POV ANNABETH

Alguns dias depois da festa, cá estou eu, em plena aula de física pensando em como eu queria estar morta nesse momento. Percy estava babando na carteira do meu lado e do outro Thalia escutava música com fones-de-ouvido escondidos em baixo do cabelo. Eu, que sou a única salvação desse grupo, peguei o esquema da matéria, já tinha resolvido os exercícios e tinha que continuar a escutar o que a professora estava falando simplesmente porque ainda faltava meia hora para a aula acabar.

Analisando a sala, vi Rachel um pouco à frente lixando as unhas e mascando chiclete. Mais cedo tinha ouvido umas garotas a chamarem de vadia por suas roupas, o que me fez torcer a cara na hora.  Ela estava usando um short curto de cintura alta e uma blusa decotada.

Tudo bem que eu não vou com a cara dela e admito que anteriormente já a chamei de coisas parecidas, o fato é que agora que eu já estou crescidinha e sei que ela pode usar a porra de roupa que ela quiser e dar para quem ela quiser que ninguém tem nada a ver com isso. Sou feminista mesmo e tenho que admitir que a bicha é gostosa e o que é bonito é para se mostrar.

Viajei pensando sobre isso até que o sinal para o almoço finalmente tocou. Me levantei e dei um chute na cadeira do Percy para que ele acordasse e eu, ele e Lia fomos juntos até o refeitório.

Desde a noite que Percy e eu transamos nós não voltamos a ficar, mas se dissesse que a nossa relação não mudou estaria mentindo. Nós passamos bastante tempo juntos, hora conversando, hora assistindo algo, hora estudando algum assunto em que ele dormiu na aula. Descobri que ele é bem lerdinho, de um jeito fofo, e muito – muito- apegado com seus amigos e sua família, o que eu também acho fofo porque aparentemente eu estou me apegando a ele.

Thalia diz que eu estou a abandonando, mas eu não dou moral porque ela está sempre com o Nico ou no nosso dormitório, empenhada em atrapalhar meus estudos. Pensando em Nico, fiquei sabendo que ele pegou aquele Deus grego que me deixou molhada sábado passado, mundo pequeno esse. Desde aquele dia Luke e Nico não estão se falando direito, já que Nico acredita que o Luke vomitou em frente dele beijando outro cara porque ficou com nojo, e o babaca do Luke não se esforçou em negar e disse que Nico está agindo feito uma menininha, ou seja, só piorou as coisas.

Todos almoçamos juntos e depois cada um foi para um lado fazer algo, ficando apenas eu, Clarisse e Percy na mesa em silêncio.

— Comi que nem uma vaca – Clarisse disse do nada, me fazendo rir feito uma hiena e concordar, eu e ela comemos a nossa batata frita e ainda roubamos a dos nossos coleguinhas. Comer é o nosso talento.

— O que vocês vão fazer agora? – Os perguntei

— Tenho handebol hoje – Clarisse disse e eu assenti. Sempre esqueço que ela faz handebol – E estou atrasada, falando nisso – ela emendou e foi indo, não sem antes roubar algumas batatas que ainda estavam no prato do Percy.

— Tenho natação hoje – Ele disse e me olhou.

— Natação? Desde quando você nada?

— Desde sempre – ele disse e riu – desde a segunda semana de aula eu venho fazendo natação Annie e eu já te disse isso vinte vezes – Dei de ombros, realmente não costumo a prestar atenção nessas coisas.

— Nunca aprendi a nadar – Comentei casualmente e Percy me encarou imediatamente.

— Até que enfim uma coisa que a sabe-tudo não sabe fazer! – O encarei mortalmente. Ultimamente ele vem me chamando disso, para me provocar, claro.

— Para de me chamar disso! – Ele riu ainda mais

— Sabe-tudo, enciclopédia ambulante, sabidinha – Ele parou e eu pensei que os nominhos teriam acabado, quando – Decidido, sabidinha é seu apelido. E não faz essa cara que da última vez que eu te chamei disso eu até ganhei um beijo – Revirei os olhos e senti meu rosto corando, ia começar uma discussão se ele não tivesse continuado a falar – Vamos comigo hoje.

— Nem pensar! Eu não entro naquela piscina nem que me paguem

— Você pode só ficar nas arquibancadas, ver como é, se te interessa...

— Não me interessa, não.

— Deixa de ser chata, vamos – Ficamos nisso até que eu desisti e decidi ir, não ia fazer nada de bom mesmo.

Chegando lá, Percy foi para o vestiário e eu fiquei sentada na arquibancada observando o movimento. Só de passar o olho pelo local já percebi que aquilo seria bom demais para a vista. Como não pensei nisso antes? É o local perfeito para analisar os novatos seminus e molhados, pode ter certeza que eu vou aproveitar cada segundo dessa visão.

O treino levou cerca de 40 minutos e, quando acabou, Percy veio andando em minha direção. E, caralho, queria ter uma câmera ali para eu ter aquela imagem guardada, se seco e vestido a visão já é boa, molhado e de sunga então... Tenho admitir que babei nos cabelos molhados, em seus músculos - que não são exagerados mas deixam ele uma perdição - e, é claro, no mais importante, o pacote – se é que me entendem.

— Eaí sabidinha, convencida a aprender a nadar? – Ele me perguntou sentando do meu lado e espirrando água do seu cabelo em mim. O empurrei para o lado, rindo.

— Não diria a aprender a nadar, mas a vir para cá te ver nadar mais vezes com certeza – ele me olhou, curioso – Assim eu aproveito para apreciar a vista – completei e apontei para algum dos meninos ainda conversando na beira da piscina.

— Hm, e a senhorita não se interessa nesse humilde nadador que se encontra do seu lado? – O olhei de cima a baixo descaradamente e intencionalmente, quase secando seu corpo molhado.

— Desse eu já vi tudo o que tinha que ver – Percy sorriu e se aproximou e sussurrou em meu ouvido.

— Que pena, por que eu não fiz tudo o que queria com a senhorita – direcionou seus olhos para os meus lábios e foi aproximando seu rosto do meu. Abri meus lábios sutilmente esperando um beijo quando ele se afastou subitamente e se levantou – Vou tomar banho, aprecie a vista.

Escancarei a boca. O filho da puta me paga!

POV THALIA

Estava bem de boa fazendo um trabalho de literatura na biblioteca – em parte copiando o da Annie que já estava pronto – quando uma cadeira é puxada do meu lado, olho para cima e encontro Luke.

— Eaí Lia

— O que você quer? – Fui grossa e direta porque não estava com paciência para aturar essa criatura no momento. Ele sentou-se na cadeira e apoiou o braço na minha.

— Só quero te fazer companhia, oras – o encarei com uma sobrancelha erguida – E, é claro, te pedir ajuda para conseguir fazer com que o Nico pare de drama, a gente fica no mesmo dormitório e já está enchendo o saco ele agindo como uma mulherzinha.

— Claro, você simplesmente quer que ele te desculpe porque você não aguenta ele te ignorando e não porque ele é seu amigo e você não quer perder sua amizade – Comecei a guardar, ou melhor, jogar minhas coisas dentro da mochila – E da próxima vez que você pensar em usar o termo mulher para diminuir alguém na minha frente esteja ciente que eu vou ter o maior prazer de cortar fora essa minhoca que você chama de pinto. – Sou esquentadinha mesmo.

Sai dali antes que ele pudesse responder, irritada com o fato de ainda existir, em pleno século 21, otários como Luke. Quando ele perder na vida por “mulherzinhas” que são melhores que ele eu vou ser a primeira a rir na cara dele.

— Thalia, gatinha, não é assim – Ele veio atrás de mim e disse isso puxando meu braço – Se você me ajudar, eu te retribuo depois

— É? Retribui como gatinho? – Entrei no joguinho dele e me aproximei, ele sorriu maliciosamente e me puxou para mais perto ainda, percebi que ele tinha a intenção de me beijar e meti a mão na cara dele o empurrando para trás – Se enxerga, garoto. Eu não cometo zoofilia, ainda mais com mula. 

Fui para o meu quarto – dessa vez Luke não se atreveu a vir atrás de mim - e Annabeth não estava lá, provavelmente estava com Percy. Esses dois já se tornaram o passatempo preferido da Silena, que já está pensando até em como os filhos deles seriam, pouco exagerada ela. Eu sou indiferente quanto ao que os dois vão se tornar, semana passada quando eles transaram na minha cama – Annabeth não sabe mentir – eu ganhei algumas barras de chocolate dos dois como desculpa então para mim, que continuem assim.

Me joguei na cama ao mesmo tempo que Annie entrava no quarto com um bico de emburrada, eu, como uma amiga maravilhosa, ri da cara dela quando ela me contou o motivo e a contei sobre como o Luke ultrapassou a linha da imbecilidade hoje e como eu reagi. Ela morreu de rir, dizendo que eu merecia o Oscar de girl power.

E pensando bem, até que eu mereço mesmo, viu.