A noite se aproximou muito mais rápido do que Sarada esperava. Isso, de fato, era uma imensa desvantagem. A escuridão, juntamente com o aumento dos animais selvagens que saiam para caçar, podiam ser obstáculos desagradáveis. E a Uchiha tinha noção disso.

A sorte estava dividida durante seu percurso. Ainda não havia sido atacada por ninguém, portanto, sua plaquinha com o número estava protegida; porém seu alvo também não tinha aparecido.

Após uma breve conversa com seu parceiro, a decisão de seguir em frente por mais algumas horas fora tomada. Naquele estado, perder tempo não seria uma opção muito inteligente, além de nenhum dos dois demonstrar sequer algum resquício de cansaço.

— Espere. – Sarada chamou a atenção, enquanto rapidamente escondia-se atrás de uma grande árvore – Quem são aqueles shinobis? – observou com cautela um grupo de ninjas da pedra que pareciam ter caído no sono.

— Parece que estão vulneráveis... – agora era Yuru quem falava – Você quer...

— Isso mesmo, vamos aproveitar essa chance. – sussurrou – Vamos.

Discretamente, Sarada saiu detrás da árvore, seguida por seu parceiro. Com cautela, caminhou lentamente até a outra dupla, tendo sorte em conseguir procurar nas duas bolsas que eles carregavam – nada havia sido encontrado além de kunais e shurikens. Os dois jovens pareciam dormir pesadamente, não dando nenhum sinal de quem fosse despertar.

Porém, quando fora afastar-se, sentiu uma chuva de kunais vindo em sua direção. Para desviar, ativou seu sharingan o mais rápido que conseguiu.

— Uma emboscada?! – disse alto.

Das sombras, em cima de outra árvore dali, dois ninjas surgiram. Pareciam ser os mesmos que tinham seus corpos adormecidos.

— Clones?! – a Uchiha espantou-se.

— Exatamente! E vocês caíram direitinho, pirralhos! – o mais alto fora quem falava. Seu físico musculoso dava a entender que ele já se tratava de alguém devidamente treinado – Acharam que seria moleza roubar a placa de dois babacas dormindo, não é?! Muito bem... Agora é vocês que vão ser esmagados!

— Realmente, estava moleza demais. – Yuru observou – Fique atenta, Sarada! Vamos acabar com eles!

— Sim, Yuru. – Ela logo confirmou. – Só devemos tomar cuidado que eles ainda podem ter mais alguma surpresa.

Sarada apenas analisava brevemente seus inimigos, nem tão habilidosos pelo que ela havia notado. Tratava-se, talvez, de apenas uma dupla de ninjas da pedra de habilidades medianas, visto que, mesmo com a oportunidade de atacar de surpresa e eliminar a dupla de Konoha, eles falharam miseravelmente. A ideia dos clones não era ruim – exatamente o contrário -, mas a execução era falha.

— Não precisamos ter medo. – Disse Yuru, o sorriso confiante apenas exibia a superioridade que ele sentia em relação à dupla adversária. – Era apenas uma técnica simples de clones das sombras, afinal. Vamos ficar cada um com um desses ninjas.

— Por mim, tudo bem. – A Uchiha concordou, logo ativando seu sharingan e partindo em direção aos dois adversários, acompanhada de seu parceiro para aquela fase do exame.

Ao se aproximarem, trataram de começar lutas individuais com os shinobi da pedra. Sarada usava de sua kunai e mantinha seu sharingan ativado para tentar acertar algum ataque em seu oponente, que parecia extremamente hábil em se desviar de suas técnicas. Concentrada em sua própria situação, não conseguia ao menos prestar atenção à luta de Yuru. Precisaria de foco para derrotar seu adversário.

— Então esse é o sharingan? Bem, eu estou impressionado. – Disse aquele shinobi que travava uma dura disputa com Sarada usando sua kunai. Ele claramente parecia em desvantagem e extremamente cansado. – É um prazer lutar pessoalmente contra um Uchiha.

— Você também não é tão ruim. – A kunoichi mantinha o breve diálogo enquanto prestava atenção aos movimentos do adversário.

Não demorou muito para que Sarada acertasse o primeiro ataque em seu oponente usando sua kunai. A dor de sofrer aquele golpe claramente incomodava o adversário da Uchiha, seus movimentos ficaram mais lentos e previsíveis com isso, e aquela pouca habilidade que demonstrava caíra drasticamente após sofrer o primeiro ataque.

— Pelo visto, isso não vai demorar muito tempo... – Sarada observou. – Você foi muito bem-

— Yusuke. – O ninja da Pedra interrompeu. Estava claramente irritado com o resultado que aquela batalha estava tomando, e para sua infelicidade nada podia fazer contra os rápidos movimentos de Sarada ou acertá-la com um ataque enquanto ela mantinha aquele maldito sharingan ativado. Também não havia nenhum jeito dele usar ninjutsu, já que a Uchiha o pressionava em um intenso combate enfrentado com kunais e estava atenta a não deixá-lo realizar selos de mão.

Aquele frustrado ninja queria acertar apenas um único ataque, mas seu desespero apenas aumentava a grande diferença que já havia entre os dois. Fora logo surpreendido, porém, quando a Uchiha cessou aqueles ataques.

— Estilo Fogo: Jutsu Bola de Fogo! – Após tomar um pouco de distância e formar os selos necessários para realizar aquela técnica, Sarada lançou uma imensa bola de fogo em direção a seu já cansado adversário, que nada mais podia fazer. Aquela técnica era extremamente mais forte e intensa que todas que recebera até então, e a dor de ser atingido por aquele movimento era insuportável, logo sendo levado ao chão quase que imediatamente. Embora agonizando, ainda tentava se levantar, embora sem sucesso. Pôde sentir, sem nada poder fazer, que sua adversária pegava o número que ele carregava consigo – fora aprovado sendo o dezesseis – e sentiu sua inutilidade e a tremenda diferença de poder em relação à kunoichi da Folha quando se percebeu perto de desmaiar.

— Não vou matar você, Yusuke. – Sarada disse calmamente e observou o adversário caído por um breve momento até esse desmaiar. Quando isso ocorreu, tudo que restava para ela era observar a luta de Yuru com seu adversário.

Algo parecia errado sobre aquilo.

Percebera que apenas Yuru restava, e nem mesmo um corpo restou daquele que o enfrentava. Era como se o outro ninja da Pedra, parceiro de Yusuke, nunca houvesse existido ou estado ali. Isso a deixava desconfortável, pois, mesmo sabendo das regras do Exame Chunin e da permissão para matar seus adversários nunca havia cogitado que justamente seu parceiro seria capaz de fazer algo tão cruel quanto aqui.

Porém, logo algo a pegou de surpresa. Percebeu uma kunai atirada certeiramente em direção a Yusuke com seu sharingan e se espantou ao ver a precisão com que aquele shinobi praticamente indefeso fora atingido, sem mesmo ter qualquer tempo para se defender. Ao perceber isso, aproximou-se de seu adversário anterior para constatar aquilo que menos gostaria de ver no momento. Observou brevemente Yuru, que sorria, enquanto tentava ajudar o ninja desacordado.

Yusuke estava morto e o responsável por aquilo era Yuru.

— Por que você fez isso?! – falou alto, claramente zangada. O sorriso de seu parceiro logo ficou maior, como se sua fúria o fizesse bem.

— Que maravilha, Uchiha... Esse seu sharingan... – falava pausadamente, enquanto fitava profundamente Sarada – O resultado desse seu olho durante a luta foi... esplêndido.

— Mas o que você está falando, Yuru?!

Ele nada disse. A única reação que Sarada pode ver era o corpo do jovem modificando-se bruscamente, sendo envolto por um tipo de massa branca pegajosa, que a Uchiha foi incapaz de deduzir o que era.

Arregalou os olhos.

Em alguns breves segundos, aquele rapaz baixo de cabelos espetados não estava mais a sua frente. Havia transformado-se completamente em um alguém totalmente diferente... Em um homem pálido, longos cabelos negros que escorriam por suas costas, e ameaçadores olhos dourados, lembrando uma peçonhenta serpente.

— Eu pensei que era apenas o Sasuke-kun que estivesse por aqui, mas... Que sorte eu tive em logo ter você de dupla... – a voz também havia se alterado completamente, perdendo aquele alegre tom jovial; agora soava sádica, rouca – Eu sabia que podia esperar bastante de você.

— Q-quem é você?!

— O meu nome é Orochimaru... – ainda seguia a fitando fixamente, dessa vez se aproximando um pouco – Não me veja como um oponente, Sarada. Um dia, iremos trabalhar juntos. – então, lentamente, ele lambeu seus lábios.

— Não diga bobagens. – disse – Diga logo o que você quer, Orochimaru! - suas palavras fizeram o sanin escutá-la mais um pouco – Eu ouvi muitas histórias sobre você, conheço a maioria dos seus podres contra Konoha! E inclusive... Sobre o caminho que meu pai seguiu ao se juntar com você!

Orochimaru não pareceu espantado com as palavras de Sarada. Pelo contrário, ainda mantinha um leve sorriso.

— Então você quer me dizer que sabe coisas sobre o futuro? – murmurou – Interessante. Você é muito interessante! Posso dizer até mais interessante que o Sasuke-kun... Então, me diga, como conseguiu vir ao passado? Que tipo de tecnologia você usou?

— Isso não é da sua conta! – gritou – Você veio aqui atrás do meu pai, não é mesmo?

Sarada definitivamente não sabia o que fazer. Estava arruinado. O passado já estava arruinado. Se ela lutasse com Orochimaru, tudo que ela mais evitou estaria acontecendo: provavelmente ele não iria atrás de Sasuke, então, Sasuke não se juntaria a ele. E se isso não tivesse acontecido? Não podia, ou ao menos tinha o direito de mudar tudo que acontecera. Mas já estava ficando sem opções.

No seu breve segundo de distração, sentiu Orochimaru atrás de si. Seu sharingan fora capaz de acompanhar o oponente, porém seu corpo não.

Não havia tempo para reagir a um ataque direto.

— Gogyo Fuin! (selo dos cinco elementos) – imediatamente, os cinco dedos de Orochimaru foram envolvidos por uma espécie de chama roxa. De fato, a técnica não parecia muito ameaçadora. Ele logo usou de sua mão para acertar um golpe direto em Sarada, que fora lançada para trás.

O jutsu de selo dos cinco elementos não se tratava de nada mais do que um jutsu poderoso para bloquear ou atrapalhar o fluxo de chakra do adversário – ele não parecia estar querendo lutar para matá-la.

— Maldito... – cerrou os punhos – Estilo fogo: Jutsu bola de fogo! – a bola de fogo saiu consideravelmente menor, devido seu chakra estar em parte bloqueado. Orochimaru não demonstrou nenhuma dificuldade em desviar do fraco ataque vindo de Sarada.

— Você ainda não está madura, Sarada... Esse seu corpo tem muito a evoluir... Assim como você... Vamos logo acabar com isso, não quero vê-la sofrendo... Tão jovem... – concluiu. - Sen’ei Tajusho! (mãos de múltiplas serpentas ocultas na sombra) – de suas mangas, cerca de cinco ou seis cobras amarronzadas pareciam ter sido invocadas. Sem perder tempo, aproveitou de sua distância para lança-las até Sarada, que, sem tempo para reação teve seu corpo envolto pelas serpentes.

O esforço para se soltar era em vão. O quanto mais se contorcia, mais era apertada, até sentir seus ossos quase quebrarem. Gritou alto, porém ninguém apareceu para salvá-la. Não havia nenhum sinal de vida por lá, afinal.

— Vou dar pra você o presentinho que eu daria ao seu pai, Sarada... Fique grata por isso. – disse ironicamente – Maku no Jyuuin. (marca do selo amaldiçoado). – Orochimaru, de alguma forma, esticou seu pescoço até onde Sarada estava, e logo fincou seus dentes na carne da Uchiha, que apenas seguiu urrando de dor.

Sentia-se desmaiando, como se suas poucas forças fossem se esgotar a qualquer instante, enquanto observava Orochimaru com dificuldade, já temendo pelo pior. Não poderia fazer mais nada, tanto por si quanto pelo já arruinado futuro... Simplesmente não tinha poder para mudar nada, e a diferença abismal entre ela e o sannin era dezenas de vezes maior que entre Sarada e Yusuke.

Estava fraca, diante de um ameaçador inimigo e com aquela marca da maldição que apenas fazia tudo aquilo pior. A intensa dor não a deixava mover seu corpo de maneira alguma, e não sabia se resistiria à marca da maldição. Por um momento, era como se já esperasse a sua solitária morte naquela floresta. Restava apenas esperar pelo pior.