Roda do Tempo escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 15
Capítulo 15




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Gina comprimiu os lábios ao ver a cadeira vazia a seu lado. A bruxa ajeitou o cabelo e jantou sozinha, engolindo as lágrimas junto com a comida. Não houvera ninguém para acompanhá-la até em casa quando recebeu alta, na manhã do mesmo dia e assim que passou pela porta, Alvo simplesmente a olhou e se fechou em seu quarto, antes de sair no meio da tarde para a casa dos avós.

— Não mereço isso... – ela murmurou, largando o garfo.

Ficou sentada à mesa por um longo tempo e então, se levantou e arrumou tudo, guardando o jantar.

— Isso não vai se resolver sozinho... – falando consigo mesmo, ela subiu e colocou uma capa – Não serei julgada e condenada...

Fora da casa, aparatou.

O lugar onde a cabana estivera agora estava destruído, inclusive as árvores que a cercavam. Gina franziu a testa e avançou com cuidado, conferindo. Estava tudo queimado. A bruxa respirou fundo e voltou para casa, onde entrou a noite escrevendo cartas e bilhetes para Dekell. Mandou todas as corujas da família e ficou sentada na sala, olhando pela janela.

Já era manhã quando recebeu um bilhete contendo um endereço estranho. Gina rolou os olhos e saiu, irritada.

A bruxa quase se perdeu procurando o endereço e deu com uma casinha de dois andares na rua principal do vilarejo. Nunca ouvira nada daquele lugar e suspirou, cansada.

Avançou com segurança e bateu na porta. O homem que a abriu sorriu e indicou que entrasse. Desconfiada, a bruxa recuou.

— Dekell? – perguntou, olhando do homem para a sala escura atrás dele.

— Dekell está morto há muito tempo, Gina. – Rodolfo respondeu, encostando-se à porta – Graças à poção polissuco, eu tomei o lugar dele.

Gina empalideceu e recuou ainda mais. O homem escancarou a porta.

— Melhor entrar, não acha?

— Não mesmo! – ela olhou de um lado para outro na rua deserta, já imaginando uma rota de fuga.

— Eu não machucaria a mãe do meu filho.

A afirmação a fez arquejar e olhar incrédula para ele. Rodolfo indicou a porta com um floreio e Gina, um pouco desorientada, entrou.

Confiante, ele a ajudou a tirar a capa e se sentar, então chamou um elfo doméstico e lhe serviu suco gelado e biscoitos. Gina observou tudo com olhos arregalados.

— O quê?... porquê? – perguntou, balbuciando.

O homem se serviu de um líquido escuro e se sentou de frente a ela, calmo.

— Acho que seus pais já contaram uma parte da história, não é? – ele cruzou as pernas e a encarou, tomando a bebida – O principal, pelo menos.

— Dekell... – ela murmurou, pálida.

— Ele serviu a seu propósito, que era se aproximar de você sem despertar a suspeita de Harry. – Rodolfo explicou, sem tirar os olhos dela – Antônio e eu tivemos muito trabalho para colocarmos todas as peças no lugar.

Gina baixou os olhos, pasma.

— Isso não está acontecendo... – falou para si mesma.

— Dekell se aproximou tão facilmente de você, mesmo estando casada... – ele sorriu, olhando para a bruxa abatida – Quando houve o escândalo com Potter eu quase soltei fogos de artifícios, por que sabia que ele não seria mais um problema. É claro que vocês podiam ter reatado, e isso seria um desastre para mim, mas não aconteceu, mesmo quando ele retornou de seu exílio com todo aquele poder...

Ele se inclinou para frente, ainda segurando o copo.

— Mas foi você, minha útil Gina, e sua obsessão em ter seu marido relutante de volta, é que se tornou a chave para meu plano dar certo. Como dominós, agora cairão um por um. – ele se recostou de novo, tomando um longo gole.

— Ainda posso dar o contra feitiço a Harry e ele vai acabar com você. – ela disse, finalmente erguendo o rosto vermelho.

— É claro que pode, mas sua dificuldade vai ser em se aproximar dele depois da asneira que fez com a tal chantagem.... – ele sorriu, jocoso – Eles não vão acreditar em sua boa vontade e mesmo que diga o contra feitiço, ainda vão confirmar e isso leva tempo.

Gina se levantou de um pulo.

— Não pode me obrigar a ter um filho que não desejo. – ela cuspiu, irritada – Eu não vou...

— Sim, você vai. – ele afirmou, ainda calmo – Vai porque me deve, lembra? O preço de ter usado o feitiço?

— O preço era guardar algo importante para você sem fazer perguntas nem tentar... – ela parou e arregalou os olhos – Não... não, isso não!

Ele sorriu mais abertamente.

— Exatamente! Agora você está entendendo o que aconteceu!

A bruxa se sentou, movendo-se mecanicamente.

— Você disse também... – a voz dela quase não saiu.

— Que você me devolveria quando eu pedisse. – ele tomou o resto da bebida e colocou o copo vazio sobre a mesinha entre eles. – Querida, você vai ter essa gestação e vai cuidar do meu filho com a sua vida, porque foi esse o trato. E quando o bebê nascer, vai entrega-lo a mim alegremente e então seguiremos nosso caminho. – Rodolfo estava exultante – Viu como é uma coisa simples?

— E se eu não...

O sorriso do bruxo morreu e o olhar se tornou imediatamente frio.

— Eu não iria por aí, querida. Fizemos um trato e se não cumprir, vou se sentir desobrigado de guardar todos esses... acontecimentos e posso ir a público exigir o que é meu. Isso não seria muito bom para sua reputação de mulher dedicada traída e abandonada, não é?

Gina o encarou.

— Vai me obrigar a carregar seu filho por nove meses e então entrega-lo a você? – perguntou, a voz rascante.

— Esse foi o trato e o objetivo desde sempre.

A mulher ficou em silêncio por alguns minutos.

— O contra feitiço não funciona, não é? – perguntou, olhando Rodolfo com raiva borbulhando.

Ele sorriu de novo.

— Não para sempre. O feitiço não tem cura permanente, uma vez que foi criado para matar. – ele indicou a bandeja – Não vai pelo menos tomar o suco? Tenho certeza que está delicioso!

— Como posso ter certeza de que Dekell... – a bruxa balançou a cabeça – Por Merlin! Isso não está acontecendo!

— Tenho as memórias, se as quiser.

A calma e a vitória estampada na expressão do bruxo fez Gina ficar com ainda mais raiva e então ela se ergueu.

— Bom, não pode me impedir de dar o contra feitiço a Harry, mesmo que não vá funcionar por muito tempo. Ainda tenho família e eles...

— Estão bem decepcionados com você. Soube que um filho saiu de casa e não quer mais contato... Aquele do hospital também ficou bastante abalado. Não sei quanto a seus outros irmãos e nem quanto a seus pais, mas posso apostar que Molly está com um sapo atravessado na garganta nesse exato minuto.

Então, para consternação de Gina, Rodolfo começou a rir. A gargalhar gostosamente, jogando a cabeça para trás. Num impulso, ela puxou a varinha do bolso e apontou para ele, que ainda rindo, a encarou de volta.

— Tente, querida...

A provocação fez a bruxa perder a cabeça e lançar um feitiço estuporante, que ele facilmente desviou. Gina não viu quando ele pegou a varinha e arregalou os olhos ao vê-lo se levantar, agora sério.

— Querida, tente se lembrar que está grávida e como o médico explicou, sua pressão se altera com facilidade... – apesar das palavras preocupadas, o tom soou jocoso – Não vai querer provocar uma briga para ter uma desculpa, não é?

Gina baixou a mão e o encarou, estupefata. Ele continuou parado com a varinha erguida, apesar de não estar apontada para ela.

— Pretendo acompanhar sua gravidez com atenção, como qualquer pai faria. Não espero ter problemas com isso. – o sorriso odioso voltou, fazendo-a se encolher – Acho que eu e Molly seremos ótimos parentes.

— E Remus? – ela perguntou, a voz sumida.

Rodolfo voltou a se sentar e deixou a varinha no colo enquanto se servia de mais bebida. O bruxo não pareceu ter pressa em responder Gina.

— Eu não sabia quem seria o otário que você manipularia, quando me disse que já tinha alguém em mente – ele tomou um gole e sorriu – Mas a escolha não podia ser melhor. Antônio estava à espreita quando Lupin lançasse o feitiço e, apesar de não ter tido contato com ele desde então, acredito que está atrás do seu prêmio, como eu.

— Vai matá-lo... – ela balançou a cabeça, chocada – Por Merlin! Isso é um pesadelo!

Rodolfo a encarou com atenção. A bruxa saiu da casa como um redemoinho e na rua, aparatou sem notar que não estava usando a capa para se esconder.

De volta à casa, deu voltas e mais voltas trancada em seu quarto. Repassou milhares de vezes na cabeça tudo o que podia se lembrar desde que se separou de Harry e constatou, sombria, que Rodolfo tinha razão de rir dela. Seu descontrole a levou até aquele ponto.

******

Molly se assustou ao ver Gina na porta da cozinha de sua casa no meio da manhã. A bruxa estava pálida e havia marcas de lágrimas em seu rosto.

— Eu me descontrolei, mãe. Fiz e disse coisas horríveis e posso ver, agora, que sou a culpada. – a voz dela quase não saiu.

A bruxa mais velha puxou a filha e a sentou, servindo uma caneca de chá quente.

— Gina...

— Fui tirar a prova e é realmente verdade. Meu amante não é Dekell e sim, Rodolfo Lestrange. Ele é o pai da criança que estou esperando e que, por força de um trato que fizemos em troca do feitiço, não posso tirar. – ao ver o olhar espantado da mãe, encolheu os ombros – Estava pensando nisso, mãe... senti que era minha única saída, mas não posso fazer isso. Eu fiz um acordo mágico.

— Escreva a Harry, Gina. Conte qual o contra feitiço. – a bruxa mais velha aconselhou - Ele pode ajudar.

— O contra feitiço não funciona para sempre, mãe. Descobri isso também... – Molly lançou um olhar assustado para a filha, que baixou a cabeça e encarou as mãos sobre a mesa – Era tudo uma farsa... o feitiço matará Harry – ela soluçou e conteve as lágrimas a muito custo – E eu ficarei presa a ele para sempre através da criança que ele não planeja... ele disse que é para eu entregar o bebê...

Gina não se conteve e começou a chorar. Molly encarou o topo da cabeça da filha e comprimiu os lábios e, depois de alguns minutos, se sentou ao lado dela. A bruxa mais velha não disse ou fez nada para impedir a outra de continuar chorando, apenas ficou ali, esperando.

Levou tempo até que Gina se controlasse o suficiente para se levantar e lavar o rosto antes de se sentar novamente e beber o chá. Durante esse tempo todo, Molly continuou sentada.

— Alvo está aqui, não é? – Gina perguntou, baixo e sem olhar a mãe.

— Sim. Ele está revoltado.

A resposta seca a fez se encolher, mas não disse nada e tomou o chá todo da caneca.

— Não existe cura para a doença, não é?

Gina e Molly olharam para a porta ao mesmo tempo. Alvo estava parado, olhando a mãe. Ele entrou e parou do outro lado da mesa, ainda encarando Gina.

— Você mentiu para mim também. Não existe cura. – ele afirmou, balançando a cabeça – Você mentiu para todo mundo.... porque eu seria diferente?

— Filho... – Gina começou, hesitante.

— E esse filho? – ele cruzou os braços – Como ia fazer?

— Eu não sabia, Alvo... não planejei nada disso. – a bruxa respondeu, baixo. Estava pálida – Eu estava descontrolada...

— Vai dizer que não sabia o que estava fazendo? – ele completou, interrompendo-a – Vai dizer que ele te induziu ou te forçou? – o silêncio caiu na cozinha por longos minutos – Esse cara, o pai do seu bebê... você o ama?

Gina corou e apertou os punhos. – Não.

— Se envolveu com ele porque, então? - ele inclinou a cabeça.

— Você é jovem demais para entender isso, Alvo. – ela respondeu, finalmente encarando o filho – Eu sei que...

— Bom, não sou jovem demais para entender que pelo menos, por mais errado que fosse, meu pai estava ou ainda está, apaixonado pelo outro cara. E você nem isso... foi para a cama e fodeu sem...

Gina se ergueu de um pulo.

— Não fale assim comigo! – sibilou, ainda mais vermelha – Sou sua mãe e exijo respeito!

Alvo a encarou, sem esboçar qualquer vergonha ou medo.

— Respeito é uma coisa que se conquista, mãe, aprendi isso com o pai... Quando ele foi descoberto, não tentou dizer que não tinha feito, que não sabia o que estava fazendo e nem se importou com o silêncio do outro, assumiu a culpa e pronto. – o olhar dele se tornou febril – E você aí... bancando a...

Atingida pela ferocidade do filho, Gina reagiu e deu um passo para longe da mesa, fazendo Molly também se erguer e segurá-la.

— Já chega! – ela disse, segurando a filha pelo braço com força – Já chega de brigas e confusões! Chega!

O tom da matriarca subiu e fez os dois se acalmarem, pelo menos aparentemente.

— Escreva a Harry, Gina. Conte a ele o contra feitiço e também sobre tudo isso. Tenho certeza que ele pode ajudar de alguma forma e você... – Molly encarou o neto, fria – Já chega de falar em doença e ficar agindo como uma criança birrenta. O que precisa é de um trabalho, algo para fazer e não ficar o dia todo à toa, vivendo do dinheiro do homem que teima em odiar.

Alvo arregalou os olhos e corou, sem reação.

— Além do mais – a bruxa mais velha se aproximou do jovem – Ele nem é seu pai legalmente e nada do que diz ou faz o atinge. Ele mesmo os tirou de perto, intoxicado com tanto veneno. – Alvo baixou a cabeça, comprimindo os lábios – Foram tantas palavras odiosas e tantas coisas que aconteceram... ele está longe demais agora, e ficar remoendo raiva, decepção ou o que quer que esteja sentindo não vai ajudar você em nada e muito menos prejudicá-lo em alguma coisa.

— A senhora não sabe... – ele murmurou, sentido.

— Não sei mesmo! Sou velha e na minha época não era tudo tão escancarado... é claro que a gente ouvia comentários, mas assim como Remus e Sirius, nunca tinha visto. – ela respondeu, enérgica – Não sei, talvez tenha ido longe com Harry por ele ser tão querido para mim... marido da minha filha... não sei! Achei que os dois estavam bem, apesar do clima tão estranho entre eles... casamento é assim... tem dias bons e dias ruins...

Alvo a encarou e Molly respirou fundo com força.

— Estou cansada, Alvo. Cansada de tanta confusão, de tanta briga e de tanta bagunça... e totalmente perdida por que não conheço as pessoas como achava que as conhecia. Quero dizer, nunca pensei que Harry pudesse se interessar por outro homem, assim como nunca pensei que minha filha pudesse usar um feitiço desconhecido para fazer chantagem. – a bruxa mais velha se virou e olhou-a, que ainda estava vermelha e trêmula – Chega disso, Gina! Reúna o resto de dignidade que te sobrou e faça a coisa certa de agora em diante.

Ela se dirigiu para a porta e pegou o braço do neto no caminho.

— Vamos escrever a Tiago e a Lílian...

— Não!

O berro de Gina ecoou e fez os dois pararem, mas Molly olhou-a e balançou a cabeça, negando.

— Não, Gina, sem segredos de agora em diante. – ela disse, resolvida – Como você mesma disse, o nascimento dessa criança é fato concreto, fique ela com você ou não. Tiago e Lílian precisam saber o que está acontecendo. – o olhar dela se tornou duro – Escreva para Harry.

Gina olhou os dois deixarem a cozinha e se deixou cair na cadeira de novo, exausta.

Ainda resistente e incapaz de administrar tudo, Alvo não ficou ao lado da avó enquanto esta escrevia para Tiago e Lílian. Molly também escreveu para Rony e os outros filhos, e acrescentou uma para Sirius. Quando Arthur chegou em casa, ela ainda estava às voltas com as corujas e, mesmo assim, a bruxa contou ao marido tudo o que a filha explicara mais cedo. Falou também de Alvo.

O bruxo balançou a cabeça e respirou fundo, cansado.

— Você está certa... chega de segredos. – ele disse, sentando-se no banco do lado de fora da casa.

Molly observou as corujas levantarem voo e se sentou ao lado dele.

— Acho que a vida era mais simples com Voldemort, não é?

Surpreso pela esposa mencionar o nome do antigo inimigo, ele sorriu e ela fez o mesmo.

— Era. Era mesmo. – ele concordou.


*****

Draco ergueu a cabeça ao ouvir a porta se abrir. Sem esboçar nenhuma reação, observou o pai entrar e fechar a porta, antes de atravessar a sala e se sentar sem dizer uma palavra. Ciente das táticas intimidativas da família Malfoy, o bruxo loiro simplesmente voltou a ler o relatório em suas mãos.

— Isso é insultante! – depois de alguns minutos, a voz fria de Lucius soou na sala.

Draco ergueu de novo a cabeça e encarou o pai, mas não disse nada. O bruxo mais velho bufou irritado.

— Onde estão minha nora e meu genro? – perguntou, seco – E nem venha com a mesma história de sua mãe!

— História da minha mãe? – Draco repetiu, a testa franzida.

— Ela disse que lançou o feitiço do esquecimento em si mesma.

Draco balançou lentamente a cabeça. Não duvidava que a mãe fizera exatamente isso, e era uma boa solução para a questão da segurança, se fosse pensar bem, mas não podia sequer imaginar como ela estava aguentando. Ele não conseguiria.

— Tentei contatar Astoria por todos os meios. A família dela também não tem respostas, exceto cartas que recebe de vez em quando. Nem ela nem Scorpius responderam ao contato. – o homem continuou, encarando o filho – A mãe dela está preocupada...

— Interessante... – Draco comentou, largando o relatório e se recostando – Ninguém me perguntou nada...

Lucius estreitou os olhos.

— Eles sabem que não podem contar com você para respostas, mas garanto que...

— A mamãe também não recebeu nada deles... – o bruxo interrompeu, os olhos azuis gelados fixos no pai – E com certeza ela me contaria se tivesse recebido.

— Onde eles estão, Draco? – Lucius se inclinou para frente, incisivo – As pessoas estão começando a comentar.

— Sério? – o tom despreocupado de Draco irritou Lucius.

— Não estou brincando! Já temos problemas demais... – começou, soando frio.

A voz de Draco rivalizou em frieza com a do pai.

— Sei o tamanho dos problemas da nossa família. Dionísius destruiu a fábrica de tecidos no sul, e atrapalhou nossos sócios em ervas no oeste. – o bruxo se recostou e encarou o pai – Também perdemos apoio importante na Câmara de Comércio em Londres. No total, pelo menos até agora, o prejuízo financeiro é de aproximadamente cinquenta milhões.

Lucius empalideceu e comprimiu os lábios. Draco elevou uma sobrancelha.

— Quanto às famílias, estive pessoalmente com a família Greengrass e falamos sobre a partida de Astoria e Scorpius. Estive também, acompanhado da mamãe, com Cygnus Black e eles estão muito preocupados com tantas perdas.

O bruxo mais velho fez um gesto vago.

— Nossa fortuna é sólida. – afirmou, seco.

— Sim, mas está sendo dilapidada rapidamente. – Draco atalhou, inclinando levemente a cabeça – É claro que o Fundo financeiro está intacto e...

— Você fez retiradas. – houve um leve tom de reprimenda na frase.

— Sim. Fiz uma retirada vultosa para Scorpius. – Draco encarou Lucius e não desviou o olhar – E ainda as farei de seis em seis meses, uma vez que o dinheiro é dele.

— Não aceitarei sem Scorpius para comprovar o destino desses valores.

— Está dizendo que estou roubando a família? – o bruxo rebateu de pronto, fazendo o mais velho hesitar pela primeira vez.

— Não disse isso. – afirmou, a voz baixa.

— Acabou de dizer. Bem... se está desconfiado de minhas ações pode auditar tudo o que fiz até agora. – Draco se levantou, ainda olhando o pai – E aceitar minha demissão imediata.

— Não seja ridículo! – Lucius também se levantou, fuzilando o filho com o olhar.

— Ridículo é você insistir em viver no passado, ainda achando que controla tudo e todos nessa família! – os olhos de Draco ficaram cinza – Ridículo é achar que pode questionar minha honestidade quando foi capaz de dormir com a minha mulher e engravidá-la!

Lucius empalideceu e perdeu um pouco da arrogância, mas não cogitou recuar.

— Sou o patriarca dessa família e sempre fiz tudo pelo nosso bem! – rebateu, a voz falhando.

— Nosso bem? – o bruxo perguntou, incrédulo – Nos envolveu por duas vezes com Voldemort, traiu e enganou a mamãe, traiu e enganou a mim, e isso sem comentar todo o resto... Isso foi para o nosso bem? – Draco respirou fundo – Tudo o que estamos passando, tudo o que eu estou passando, é por causa dos seus atos.... Pelo nosso bem? Acho que sequer imagina o que essas palavras significam.

 O bruxo mais jovem deu a volta e atravessou a sala. Lucius crispou os dedos em volta do castão da bengala, irritado e exausto.

— Não pode simplesmente virar as costas para a família. Não pode virar as costas para mim e para sua mãe depois de tudo o que fizemos por você, de tudo o que sofremos por você. – ele disse, mastigando as palavras.

Draco parou perto da porta e se virou.

— Não te devo nada, Lucius. Não depois do que foi capaz de fazer. Quanto à minha mãe, devo sim, muito a ela. Quando você e Bellatrix me jogaram para Voldemort, foi ela que me apoiou e garantiu que eu ficasse bem. Não você, nunca você.

Lucius, atingido, sacou a varinha e a apontou para o filho, que não esboçou nenhum gesto.

— Não pode falar assim comigo! Sou seu pai e patriarca dessa família! Nunca permitirei...

— Então lance logo o feitiço! – Draco reabateu, frio – Faça o que sempre faz para conseguir o que quer! Obliviate? Imperius? Vá em frente! Já tirou o mais importante da minha vida! O que mais sobrou para destruir?

Os dois feiticeiros se encararam por alguns minutos e então Lucius baixou a mão, guardando a varinha lentamente.

— Não podemos separar ainda mais nossa família, filho. – o homem envelheceu subitamente – Mal vejo sua mãe na mansão ultimamente... – sentou-se pesadamente na poltrona, encarando o tapete – Meus antigos aliados no ministério agora hesitam claramente ao me ver e dão desculpas, assim como a maioria dos parentes, nas últimas semanas.

Draco não disse nada e nem se aproximou.

— Dionísius conseguiu neutralizar minha influência e prestígio... não pude evitar os vazamentos de informações sobre nossa família... e nem controlar os danos. – Lucius continuou, baixo.

— O mundo está mudado desde Voldemort, Lucius.  – Draco comentou, baixo – Não se pode mais usar influência, prestígio, dinheiro ou o poder do medo para controlar as pessoas, como antes. Harry tornou isso impossível.

— Você se recusou a trazê-lo para o nosso lado. – o mais velho ergueu a cabeça e olhou o filho – Isso poderia ter inibido Dionísius.

Draco não respondeu e Lucius respirou fundo.

— Você pode trazer sua família de volta, não vou interferir...

— Não existe volta. – o bruxo o interrompeu, frio – Astoria e Scorpius nunca mais voltarão para perto de mim. E eu vou ter que viver com isso, por sua causa.

 - Seu caso com Potter...

— Não foi isso o que me separou do meu filho. Foi você. – Draco o interrompeu de novo, abrindo a porta.

Draco saiu e Lucius encarou a porta fechada com uma expressão perplexa. Ficou ali por algum tempo e só quando um funcionário veio perguntar por Draco é que se deu conta que o filho pedira demissão.

De volta à mansão, escreveu um bilhete curto e afirmou, com compromisso, que não interferiria mais nos negócios e que a parte de Scorpius e Astoria estavam garantidas na fortuna da família. Andou pelos cômodos desertos e foi informado, só quando perguntou, que a senhora não estava.

Cerca de meia hora depois recebeu um bilhete um pouco mal educado do conselho financeiro das empresas Malfoy. Draco comunicou o afastamento e o conselho estava furioso. Pelo resto do dia, teve que lidar com cartas indignadas e com o silêncio do filho e da esposa.


******

Teddy, Luna e Rolf eram os únicos que encaravam Harry de frente, mas o mago não se ofendeu. Sabia que fazia uma triste figura.

Olhou o filho com carinho e pediu – Seja forte.

O transmorfo engoliu seco, mas concordou com a cabeça. O feiticeiro relanceou os olhos pela sala e sorriu para os dois meninos, encolhidos atrás de Andrômeda.

— Vou fazer um remédio, mas preciso de um favor. Podem encher essa garrafa com a poção milagrosa de vocês? – ele perguntou, estendendo uma garrafa vazia para os gêmeos.

Lorcan se aproximou e pegou a garrafa, seguido de Lysander.

— Faremos a poção e vai se curar, tio Harry. – afirmou, com a confiança de crianças.

— Eu sei, por isso preciso de muita poção. – o feiticeiro afirmou, sério.

— Vamos fazer! – Lysander quase gritou, fazendo Harry sorrir.

Andrômeda se levantou. – Vou ajudar os meninos com a poção.

— Andrômeda... – Harry murmurou, cuidadoso.

— Você disse que vai fazer um remédio, vou esperar. – ela rebateu, olhando para ele com seriedade. – Não se atreva a falhar ou o enfeitiçarei...

Harry a observou sair e então, suspirou. – Estão vendo? Sem pressão nenhuma...

Soaram algumas risadas, mas logo o silêncio voltou.

— Reuni todos aqui porque achei um feitiço que pode ajudar. – ergueu uma mão ao ver a empolgação de Luna – Eu disse “pode”. A coisa é complicada e não vou mentir, pode acabar mal.

— O que temos que fazer? – Teddy perguntou, os olhos fixos no feiticeiro.

— Não há nada para vocês fazerem por agora, mas daqui a três dias, devem garantir um perímetro seguro para Luna. – Harry respondeu – O feitiço é complicado, antigo e não sei... não o classificaria como um feitiço negro, mas passa bem perto. E preciso fazer sozinho.

— Fará tudo sozinho? Mas... – a reclamação de Arkyn foi a primeira de muitas.

— Pessoal! – sem conseguir se fazer ouvir, Harry olhou para Rolf, que assoviou chamando a atenção.

Assim que eles se acalmaram, o mago respirou fundo.

— Vou dizer apenas uma vez, e não quero ouvir nada. – Harry fulminou Teddy que ameaçou reclamar – Vou iniciar o feitiço nas primeiras horas de amanhã, e depois de três dias, vocês farão um círculo mágico em torno de Luna, porque é para ela que vou voltar.

— Não entendi... – Teddy franziu a testa.

Harry se virou para a bruxa, a seu lado.

— Vou para um lugar desconhecido, e terei que sair de lá sozinho, talvez meio desorientado... e vou te seguir, irmã. Sua magia será meu norte para eu voltar.

Os olhos de Luna se encheram de lágrimas, mas ela aguentou firme.

— Vou estar no círculo, pronta, meu irmão. – a voz dela falhou.

Ele sorriu de leve e entregou três frascos com líquidos escuros.

— Tampa cinza em primeiro lugar, em segundo tampa verde e último, a tampa vermelha. – Luna marcou os frascos com os números enormes em laranja fosforescente.

Tek sorriu. – Não tem como errar agora.

Harry deixou os frascos sobre a mesa e segurou as mãos da bruxa.

— Irmã, vou chegar sem pele, coberto de sangue... cabelo empapado... espere o pior, ok? Me dê as poções na ordem e depois de três horas, pode me limpar e me deixar dormir. – os lábios de Luna tremeram, mas ela concordou – E tem um prazo zero, de duas horas depois que você entrar no círculo... – ele parou e engoliu seco, a pele dos lábios ressequida - se eu estiver demorando, pode me chamar pelo nome, por favor? É que se eu estiver perdido...

Ela balançou a cabeça vigorosamente, interrompendo-o.

— Vou gritar seu nome, irmão, tão alto que vou incomodar os mortos... Vou trazê-lo de onde estiver e guiá-lo com minha magia. – as lágrimas vieram e ela engoliu seco para se controlar – Minha magia será seu farol.

Ele sorriu, comovido e por alguns minutos não conseguiu dizer nada, então se virou para Teddy.

— Minha ligação com Luna é antiga e forte.  – ele explicou, encolhendo os ombros – A magia dela é poderosa e calma e...

— Não precisa explicar, pai. Eu entendo. – o jovem respondeu, calmo.

— Se não der certo... – ergueu uma mão para impedir os protestos – Se algo sair errado e eu não vier, preciso que meu irmão vá até minha casa e pare no limite do jardim. – Harry encarou Rolf – Não quero que entre nem que me procure, porque o que quer que esteja lá dentro não será mais eu. Quero que invoque o fogomaldito e queime tudo. – diante do olhar espantado, encolheu os ombros – Fogomaldito destrói restos de feitiços... e esse que encontrei, se não der certo, poderá ficar perigoso.

— Mas... – Arkyn murmurou, chocado.

— Não será mais Harry Potter.  – ele olhou os amigos – Estou no fim das forças e dos recursos. Não há mais poções ou feitiços para segurar o sangue em meu corpo... – ele ergueu as mãos agora ossudas – Estou definhando, mas vivo... nunca estive tão vivo e isso é... aterrorizante.

O silêncio caiu, pesado.

— Não quero definhar até morrer, gritando cheio de dores e cuspindo sangue. Quero morrer como um feiticeiro lutando pela minha vida – a voz de Harry soou decida – E tenho que fazer isso sozinho.

— E vamos ficar sem fazer nada para ajudar? – Luna falou, baixinho – Vamos ficar só esperando...

— Não há o que fazer para me ajudar, irmã. – ele respondeu, calmo – Vocês estão lutando comigo desde que isso começou, mas estou cansado e quero que termine, de um jeito ou de outro.

Harry esperou em silêncio até que todos tivessem absorvido o que estava pedindo. Andreas se levantou e encarou o amigo.

— Tudo bem, então, mas não vou me despedir. Na verdade, concordo com Andrômeda. Se falhar, azaro você. – andou até ficar atrás da cadeira de Tek – Nos vemos daqui a alguns dias.

Tek sorriu e acenou – Até, chefe.

O feiticeiro sorriu e os assistiu aparatar. Arkyn bufou, irritado e então fez um leve aceno com a cabeça, desaparecendo também.

— Quero que leve todos os livros, objetos e dinheiro para Gringotes hoje, Teddy e... – o mago suspirou – E quero que tire suas coisas, só para não perdê-las se...

Harry não continuou, Teddy se levantou de um pulo, incapaz de se dominar.

— Não! Não vou deixá-lo sozinho! Está fraco e eu posso... – parou, os olhos cheios de lágrimas – Eu posso ajudar...

— Vai me ajudar fazendo o que estou pedindo. – o mago rebateu, olhando-o – Tudo o que eu tenho, agora é seu.

— Não quero nada do que é seu, quero você, pai...

As lágrimas escorreram dos olhos do jovem, enquanto seu cabelo ia mudando lentamente de cor. Harry sorriu e se levantou com esforço, segurando nos braços do filho.

— Eu também quero estar na sua vida. Quero ver você se casando e segurar seu filho nos braços – afirmou, fazendo o jovem chorar ainda mais – E é por isso que precisamos nos afastar agora, para que possamos nos reunir no futuro, se for para ser.

— Pai, promete que...

Harry apertou os dedos em volta do braço do jovem, calando-o.

— Não vou prometer, mas posso te garantir que vou usar todo o meu poder, tudo o que sei e tudo o que sou para voltar vivo e bem. – os olhos verdes cintilaram e ele olhou de Teddy para Luna e então, para Rolf – Para voltar para minha família.

Os gêmeos voltaram e Harry respirou fundo, sentando-se de novo e conversando animadamente com eles. As forças do feiticeiro faltaram e Luna afastou os filhos.

— Estarei esperando, irmão. – ela disse e então se virou para a bruxa mais velha – Me ajuda?

Andrômeda concordou e sorriu para Harry, ajudando Luna com as crianças. Lorcan e Lysander se aproximaram e deram beijos estalados na face magra. O feiticeiro sorriu, eles nunca estranharam sua aparência.

— Não se esqueça, tio. Um copo grande de manhã e outro na hora de dormir. – Lorcan explicou, solene.

— É, colocamos mais beijos dessa vez, para ficar mais docinho. – Lysander acrescentou, com um sorriso enorme.

— Obrigado. Está me ajudando muito. – disse, olhando para a garrafa cheia de suco de frutas.

Os gêmeos estufaram o peito de orgulho e apesar do clima tenso, Harry e os outros riram. Andrômeda o olhou longamente e aparatou com um dos gêmeos, Luna encarou o feiticeiro, segurando o outro filho. Ela sorriu, os olhos brilhantes de lágrimas, antes de desaparecer.

— Não posso garantir simplesmente chegar lá e colocar fogo em tudo. – Rolf comentou calmamente.

Harry se virou para ele, franzindo a testa. O bruxo encarou-o, balançando a cabeça.

— Pode estar ferido e precisando de ajuda... eu não...

— Não vou. – Harry o interrompeu, erguendo uma mão – Se não der certo, vou terminar os pedaços, espalhado pela casa e os restos do feitiço podem ser perigosos para quem se aproximar.

— Aos... pedaços? – Teddy arregalou os olhos, pálido – Mas, pai...

— Foi o único feitiço que encontrei e sinceramente, quero tentar. Se não der, quero morrer. – o mago olhou de um para outro – Estou sendo absolutamente sincero.

Teddy e Rolf trocaram um olhar pesado.

— Não sei se terei a coragem necessária... e estou pasmo que esteja aceitando o risco... – Rolf balançou a cabeça – Gina mandou o contra feitiço... porque não o usa?

— O contra feitiço não funcionará por muito tempo e não sei... estou com sérias dúvidas sobre isso. – Harry observou Teddy e Rolf se sentarem, intrigados – Não sei explicar e não tenho nenhum prova... mas não confio nesse contra feitiço. Veio de Rodolfo Lestrange e só por isso não é confiável.

— Eles fizeram um acordo. O contra feitiço tem que ser o certo para ele cobrar o preço. – Teddy rebateu, confuso.

— Acho que entendi sua desconfiança... – Rolf começou, hesitando – O feitiço precisa parecer funcionar até a criança nascer... depois não há garantia nenhuma.

Harry concordou com a cabeça – E como ele já avisou que não funciona para sempre, ninguém vai poder reclamar.

Rolf encarou o amigo com atenção.

— O que pensa sobre tudo isso? – perguntou, suave.

O feiticeiro devolveu o olhar.

— Não sei, irmão. Fico com pena de Alvo, descontrolado e preconceituoso... Tiago e Lílian parecem estar entrando nos eixos, apesar de tudo e Gina... bem... – suspirou, cansando – Fico pasmo com as atitudes dela. E agora mais essa... ficando com o bebê ou não, nunca mais vai ser a mesma mulher.

— Ela deixou o ressentimento tomar conta... – Rolf murmurou, balançando a cabeça – Faltou alguém para incentivá-la a seguir com a vida ou apontar o perigo.

— Esse pesadelo serviu pelo menos para dar um sacode geral. – Teddy falou, recostando-se e cruzando os braços – Todos a viam como vítima indefesa e perdida...

— Gina não teve a menor chance contra Rodolfo, Teddy. – Harry interrompeu, olhando o filho – E nunca teve a malícia que a faria desconfiar de algo ou saber se safar.

— Molly deve estar arrasada. – Rolf comentou, balançando a cabeça – Não devia ter sido assim.

Harry suspirou.

— Não, não devia. Sei que magoei Gina e feri seus sentimentos, e até entendo que ela não quisesse se separar e tudo o mais, mas aconteceu alguma coisa dentro dela, um pensamento ou algo que ouviu... que mudou tudo. Ela se deixou arrastar por ideias loucas e acabou sendo usada sem piedade por Rodolfo... – o feiticeiro baixou os olhos – Ela devia ter seguido em frente.

Rolf o encarou e então se levantou.

— Vou para casa pensar um pouco e... quero dizer, temos algum tempo antes de realizar o feitiço? – perguntou, tenso.

— Não. Começarei o feitiço assim que Teddy tirar as coisas. – olhou de um para outro – Ele fica com você?

— Ok. – Rolf olhou Teddy e encolheu os ombros – Te espero.

Rolf e Harry trocaram um olhar e o primeiro balançou a cabeça.

— Não vou dizer até logo e muito menos adeus. – afirmou, antes de aparatar.

Enquanto Teddy, depois de muito argumentar, levou os itens para guardar em Gringotes, Harry se sentou e escreveu resposta para todas as cartas que recebera nos últimos dias. Respondeu a Hermione, Sirius, Arthur, Tiago, Lílian e Alvo. Tentou pensar em palavras de ânimo para dizer a Gina, mas não conseguiu. Escrever para Remus foi fácil, já que não o culpava em absoluto pelo que ocorreu.

Teddy voltou e em silêncio juntou suas coisas e guardou nos bolsos. De volta à sala, ficou parado, tentando não chorar.

— Sabe... quando eu pegava você no colo, eu sempre pensava que podia ser meu. – Harry disse, baixo – Eu fingia que era seu pai também, mas não dizia nada a Andrômeda. Quando Sirius reapareceu, junto com Lupin, fiquei com ciúmes dele e com medo de você me deixar.

— Você é muito, muito importante para mim, pai. – o jovem finalmente desistiu de tentar ser forte e Harry, com dificuldade, se levantou e o abraçou.

— Também te amo muito, filho e não posso pensar em me afastar de você... – afastou-o e segurou seu rosto – Você entende que preciso fazer isso, não é?

— Entendo. – ele concordou, soluçando.

— Seja forte e fique firme. Se eu precisar de força, vou canalizar a sua. – o feiticeiro orientou, calmo.

— Onde devo... o que eu faço? – Teddy perguntou, angustiado.

— Se eu precisar e canalizar você se sentirá fraco e indisposto. – Harry o abraçou – Fique perto de Rolf e Luna. E cuide da segurança dela para mim.

— Eu te amo, pai. – Teddy murmurou, apertando o mago nos braços.

Antes que Harry dissesse mais alguma coisa Teddy saiu sem olhar para trás. Depois de alguns minutos o feiticeiro despachou as cartas e fechou a casa usando magia.

— Agora é comigo.


****

Carlinhos, alertado por um bilhete, observou a carruagem descer suavemente e ajudou Harry a desembarcar, espantado com o estado do outro. O mago estava magérrimo, o cabelo desgrenhado e com sulcos escuros na face encovada. Se a aparência não fosse o suficiente para assustar qualquer um, o cheiro horrível de sangue que emanava o faria.

— Desculpe por isso... – Harry pediu quase num sopro, consciente da figura horrível e nauseabunda que apresentou.

O bruxo balançou a cabeça, compreensivo, e fez questão de ajudar o ex cunhado a se aproximar da curva antes das cavernas.

— Não entendi direito o que vai fazer, e confesso que foi dificílimo conseguir acesso, mas tudo bem, se existe uma chance... – comentou, baixo.

— A única e última. – Harry afirmou, a voz rouca quase inaudível.

Carlinhos praticamente o carregou até a última das cavernas e respirou fundo.

— Bom... ele está aí, com todos os feitiços que conhecemos para nocauteá-lo, mas cuidado, ele não pode se mexer, mas está acordado.

Harry concordou com a cabeça e, apoiando-se à parede pesadamente, entrou a passos cambaleantes. O dragão estava deitado e usava uma grossa coleira encantada. O mago suspirou.

— O rabo córneo húngaro... – murmurou, pálido.

O dragão abriu os olhos e fungou, sentindo o cheiro do feiticeiro. Harry se aproximou mais, mas caiu de fraqueza.

— Desculpe pelo cheiro... não posso fazer nada... – murmurou, vendo a cabeça enorme bem à sua frente – Vim em busca de ajuda... com certeza se lembra de mim, não é?

Um bafo quente o jogou rolando contra a parede e, apesar de lutar para se levantar, não conseguiu. Sentiu o calor antes de ver a chama e se encolheu, fechando os olhos.

Franzindo a testa por não ser assado, o mago abriu os olhos e deu com uma enorme mancha branca à sua frente. Não havia espaço e o dragão, encolhido, lançava fogo e derrubava algumas pedras do teto. Harry se agarrou às escamas e foi levado para trás, para fora da caverna, mas não conseguiu se segurar muito e caiu, rolando. Zonzo e enjoado, se ergueu com dificuldade e encarou a mancha branca, que agora percebeu ser o barriga-de-ferro ucraniano que tirou de Gringotes. O dragão balançava a cabeça e farejava o ar, movimentando as imensas asas.  Quando localizou o bruxo, baixou a cabeça e chegou tão perto que Harry, num impulso, acariciou seu focinho.

— Olá... – disse, ofegante.

O dragão não se afastou. O mago olhou para a entrada semi destruída da caverna e chegou a erguer a mão, mas baixou-a.

— Não tenho mais energia... – murmurou e voltou-se para seu antigo amigo – Pode me ajudar?

Carlinhos abriu a boca, incrédulo, quando viu Harry sobre o dragão albino cego. O barriga-de-ferro era extremamente hostil e arisco, principalmente com humanos e só ficou solto pelo fato de viver afastado de qualquer pessoa. Ele nunca se aproximava e os cuidadores só tinham certeza de que ainda estava no santuário porque a carne deixada para alimento nunca se acumulava perto do ninho no alto das pedras.

Pasmo, o bruxo respirou fundo e segurou o pescoço, exausto.

— Por Merlim... seja lá o que está fazendo... espero que dê certo. – murmurou, olhando para a sombra já longe.


******

Harry escorregou do dorso do dragão, mas não conseguiu segurar o peso do corpo e caiu pesadamente. Levou bons minutos para se recuperar e ergueu a cabeça ao ouvir asas. Bicuço pousou do outro lado do jardim, e por segundos, o feiticeiro temeu que as duas criaturas se enfrentassem. O dragão farejou o ar, então se encolheu e deitou a cabeça, os olhos cegos diretamente voltados para Harry. Bicuço também se acalmou e Harry se ergueu com dificuldade e se curvou, ofegante.

— Desculpe pelo cheiro, amigo... – murmurou, enjoado.

O mago vomitou e teria caído se Bicuço não se postasse a seu lado, oferecendo apoio. Sem qualquer tipo de vergonha ou pudor, Harry se abraçou ao pescoço do hipogrifo, drenado. Tirou um frasco do bolso e engoliu a poção de uma vez, fazendo careta.

— Tenho cinco minutos de efeito da poção. Melhor começar, não é? – perguntou, dando dois passos para trás.

Invocando sua magia, o feiticeiro desenhou círculos e formas de fogo na terra. A abóbada protetora da casa brilhou com luz azul clarinha. As duas criaturas foram envolvidas por luz prateada e o dragão se mexeu um pouco, mas acalmou-se. Bicuço bateu as patas no chão, mas ficou parado.

Harry olhou para cima e respirou fundo.

— Melhor ser tão poderoso quanto dizem que é, Harry Potter. – murmurou, entrando no círculo.


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