A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos escrita por Lu Rosa


Capítulo 31
Trinta




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Thomas foi empurrado para dentro da cela.

            - Eu não raptei Leonor.

            Um dos soldados o atingiu com a coronha do arcabuz.

            - Tenha respeito ao se dirigir ao capitão, pirata. E nunca toque no nome de uma donzela.

            - Capitão, - disse Thomas sentindo o estomago latejar de dor. -  com todo o respeito, eu não sequestrei D. Leonor Duarte da Meira. - o soldado fez um ruído exprimindo sua satisfação. - Por que eu faria isso? Sei que poderia prejudicar o pai dela se cometesse tal crime. Pense, homem!

            O capitão Joaquim Carlos Azevedo tinha fama de soldado irrepreensível, cônscio de seus deveres. Fora recrutado pelo próprio Martim Afonso de Souza, quando ele iniciara a milícia na colônia. E assim sendo, ele aprendera a ler os olhos de um homem. Culpado ou inocente. E, contra todos os fatos, aquele homem lhe parecia inocente, apesar de ser um pirata.

            - E se não foi vosmecê, foi quem?

            - D. Constâncio!

            O soldado ao lado do capitão riu até ser silenciado com um olhar de seu superior.

            - E por que ele faria isso? Os dois estão de casamento marcado. Ele teria o apoio de D. Bernardo na colônia, fora o dote da moça.

            - Ele não é o que todos pensam! - insistiu Thomas. - Ele é o pior pirata de todos os tempos. El cuervo negro!

            Depois dessa até o capitão deu um sorriso de escarnio.

            - D. Constâncio? Pirata? Nem em sonho, inglês. Me disseram que no dia da invasão dos teus patrícios, ele permaneceu junto às mulheres, escondido.

            - O melhor esconderijo é a vista de todos. Por que ele se arriscaria sendo valente? Não. Aquele homem pensa longe, capitão. E, isso é só parte de algum plano dele, tenho certeza.

            Nesse momento, D. Constâncio chegou com D. Bernardo. O pai de Leonor avançou contra Thomas sendo contido pelo soldado e pelo capitão.

            - Maldito! Onde está a minha filha?

            - Eu não sei, D. Bernardo. - Thomas respondeu imperturbável. - Não quero o mal de D. Leonor e estou tão preocupado quanto o senhor.

            - Vosmecê? Preocupado com a minha noiva? Ora... É muito acinte! - disse D. Constâncio.

            - You! You are fucking! Go to hell! (Você! Seu maldito! Vá para o inferno!) — Thomas socou uma das paredes.  Em sua fúria, Thomas começou a falar em inglês e nenhum dos outros homens entendeu nada.

Frustrado, ele sentou-se no catre.

D. Constâncio olhou para os lados e começou a esfregar os olhos.

— Vosmecê não tem coração? D. Leonor é uma pobre moça, frágil. Deve estar assustada com medo da noite na mata.

Thomas riu diante das palavras do outro.

— Ainda zomba do nosso sofrimento? - D Bernardo perguntou

— Não de teu sofrimento, mas das palavras deste aqui. - Thomas olhou para D Constâncio.

— Não sabe nada de Leonor. Ela é forte, valente.  Não tem medo de nada. Nem de índios ou malfeitores. Na escuridão, ela é a luz. Ela não está encolhida, com medo da mata. - Thomas deu um sorriso - Ela está é arrumando um jeito de fugir. E, quando ela fugir, você estará perdido.

Constâncio olhou para ele e saiu da cela pisando duro.

D. Bernardo aproximou de Thomas.

— Se algo acontecer a minha Leonor, essas paredes não irão proteger vosmecê da minha fúria.

— Eu confio em Deus e na verdade, D. Bernardo.

D. Bernardo ficou pensativo diante do que Thomas dissera. Por que ele sentia que o inglês estava dizendo a verdade? O modo como ele descrevera Leonor era fruto de um profundo conhecimento sobre sua filha.

— Eu não posso ignorar o sentimento que une vosmecês. - admitiu o português para alívio de Thomas. - Se vosmecê a levou, se isso é um plano para me forçar a aceitá-lo, saiba que eu já tinha tomado a decisão de cancelar o casamento de Leonor com D. Constâncio. Então se vosmecê sabe onde Leonor está, diga por favor.

— Eu não posso dizer o que eu não sei, D. Bernardo.

— Então o destino de todos estará selado. Pois eu também serei responsabilizado por isso.

— Como assim?

— De acordo com as leis da colônia qualquer crime cometido por um criminoso que está sob custódia de.um morador, este morador é acusado.de cumplicidade.

— Mas é a sua filha!

— Quem disse que a vida é justa? Pense bem, senhor Horton. Pense bem nisso.

Ele saiu da cela e deixou o inglês andando de um lado para outro, tentando imaginar um jeito de salvar a sua amada.

Quem a havia levado era obvio: D. Constâncio. Miserável, o rapaz pensou. Raptou Leonor e ainda o acusou. Sentiu um arrepio só de pensar nela a mercê daquele homem.

Thomas pensou no que D. Bernardo havia lhe dito. Ele havia pedido a custódia dele ao capitão da milícia. E, de acordo com as leis, seria responsável por qualquer ato que fizesse. Sendo assim seria preso. D. Brás havia viajado então a vila estaria aberta a quem quisesse comandá-la. E quem gostaria de ter tanto poder?

Thomas voltou a se sentar sobre o catre. Como poderia salvar Leonor preso ali naquele cubículo. Se ao menos tivesse alguma prova contra D. Constâncio...

O capitão observou o prisioneiro. Durante todo aquele discurso, ele não tirou os olhos do rosto do prisioneiro. E o que ele viu, o fervor, a esperança e o amor descritos ali, o convenceu de que aquele homem era inocente. Mas como ajudá-lo a provar isso?

***

D. Bernardo chegou em casa acompanhado de D. Constâncio. Mãe Maria os recebeu junto com Martim.

— E então? Alguma notícia dela?

— Não. Aquele pirata não disse nada. - D. Constâncio declarou.

— O inglês? Como ele poderia se ele estava comigo até pouco tempo.

— Estavam juntos? - D. Constâncio olhou para o rapaz com o cenho franzido. - Agora  ele é vosso amigo?

— Me permiti lhe dar o benefício da dúvida.

— Entendi... Bem, ele parece então ter um cúmplice. Alguém que levou Leonor enquanto ele era tão amigável com vosmecê.

Martim respirou fundo diante da ironia do outro. Leonor tinha razão: o homem era detestável.

— D. Bernardo, eu vou iniciar um grupo de busca com alguns empregados. E ainda hoje trarei Leonor para casa.

— Eu agradeço a vosmecê, D. Constâncio.

Com um aceno de cabeça, D. Constâncio saiu da casa dos Duarte da Meira com um sorriso nos lábios finos. Tudo estava correndo muito bem.

Martim olhou para o pai

— Meu pai, o inglês não fez isso com Leonor.

D. Bernardo sentou-se pesadamente numa cadeira.

— Eu não sei o que pensar, Martim. Quero acreditar que o sentimento dele em relação a Leonor tão grande quanto dela por ele. Mas tudo pesa contra ele. E, por ele estar preso, eu não posso sair da vila. Sou considerado cúmplice.

— Do rapto de sua própria filha?

— Exatamente. Agora, por mais que eu queira a felicidade de Leonor, estou de mãos atadas. D. Constâncio vai reunir um grupo de busca. E se ele conseguir trazer sua irmã? Com que cara eu vou desfazer o contrato de casamento?

— Eu não confio naquele homem, mas se ele encontrar Leonor, não vamos poder fazer nada.

Prestes a entrar na sala, Agoirá ouviu a conversa de pai e filho. Levaram moça Leonor. E o noivo de moça Leonor havia prometido trazer ela de volta. Agoirá não gostava de noivo moça Leonor. Ele fora ruim com Ayná ou Carmo como os caraíbas a chamavam.

— Agoirá traz moça Leonor, D. Bernardo. - disse Agoirá entrando na sala.

— Vosmecê pode fazer isso? Vá e procure D. Constâncio. Ele está reunindo um grupo de busca. Traga minha filha de volta, Agoirá.

— Agoirá protege moça Leonor! Ele traz ela. - antes mesmo que D. Bernardo pudesse dizer algo, ele saiu da sala tão silenciosamente quanto o vento.

Rapidamente, ele foi para a casa de D. Constâncio justamente quando ele saia acompanhado de outros dois homens.

— Senhor noivo moça Leonor!  - ele o chamou.

D. Constâncio reconheceu o índio de D. Bernardo e suspirou.

— Ora. Agora mais essa. O que vosmecê quer, bugre? - perguntou com arrogância.

            - D. Bernardo manda Agoirá ir junto. Ajuda buscar moça Leonor.

            - Nós não precisamos de sua ajuda, bugre. - D. Constâncio deu as costas para Agoirá e recomeçou a andar.

            O índio correu e se colocou na frente do português.

            - Mas o que?! - espantou-se D. Constâncio.

            - D. Bernardo manda Agoirá buscar moça Leonor. E Agoirá vai. - disse o índio incisivo.

D. Constâncio sacou uma pistola e apontou-a para o índio.

            - Não. Agoirá fica. Senão noivo moça Leonor estoura a cabeça dele!

            O índio o encarou sem medo. Mas, depois saiu do caminho dele.

            - Muito bem! Mostrou que tem juízo. Fique aqui quietinho que eu já volto com a sua moça Leonor. - D. Constâncio fez um sinal para os outros dois. - Vamos logo.

            Agoirá ficou vendo o trio se distanciar. Sua mão fechou-se com raiva daqueles caraíbas. Mas ele iria buscar moça Leonor, pensou com obstinação. Ele nunca iria quebrar uma promessa. A promessa de sempre protegê-la.

***

Thomas olhava para as paredes tentando encontrar um modo de fugir quando ouviu uma voz do lado de fora da pequena abertura na parede.

— Moço de longe... - chamou uma voz sussurrante.

— Quem é? - perguntou.

— Agoirá. Moço de longe tem que ir buscar moça Leonor.

— Não sei se você reparou, mas eu estou preso aqui.

— Agoirá já volta, moço de longe.

Thomas tentou olhar pela abertura, mas sem sucesso.

— Agoirá?  Agoirá? - ele sussurrou junto a abertura.

Ele ouviu duas vezes o barulho de algo pesado caindo e a porta se abriu revelando o índio.

— Como?! - espantou- se o inglês.

— Moça Leonor importante. Vamos sem demora. Noivo moça Leonor já foi primeiro.

Thomas não precisou de outro incentivo. Ele pegou uma espada que estava pendurada em uma parede. Então ele viu os homens caídos.

— Estão mortos?

— Não! Dormindo. Agoirá não mata... a não ser necessário.

Os dois saíram da casa de cadeia e correram para a mata.

— Você sabe para onde está indo?

— Agoirá seguiu noivo moça Leonor um pedaço de mata, sem ele ver. O caminho leva para um engenho abandonado.

— Então ele não está procurando Leonor. Ele já sabe onde ela está. Vamos, Agoirá.

Os dois correram como sombras entre as árvores na mesma velocidade em que o sol dava lugar a lua.

A noite já havia caído quando eles chegaram ao engenho abandonado. Moveram-se entre as árvores até atingirem o prédio principal.

— Fique atento, Agoirá. D. Constâncio deve ter mais homens ao redor.

— Sim, moço de longe.

Thomas virou-se para Agoirá.

—Olha. Esse negócio de moço de longe está difícil. Thomas. Meu nome é Thomas.

Agoirá olhou para ele impassível.

— Moço de longe quer discutir isso agora?!

— Tem razão. Não tem importância. Vamos.

***

Leonor estava quase conseguindo romper as cordas quando ouviu um barulho de passos.

— Quem é. Mostra-se!

Uma luz acendeu-se revelando o rosto odioso de D. Constâncio.

— Sentiu saudades, querida noiva?

"Que Deus a ajudasse! A hora de seu suplício havia chegado." Pensou Leonor,

— Queres saber da última? - Ele colocou o castiçal sobre o chão. - Seu precioso inglês está preso, acusado do seu sequestro. Está com fome? Trouxe frutas e água fresca para vosmecê. - ele fez um sinal e outro homem entrou com um prato e uma moringa de água. Leonor olhava para baixo, sem responder a nenhuma palavra.

D. Constâncio pegou uma carambola e aproximou suavemente dos lábios da moça.

Obstinadamente, Leonor recusou-se a abri-los. Com um suspiro, ele voltou a fruta para o prato e pegou a moringa de água. Da mesma forma lenta e delicada levou-a aos lábios dela. Leonor continuo resistindo, embora estivesse morta de fome e sede.

Irritado, D. Constâncio jogou a moringa contra a parede e chutou o prato de frutas com violência.

— Mas que os santos ardam no inferno! Eu estou aqui com toda a paciência e carinho com vosmecê e sou tratado de forma fria e cruel. Leonor, minha querida... - ele se ajoelhou diante dela – Teu destino está em minhas mãos. Posso te fazer rainha desta colônia ou te levo para Portugal para seres uma princesa. Diga-me o que queres e eu serei teu escravo.

Leonor virou o rosto lentamente e cuspiu no rosto dele com todo o ódio que lhe queimava a alma.

Vá. Para. O. Inferno! - ela sibilou.

Ele se levantou, pegou um lenço e se limpou. Permaneceu alguns minutos de costas para ela. Leonor tentou imaginar o que aconteceria a seguir, até ouvir o riso baixo que foi aumentando até se tornar gargalhadas. Então teve a certeza que aquele homem era louco.

— Eu sabia! - ele declarou quando parou um pouco de rir. - Essa história de suavidade, de delicadeza... Vosmecê não é uma boneca de porcelana. É selvagem, indomável, como essa terra. E, assim como eu já dominei tudo na minha vida, vosmecê também se curvará a minha vontade.

Enquanto ele falava, Leonor terminava de romper as cordas que a prendiam, levantou-se e tentou correr para a porta. Mais ágil que ela, D. Constâncio a pegou por trás e a jogou no chão com violência.

A moça rolou sobre si mesma até bater contra uma parede.

— Eu irei possuir o teu corpo, D. Leonor e irei quebrar a tua alma para sempre. E nem a menor lembrança de teu inglês pirata irá resistir a isso.

— Acho que serei obrigado a discordar, caro senhor. - Thomas entrou no aposento e pôs-se na frente de Leonor, apontando a espada para D. Constâncio.

Leonor sentiu o ar lhe faltar quando viu o seu amor ali, pronto para salva-la novamente quando tudo lhe parecia perdido.

— Agoirá, leve Leonor para fora. Eu tenho algumas contas a acertar com esse senhor.

O índio assentiu e levantou Leonor do chão.

— Vem, moça Leonor.

— Não! Thomas, por favor deixe-o. Leve-me para o meu pai e ele cuidará de tudo.

— Ele teve a audácia de tocar em você, de machucá-la. Não mais. Isso acaba agora.

— Vamos, inglês. Vamos acabar com isso. - D. Constâncio sacou a sua espada

— Vá Agoirá. Leve Leonor daqui! - Thomas ordenou.

Agoirá saiu puxando Leonor pela mão. Quando os dois ficaram sozinhos, D. Constâncio comentou.

— Sabe, acho que desde o primeiro instante eu sabia que iria terminar assim. Nós nos enfrentando... - ele girou a espada no ar.

— E eu acabando com sua vida de crimes, El cuervo negro?

— Não. Você tirando uma longa soneca.

Antes que Thomas pudesse olhar para trás, foi atingido por golpe na cabeça.

— Bem na hora, Francisco. Como sempre.

— Para servi-lo, señor.

— Bote fogo em tudo. Este inglês terá o fim que merece. Em meio às labaredas do inferno.

— E quanto a señorita, señor?

— Eu cuido dela depois. Temos que voltar o mais depressa para vila para contarmos a nossa versão dos fatos. Anda logo com isso! - ordenou D. Constâncio.

Com destreza, Francisco começou a espalhar pólvora no aposento e atirou com a pistola. A pólvora começou a queimar logo o fogo se espalhava pelo aposento, cheio de folhas secas de árvores.

Os dois homens saíram e se encontraram com um terceiro homem.

— D. Constâncio!  O que aconteceu?

— Eu quase fui morto. Onde vosmecê estava?

— Desculpa, D. Constâncio, mas eu precisei me aliviar ali no mato.

Sem dar resposta, D. Constâncio atirou no homem.

— Desculpas aceitas. Agora vá se aliviar no inferno, cão. Jogue-o no fogo. Se alguém vier xeretar achará esse imbecil queimado. Vai dar mais verdade a nossa história.

Francisco foi cumprir a ordem de seu patrão, sem ao menos verificar se o homem estava morto ou não.

Contemplando as chamas D. Constâncio não percebeu nas duas figuras que estavam escondidos acima dele. Tão logo patrão e empregado saíram, rapidamente Leonor e Agoirá desceram da árvore.

— Thomas está lá dentro ainda, temos que ir buscá-lo.

— Deixa, moça Leonor. Agoirá vai.

— Nem pensar. É o meu Thomas que está lá.  Espere. - Leonor tirou a saia e a anágua que travavam seus movimentos. Respeitosamente, Agoirá não olhou mais na direção dela.

Ao entrarem no prédio viram o fogo ainda não chegara na parte da frente.

— Ele deve estar onde eu estava. Vamos.

Leonor e Agoirá subiram as escadas e o fogo já se alastrava pelo aposento.

— É o depósito de cana. Muita palha seca. - avaliou o índio.

— Thomas! Thomas! - Leonor chamou. Mas apenas o barulho das chamas a respondeu.

— Vamos, moça Leonor. Logo as escadas...

Antes que Agoirá terminasse de falar as escadas despencaram.

— Agoirá, olhe!  - Leonor correu para um corpo caído.

— Thomas, meu amor! Acorde.

Ele se mexeu, apertando os olhos.

— Ah minha cabeça.

— Venha. Temos que sair daqui, antes que tudo venha abaixo,

— Mas não ter mais como sair. - alertou Agoirá.

Leonor olhou para os lados desorientada.

— Ah meu Deus! Me mostre uma saída...

— O rio da roda. Deve ser fundo o suficiente, moça Leonor -  Agoirá disse.

— Sim. Vamos para lá.

Carregando Thomas, os dois chegaram na beira da janela. Do lado direito ficava a roda do engenho. Naquele ponto, o rio era estreito, mas fundo. Era arriscado, mas a única saída.

Leonor olhou para Agoirá e para Thomas.

— Prontos senhores?

Agoirá só olhou para ela e assentiu com a cabeça.

— Agora! - e os três se lançaram para a frente.

            Os corpos ficaram suspensos no ar por alguns segundos antes de atingirem as águas do rio. Os pés de Leonor atingiram o fundo e ela se impulsionou para cima. Olhou para o lado e viu Agoirá levando o corpo inerte de Thomas para a margem. Ela o ajudou e os dois ficaram um tempo deitados na relva para recuperar o fôlego.

            - Agoirá, temos que levar Thomas para algum lugar. D. Constâncio deve estar de tocaia na entrada da vila para nos pegar.

            - Agoirá conhece outro caminho para vila. Seguir o rio para o sul. Tem uma queda d’água, atravessar por trás e chegar na vila pela praia.

            - Ótimo. Só temos que esperar que ele não conheça esse caminho.

            Os gemidos de Thomas chamaram a atenção dela e Leonor debruçou-se sobre ele.

            - Thomas? Thomas?

            Ele abriu os olhos e tentou focar o rosto à sua frente.

            - Ah meu Deus! Vosmecê está bem! - Leonor o abraçou.

            - O que aconteceu? - o ingles perguntou. - Me lembro de estar enfrentando D. Constâncio e de repente ficou tudo escuro.

            - Aquele empregado dele, Francisco, deve ter atingido você com alguma coisa. Vosmecê não está sangrando, mas tem um galo aqui. Vais ficar um pouco dolorido.

            Thomas se levantou com a ajuda de Leonor e Agoirá. De repente todo o prédio veio abaixo com um estrondo enorme.

            - Ele deixou vosmecê lá para morrer queimado. Nós o tiramos de lá. - esclareceu Leonor.

            - Você se arriscou por mim? - Thomas olhou atentamente nos olhos dela.

            - Mil vidas eu arriscaria por vosmecê. Não é assim quando se ama?

            Thomas beijou os lábios dela ternamente, evitando responder.

            Agoirá interrompeu o casal.

            - Temos que ir, moça Leonor.

            Os três se colocaram a caminho da vila adentrando pela mata banhada apenas pela luz da lua.


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