Era para ser um dia normal, uma noite normal. Mas, já sentiu como se alguém estivesse te seguindo? Ou como se alguém próximo esconde-se algo de você? Já se sentiu inútil?

Parecia que eu sentia tudo isso junto. Depois do acidente passei vários dias no hospital, indo de cirurgia em cirurgia, passando por vários médicos, que sempre tinham a mesma resposta para o meu problema: Eu nunca mais andaria, ponto. Toda vez que ouvia isso eu me dizia que com o tempo acostumaria e não mudaria quem eu era por causa da minha nova condição.

Eu não precisei mudar, Oliver mudou por mim. De amante apaixonado para amigo preocupado, parecia que era algum tipo de doente e que eu não viveria normal, e ele se culpava por isso... Até que eu me tornei isso.

Me lembro que nas primeiras semanas nem me preocupei com toda essa culpa que ele sentia, pensei que passaria, mas não passou. Cada dia foi ficando mais insuportável viver com ele, ter ele ao meu lado.

—Você não é nenhuma criança, Felicity. - Disse mamãe. -Você tem duas escolhas em mãos. Ou você muda por bem, ou você é mudada por mal.

Mamãe foi a única pessoa com que eu poderia ser eu, a eu de sempre. Ela me deu uma escolha e eu escolhi.

Eu mudaria.

A primeira oportunidade surgiu com uma viagem que eu teria que fazer a Nova York, a empresa necessitava de um contrato com as indústrias Stark e eu necessitava de tempo.

—Você não pode viajar!- Exclamou Laurel, seria. - Quem cuidará de você?

—Ela tem razão.- Concordou John.- Você precisa de cuidados, Felicity.

Eu preciso de amigos John!

—E mesmo se quiséssemos não daria para viajarmos agora, não com a C.O.M.E.I.A atacando. - Disse Sara.

Percebi que Oliver estava calado.

—Já está perigoso aqui, imagina lá em N.Y.

—Pessoal eu não sou uma criança.- Disse.- Sei me cuidar! -Disse tentando passar um pouca da minha confiança. 

—Você sabe se cuidar?- Perguntou Oliver se pronunciando pela primeira vez. -Sabe mesmo? Você soube se cuida quando namorou um terrorista? Soube se cuidar quando se colocou na frente de alguém e recebeu um tiro? Ou quando ficou aleijada?

—O que? -Sussurrei.

Todos estavam calados, alterando olhares entre mim e ele.

Respirei fundo e usei um tom que não usava há muito tempo.

—Sabe quando eu não me cuidei, Oliver?- Perguntei friamente o encarando. - Eu não me cuidei quando ajudei um desconhecido baleado. Eu não me cuidei quando me deixei levar por ele. Quando pensei que ele fosse o homem certo, o meu homem. Então, Oliver, sinto muito se você pensa que uma 'aleijada' não pode se cuidar sozinha. Que eu não posso... É um pensamento tão estupido... Afinal eu te salvei tantas vezes. - Disse friamente.

Como minha voz o ar tinha ficado frio, todos pararam de respirar por uns segundos, não esperei até eles se recuperarem, manobrei a cadeira e sai.

Desde aquele dia eu não os vejo.

No dia seguindo aquele minhas malas já estavam prontas e minha passagem na mão.

Eu estava indo para New York.