O dia começou com finas gotas d’água caindo incessantemente, juntamente com um clima inesperadamente gélido. Naquela manhã, Konoha tinha seu céu completamente acinzentado, e suas ruas tomadas por uma calmaria incomum.

Mesmo em baixo daquela chuva que ficava mais forte a cada minuto, Boruto havia decidido sair um pouco mais cedo de casa, antes mesmo de Naruto – Sarada apenas o acompanhara no intuito não o deixar “passar dos limites”.

As explicações para a segunda fase do exame chunin ocorreriam na entrada da aldeia, provavelmente. Ele queria apenas estar lá o mais rápido possível.

“- Vou chegar apenas alguns minutos adiantado... Não posso correr o risco de me atrasar!” – pensava.

Já haviam se passado meia-hora desde que estava ali, parado em frente ao portão de acesso à aldeia.

— Eu avisei que chegaríamos cedo demais! – Sarada falava em um total tom de reprovação – Devíamos ter vindo mais tarde, Boruto! Você deveria saber esperar a hora das coisas... – suspirou. Ainda tinha a expressão sonolenta.
— Isso não é nada! – a face animada do loiro contrastava com o mau-humor da Uchiha – Tenho certeza que daqui um pouco todos já estarão chegando!
— A sua vontade de se tornar um chunin é tão grande assim? Mesmo sabendo que não iremos ficar nesse... tempo?
—É claro que sim! – disse animadamente – E você também deveria estar mais empolgada! Se passarmos, vamos ter uma qualificação bem maior como ninjas!
— Eu iria me tornar chunin de um jeito ou de outro... Não se esqueça que eu me tornarei a Hokage, Boruto. – respondeu de forma convencida – Por isso não fico tão empolgada para algo tão pequeno.
— Pequeno?! Não é pequeno! – protestou o Uzumaki, mas cessou suas palavras quando viu que o pergaminho que carregava consigo estava ficando completamente ensopado – Droga! Desse jeito, ele vai ficar todo destruído! Eu vou ter que...
— Abrir? – a morena concluiu – Acho que você não pode fazer isso.
— Mas se ele molhar por completo vai ser bem pior! Eu preciso abrir! Tenho certeza que vão entender!
— Você é mesmo um imbecil. – suspirou – Espero que não seja desclassificado.
— E você se importa com isso? – o loiro abriu um sorrisinho.
— Não! Eu não me importo! – retrucou, corando de leve – Faça isso logo, Boruto.
— Sim!

O Uzumaki não se mostrava tenso enquanto, cuidadosamente, desembrulhava o pequeno pergaminho que havia recebido. A única coisa que o deixava um tanto apreensivo era o fato de que pudesse ser, de alguma forma, desclassificado por descumprir a regra de abri-lo antes. Mas, para Boruto, era melhor abrir logo e saber sobre o que se tratava, do que não abrir e talvez não saber mais.
E ainda tinha Riaza.
Quando finalmente o desembrulhou, após alguns longos segundos, arregalou de leve os olhos enquanto lia o conteúdo que tinha na folha. E, por mais que a Uchiha não quisesse demonstrar, era mais do que óbvio que ela estava curiosa. Logo perguntou a contragosto.

— Então?
— 15... – disse – Tem apenas o número 15 aqui – parecia confuso.
— O que será que isso quer dizer?
— Isso quer dizer que esse é o número dos seus oponentes... – a voz desconhecida surgiu repentinamente, fazendo os dois genins viraram-se para trás com rapidez.

A dona da voz não era ninguém menos que Anko, a kunoichi cuja responsabilidade era supervisionar a segunda prova do exame. Boruto encarou-a um pouco nervoso, temendo que ela o desclassificasse por ter aberto seu pergaminho com antecedência, porém aliviou-se ao ver que a expressão da mulher não demonstrava algum tipo de reprovação.

— Número dos oponentes? – o Uzumaki perguntou.
— Sim! Bem, a hora marcada já está chegando, então vamos esperar todos chegarem até aqui para eu poder explicar claramente as regras. – disse.

Durante a espera pelos outros, a chuva cada vez vinha a cair mais forte, dessa vez sendo acompanhada por trovões que cobriam o céu. Boruto, completamente ensopado, tentava inutilmente encontrar uma forma de se abrigar da água, enquanto Sarada apenas aguardava, tentando evitar que seus óculos ficassem embaçados.

Os primeiros a chegarem foram um misterioso trio da aldeia da Nuvem, constituído apenas de garotas. E, pouco tempo após isso, os irmãos da areia também estavam lá, seguidos de Ino, Shikamaru e Choji e Kiba, Hinata e Shino. E, aos poucos, aproximadamente 50 e poucos ninjas estavam por lá.
E a chuva não cessava.

— Muito bem! – a kunoichi de cabelos roxos finalmente pronunciou-se – Antes de apresentações, eu tenho apenas um aviso para dar a todos vocês! Nessa fase, ninguém terá moleza! A vida de vocês estará em risco aqui! Por isso, lutem pela suas vidas! – afirmou – Primeiramente, irei distribuir números de 1 à 28, então se juntem com a mesma dupla que vocês fizeram a primeira etapa! O número valerá para os dois.

Após aquelas palavras, Anko aguardou alguns minutos até que todos se organizassem, e após isso, distribuiu números escritos em uma pequena plaquinha redonda.

Logo retornou até à frente de todos.

— Bem-vindos à segunda fase do Exame Chunin! Meu nome é Anko Mitarashi e eu ficarei a cargo do exame por enquanto. Agora que vocês estão com os números, eu peço que abram seus pergaminhos!

Sasuke foi o primeiro a fazer isso, já que estava encarregado do pergaminho de sua dupla. Sakura apenas observava enquanto o Uchiha se perguntou por um breve momento o que ele encontraria escrito ali. Poderia muito bem ser algum tipo de armadilha, ele pensava, para desclassificar logo os mais desavisados.

— E por que eu devo confiar que não há nada perigoso por aqui? Pensando bem, isso pode ser apenas um truque para que alguns sejam eliminados logo...

Anko fitou brevemente Sasuke, reconhecendo que a sua dedução realmente fazia sentido. Para um chunin, era necessário ter paciência e não agir impulsivamente ou confiar na primeira informação que via. Sasuke parecia saber disso.

— Entendo... – Disse Anko. – Mas eu não vou precisar fazer um truque sujo assim com vocês para que sejam desclassificados. No final dessa prova, apenas a metade de vocês passará para a próxima fase!
— Mas o quê?! Como assim a metade? – Naruto perguntava em voz alta, chamando a atenção de todos para si e seu companheiro Rock Lee, que estava ao seu lado. Naruto já havia aberto o seu pergaminho e, nele, pôde observar o número 7.
— Cada número que eu dei a vocês representa a sua posição. O número um foi o dono da melhor nota da primeira fase, e o número vinte e oito foi o pior. Vinte e oito duplas passaram no total.
— E o que é esse número no pergaminho? – Questionou Sarada, que permanecia quieta até então.
— Esse... – Anko parecia animada coma prova – É o número da dupla que vocês terão que eliminar da prova, roubando seu número. Vou começar explicando as regras então! – a kunoichi logo começara a falar o que deveria ser feito. – No final da segunda fase, vocês devem somar um total de cinco pontos em números com vocês. Seu próprio número vale três pontos, se capturarem o do seu alvo somarão os dois pontos que precisam para passar. Caso perderem seu número para alguém, perderão os três pontos dele e, se ficarem com o número de algum que não é seu alvo, receberão apenas um ponto!
— Então o mais importante é não perdermos o nosso próprio número... – Sasuke observou, logo percebendo que os outros genin já pareciam ocultar os números que receberam. – Eu devo acabar com isso logo e capturar o do meu alvo... Mas o que faremos quando conseguirmos os cinco pontos?
— Vocês devem aguentar com eles! A prova vai durar três dias, e será na Floresta da Morte! São três dias em que vocês não poderão sair de lá e deverão aguentar com seus pontos antes que alguém resolva tirar eles de vocês. Se você sobreviver aos três dias, então, você deve apenas sair da Floresta da Morte e mostrar seus pontos para mim.
— Então teremos que ficar por três dias lá... Por mais que eu consiga acabar rápido com meu alvo, também devo tomar cuidado durante esse tempo... Eu confesso, é mais complicado do que eu esperava.
— Me acompanhem! Levarei vocês até o local da prova. Acredito que não tenham nenhuma dúvida, não é mesmo?

**************

Durante o percurso, Boruto separou-se de Sarada. A Uchiha parecia estudar com cuidado cada um dos shinobis dali, tentando conseguir alguma informação sobre quem seriam seus alvos – em seu pergaminho, estava o número 10.

O Uzumaki seguia o caminho em silêncio, não trocando uma palavra sequer com Riaza. Questionava-se o motivo de ter que ir até a entrada da aldeia para, no fim, ter que se dirigir até outro lugar. Aquilo não fazia muito sentido.

Pelo menos os céus estavam clareando e a chuva gélida começando a cessar.

— Tenham consciência que suas vidas estão em jogo aqui! O que acontece na floresta da morte, geralmente morre lá! – afirmou, enquanto se dirigia ao local citado rapidamente – Apenas o nome já deve ser bem interessante pra vocês, não é?
— Interessante... – Riaza comentou baixinho, dirigindo suas palavras à Boruto – O que você acha sobre isso?
— Nós não vamos morrer! Vamos nos tornar chunins! – afirmou, confiante.
— Posso ver que você está bem entusiasmado... Esse exame vai realmente ser interessante...

A caminhada não fora longa, e, em alguns longos minutos, já estavam bem em frente àquele lugar assustador, que já os esperava de ‘’portas abertas’’. Antes de ordená-los entrar, Anko disse:

— Se alguém quiser desistir, vá agora! – porém, ninguém se pronunciara – Podem entrar! – após a ordem, todos adentraram ao local conhecido como floresta da morte.

Boruto olhou à sua direita, frente e após a sua esquerda, e tudo que viu fora uma imensidão verde. As colossais árvores envelhecidas cobriam quase completamente o céu, dando ao ambiente um clima sombrio. A grama, devido à chuva, também permanecia molhada, deixando o chão consideravelmente escorregadio; e a água que acumulara também parecia ter atraído alguns animais.

Arregalou de leve seus olhos azuis. Nunca havia estado em um lugar como aquele, e além disso, estava participando da prova chunin!

— Nossa presa é o número 15, não? – a reação de Riaza contrastava com a de Boruto. O homem de pele pálida não se demonstrava nada surpreso com o que vira – Vamos logo à caçada.
— Mas... Já? – o Uzumaki parecia surpreso. Afinal, nem havia se situado ali ainda.
— Sim. Você está com medo?
— Mas é claro que não! Vamos logo atrás do 15! Mas... Como vamos exatamente saber quem é o número 15?
— Isso não é um problema, ao menos que você o torne um. – disse, enquanto andava alguns metros à frente do Uzumaki – Vamos.

Boruto sentia-se entusiasmado. Como será que Sarada estava se saindo? Como será que seu pai estava se saindo? E se... Ele fosse o alvo de algum deles? Em seus pensamentos, tudo que sabia era que não podia perder. De jeito nenhum.

Seguiu seu caminho acompanhado de Riaza até que depararam-se com outra dupla de genins. Eram duas kunoichis da aldeia da pedra, pareciam perdidas, um pouco inseguras. Boruto as encarou confuso, enquanto ambas as garotas sacaram suas kunais.

— Parece que encontramos... – Riaza disse pacientemente – Vocês possuem o número quinze?
A de cabelos longos, loiros, aparentemente mais velha, fora a que se pronunciou primeiro:
— Não! Esse não é o nosso número! – disse – E se fosse, você acha que eu entregaria tão facilmente? É claro que não!
— Imaginei que você diria isso. – o homem de cabelos negros então deu um passo a frente, fazendo a dupla de kunoichis levantar ainda mais sua guarda – É uma pena, mas-
— Não vou dar tempo! Katon: kaen hosha-ki no jutsu! (jutsu de lança chamas) – a garota, apesar de demonstrar pouca idade, fora extremamente veloz em fazer os selos de mão. Disparou sem nenhuma dificuldade algumas chamas que se dirigiam ao oponente em linha reta.

Riaza não se moveu. Apenas observou a grande rajada de fogo se aproximar, e em instantes, lhe atingir – o corpo não demorou a carbonizar-se completamente em alguns instantes. Boruto, sem reação, apenas observava a luta.

— Isso é pra você aprender a não se meter com as irmãs Kurihara! – a garota agora dirigia-se ao Uzumaki – Você vai querer lut-
Sua frase não pode ser completada após sentir seu corpo começara a doer profundamente, mal coseguindo ainda manter-se de pé. Suas mãos trêmulas, involuntariamente, dirigiram-se até o estojo de kunais que carregava consigo, pegando apenas uma.
— Isso! É você que está fazendo isso... seu! – suas palavras foram direcionadas à Boruto.
— Irmã! Irmã! – a menor chamava, enquanto lágrimas formavam-se em seu rosto. Ajoelhou-se para tentar ajudá-la, porém também sentiu seu corpo se mover sozinho, tendo as mesmas ações da mais velha.

E, em questões de segundos, as irmãs apontaram as kunais para seus pescoços, cravando-as sem qualquer hesitação. O sangue jorrou longe, em grande quantidade. Os corpos também caíram quase em sincronia, manchando o gramado molhado de vermelho.
Boruto não acreditou em seus olhos. O que estava acontecendo?

— Isso sim foi um belo espetáculo... – Riaza estava intacto, encostado no tronco de uma árvore atrás do Uzumaki – Você não irá pegar o número delas? – disse.
— Você... POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?!
— Eu precisava testar o controle de minhas agulhas, e... – os olhos de Boruto não foram capazes de acompanhar, mas, quando olhou para frente novamente, o shinobi de cabelos negros já estava ao lado dos corpos falecidos – Esse é o exame chunin. – ele mexeu por pouco tempo, vasculhando o corpo de ambas as garotas – Número 19... Essas não são a nossa presa. Vamos procurar por mais.

Naquele instante, Boruto gelou. Simplesmente não conseguiu dar nenhum passo sequer. Quem diabos era aquele monstro que o acompanhava? Pra quê matar aquelas garotas?

E, mais uma vez, sentiu-se fraco. Fraco o suficiente para sentir-se a milhas de distância em nível com seu pai.

— Eu... Não posso ir... – disse.

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Acompanhada de Yuru, Sarada seguia pacientemente seu percurso dentro daquela sombria floresta. Ambos não trocavam muitas palavras, apenas seguiam lado a lado. De fato, encontrar o seu alvo seria algo mais do que complicado. Dentre todos, quem exatamente carregava o número dez?

— Ainda é cedo, temos tempo para pensar em algo... – o jovem pronunciou-se, mas não recebeu resposta. A Uchiha estava extremamente focada em seus pensamentos – Número 10, não é? Pelo que sabemos, os números foram distribuídos de acordo com as notas das provas. Podemos eliminar os mais improváveis e ter menos pessoas a quem nos preocupar.

As palavras de Yuru pareciam ter clareado a mente de Sarada. Aquilo era óbvio! Como podia não ter pensado em algo tão simples? Já conhecia suficientemente bem algumas pessoas que participavam do exame, então o critério de eliminação seria facilmente aplicado à eles.

— O Naruto... Ele não é esperto o suficiente para ficar entre os dez primeiros, assim como o Boruto... – comentou, começando seu raciocínio – Temos o Shikamaru, que provavelmente deve ter ficado entre os três primeiros, então ele também está descartado. A mamã... – logo tratou de corrigir-se antes de terminar a frase – A Sakura é um pouco provável que tenha ficado entre os dez, assim como o Gaara. E, se algum dos quesitos de avaliação deles foi quem colou de forma melhor e mais eficiente, eu poderia considerar a Ino.
As observações precisas da garota apenas deixavam o outro consideravelmente intrigado. Ela não era tão ruim, afinal.
— Também tinha aquelas garotinhas da pedra, que aparentemente nem conseguiram colar – murmurou, pensativa – São muitas duplas, mas já eliminamos algumas...
— Número 10... – agora era Yuru quem se pronunciava – Não sei porque estou com esse péssimo pressentimento.
— Não vamos ficar nervosos... Temos apenas que prestar atenção e seguir em frente...
— Você está certo. – afirmou – Vamos, temos trabalho a fazer!