Pokémon RainStorm escrita por Zark


Capítulo 40
Side Story – Judge: Ódio


Notas iniciais do capítulo

Feliz aniversário RainStorm! Isso mesmo hoje a fic está completando 3 anos de existência. Algo que de certa forma me trás uma vergonha, já que a fic lançou apenas 2 capítulos(3 se contar o resumo) neste ano. Sim, mesmo tendo um capítulo grande, foi muito pouco e não há desculpas para isto.
Falando em demoras, sei que tem mais de 2 meses sem capítulo, isto é porque algo aconteceu na minha família e eu preferir tirar janeiro de “férias” para que as coisas melhorassem. No fim, as férias se prolongaram para fevereiro, isto por culpa minha mesmo. Peço desculpas. Mas mesmo não lançado os capítulos neste tempo e escrevendo muito pouco, eu não fiquei parado e tive diversas ideias, sejam para história da fic ou coisas extras. Sobre elas tem novidades para este próximo ano de RainStorm.

A primeira novidade como já devem ter notado(ou não rsrs), foi a mudança do meu nome de usuário. Resolvi mudá-lo, pois estava querendo algo mais autoral e também um nome que servisse para qualquer tipo de história, seja fanfics ou até mesmo originais. Além disso, quero trazer novos ares, para que a fic caminhe melhor neste ano e lance diversos capítulos. No fim escolhi o nome Zark, pois lembra o Dark Zoroark. Inclusive, podem me chamar como quiserem, seja pelo novo nome ou o antigo.

A segunda coisa é a nova capa da fanfic, cheio de personagens antigos e novos, feita especialmente para o próximo arco da fic que se chamará Casamento Infernal. Ele ainda vai demora um pouquinho para começar já que os próximos serão capítulos de transição, mas falaremos disto mais para frente. Para ver a nova capa em melhor qualidade acesse: https://bit.ly/2TDz2Cj

A terceira novidade é o lançamento de um blog exclusivo para RainStorm, para acessá-lo é só entrar no link: https://pokemon-rainstorm.blogspot.com/
Nele os capítulos antigos serão postados depois de revisados e possuíram diversas imagens para deixar a experiência o melhor possível, então se alguém se interessar em reler a fic, lá será um lugar interessante. Claro que sempre que algo ser revisado e sair lá, atualizarei os capítulos por aqui.
No site também postarei os capítulos novos, quando todos os antigos estiverem revisados e postados, mas não se preocupem que novos capítulos continuarão sendo lançados por aqui.
Outra coisa que quero com o blog, é ter uma forma de comunicação melhor que o Nyah, já que lá posso fazer diversos postagens, isto inclui postagens especiais com informações da fic, seja biografia de personagens, lore sobre o mundo, etc. No geral, pretendo postar uma vez por semana no site, todo domingo, começando no próximo que explicará melhor como o blog funcionará.
No momento, o blog não tem nenhuma postagem e está em uma fase meio que de testes, então qualquer sugestão é só comentar.

Agora vamos falar do capítulo de hoje! Bem, devo dizer que é um capítulo estranho para ser postado no aniversario da fic, mas ao mesmo tempo ele é tão diferente dos outros que é especial.
Primeiramente, como já devem ter percebido pelo titulo ele será uma Side Story do Judge, o vilão do ultimo arco que morreu, e por isso só já torna o capítulo diferente. Por ser, o primeiro capítulo póstumo sobre um vilão tão odiado e ao mesmo tempo ele é narrado em primeira pessoa. Isto mesmo, eu quis fazer algo diferente e tentei sair da minha zona de conforto e escrever um capítulo inteiramente narrado em primeira pessoa, espero que gostem!

Sobre o capítulo, apesar de não ser estritamente necessário para o entendimento da fic, recomendo fortemente que leiam, assim como recomendo todo a Side Story, pois esta além de explicar e organizar muitas coisas que foram ditas nos últimos capítulos, também trás revelações e informações que serão importantes para o futuro.
Outra coisa importante a se começar, é que desde o ultimo capítulo eu mudei as datas de 2000 para 3000, resolvi fazer isto, pois na história de Pokémon temos um grande acontecimento que ocorreu a 3000 anos e dessa forma faria sentido que o calendário começasse a contar a partir deste momento. Isto terá uma certa relevância na história e por isso resolvi mudar aumentando 1000 anos em todas as datas antigas. Peço que não se apeguem ao número 3000 e o imaginem no futuro longínquo, afinal o nosso mundo e o mundo de Pokémon são diferentes, então sua tecnologias e sua evolução também são diferentes.

Por fim, quero agradecer a todos que continuam acompanhando, lendo e comentando a fic, sem abandoná-lo, por estes 3 últimos anos. Espero que os próximos 3 sejam melhores e quem sabe, eu consiga terminar a fic neles rsrsrs.
Sem mais delongas, vamos ao capítulo! Tenham uma boa leitura!



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O que enxergamos? O que podemos ver? Somos protagonistas de apenas nossas histórias. Não conseguimos ver além. É impossível sentir e viver a histórias dos outros. Se conseguimos seriamos algo próximos de uma divindade…Talvez alguns sejam, mas o que contarei desta vez será uma outra coisa. Na realidade, hoje, eu não serei o narrador, afinal quem melhor para contar sua história do que seu próprio personagem principal?

 

Cidade de Lumiose, 14 de novembro de 3016.

Me disseram que quando seu coração está prestes a parar para sempre, vemos toda a nossa vida percorrer pelos nossos olhos. Mas tudo passava de uma mentira, afinal como alguém poderia confirmar isto? Talvez eu esteja equivocado e meu caso tenha sido diferente. Talvez eu não merecesse reviver minhas melhoras lembranças, ou talvez não precisava das piores. De qualquer forma, não preciso me lembrar que irei para o inferno, mas, ao mesmo tempo, gostaria de me lembrar de tudo pelo menos uma última vez, antes que os sons destes tiros se acabem.

56 Anos Atrás

 

Cidade de Camphrier, 2960.

Eu nasci em 2960 na cidade de Camphrier. Não me lembro bem dos primeiros anos da minha vida, por isso creio que tenham sido felizes. Apesar de a minha família não ser rica, nunca tivemos problemas com dinheiro. Pelo menos, isto até o meu pai nos largar. Deixando apenas minha mãe para tomar contar de mim. Infelizmente também me lembro pouco dela, mas tenho certeza que era uma boa pessoa, afinal ela sempre sorria, mesmo em momentos tristes, exceto por uma única vez.

 

Cidade de Camphrier, 2968.

Eu tinha acabado de fazer 8 anos, quando aquele homem de roupas extravagantes no visitou. Minha mãe não queria que eu ouvisse a conversa e por isso me mandou para o quarto, mas a curiosidade de uma criança não pode ser evitada. Me escondi dentro de um armário e ouvi a conversa toda. O homem disse que era um nobre mensageiro da família Rogue, ele vistava com a intenção de cobrar dinheiro da minha mãe pelo meu pai ter roubado algo de valor deles. E como meu pai tinha ido embora, ou melhor, fugido, sobrou para a minha querida mãe resolver os seus problemas.

— Infelizmente não posso pagar no momento. – disse a minha mãe.

— Já faz dois anos desde o crime de seu marido, a paciência da família Rogue está se esgotando. – ameaçou o homem.

— Por favor espere mais um pouco! Vou juntar o dinheiro. – suplicou minha mãe.

— Não há mais tempo a perder. Tudo que podemos deixar é mais uma semana.

— Mas esse tempo é pouco.

— Ou você junta ou dinheiro ou terá que pagar de outra forma.

Não entendi o que ele quis dizer no momento, mas eu pude ouvir passos, ele estava se movendo e provavelmente segurou algo. Quis olhar para confirmar, mas se abrisse o armário me veriam.

— Eu juntarei o dinheiro, então por favor deixe o meu menino em paz.

Tomei um susto, ela poderia estar se referindo a mim, mas por quê?

Foi então que ouvi o som de algo ser colocado na mesa e, por fim, passos até a porta.

— Atrasos não serão mais permitidos. – alertou o homem ao partir.

Assim que tive certeza que ninguém mais estava na sala, sai do armário e fui até a mesa aonde tinha ouvido o som. Nela não havia muitas coisas, apenas um monte de retratos. Talvez o homem tivesse olhado para algum, mas aquilo não me importava mais. Afinal como ainda era bem novo, não entendi aquela conversa e não me preocupei com o que poderia acontecer no fim do prazo. Tinha certeza que se fosse algo importante, minha mãe resolveria, assim como resolvia meus tolos problemas infantis.

Uma semana se passou. Estava voltando da escola. Quando cheguei em casa, encontrei minha mãe bem assustada, era a primeira vez que a via assim. Ela estava arrumando as malas, quando perguntei o motivo, me respondeu que nos iriamos embora de Camphrier, como uma criança burra e mimada questionei minha mãe, afinal não queria ir embora e deixar meus amigos para trás, “amigos” que nem me lembro mais.

Enquanto discutia com ela, a campainha tocou. Em meio a desespero minha mãe ordenou que eu me escondesse. O seu tom de voz estava tão rouco e assustado, que acabei obedecendo sem questionar, me escondendo em baixo da minha cama.

Foi quando minha mãe saiu do quarto e foi atender a campainha. A próxima coisa que me lembro é de ver um homem alto me encontrando e me pegando, enquanto minha mãe chorava e era segurada por dois outros homens, todos eles usando roupas extravagantes com o mesmo símbolo de um escudo vermelho.

A última coisa que me lembro deste dia, é de tentar resistir enquanto estava sendo levado pelo homem, e ao mesmo tempo, ver os berros e gritos de minha mãe ao tentar se libertar para me salvar

— Por favor! Não levem meu menino! Meu precioso Judge!

Apesar das suplicas de minha mãe, aquela foi a última vez que a vi.

 

Orfanato Aujour, 2970.

Após ser levado pelo nobre da família Rogue, fui colocado em uma espécie de orfanato. Que na verdade era apenas uma fachada para as reais intenções daquele lugar. As crianças lá eram forçadas a passar por diversas provas, seja físicas ou mentais. Podiam ser corridas com obstáculos, testes de resistência, provas de lógica e conhecimentos, além de pressões psicológicas constantes. Se fossemos bem nos testes conseguíamos recompensas seja brinquedos, roupas ou até mesmo comidas melhores. E se fossemos maus podíamos sofrer castigos, como falta de alimentação, ou até mesmos danos físicos.

Cada criança era marcada entre seu torso e pescoço com uma tinta especial para nunca sair. A marca era feita para identificação de cada indivíduo, assim como ratatas de testes em laboratórios, e era justamente isto que eramos. Além das provas, passamos por testes onde nosso sangue era retirado e líquidos injetados nos nossos corpos. As vezes não sentíamos nada, outras vezes sentíamos nossos corpos queimando como se tivessem mergulhados em um vulcão. Muitos outros testes eram feitos, afinal eramos apenas cobaias, e eles nos forçaram a acreditar nisto, proibindo-nos de dizer nossos próprios nomes.

Foi então que parei de ser chamado por Judge e me tornei a cobaia D356, código o qual a minha marca no peito combinava.

 

Orfanato Aujour, 2974.

Alguns anos tinham se passado desde que havia chegado no orfanato Aujour. Neste ponto, muitas crianças desapareciam e quanto mais velho eu ficava menos delas haviam. Talvez muitas não aguentaram tudo aquilo e desistiram de lutar para viver. Eu quase desisti também, mas naqueles anos conheci uma menina que me apoiou e se tornou minha amiga. Até hoje não sei o nome dela, mas o código D025 a qual ela era chamada está cravado no fundo da minha mente. Ela era uma garota amigável e sempre olhava para o lado bom das coisas. Quando eu ficava triste e com vontade de desistir, era ela quem me trazia de volta e aquecia meu coração. Talvez eu tenha me apaixonado por ela e nunca percebido, mas sua companhia sempre me deixava alegre. Se algo de bom aconteceu comigo naquele lugar infernal, foi ter conhecido a D025.

Infelizmente minha amizade com ela durou pouco. Logo após eu fazer 14 anos, a D025 seria levada do orfanato para fazer testes mais avançados. Assim descobrir isto, não poderia deixar a minha única razão para viver ir embora.

— Eu prometo que não vou deixar que te levam. – Eu realmente acreditei que poderia.

— Obrigada, mas você sabe que não pode. – D025 me trouxe de volte a realidade. – Apesar de tudo, estes anos que passamos juntos foram divertidos. Eu gostaria de ter te conhecido antes. Gostaria de ver a luz do sol ao seu lado.

— Nós podemos. Vamos fugir. – Me iludi.

— Você sabe que isto é impossível. Mas obrigada por se importar comigo. – sorriu D025. – Assim que eu for embora, não desista, continue lutando e vivendo. Este é único desejo.

O sorriso dela era lindo e caloroso, mas, ao mesmo tempo, carregava tristeza e preocupação.

Quando vieram pegar a D025, eu não me contive e me opôs, tentei segurar a mão dela e fugir, mas nada adiantou e fui facilmente nocauteado.

Da próxima vez que acordei, aquela alegra garota não estava lá. Mais uma vez, eu estava sozinho. Quando me dei conta, estava preso no fundo de um caminhão em movimento. Me levariam para outro lugar, e eu sabia que se não fugisse seria o meu fim. Tentei abrir a porta do fundo com meu corpo, mas não tinha força suficiente. Tudo parecia acabado, mas foi então que o último desejo de D025 se realizou. Como estava chovendo muito, o caminhão derrapou e saiu da pista acertando em uma árvore. Por sorte sobrevivi com a batida, a porta havia se aberto e pude fugir. Mas como estava cansado e machucado não consegui e longe e desmaiei no meio da floresta.

Assim que acordei estava deitado em uma cama, dentro de uma casa de madeira.

— Vejo que finalmente acordou. – Uma senhora idosa se aproximou de mim. Ao lado dela um casal de Absols a seguiam. – Fiquei preocupada quando estes dois te trouxeram, você estava fervendo.

Estava desconfiado e não respondi.

— Você deve ter passado por muitas coisas, mas agora não precisa se preocupar. – sorriu ela, só para mostrar mais de suas rugas. – Eu me chamo Agnes, qual seu nome, meu pequeno garoto?

— D3… – Tinha me acostumado com o orfanato, e talvez, só continuasse por muito mais tempo, teria esquecido meu próprio nome. – Eu me chamo Judge.

— Caro Judge, se quiser ir embora não te impedirei, mas se quiser, pode ficar o tempo que quiser, afinal sempre quis ter netos.

Apesar que não devia confiar em estranhos, estava desesperado por afeto e no sorriso de Agnes consegui sentir isto novamente.

 

Caminho Mélancolie (Rota 16), 2978.

Passei os quatro anos seguintes vivendo com Agnes em sua casa. Nos morávamos no meio da rota 16, dentro da floresta. Ela amava a natureza e os pokémons, por isso resolveu viver naquele lugar. Achava a vida um milagre e mistério, afinal eram diversas espécies tão diferentes que existiam naquele mundo. Apesar de parecer mais uma avó a senhora Agnes foi como uma segunda mãe para mim. Me ensinou diversas coisas, principalmente sobre as coisas que ela mais amava, desta forma a mesma curiosidade e paixão pela natureza se transferiu para mim e algo surgiu. Uma vontade de descobrir mais sobre a vida que percorria naquele mundo feio, mas, ao mesmo tempo, lindo.

É até engraçado me lembrar disso, pois depois de tanto tempo, esqueci de meus sonhos e desejos, esqueci de quem eu era.

Quando fiz 18 anos, a senhora Agnes veio a falecer, a idade já atingiam há tempos. Havia tempo que não me sentia triste daquele jeito, depois de anos, finalmente, tinha encontrado conforto ao abraçar outro ser humano, mas naquele momento, este conforto tinha ido embora.

Apesar da tristeza, ainda tinha um sonho e se não fosse atrás dele, ela nunca me perdoaria lá do céu. Assim que a dor da perda enfraqueceu, resolvi ir para Lumiose para estudar Biologia, arranjar um emprego e começar uma nova vida. Levei comigo o casal de Absols da senhora Agnes, afinal, assim como eu eles tinham sofrido uma perda, e com eles ao meu lado, a dor era menor.

Meus primeiros meses em Lumiose foram complicados, conseguir arranjar um emprego e passar em alguma universidade me parecia impossível, afinal, depois de todo este tempo, ficar sozinho era estranho. Claro que eu boa parte da minha vida tive esta sensação, mas não era inteiramente verdade, até mesmo no orfanato Aujour, eu tinha alguém, e mesmo que sofresse muito lá, não me precisa se preocupar com comida e dinheiro. Já em Lumiose, tudo era mais complicado, tinha que trabalhar e estudar ao mesmo tempo, e a única companhia que tinha era dois pokémons arrogantes, mas apesar de tudo, eram uma boa companhia.

 

Cidade de Lumiose, 2980.

Após dois anos em Lumiose, finalmente, consegui entrar em uma das suas universidades de maior prestígio. Acho que posso dizer que aqueles anos como universitário foram ótimos para mim, como se a chama da esperança de ser feliz tivesse sido acessa novamente. E tudo isso foi por causa de uma única mulher.

Lá estava ela, sentada embaixo de uma pequena árvore para proteger sua linda e macia pele do sol. Ela era a mulher mais bonita e incrível que já encontrara na minha vida. Possuía um belo corpo que daria inveja até a modelo mais famosa do mundo, seus olhos era verdes que nem duas grandes esmeraldas, mas o que me chamava mais atenção em sua aparência, era seu longo cabelo da cor do fogo mais ardente e vívido que pudesse se encontrar.

Estava indo me matricular na universidade, mas ao vê-la entrei em transe por causa de sua beleza.

— Se continuar olhando, vou ter que cobrar. – brincou ela ao dar um belo sorriso.

— Me desculpe! – Me senti envergonhado e quase que gritei com o susto.

Ela riu com minha reação, mas aquilo não me deixou chateado, pois ao ver aquela risada, senti apenas um suava e confortável calor no meu peito. Ao ver pela minha timidez, ela levantou-se.

— Meu nome é Carolina, como se chama? – Foi neste momento que uma brisa passou por aquele local, me afirmando, outra vez, como ela era lindo. Seus lindos fios de cabelos mexiam-se que nem uma fogueira que esquentava e hipnotizava todos ao redor.

Carolina estudava na mesma universidade que a minha, mas diferente de mim, cursava o curso de Arqueologia. Ela sempre teve uma paixão pelo antigo e desconhecido, queria saber mais sobre o passado e como eram os pokémons daquela época. Sonhava em procurar fosseis pelo mundo e trazer estes antigos Pokémons de volta a natureza para que o antigo e o novo coexistissem.

Ela era uma grande mulher com grandes sonhos, muito esperta e gentil, se alguém tivesse me contado sobre ela antes, diria que era mentira, pois uma pessoa tão perfeita não podia existir naquele mundo.

Nos meus anos de universidade, conheci outra pessoa que tenho o desprazer de lembrar, mas se não o mencionasse um grande buraco se formaria em minhas lembranças. O nome dele era Heathcliff, diferente de mim e da Carolina ele não era universitário, apesar de possuir uma idade bem próxima da nossa. Ele era um sujeito excêntrico, queria ser um empresário e sempre tinha planos que não acabavam em nada para promover a sua empresa de uma pessoa só. Não era das melhores pessoas e tinham um pessimismo com a vida, causados pelas repetidas falhas de seus falhos “planos infalíveis” que pareciam mais terem saído de uma revista em quadrinhos. Apesar de tudo, ele era um grande amigo, provavelmente, o melhor que já tive, e agora, percebo como isto pode dizer muito da minha vida.

De qualquer forma, a presença dele me agradava, e mesmo de seu jeito mórbido, ele me apoiava, além disso, diferente da maioria dos homens não tinha inveja de mim por andar muito tempo com a Carolina, na verdade, ele me apoiava para que pudesse sair com ela. Sinceramente, achava que a beleza dela hipnotizaria qualquer, e não entendia o fato de Heathcliff não olhar para ela, quando me dei conta, descobrir que ele tinha uma tara por mulheres tábuas.

— Quando maiores os peitos, mas longe o coração fica. – Sempre comentava ele com orgulho nos olhos.

 

Cidade de Lumiose, 2985.

Os anos foram se passando, e quanto mais tempo se passava, mas me apaixonava pela Carolina. Seja pela sua bondade, seu modo de ser, sua beleza, tudo nela, até mesmos seus erros, me pareciam perfeito e me faziam amar ela cada vez mais, até que tomei coragem e pedi ela em casamento.

Muito diriam que eu fui precipitado e, de certa forma, eu fui. Para muitos, o normal seria pedi-la em namoro. Mas eu não tinha dúvidas, que ela seria a mulher mais perfeita que eu poderia encontrar. E para minha surpresa ela aceitou meu convite com lágrimas de alegria em seu rosto enquanto dizia:

— Por que demorou tanto, Judge idiota?

Não demorou muito para o casamento acontecer, afinal, não foi uma grande festa, nem nada como o sonho de muitos, pois ambos não possuíam família ou muitos amigos, mas isto não importava. Estando um do ladro do outro, era mais do que suficiente para nós dois.

 

Cidade de Lumiose, 2988.

Casados e formados, começamos a morar juntos e dois anos depois, nossa pequena família cresceu. Quando conheci a Carolina, nunca achei que amaria tanto uma pessoa como amava ela, até conhecer a Aliana, nossa filha.

Para sorte dela, sua aparência era quase que uma versão em miniatura de sua mãe, tendo seus cabelos flamejantes com a mesma ou maior intensidade que ela. A única coisa que a diferenciava da Carolina, era seus olhos negros que pareciam com os meus.

Os primeiros anos, após seu nascimento, foram complicados, ter que cuidar da Aliana e trabalhar ao mesmo tempo parecia impossível, mas mesmo sendo apenas um bebé que chorava o tempo todo, Aliana tinha se tornado nosso tesouro.

 

Cidade de Lumiose, 2992.

Desde que conheci a Agnes, minha vida estava indo bem. Posso afirmar, com certeza, que foram os melhores 18 anos da minha vida, principalmente os 4 anos que passei junto da Carolina e da Aliana, mas infelizmente, minha história não terminou por ai.

Já estava com 32 anos, quando meu velho amigo Heathcliff bateu em minha porta.

— Judge, me desculpe, mas desta vez, preciso mesmo de ajuda. – implorou ele.

— Você veio pedir dinheiro de novo, não foi? – questionei devido a suas últimas visitas.

— Infelizmente, não será tão fácil dessa vez. – respondeu ele preocupado. – Eu fiz uma aposta com um nobre subordinado da família real Jaune, um cientista considerado maluco chamado Dist. E como deve imaginar perdi a aposta.

— A família real? Você ficou louco? – Já tinha questionado a sanidade de Heathcliff antes, mas cada vez ela se comprovava mais.

— O valor era muito alto para recusar. – Ele se aproximou de mim e sussurrou o exorbitante valor no meu ouvido, talvez com medo de ouvi-lo e se lembrasse da confusão em que se meterá se dissesse em voz alta.

— Você sabe que eu não tenho como pagar isso! – reclamei.

— Eu sei, não estou pedindo que você pague. Só quero que você converse com eles, sei que você pode me ajudar nessa, seja conseguindo mais tempo ou diminuindo o valor. – implorou ele.

— Eu não sei, Heathcliff. Eu não gosto de mexer em assuntos que se tratam de nobres.

— Por favor! Tenho medo do que possa acontecer comigo, se não pagá-lo! – Neste momento tive lembranças do orfanato Aujour e sabia que não queria que meu amigo passasse por algo parecido com aquilo.

— Está bem. – resolvi ajudá-lo. Algo que se tornou a pior decisão da minha vida.

Heathcliff ficou muito feliz com a resposta e no dia seguinte, me alertou que fariam uma reunião em minha casa em poucos dias. Não queria, que nobres entrassem na minha casa, mas, de alguma forma, Heathcliff me convenceu que sua melhor chance seria se fosse dessa forma.

O fádico dia da reunião chegou, e para falar a verdade, gostaria de pulá-lo, afinal, foi o pior dia da minha vida. Infelizmente não importa quanto eu quera esquecê-lo, ele sempre volta para mim todas as noites em que eu fecho meus olhos. Espero que dessa vez, seja a última.

Ao som da campainha, ele chegou, Dist, o maior desgraçado que conheci na minha vida. Ele era um homem peculiar, vestia um jaleco roxo e óculos enormes, muito provavelmente para chamar atenção. Dist estava acompanhado de mais alguns homens, todos altos e fortes, seguranças para aquele homem baixo e fraco. Carolina e Aliana estavam em seus quartos ao meu pedido, quando Dist chegou, já Heathcliff estava sentado ao meu lado na sala de estar. A reunião enfim começou.

Tentava convencer Dist a aumentar o prazo do pagamento, mesmo que adicionasse juros, mas ele não queria saber, dizia que se Heathcliff não pudesse pagar com dinheiro, teria que de outra forma. No fim conclui que Dist não queria dinheiro, apenas uma cobaia para fazer experimentos. Foi então que Aliana passou pela sala de estar, ao vê-la, tomei um susto. Eu tinha sido claro, quando pedir para ela ficar em seu quarto.

— Aliana, o que está fazendo aqui? Eu mandei ficar em seu quarto – Quase que berrei assustando a coitada.

— Desculpa, pai. Eu fiquei com sede. – Para chegar a cozinha era necessário passar pela sala de estar. Eu devia ter previsto isso, afinal Aliana era apenas uma criança inocente.

— Então vá logo para cozinha. – ordenei.

Assim que ela entrou na cozinha e já não podia ser mais vista, Dist fitou meus olhos e indagou:

— Sabia que crianças tem uma capacidade maior que os adultos e podem aprender mais rápido e facilmente? – Sua forma de falar era nojenta. – Acreditamos que é por isso que ela sejam capaz de se adaptarem de uma forma melhor que os adultos.

— Adaptar? O que você quer dizer com isto? – questionei com memórias dolorosas em minha mente.

Ele ignorou minha pergunta e continuou:

— Mas é uma pena que elas são muito frágeis. Sempre é necessário que sejam substituídas.

Aquela tinha sido a última gota de água para mim. Levantei em raiva e trovejei:

— Saia da minha casa!

Não sei, se ele tinha intenção de me irritar com aquelas falas, ou era apenas louco, mas ao ouvir meu berro entendeu o recado e se levantou para sair. Foi neste momento, que Ariana, voltava da cozinha com um copo de água. Ao vê-la, Dist, sabendo que eu não faria nenhum acordo com ele, tentou me irritar, e colocou o pé para minha filha tropeçar.

Assim que ela caiu corri para segurá-la, e toda a aguá de seu copo derramou em mim. Não sei se Arceus me odiava, ou o mundo era tão cruel assim, mas naquele momento eu estava vestindo uma camisa branca fina, que ao ser molhada, ficou semitransparente, revelando minha antiga marca do orfanato Aujour “D356”.

— Não pode ser. – comentou Dist que se aproximou de mim e segurou minha camisa a rasgando.

Tudo tinha sido tão rápido, que não tive como reagir. Meu torso ficou exposto e ele teve certeza do fato.

— Você é um fugitivo de Aujour. – falou ele ao olhar para mim com uma cara de surpresa. – Prendam ele.

Dist ordenou aos seus guardas que me levassem junto. Tentei me defender, mas eram 3 contra um, além deles serem muito fortes.

— Soltem o papai! – gritou Aliana agarrando a perna de um deles, que a chutou para longe.

— Aliana! – berrei ao vê-la sendo machucada.

— Tive sorte grande, encontrei um experimento de Aujour que chegou a vida adulta, isto, com certeza, dará bons frutos! – exclamava ele de felicidade. – E para melhorar, temos uma criança com os mesmos genes. Peguem a garota também.

— Não toquem nela seus desgraçados! – berrei. – Heathcliff, me ajude!

Aquele desgraçado, que eu considerava amigo me olhou com vergonha e correu para fora da minha casa.

Com todo a confusão e o barulho, Carolina foi até a sala preocupada.

— O que está acontecendo? – indagou ela ao ver a situação.

— Pegue a Aliana e fuja! – gritei em desespero. – Eu darei um jeito e vou alcançá-las.

Foram palavras apenas cuspidas para fora, eu sabia que a melhor resposta para aquela situação seria se as duas conseguissem fugir. Eu não tinha mais como fugir, se ficasse perto delas as deixariam em perigo.

Carolina empurrou o homem que estava atrás de Aliana para longe, e a pegou nos braços, quando tentou correr pela porta foi acertada por uma faca na garganta. De um fino corto, uma cachoeira de sangue se formou, a fazendo cair no chão, soltando Aliana.

— Não! Carolina! – berrei em lágrimas.

Tinha perdido uma das duas pessoas que mais amava na minha vida. Eu já disse, mas não canso de me lembrar, Carolina era perfeita. Já tinha vista a minha marca no peito e nunca perguntou sobre, sabia que não importava e não era algo que eu gostaria de lembrar. Naquele momento, que ela se foi, pensei que talvez tivesse sido melhor nunca tê-la conhecido, afinal ela merecia muito mais, merecia ser feliz, o mesmo valia para Aliana, que tinha acabado de perder sua mãe, por culpa de um pai tão estupido quanto eu.

— Desculpa, mas eu duvido que você ficará calada sobre isto. – Era Dist que havia matado minha esposa.

Aliana se aproximou do corpo sem vida de Carolina e começou a mexê-lo para ver se conseguia alguma resposta.

— Mãe…Mãe, acorda… Por favor, mãe…Acorda! – Aliana desabou em lágrimas.

— Peguem logo a garota e coloquem ela para dormir. Seu choro está me incomodando. – ordenou Dist aos seus homens.

Enquanto dois me seguravam em seus braços, o outro foi até a ela e bateu em sua nuca a fazendo desmaiar e começou a carregá-la nos braços.

Eu comecei a me debater, não podia deixar que a única pessoa que me importava que sobrou na minha vida, fosse levada embora. Eu tinha perdido o meu amigo, minha esposa, mas não podia perder a minha filha.

— Dist! Seu desgraçado! Eu vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! – repetia sem parar.

— Levem logo eles. – ordenou ele me ignorando completamente.

— Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! Vou te matar! – berrei até ter sido levado para fora da minha casa e, por fim, terem me apagado.

Mais uma vez estava vivendo um pesadelo, todos aqueles últimos anos tinham sido sonhos que eu não queria acordar, mas agora tudo se resumia ao mais puro do horror. Diferente de quando eu era criança, os testes que faziam em mim, desta vez, eram mais radicais e avançados. Injetaram diversas seringas com líquidos coloridos em meu corpo, algo que facilmente mataria uma criança, ou um adulto normal. Foi a partir dai que meu DNA começou a se transformar, e meu corpo se tornou “imortal”.

Não sei se estavam querendo criar algum tipo de soldado, ou apenas brincado de deus, como se fossem Arceus destruindo o mundo pelo seu bel prazer. A única coisa que eu sei, é que o inferno seria melhor que aquele lugar. Testavam o quanto minha rápida regeneração aguentaria, atiram em mim, me mutilaram e diversas torturas foram feitas, chegou ao um ponto, que a dor se tornará apenas um incomodo como cócegas.

 

Central de Testes Avançados, 2994.

Dois anos se passaram naquele inferno, muitas vezes pensei que queria morrer, mas duas coisas me mantinham vivo, a esperança de encontrar minha filha novamente, e o ódio por Dist que me consumia como o fogo consome o oxigeno, queimando até que queimassem todos ao seu redor, despertando um desejo de vingança tão obscuro, como o centro de um buraco negro.

Certo dia, após de dolorosos testes, um dos cientistas me colocaria para dormir através de uma soro, como sempre fazia. Injetavam uma seringa na minha nuca que desativava minhas funções motoros e me colocavam em “modo de hibernação”, era assim que eles chamavam. O que eles não sabiam, que após suscetivas aplicações o soro estava ficando cada vez mais fraco e meu anormal organismo estava desenvolvendo uma espécie de imunidade até finalmente o soro não funciono e eu não dormir.

Assim que percebi o fato, fingi dormir, e quando estava sozinho com apenas um cientista, me levantei destruindo as amaras que me prendia na cama de “hospital” e o peguei como um refém.

— Se você quer viver, me ajude a sair daqui. – sussurrei em seu ouvido enquanto o segurava num mata leão.

Como todos ali eram medrosos, e deixavam de enxergar as “cobaias” como pessoas, para assim não terem compaixão, o choque foi o suficiente para ele se acovardar e fazer tudo que eu mandava.

Desviando de possíveis problemas, ele me levava para a saída, assim que chegamos na porta, me lembrei da Aliana. Não podia sair daquele lugar, sem saber aonde ela estava e como salvá-la.

Mandei o cientista me contar tudo, então ele me levou a uma pequena sala com uma mesa e computador, onde pesquisou pelo nome de minha filha nele.

— Código N518, Aliana Réveiller. A cobaia foi submetida a testes de inteligência, força, dor… – Ele parou assim que percebeu o meu rosto em fúria. – … Paradeiro…

— O que foi? Me responda! – exclamei de raiva pela pausa repentina dele.

— … Morta. – completou ele.

— Não pode ser. Você está tirando uma com a minha cara. – comecei a gargalhar em negação. – Isso não é verdade, a Aliana não pode morrer. Você está mentindo.

Fui até ele e agarrei seu pescoço com as duas mãos.

— Por quê? Por que vocês fizeram isto? Ela era apenas uma garotinha! – comecei a estrangular o cientista, que se debatia tentando libertar-se. – Eu nunca vou perdoar vocês! Nunca irei! Eu vou matar todos vocês, assim como fizeram comigo, de novo e de novo e de novo.

Meus olhos cheios de lágrimas olhavam para os olhos daquele homem se revirar até que ele desistiu e seu corpo virou uma casca vazia.

Logo após isto, eu não conseguia pensar direito, a única coisa que vinha na minha mente era a escuridão do ódio. Peguei um bisturi nas gavetas daquela sala e voltei para as profundezas daquele inferno.

Quase não havia seguranças, eles eram arrogantes demais para isto, e essa arrogância se tornou o seu fim. Torturei e matei cada um daqueles desgraçados que olhavam para mim como um simples ratata de laboratório, mal eles sabiam que minha rápida regeneração, foi o que me tornou capaz de fazer isto. Havia sido eles que cavaram o próprio túmulo.

Quando me dei conta, só sobrara a mim com vida naquele local. Me olhei em um espelho quando caminhava para a saída e vi uma criatura vermelha com olhos sombrios como um buraco negro.

Apesar de estar coberto de sangue, consegui ver a maldita marca que me trazia lembranças de Aujour, a maldita marca que matou minha esposa e filha, “D356”. Agarrei ao ensanguentado bisturi e esfolei meu próprio peito para eliminar aquela marca para sempre.

Naquele dia, o Judge que vivera seus 34 anos de vida morreu dentro daquele lugar. A pessoa que saiu carregava o mesmo nome, mas já não era mais a mesma.

 

Cidade de Lumiose, 2996.

Após escapar, voltei para Lumiose, talvez com a esperança que encontrasse a felicidade lá, que uma vez já encontrara. Infelizmente, tudo isto era uma esperança já morta. Pensei em me matar e acabar com meu sofrimento, mas isto já era impossível, afinal aqueles últimos anos haviam me transformado em um “monstro imortal”.

Não tinha mais motivo e nem razão para fazer nada, foi então que me reencontrei com Heathcliff pelas ruas de Lumiose. Ao vê-lo sentir uma raiva tomar meu coração e o agarrei pelo pescoço. Em meu ao sufoco Heathcliff conseguiu disser:

— Fico…feliz…em te ver…meu…amigo.

Se eu tivesse o matado neste momento, as coisas poderiam ter sido melhores, mas mesmo tendo me deixado na mão, naquele momento, ele era a única pessoa que eu tinha.

Eu estava acabado, carente, com ódio no meu coração, e o meu suposto amigo aproveitou disto para colocar seus “planos infalíveis” em praticas. Ele me prometeu criar uma revolução para assim eu poder me vingar de todos os nobres que me fizeram sofrer, principalmente o Dist, que por sorte dele, não estava no laboratório de testes no meu dia de fuga.

Com apenas um último desejo de vingança em meu coração, aceitei a sua proposta e assim ambos fundados uma gangue. Heathcliff seria a pessoa que cuidaria de diversos assuntos por debaixo dos panos, e eu seria a figura que representaria o líder, ao lado de meus dois pokémons do desastre, devolvidos por Heathcliff que cuidou deles pelos anos que eu estava preso no laboratório.

E foi assim que aos meus 36 anos, eu me tornei o líder da infame Gangue Vermelha.

 

Cidade de Lumiose, 3004.

Oito anos se passaram e o meu plano de vingança não parecia estar indo bem. Claro, a Gangue Vermelha só crescia e aumentava seu poder de influência, mas cada vez mais meu objetivo parecia se distanciar mais. Eu não entendia se eu estava ficando louco ou era por causa dos experimentos que fizerem em mim, mas machucar pessoas, não importando quem elas fossem, estava se tornando uma espécie de prazer para mim. Sentia medo aflição, mas ao mesmo tempo ódio e satisfação.

Aos meus 44 anos, descobri uma menina sobrevivente, ela tinha passado por diversos pais e todos haviam morrido em acidentes, mas ela continuava viva, e isto havia me chamado atenção. Pois assim como eu, havia encontrado outra pessoa que não morria. Quando eu a encontrei pessoalmente em seu orfanato, quase desabei em lágrimas, seus longos cabelos vermelhos a lembravam da minha filha, da minha pequena Aliana.

Não tive dúvidas, em relação ao adotá-la. No início queria uma filha, queria substituir a Aliana, mas isto era impossível, e quando pude perceber, estava criando a Awaki para me suceder como líder da gangue vermelha.

 

Cidade de Lumiose, 3005.

O tempo foi passando e o meu casal de Absol teve um filhote, infelizmente a mãe já era velha e não aguentou, morrendo no parto. Resolvi dar o filhote para Awaki, pois mesmo não sendo a Aliana, ela ainda era alguém importante para mim.

 

Cidade de Lumiose, 3006.

Tudo parecia estar indo bem, quando eu descobrir um velho contrato nos pertences de Heathcliff que me revelara o fato de que ele já tinha descoberto sobre a minha marca e sobre meu passado no Aujour. Desde o início ele planejava me vender para o Dist. Aquele desgraçado que uma vez chamara de amigo, havia me traído. Senti uma raiva colossal pelo meu peito, não me sentia assim desde que descobrira a morte de Aliana.

Pedi para ele me encontrar no terraço de um velho prédio abandonado, acreditando que seu segredo estaria sempre seguro, ele foi sem desconfiar de nada. Quando o encontrei mostrei as provas enquanto apontava uma arma para ele, o ordenando andar para o parapeito.

— Você me traiu! – berrei em fúria. – Se não fosse por você a Aliana e a Carolina ainda estariam vivas!

— Não era para aquilo ter acontecido. – desculpou-se ele. – Eu não queria que vocês tivessem se machucado.

— Então por que me vendeu? Por que destruiu a minha vida? – estava preparado para puxar o gatilho.

— Eu não tinha outra escolha, aquele maldito do Dist já sabia sobre você, ele disse que se eu não cooperasse ele me mataria! – exclamou em desespero.

— Então devia ter deixado te matar! A sua vida não valia a da Carolina e da Aliana! – trovejei.

— Eu sei, eu sei que era para eu ter morrido. – Heathcliff começou a chorar. – Não há um dia que eu não me arrependa da decisão que eu tomei. Foi minha culpa. Eu matei a Carolina e a Aliana. Eu destruí a vida do meu melhor amigo.

— Heathcliff… – Ainda apontava a arma para ele, mas aquela era a primeira vez o que via chorar. Não sei se eram lágrimas falsas ou não, mas aquilo, me lembrou do único amigo que tive.

— Eu não mereço viver! Vamos atire! Me mate! Acabe com este sentimento de culpa que vem me consumindo por todos estes anos! Acabe com este sofrimento! – suplicou Heathcliff em lágrimas.

Abaixei a minha arma, dei as costas para ele e disse:

— Vá embora, não quero te ver nunca mais.

— Você não pode fazer isto! Me mate! Me mate! – berrou Heathcliff em desespero. – … Por favor.

Quando mais tempo da minha vida passava, mas eu me desprendia a aquilo que me fazia ser uma pessoa. Chegou ao ponto que eu já me olhava no espelho e não sabia o que via. Uma criatura? Um monstro? Um ser desalmado em busca de vingança?

 

Cidade de Lumiose, 29 de Julho de 3015.

Mais anos se passaram e tudo que restava do que o antigo Judge já fora, não existia mais. Tinha abandonado meu passado e não procurava um futuro, apenas vivia com ódio, descontando toda minha raiva naqueles ao meu redor.

Foi então, que o filho da mãe do Heathcliff voltou, ele havia criado um grupo chamado Falsos Vermelhos com o objetivo de sequestrar pessoas e pokémons para vender no mercado negro, ao mesmo tempo que colocaria a culpa na minha Gangue Vermelha.

Ao descobrir isto, tive vontade de matá-lo, e desta vez, nada me seguraria. Se já houvera amizade entre nos dois, ela havia acabado naquela noite no terraço, desde então nos dois mudamos e nos mataríamos se nos encontrássemos novamente. Várias coisas aconteceram neste dia, mas a única que preciso lembrar é do avião de fuga de Heathcliff explodindo com ele lá dentro, infelizmente o seu corpo não foi encontrado e nunca pude confirmar a morte dele.

 

 

Cidade de Lumiose, 31 de Dezembro de 3015.

Sei que isto está sendo um tema recorrente, mas a minha vida sempre esteve nesta corda bamba chamada humanidade. Se ainda houvesse um pingo dela dentro de mim, ela se foi, ao mesmo, que a Awaki fugiu. Ela não aceitava o meu jeito de trabalhar e não aguentava mais viver na Gangue Vermelha e por isso foi embora.

 

Cidade de Lumiose, 10 de novembro de 3016.

Não havia sobrado nada, tinha desistido da minha vingança, e nem o ódio constante que sentia era suficiente. A Gangue vermelha havia se tornado um fardo. O mundo todo poderia pegar fogo que eu não ligaria. Não havia nada apenas um vazio… Até que ele foi até mim. Tinha acabado de voltar a meu quarto quando vi uma silhueta, por reflexo saquei minha arma.

— Quem é você? E o que está fazendo aqui? – indaguei enquanto apontava minha pistola para uma silhueta.

— Se eu fosse você soltaria está arma, tenho homens cercando o prédio e se olhar por aquela janela vai perceber que um franco-atirador está preparado para te abater se tentar fazer algo. – me ameaçou.

Olhei para janela e vi o franco-atirador.

— Agora que viu que estou falando a verdade, poderia soltar esta arma para conversarmos?

— Sinto muito, mas quem me garante que a única coisa que impede daquele homem atirar na minha cabeça, é eu mirar na sua? – contei Judge, mesmo sabendo que se ele atirasse não faria diferença.

— Uma decisão que pode ser interpretada como experta, mas também pode ser interpretada como idiota. – a silhueta fitou meus olhos e suspirou. – Parece que você não vai abaixar mesmo esta arma.

— Percebeu só agora? Me diga, o que você quer?

— Eu pude observa vocês nos últimos dias e pude perceber que está entediado e enjoado do seu dia a dia como líder da gangue vermelha, mas para mudar isto, eu resolvi te fazer proposta. Quero que você faça algo pra mim e tenho certeza que você vai gostar bastante do que eu pedir. – contou a silhueta.

— O que você quer que eu faça?

— Quero que sequestre a princesa Evelyne Pourpre Jaune. – Era possível sentir seu sorriso, mesmo que eu não pudesse vê-lo.

Ao ouvir aquilo fiquei entusiasmado, afinal mesmo nunca tendo a vista, ela fazia parte da nobreza que eu tanto odiava. Além disso, seria uma ótima forma de preencher meu vazio, mas, ao mesmo tempo, aquilo parecia impossível.

— Muito interessante, mas me parece bem inviável, afinal você está pedindo uma loucura. – comentei.

— Irônico você me falar isto, pelo que me foi informado, você já tentou fazer isto sozinho.

— Você está certo, mas eram propósitos e objetivos diferentes.

— Não se preocupe, lhe garanto que tudo o que estou lhe pedindo é possível.

— Como tem tanta certeza? – indaguei.

— Isto é porque eu sou… – Ele saiu da escuridão e se aproximou da luz revelando seu rosto. – …Adol Pourpre Jaune, o segundo príncipe de Kalos.

Fui surpreendido, não entendia o que estava acontecendo, o príncipe estava me pedindo para sequestrar sua irmã? Não aguentei e comecei a gargalhar.

— Eu não sei que tipo de problema você tem com sua irmã, mas deve odiá-la.

— Pelo contrário, eu a amo. E é por isso que preciso que ela se torne forte. – respondeu Adol – O sequestro durará apenas algumas horas, até ela fugir ou até um subordinado meu ir buscá-la. Além disso, você pode machucá-la um pouco, mas não exagere, também está proibido de usá-la para seu prazer. Se isto acontecer, você desejará queimar no inferno.

— Você tem uma forma interessante de demonstrar seu amor. – comentei. – Mas me diga, como eu sequestrarei ela? E mesmo que eu consiga, o que te garante que eu não irei matá-la?

— Com meu informante eu saberei localização da Evelyne em Lumiose e então causaremos um apagão na cidade para assim a sua Gangue Vermelha dominar a cidade e você sequestrá-la. – Quando mais falava com ele, mais questionava sua sanidade, ele estava disposto a “dar” a cidade para a Gangue Vermelha mesmo que fosse por poucas horas para que seu plano maluco desse certo.

— Você ainda não me respondeu. O que garante que eu não a matarei? E o que eu ganharei com isto?

— Eu sei quem você é Judge, ou devo chamá-lo de D356? – Ele quis me irritar e funcionou.

— Desgraçado! Como sabe disso? – berrei.

— Rumores dizem que o seu corpo é “imortal” e isto bate perfeitamente com um experimento de Ciassyl que fugiu a anos. Com isto não fica muito difícil deduzir que você é o mesmo Judge que destruiu uma central de testes sozinho.

Ele sabia demais e por isso eu não o entendia. Como ele confiaria a sua irmã a um monstro que nem eu?

— Você se lembra do Dist? – Ele conseguiu me visgar. – Ele ainda está vivo, mas está velho e não é mais útil para a ordem dos cavaleiros de Ciassyl. Se você cumprir sua função, prometo que o trarei para você matá-lo ou torturá-lo da forma que quiser.

Eu sabia que aquilo deveria ser uma promessa falsa. Sabia que aquele sequestro poderia ser o fim da Gangue Vermelha. Sabia que tudo poderia significar meu fim, mas mesmo que se houvesse menos de um por cento de eu colocar minhas mãos no pescoço daquele desgraçado, que destruiu minha vida, eu aceitaria.

— Muito bem, eu aceito sua oferta. – respondi mostrando os dentes.

 

De volta ao meu último momento.

 

Cidade de Lumiose, 14 de novembro de 3016.

Pensando agora, talvez, não houvesse morte melhor para mim. Ser morto para que alguém realize a sua vingança da forma que eu nunca conseguir e sempre almejei. Criei um ciclo vicioso de vingança que sempre existiria enquanto eu estivesse vivo, pelo menos, comigo, eu sei que ninguém sentira saudades.

Depois de tudo, afirmo o que já sabia a muito tempo, eu fui o pior tipo de pessoa que poderia existir, me tornei um monstro capaz de sentir apenas ódio. Não sei dizer se me arrependo das minhas ações, sei que se fosse o meu eu do passado se arrependeria, mas ele não existe mais. Talvez, a única coisa que me arrependa, é de não poder ir para o céu, afinal eu queria ver o rosto de Aliana e de Carolina uma última vez.

Com a melodia dos repetidos sons de tiros, eu fecho meus olhos e agradeço por finalmente morrer e acabar com o ódio tão sombrio quanto um…

Buraco negro


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Notas finais do capítulo

Esta foi a história de Judge, espero que tenham gostado! Qual foram as partes que mais gostaram ou acharam interessante do capítulo? Gostaram da narração em primeira pessoa? Quais teorias possuem para o futuro? Comentem suas impressões se sentirem vontade!

Antes de me despedir, quero falar dos próximos capítulos. O próximo a ser lançado será o capítulo 27 e ele já está praticamente pronto, sendo lançado até o final do mês, acredito que no dia 31, mas pode ser que saia antes. Ele será um capítulo de finalização do arco Luzes Apagadas, para assim, finalmente darmos um passo para o futuro. Depois dele haverão alguns capítulos de transição e então finalmente o arco Casamento infernal começará. Espero que gostem!

Queria agradecer mais uma vez por tudo nesses últimos 3 anos, se não fosse por vocês, acho que teria desistido a muito tudo! Muito obrigado por tudo!
Tudo de melhor e até mais!



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