendo porque esse disparate e essa afronta à minha honra! Não entendo o que está acontecendo aqui!

Scorpius, pálido e ignorando o olhar do pai, respirou fundo.

— Não tem nada a ver com meu pai. Quero resolver essa questão de uma vez por todas. – ele encarou a mãe, que arfava a seu lado, o rosto congestionado – Dionísius está fazendo uma festa com esse assunto e meu pai tentou nos proteger. Estávamos longe disso tudo e agora que foi forçado por essa acusação ridícula a nos colocar nos holofotes de novo, quero saber. Quero saber de onde Dionísius tirou isso e provar que está errado.

Daphne piscou e empalideceu um pouco, mas a mão de Lucius em seu braço ficou mais pesada. Astoria encarou o filho e olhou dele para Draco.

— Dionísius está errado e provaremos isso, mãe, então não terá mais nada com que nos ameaçar. – Scorpius garantiu, mentindo deslavadamente.

Daphne podia gritar de frustração, mas se controlou. Encarou a irmã e sentou-se, suspirando.

— Isso tudo é muito confuso... – ela disse, balançando a cabeça - Já pensou que isso pode ser um jeito de fazer você parecer a vilã e conseguir o divórcio? – tentou, mantendo a voz controlada – Draco...

— Não é o Draco que quer o teste, Daphne, é Scorpius. – Astoria ergueu a mão ao ver que a irmã ia continuar falando – E mesmo que tenha sido ele a incentivar, é meu filho que quer terminar com toda essa loucura.

— Vai dar o divórcio a ele, Astoria? Vai deixar seu marido simplesmente ir? – perguntou, provocante – Ser a divorciada trocada por um homem e...

— É claro que o teste de magia dirá que Scorpius é filho de Draco. Sem dúvida nenhuma e então, eu terei algo. Não darei o divórcio a Draco e com tudo esclarecido, ele não terá nenhum motivo para duvidar da minha fidelidade. – Astoria se levantou e encarou a irmã – Esse teste será uma benção para a minha família, Daphne!

Diante do sorriso aberto e feliz da irmã, a bruxa tentou sorrir. Se despediu e saiu do quarto, quase correndo pelo corredor até o escritório. Entrou de sopetão, sem bater e Lucius elevou uma sobrancelha.

— Minha querida, eu disse que podia se sentir em casa mas isso é...

— Ela acha que o teste confirmará que Draco é o pai! E só diante disso não aceitará o pedido de divórcio! – a bruxa quase gritou as palavras.

Lucius franziu a testa, desgostoso com o descontrole.

— Recomponha-se, Daphne. – serviu uma dose generosa de whisky para a bruxa, que se sentou – Não estou preocupado com o teste de magia.

A mulher o encarou, arregalando os olhos.

— Como assim? Vai fazer algo...

Ele ergueu uma mão e sentou-se de frente a ela.

— Não vou deixar nenhuma ponta solta. O teste não será problema. – afirmou, confiante.

Daphne sorriu e tomou um longo gole da bebida, encarando Lucius. O homem notou quando o clima mudou, tornando-se mais íntimo.

— Não pensou mesmo que algo tão simples pudesse ficar no meu caminho, não é? – perguntou, arrogante.

A bruxa sorriu e jogou o cabelo para trás.

— E Narcisa? – o tom de voz dela soou sedutor.

— Não se preocupe com minha bela e dedicada esposa. Ela ficará no lugar onde sempre esteve.

Os dois bruxos sorriram e brindaram, envolvidos.


****

Lucius franziu a testa ao ver Hermione entrar no grande salão no ministério ao lado de Draco. Astoria ficou nervosa e se agarrou a Daphne, que olhou o cunhado com a sobrancelha erguida.

— Senhora Weasley, o que... – o bruxo da bancada se levantou, nervoso.

— Tenho direito a trazer uma testemunha da minha escolha. – Draco afirmou, calmo – E como a senhora Weasley é conhecida no próprio ministério e tem uma reputação ilibada, não acho que encontraria uma melhor.

A bruxa sorriu de leve e encarou o homem, já vermelho.

— Além do mais, estou familiarizada com todo o procedimento e posso atestar a lisura do teste para o próprio ministro, que ficou bem interessado no resultado de hoje.

A seta de Hermione alcançou o alvo. Os três bruxos que realizariam o teste empalideceram e trocaram olhares preocupados. Narcisa e Draco, ao lado de Hermione, se colocaram à direita de Scorpius e o bruxo sorriu para o filho, embora ambos estivessem com expressões pesadas.

Lucius maldisse a recém chegada entre dentes e Daphne se preocupou. Ela olhou em volta.

— Parece que tem gente demais aqui... – comentou, sem olhar para ninguém – Acho melhor...

— Nem pense nisso! – Astoria a segurou pelo braço, balançando a cabeça – Disse que ia ficar comigo, irmã!

Daphne encarou a outra e engoliu seco. Astoria se virou para o representante do ministério.

— Quanto mais testemunhas da minha honra, melhor! – afirmou, o queixo erguido – Vamos logo com isso!

Scorpius tremeu quando o feitiço foi lançado, mas ficou firme. Sua magia reagiu ao feitiço e o envolveu em uma bolha que pareceu, à primeira vista, cheia de água. Assim que começou a se estender, Lucius praguejou de novo. Sua magia reagiu à de Scorpius, decretando a paternidade. Astoria arregalou os olhos e abriu a boca, espantada. Daphne, livre do aperto da irmã, recuou.

— Acho que isso encerra o embate. – um dos membros julgadores falou, a voz fria.

— Mas como isso... não pode ser... está errado! – Astoria se aproximou do filho, olhando dele para Draco – Nunca aconteceu! Posso afirmar! Está errado! Draco, se acha que com essa palhaçada vou dar o divórcio...

O bruxo se aproximou e a afastou do filho, que além de muito pálido e trêmulo, encarava o chão fixamente.

— Pode não se lembrar de como aconteceu, mas o teste é claro e definitivo, Astoria. Não sou o pai biológico de Scorpius. – amparou o jovem, apertando-o nos braços, e encarou a esposa – Você foi alvo de um obliviate sobre as memórias desse fato. – a bruxa o encarou com os olhos arregalados – Não foi lançado por mim e como deve deduzir, produziu efeitos nefastos. Por isso a afastei com Scorpius, mas sua irmã e seus pais acharam que podiam se aproveitar do fato para me ameaçarem com sabe lá quais intenções. Começaram com uma acusação de assassinato, acredita?

O bruxo endireitou o filho, usando sua magia para estabilizá-lo. Scorpius finalmente ergueu a cabeça.

— Isso não... isso não pode estar acontecendo! – ela exclamou, nervosa, e se virou para a irmã – Sabia disso, não é? Por isso ficou falando e falando que era uma manobra de Draco e... – parou, pálida, encarando Lucius – O que você fez com minha família?

Os três juízes aproveitaram a confusão para deixarem a sala e Narcisa os observou, sombria.

“Mal podem esperar para espalhar mais esse escândalo...” pensou, resignada.

Hermione se sentiu mal por estar presenciando aquele drama familiar e tentou sair discretamente.

— Se Draco precisar de uma testemunha...

— Não há mesmo forma de reaver as memórias de Astoria? – Narcisa a interrompeu, fazendo Draco e Scorpius olharem para as duas.

Hermione hesitou e olhou para os presentes.

— As memórias podem voltar se forçadas através de tortura... – explicou, baixo – Mas o nível que precisa ser atingido... – balançou a cabeça e encarou Draco – Não sei se vale a pena...

— Não será necessário torturar minha mãe. – Scorpius, mais recomposto, encarou as mulheres – Podemos usar as minhas memórias e as do meu pai. Sabemos exatamente como aconteceu.

Astoria encarou o filho e empalideceu.

— Não está me dizendo... como posso... – a bruxa soluçou.

Depois de um silêncio pesado, Narcisa respirou fundo e ergueu o queixo.

— Bem, Draco, vamos levar Scorpius para longe desse furacão. Então podemos voltar e solicitar formalmente nossos divórcios.

Draco elevou uma sobrancelha e Lucius deu um passo para frente.

— Acho que não entendi o que disse, querida. – falou, a voz baixa e ameaçadora.

Narcisa o encarou e sorriu, fria.

— Entendeu sim, caro marido. Além de um filho com sua nora, esteve traindo os votos de fidelidade que me fez há muitos anos, de novo dentro da minha casa. – os olhos escuros caíram sobre Daphne, que mesmo alvo dos olhares, ergueu a cabeça, altiva – Ainda bem que não pensou na indignidade de negar, querida.

Narcisa segurou o braço de Hermione e guiou-a para fora. Draco levou Scorpius, que lançou um olhar incrédulo para o avô e a tia, antes de finalmente deixar a sala. Quando já estavam perto da porta, o bruxo voltou e guiou Astoria. A bruxa se agarrou ao braço dele, soluçando descontrolada e o Draco fechou os olhos, incomodado. Mesmo assim, não se afastou e saiu com o filho e a ex esposa.

— Como ela... – encarando a porta deixada aberta, Daphne balançou a cabeça.

— Narcisa é a senhora da mansão Malfoy. Nada acontece lá que ela não saiba. – ele murmurou, entredentes.

Ele não esperou ao sair da sala, então Daphne teve que quase correr para alcançá-lo. A bruxa escutou risinhos e, quando ele se afastou tanto que ela literalmente teria que correr, parou e respirou fundo. Ignorando os olhares, deu a volta em um corredor qualquer e deixou o ministério pelas lareiras do térreo, forçando-se a não procurar por Lucius.


*****

Draco, Narcisa e Scorpius aguardaram afastados enquanto Astoria e os pais assistiam as memórias dos dois bruxos na penseira providenciada por Draco. Daphne não fora vista depois do episódio no ministério.

Astoria se sentou pesadamente e a mãe a encarou, lívida. Draco notou um movimento e sorriu internamente quando o feitiço de proteção da penseira lançou chispas para todos os lados. O homem ficou vermelho e levantou a bengala, irritadíssimo.

— Mas o que é isso? – afastando-se, encarou o ex genro.

— Coloquei um feitiço de proteção na penseira, para que não caísse... – os olhos azuis se tornaram glaciais – “acidentalmente”.

O homem apertou a bengala e Draco elevou uma sobrancelha aristocraticamente.

— Nossa filha foi usada por seu pai... fomos todos usados! Usados! – ele enfatizou levantando a bengala – Exijo reparação! Exijo!

Draco se aproximou e o homem piscou, hesitante pela primeira vez.

— Não acho que caiba qualquer reparação nessa situação e mesmo que fosse assim, eu deveria exigir, não?

Astoria encarou os pais e se levantou, olhando Draco nervosamente.

— Podemos falar? – perguntou, baixo.

Ele a olhou e ela hesitou claramente antes de se dirigir à porta que dava para o jardim interno.

— Não tenho intenção nem desejo de conversar, Astoria. - ele respondeu, sem segui-la. Ela parou e se virou, os olhos arregalados e os lábios trêmulos. Draco perdeu a paciência - Por Merlin! Acha que essa choradeira vai resolver o quê? – ele a fulminou com os olhos, contendo-se a custo – Afastei você e Scorpius disso tudo e me resignei a ver meu filho apenas de longe, sem qualquer contato. E não fiz isso escondido! Falei com seus pais e com Daphne, e eles fingiram que entenderam... e então Daphne surge com uma acusação de assassinato e me obrigou a arrastar meu filho de novo para isso tudo!

Astoria olhou em volta, procurando apoio, mas seus pais estavam acuados ao lado da penseira, encarando Draco com os olhos arregalados.

— Eu não tenho culpa... – murmurou, pálida.

— É claro que Daphne tinha um plano com Lucius, e parte dele era trazer Scorpius para perto novamente. Não sei até que ponto eu o estraguei quando frustrei seus planos no ministério. – diante do olhar abismado da esposa, ele balançou a cabeça – Não notou o quanto o clima mudou quando Hermione entrou na sala? Sério que não percebeu o nervosismo da sua irmã e a raiva de Lucius?

Astoria não conseguiu mais encarar o ex marido e baixou a cabeça. Draco a olhou e então virou-se para os sogros.

— Quero deixar bem claro que o que quer que aconteça com meu filho, culparei vocês. Não sei o que Lucius prometeu nem o que Daphne disse e na verdade não me interessa. – o casal desviou os olhos, intimidado – Estive em sua casa e expliquei a situação, e mentiram para mim. Disseram que entendiam e que era melhor para todo mundo, mas quiseram vantagens na situação. Já que atearam fogo, estejam prontos para lidarem com as chamas.

O homem ainda ensaiou um protesto, mas Draco ergueu uma mão.

— Já entrei com o pedido de divórcio e, além de meus advogados, testemunhas idôneas já viram essas mesmas memórias para o caso de uma batalha judicial. - os olhos azuis estavam quase transparentes – Eu terminei meus assuntos com sua família.

— Scorpius, filho... – Astoria se aproximou do jovem, que a olhou de volta – Eu não sei o que posso dizer para que não se afaste de mim...

— Não há nada a dizer, mãe. – ele respondeu, baixo – Não reconheço Lucius como meu genitor e também não vou morar com você e meus avós. Vou ficar com meu pai. – ela franziu a testa e soluçou, fazendo-o balançar a cabeça – Melhor se controlar, mãe. O que foi feito está feito e não dá para mudar e nem varrer para debaixo do tapete.

— Porque tudo isso tinha que acontecer com nossa família? – ela perguntou, baixo e então, olhou o ex marido – É tudo culpa dele! Do Potter maldito!

Draco a encarou, altivo.

— Quer culpar alguém? – perguntou, gelado – Olhe no espelho, querida. Harry não estava aqui quando se deitou com o pai do seu marido.

Sem esperar réplica, Draco se dirigiu para a porta e Scorpius, depois de alguns minutos olhando a mãe, o seguiu. Narcisa encarou a ex nora e os pais.

— Bem, devem acionar seus advogados também, embora haja pouca margem para protestos. E fiquem à vontade para esperar que Astoria reúna suas coisas para acompanhá-los. Mandarei duas criadas para ajudá-la.

Antes que Narcisa atravessasse a porta, Astoria respirou fundo.

— Não vou a lugar nenhum. Não darei o divórcio a Draco. – afirmou, o rosto congestionado.

As duas bruxas se encararam e Narcisa sorriu de leve.

— A decisão é sua, Astoria, mas a casa é minha. Draco não mora mais aqui e Scorpius não ficará. Vá com seus pais. – o sorriso leve sumiu – E faça o que achar que é certo.



— Acha isso certo, que ele deixe a família para ficar com um homem? – Astoria perguntou, olhando o filho parado perto da janela do jardim.

A bruxa buscou o filho a mansão inteira, disposta a fazer o que fosse necessário para ter um aliado.

— Quando foi preciso que ele escolhesse entre... Harry e nós, ele ficou, não foi? - o jovem se virou e encarou a mãe, que piscou surpresa – Ele ficou conosco e por isso, está pagando um preço enorme, principalmente depois de Dionísius jogar a verdade aos quatro ventos.

— Mas agora quer... – ela tentou, ignorando o argumento.

— Agora ele quer o divórcio porque descobriu que você o traiu primeiro, desde o começo do casamento. A prova disso sou eu e não foi com qualquer um, foi como pai dele. – Scorpius se encostou à parede, olhando a mãe – Lucius sempre o colocou à prova, sempre exigiu demais e deu quase nada em troca... e essa foi a gota d´água.

Astoria encarou o filho e respirou fundo.

— Não vou dar o divórcio, Scorpius. Ainda somos uma família, e vou lutar por minha família. – afirmou, séria.

O jovem sequer piscou diante da afirmação e então, cruzou os braços.

— Sabe que eu gostava da vida que ele criou para mim? – perguntou, com um pequeno sorriso – Eu gostava de consertar aquelas coisas... gostava da vila e me surpreendo com isso, porque nunca gostei de lugares calmos e pacíficos.

— Era uma mentira. Ele criou uma mentira para nos aprisionar e deixá-lo livre! – ela rebateu, enfatizando com as mãos – Ele não queria você aqui, Scorpius.

— Eu não penso assim. – o bruxo respondeu, seguro – Me lembro do que conversamos e de que fui eu que quase o obriguei a isso. Eu fiquei tentando achar meios de ficarmos juntos, mesmo depois do feitiço que Lucius te lançou. Fiquei fazendo planos que eu sabia que não iam funcionar, mas fiz do mesmo jeito. Eu ignorei o peso que meu pai teria que agüentar se fizesse qualquer daquelas coisas.

— Podíamos simplesmente ficarmos juntos, talvez até longe daqui... disso tudo... – ela disse, mais calma.

— Mas aí ele teria que ser enfeitiçado para esquecer que sou filho do pai dele, meio irmão na verdade. O que não resolveria muita coisa com Dionísius gritando para todo mundo... e se ele não fosse enfeitiçado, como dormir ao seu lado e mesmo... bem... a senhora entendeu. – ele ergueu um dedo – E isso sem sequer mencionar Harry Potter. - Scorpius encarou a mãe e balançou a cabeça - Ele tomou a melhor decisão no momento, e minha tia, sei lá porque, estragou tudo.

— Minha família não é tão maquiavélica quanto pensa, Scorpius. Está nos confundindo com os Malfoy. – Astoria soou irritada.

— Não pode negar que tia Daphne estava muito próxima a Lucius no ministério. E mesmo antes disso. Os dois estavam cheios de conversar secretas na mansão...

— Ela veio ficar aqui por mim. – a bruxa estreitou os olhos.

— Eu vi, mãe. Pelo menos duas vezes. Uma na saleta oeste e outra na ante sala da biblioteca. Estavam conversando bem baixinho, as cabeças unidas. Podiam não estar planejando nada e nem envolvidos sexual ou romanticamente, mas que pareceu muito, de uma forma que eu não tive dúvidas quando vi, pareceu.

— Narcisa estava aqui o tempo todo.

Scorpius olhou para a mãe e sorriu, desencostando-se da parede.

— Bem, não vou mais discutir nem argumentar. Estou cansado e realmente chateado por ter voltado para esse antro de intrigas e traições. Queria ter ficado no sobrado rodeado daquelas coisas malucas e vivendo sem saber de nada sobre isso. – ele a olhou dentro dos olhos – Eu estava vivendo uma vida normal e Luísa estava lá... agora com o feitiço de confusão desfeito, assim que ela olhar para mim, vai saber quem eu sou e no que estou mergulhado até o pescoço. Qual garota linda e normal como ela iria escolher isso?

Ele indicou a sala majestosa e a si mesmo, inclinando levemente a cabeça.

— Pois é, eu não escolheria. – ele concluiu, passando pela mãe e deixando a sala.


*****

Draco abriu o jornal e respirou fundo. Todos os cinco que estavam sobre a mesa falavam da paternidade de Scorpius Malfoy e o escandaloso processo de divórcio. Levou três dias inteiros para que Astoria finalmente deixasse a mansão e fosse com os pais, mas isso não significou paz. .Depois de uma semana tentando se tornarem vítimas dos Malfoy e suas perversões, os Greengrass se calaram e recolheram-se para o anonimato.

— Não sei como conseguiu passar por todo esse tempo nisso tudo, Harry.... – murmurou, exausto.

— O quê? – Scorpius, do outro lado da mesa, perguntou erguendo a cabeça.

— Harry e tudo isso. – diante do olhar confuso, largou o jornal e encarou o filho – tudo, e sinceramente não sei como ele agüenta. Dionísius apareceu tem o quê, quatro, cinco meses?

Scorpius tentou pensar e balançou a cabeça. – Não sei... acho que foi há mais tempo...

— Parece que sempre esteve aqui... – o bruxo murmurou – Uma vida inteira... e estou exausto... – Draco respirou fundo – Até onde será que isso vai?



Narcisa chegou ao escritório no meio da tarde. Draco e Scorpius estavam tentando se concentrar o suficiente para analisarem mais um relatório de perdas depois dos ataques de Dionísius e a expressão fechada da bruxa fez com que trocassem um olhar pesado.

Ela os cumprimentou galantemente e se sentou, lançando discretamente feitiços de proteção e silêncio, mas podiam ver através do vidro alguns funcionários lançarem olhares curiosos.

— O que houve, mãe? – Draco perguntou, sentando-se numa poltrona de frente a ela.

— Querem que eu saia? – o jovem perguntou, olhando de um para outro.

— Não. Você é parte disso tudo, Scorpius. – Narcisa respondeu, baixo – Estou vindo do escritório de nossos advogados. Astoria alega que foi forçada por Lucius e não deve ser responsabilizada. Insiste em não aceitar nenhuma oferta para o divórcio.

Scorpius serviu chá gelado para os três. Ele e o pai precisavam mesmo de uma pausa, ainda que fosse por mais outro problema.

— E Lucius? – Draco perguntou, sombrio.

— Ele simplesmente se recusa a qualquer conversa sobre divórcio, mas nossos advogados descobriram que grande parte disso é por causa da fortuna da família. – diante do olhar surpreso, ela encolheu os ombros – Dionísius está sabotando as fábricas e aterrorizando fornecedores e clientes... isso está causando um prejuízo e tanto, que vai aumentar exponencialmente quando eu me separar.

— Os negócios da família estão sofrendo golpes atrás de golpes, mãe. A refinaria não consegue novos clientes e agora estamos tendo problemas com fornecedores também. – o bruxo explicou, recostando-se – Se isso continuar, teremos que fechar.

— E não é só aqui. Na área têxtil também temos problemas... – Scorpius acrescentou, baixo.

— Nosso prestígio e influência também estão perigosamente baixo. Sei que Lucius não está sendo recebido por algumas pessoas do ministério, principalmente depois do último escândalo. – Narcisa deixou o copo vazio sobre a mesinha e suspirou – Recebi algumas mensagens da família, depois que souberam do pedido de divórcio e de todo o resto...

Narcisa se calou, respirando fundo.

— Não podemos fazer muito mais do que tentar salvar o que der, mãe. – Draco comentou, sério – Ainda temos as propriedades e podemos agüentar mais algum tempo.

— Eu não acho isso. – ela rebateu, olhando o filho nos olhos – Sem poder e influência, nossa família será vencida rapidamente e não sei... quem sabe o que farão conosco quando não tivermos mais nenhum tipo de proteção? Consequências de feitos do passado podem nos alcançar agora, e o que acontecerá?

Scorpius olhou de um para outro, confuso.

— Não entendi. Como assim? Consequências do quê?

Draco olhou o filho.

— Sabe que fomos partidários de Voldemort tanto na primeira quanto na segunda ascensão, Scorpius. Estivemos do lado dele e só nos safamos, eu e seu avô, por que tínhamos quem nos protegesse no ministério, e também fora dele. Nossa fortuna garantiu que não fôssemos processados... ou presos.

O jovem empalideceu.

— Mas isso tem muito tempo... não podem mais acusar vocês de nada, não é?

— Não sei. Talvez não possam e tudo não passe de rumores e ameaças vazias, mas se forem por aí, as coisas podem piorar rapidamente. – Draco se levantou e andou alguns passos, pensativo – É nisso o que está pensando, não é?

Narcisa e o filho trocaram um olhar preocupado.

— Não creio que possam fazer um julgamento agora, mas com certeza alimentará ainda mais o escândalo e a animosidade contra nossa família. Calamos isso por anos com poder e dinheiro, mas agora...

— A situação é outra. – Draco completou, sombrio.


*****

Lucius encarou Scorpius e de novo, pela milésima vez, se surpreendeu em como o jovem parecia com Draco. Os gestos e até a forma de elevar uma sobrancelha, tudo nele era Draco Malfoy.

— Fiz uma petição no ministério para que meu nome conste em sua certidão de nascimento. – informou, um pouco irritado pela falta de reação – Também temos que ir ao advogado para a alteração no testamento.

O jovem se levantou e Lucius segurou a bengala com mais força, atento.

— Sou maior de idade, Lucius. Não aceito a mudança e no que se refere a mim, pode deixar o testamento como está. – Scorpius o encarou de volta, a expressão calma apesar da raiva incandescente que estava sentindo por dentro.

— Não me interessa... – o bruxo começou, altivo, mas o jovem o interrompeu.

— A mim também não. Estive no ministério e como sou maior de idade, posso decidir por mim aceitar a mudança ou não. Eu não aceito.

Antes que o jovem o deixasse sozinho no escritório, Lucius se virou.

— Acho que devia pensar melhor. Draco já tem problemas demais sem que surjam novos apenas por causa de sua teimosia.

Scorpius se sentiu gelado e virou-se, os olhos estreitos.

— Está me ameaçando?

Lucius sorriu, arrogante.

— Não. Você vai perceber sozinho que me enfrentar não é uma boa coisa a se fazer, não quando tem tantos pontos fracos.... – diante do silêncio do jovem, Lucius baixou a bengala e se preparou para sair – Vamos juntos ao ministério e depois, você voltará a morar na mansão. Astoria já está lá, ansiosa por sua volta.

O jovem encarou o bruxo mais velho com raiva, mas se forçou a se manter calmo.

— Não vai ser com ameaças e chantagem que conseguirá algo comigo, Lucius. – afirmou, a voz baixa e gelada – Você não tem mais o poder e a influência que acha que tem.

Lucius ficou surpreso e furioso com a resposta, e aproximou-se do rapaz que não se afastou.

— Você fará o que eu quiser ou descobrirá, assim como Draco está prestes a descobrir, que sou o patriarca e dono dessa família. Ninguém me desafia.

O bruxo deu a volta e saiu da sala. Scorpius fechou os olhos e respirou fundo, abalado.


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