Cornucópia de Bolso [EM HIATO] escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 4
Instinto


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, pessoal, desculpem-me pela demora.
Uma coisa chata do Nano é ter que cumprir prazos. Por mais que eu tenha conseguido bater minha meta (e eu o fiz com uma leve trapaça ao não contar somente esta fic para tal), isso não significa qualidade textual. Em outras palavras, após meu merecido descanso levei mais tempo do que gostaria revisando o texto.

Mas isso não é motivo pra deixar os leitores na mão, então segue o capítulo novo, parcialmente re-escrito. É, foi por isso que demorou.



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A fuga de Klaust para as árvores que cercavam a área da cornucópia não foi tão difícil como seria de se imaginar para um usuário de Pokémon terrestre como um Sandslash. Longe de ser seu território natural, suas habilidades sobre as águas claramente surpreendiam os treinadores desavisados.

Levando a habilidade de seu Pokémon em consideração, o jovem decidiu por se arriscar a pegar a mochila amarela que flutuava próxima ao tributo que se encontrava a sua direita. Era um risco calculado, claro; seus planos não funcionariam se ele dependesse apenas das armas de seu Pokémon. As garras de Klawthon eram úteis, mas depender somente delas em uma arena onde o objetivo era ser o último sobrevivente seria deveras presunçoso.

Mesmo assim, Klaust deveria ter desconfiado de que as coisas começaram fáceis para ele. Fáceis demais.

A treinadora a sua direita ignorou a mochila por algum motivo desconhecido. Flutuando com a ajuda de seu Pokémon, um Bronzor, ela decidiu rumar diretamente para o centro da cornucópia em busca das mochilas com alimento. O treinador que estava à direita dela concentrava-se nos oponentes mais óbvios que vinham em sua direção: um Swellow era atingido por um golpe de gelo no instante em que Klaust alcançou a mochila com as armas, um rapaz que alcançava uma mochila vermelha na direção oposta a ele era o próximo alvo de seu Omastar.

Era claro como as águas daquele lago que ele corria um risco desnecessário pelo tempo que ficasse ali, pelo qual tratou de pegar apenas a faca que lhe interessava, o único conteúdo da mochila, largando-a de qualquer modo antes de se afastar. Klawthon, que se adiantara na fuga, acabava de chegar à terra firme.

Talvez pelo excesso de adrenalina do momento, foi somente quando alcançou seu Pokémon que o rapaz percebeu o tamanho da guerra que acontecia pelo domínio da cornucópia, constatando que além de desinteressante para ele, seria também uma batalha perdida antes mesmo de ela começar.

Um rapaz estava montado em um Pokémon voador desconhecido para Klaust, o farfalhar de suas asas era tão poderoso que criava rajadas de vento capazes de intimidar os adversários mesmo a uma distância considerável. Um Air Slash digno de nota. Seu poder era tanto que os outros que planejavam tomar a cornucópia simplesmente desistiram, não por falta de vontade mas por medo.

Por um lado bom, estava claro que a intenção do treinador não era de matar, não naquele instante. Capacidade para isso não lhe faltava. Seu plano provavelmente era monopolizar o alimento que estava estocado sob os chifres da cornucópia, transformando os jogos em um ambiente que logo seria marcado pela fome. Somente a ausência de outras fontes de comida poderia explicar a grande quantidade de alimento ali presente.

Dito isso, Klaust não se surpreendeu em ver a garota com o Bronzor flutuando em direção à floresta. Em direção a ele e Klawthon.

Como ele logo perceberia, estava fácil demais.

O Poison Sting do Sandslash foi certeiro no pescoço da jovem. Em questão de segundos ela estaria morta. Seu treinador, agora correndo para a floresta, não sentia o menor remorso.

Era estranho pensar o quanto ele havia mudado desde que seu nome foi colhido como o tributo da região de Johto. Tão acostumado a caçar apenas para sobreviver, colocando comida na mesa de sua família, o rapaz perdeu o senso humanitário junto com a liberdade.

Se bem que a liberdade já estava perdida para ele, na verdade.

Klaust e Kenshin, os gêmeos Honnou, haviam completado dezoito anos não a muito. Como a posse de Pokémon por adultos era proibida por determinação de KaloNova, as opções dos jovens eram abandonar seus parceiros ou viver como párias, longe da sociedade e com o constante medo de serem pegos pelos pacificadores, os quais acabariam por matá-los quando o fizessem.

Dito isso, a colheita não foi uma opção tão ruim para o rapaz, considerando o futuro que ele teria em outro caso. Pelo menos através dos jogos ele poderia salvar sua família. Ainda que às custas de um rio de sangue. Ainda que ele precisasse construir a ponte com os ossos dos outros tributos.

Aquela seria sua última caçada.

Pois Klaust estava certo de que venceria os jogos. Com sua experiência na caça de Pokémon selvagens em busca de alimento, ele estava no mesmo nível que um carreirista. Não, provavelmente acima.

Por outro lado, Klawthon provavelmente não ser o melhor Pokémon para um combate direto. O rapaz sabia muito bem das limitações de seu companheiro e, por esse motivo, iria evitar contato com outras pessoas. Da mesma maneira que se acostumou a fazer em suas caçadas pela floresta Illex.

Tudo o que ele precisava estava em mãos. Troncos caídos, galhos secos, cipós que cresciam aleatoriamente por entre as árvores e a faca que conseguiu pegar da mochila no início dos jogos.

O suficiente para fazer as armadilhas que aprendera a confeccionar com a prática pelos últimos anos. Rústicas, porém altamente eficientes. Klaust chegou a monopolizar a captura de animais em Illex, visto que os outros caçadores passaram a ter medo de serem pegos por um buraco recheado com lanças de madeira ou uma guilhotina feita de galhos capaz de quebrar o pescoço dos Vulpix que lá viviam (ou a perna do treinador desavisado que disparasse o gatilho por acidente).

— Klawthon, vamos começar.

O rapaz pegava os maiores gravetos que encontrava, utilizando sua faca ou as garras do Sandslash para tornar as pontas deles afiadas. Iria fazer as armadilhas mais simples primeiro, prezando pela quantidade antes da letalidade. Em especial porque levava algum tempo para confeccionar os mecanismos mais perigosos; a última coisa que Klaust queria era ser pego desprevenido.

Ele mal tomou ciência dos três tiros de canhão que podiam ser ouvidos por toda a arena, meio que ignorando o fato de que o banho de sangue não ter sido tão mortal como ele previa.

Incrivelmente, não pesou em sua mente o fato de ele ter causado uma das três mortes. Não lhe fazia diferença como iria vencer os jogos. Apenas lhe importava o fato de que ele iria sair da arena como ganhador a qualquer custo.

Foi enquanto preparava uma lança com um tronco mais avantajado que ele percebeu a movimentação que vinha de sua direita, seguido de um único grito abafado. Mais ou menos aonde ele havia preparado as primeiras armadilhas.

Estava claro para Klaust que um dos tributos havia sido pego. O rapaz terminou calmamente de afilar a ponta da lança antes de fazer o caminho de volta para o local. Uma simples medida de segurança para o caso de ter mais de uma pessoa por ali, caso em que o acompanhante poderia ajudá-lo a escapar dependendo do tipo de armadilha. Entrar em combate é desnecessário. Se for necessário, que seja para matar.

Refazendo seus passos, não demorou muito a descobrir o que acontecera. Uma de suas armadilhas mais simples havia disparado, um mero buraco coberto com folhas com cerca de uma dezena de galhos pontudos presos às paredes, todos apontados para o fundo em seu interior. O objetivo, em teoria, era prender algum Pokémon de pequeno porte que pegasse a isca que Klaust havia colocado no fundo, uma pequena quantidade de frutos que mesmo ele teve dificuldade em encontrar, de modo que o espécime preso teria a cabeça perfurada pelos galhos se tentasse forçar sua saída

Na prática, a armadilha havia capturado um tributo. O rapaz de cabelos loiros e espetados havia pisado em falso, prendendo seu pé na armadilha. Incapaz de se soltar sem ferir a perna, ele tentava escavar em volta do buraco com suas mãos, buscando retirar os galhos que se prendiam sob a terra. O Pokémon que o acompanhava, igualmente escavando a terra, tinha pelos cinza-escuros, além de diversas marcas roxas espalhadas pelo corpo, nada características da espécie. O jovem demorou a perceber que se tratava de um Umbreon, tamanha a diferença. O fundo de preocupação com as capacidades desconhecidas daquele exemplar não o impediu de ordenar que Klawthon o atacasse imediatamente com um Sand Tomb a fim de imobilizá-lo.

— Ugh! Saxxon!

O jovem preso gritou, inutilmente. Pego de surpresa pelo ataque e sem oportunidade de reagir, tudo o que ele podia fazer era resmungar pelo golpe utilizado. Klaust se aproximava dele, já portando sua faca na mão direita. A vantagem contra o adversário desarmado era clara; seria um caso em que o combate valeria a pena, visto que a julgar pela aparência seria um oponente que lhe daria trabalho na arena caso fosse necessário um embate justo.

— Eu estou em paz… Não me mate…

Klaust encarou o outro à distância, o suor que corria pela face poderia ser pelo calor da arena ou pelo medo, o que não faria muita diferença. Ele mal conseguia manter abertos seus olhos, de um tom verde bastante característico.

— Qual o seu nome?

— Anthony — balbuciou ele.

— Me diga, Tony, por que eu não deveria atirar essa faca no seu peito agora?

— Eu não sou inimigo… — ele recuperava aos poucos a fala, ainda temendo uma reação súbita do oponente. — Nós não somos inimigos, estamos todos contra a capital… podemos conseguir a liberdade sem ter que matar uns aos outros…

— Ainda não fiquei louco para acreditar nessas coisas.

— Estou montando uma aliança. Podemos fugir daqui. Olha… existe um jeito de sair da arena sem ser matando todo mundo.

Klaust parou, ainda sem abaixar a faca. Não planejava atirá-la, apenas pelo medo de não conseguir acertar o alvo de modo fatal. Estudava se iria chutar a cabeça de Anthony ao se aproximar, ou talvez ordenar que Klawthon fizesse o trabalho sujo. É, parecia uma boa ideia, o Poison Sting causaria uma morte mais rápida e sem sofrimento.

— Fadas — murmurou Tony, quase sem pronunciar som. — Elas existem. Elas são a única coisa que ainda metem medo na capital… por que outro motivo eles se dariam ao trabalho de exterminar algumas espécies? Sabe o incidente Poisonpowder?

— Nunca ouvi falar.

Talvez não fosse exatamente verdade. Havia acontecido a cerca de quinze anos; uma frota de aeronaves do governo despejou detritos tóxicos em diversos pontos do continente, sob a justificativa de controlar o crescimento desenfreado da população Pokémon em áreas estratégicas. Klaust tinha um vago conhecimento do que aconteceu por conta de sua família, mas não foi capaz de ligar os fatos ao nome dado por Anthony.

O Umbreon começava a se recuperar do ataque sofrido, ainda que Klawthon estivesse pronto para impedi-lo.

Claro. Só está tentando ganhar tempo.

Ele decidiu por não perder tempo com a argumentação. Anthony estaria bem melhor morto, uma ameaça a menos na arena. Era um tributo esperto, que ofereceria perigo se conseguisse escapar. O rapaz começou chutando as costas do oponente, que se encontrava sentado, a perna ainda presa na armadilha. Não queria correr o risco de ser impedido.

O tempo que ele perdeu ouvindo a conversa de Anthony foi crucial, contudo. Um jato de água o atingiu em cheio antes que Klaust pudesse cravar a lâmina pelas costas do rapaz, atirando-o a alguns metros de distância do outro tributo.

Merda.

Um segundo treinador apareceu pelo outro lado segurando uma curta lâmina azulada, vindo de uma área ainda sem armadilhas. O Omastar que o acompanhava parecia muito mais perigoso do que ele havia julgado no início da competição, ao redor da cornucópia.

O peito de Klaust doía. Um sinal de que o Hydro Pump que ele recebeu no peito era poderoso, considerando a distância que o Pokémon se encontrava do alvo.

Arrependendo-se pelo tempo perdido, tomou a decisão mais segura. Teria que fugir. Seu Sandslash não conseguiria dar conta dos dois ao mesmo tempo.

— Klawthon, Sandstorm!

Não valia a pena ficar ali. Era melhor fugir e tentar atacá-los individualmente se tivesse chance. Eram dois contra um, afinal, sendo que um deles tinha vantagem de tipo.

Ao menos a experiência não fora de toda perdida. Klaust agora sabia que existia sim uma aliança na arena. E que os planos de conspiração que ouviu poderiam ser reais.

Isso poderia lhe dificultar as coisas. Ou ao menos torná-las mais interessantes.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do personagem? Uma pena que não seja meu. Acreditem ou não, recebi uma ficha de personagem quando solicitei no início da fic, e após mínimas adaptações aqui está ele. Agradecimentos ao Kieran pela ficha, eu jamais criaria um personagem nesse estilo.

No mais, adianto que não irei apresentar todos os dezesseis tributos dessa forma (o quão cansativo seria, tanto na escrita quanto na leitura?), mas eles serão citados em maior ou menor grau. Ao menos que seja por nome, como o caso da garota com o Bronzor.

Para quem quer se adiantar (prometo que não há nenhum spoiler), segue o link com o nome dos dezesseis tributos e os pokémon já revelados. Quem estiver sem um nome de pokémon entre parênteses é porque o espécime não apareceu na fic ainda: http://pastebin.com/raw/rJJgcE33

p.s> juro que o número de palavras não foi proposital! Tanto é que o Word me mostrou um pouco mais...