Cornucópia de Bolso [EM HIATO] escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 2
Trava de Gelo


Notas iniciais do capítulo

Weee, voltei. Por ora.
Antes de prosseguirmos... h̶á̶ ̶a̶l̶g̶u̶é̶m̶ ̶a̶q̶u̶i̶ ̶q̶u̶e̶ ̶e̶s̶t̶e̶j̶a̶ ̶s̶e̶m̶ ̶b̶a̶r̶r̶i̶l̶?̶, tenho que deixar algumas coisas claras.

1- A fic não vai ser contada apenas do ponto de vista do Andrew. Sorry se você se apaixonou por ele. Mas são 16 tributos ao todo, contar uma história inteira por apenas dois olhos a tornaria unidimensional demais. Não é isso que eu quero aqui.

2- Referências pra que te quero! Tudo e qualquer coisa que possa aparecer fora do normal pode ou não ser uma referência. Capitão América teria uma overdose se pudesse ler essa fic. Creio que parte da diversão aqui é encontrá-las. Posso denunciar uma coisa ou outra de maneira sutil, claro, para que vejam se estão seguindo o caminho certo. Como por exemplo o fato de que essa fic tem certa musicalidade.
Claro que não entender nenhuma das referências não irá tornar a sua experiência melhor ou pior. Apenas diferente. Então não se chateie se você não perceber nada de diferente. Até porque eu irei explicar tudo nas notas finais... do último capítulo.

3- Estou participando do Camp NaNoWriMo com essa fic, então pode ter certeza que ela não será abandonada. Pelo mesmo motivo posto o primeiro capítulo logo; terminei ele no domingo. Mas como estou sem criatividade nesse exato momento pra continuar, decidi revisar e postar pra ver se retomo o ritmo.
A propósito: minha meta é de 15.000 palavras no mês, ou seja, se eu conseguir cumprir terei uma agenda razoável de postagens.

Ah, o título desse capítulo (assim como o dos posteriores, suponho) será baseado nas trilhas sonoras usadas pra me inspirar.
Como eu sou bonzinho, darei a primeira referência de graça:
https://soundcloud.com/zircon-1/ice-lock



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O longo corredor subterrâneo terminava em uma pequena câmara, aonde um elevador já o aguardava. Andrew não sabia o que mais lhe incomodava naquele instante: a escuridão do ambiente, o cheiro pútrido que lhe queimava as narinas ou a brutalidade dos pacificadores que o carregavam pelos braços. Não que fosse necessário, visto o desânimo do treinador, que já pensava em uma maneira indolor de se despedir do mundo.

Apenas duas coisas o impediram de tomar essa iniciativa antes dos jogos. A primeira delas era o receio de que fosse escolhido outro tributo para substituí-lo nos jogos. Ele não estava disposto a arriscar a vida de outra pessoa apenas por seu medo.

A outra, muito mais decisiva no entanto, era o carinho de seus Pokémon.

Gecko, o Kecleon que o acompanhava, jamais permitiria que seu treinador se acovardasse daquele modo. Andrew e Gecko viajavam juntos pelos últimos quatro anos e, ainda que o rapaz não entendesse a linguagem de seu companheiro, conseguia compreendê-lo com facilidade por conta da convivência.

Estamos juntos nessa. Tenho que dar o meu melhor por você, Gecko.

Andrew foi jogado pelos pacificadores na pequena cabine transparente que o aguardava, a qual se fechou a um toque dado em um painel ao lado. No instante seguinte ele sentiu o movimento ascendente que o levaria até a arena, a claridade penetrando por suas pupilas dilatadas pela escuridão do corredor subterrâneo fez com que ele fechasse os olhos antes mesmo de o elevador parar de se movimentar. Levou um instante para que ele pudesse abri-los novamente e observar o que os idealizadores haviam preparado para o deleite de quem iria acompanhar a matança pelas telas dos televisores. E teve uma agradável surpresa quando o fez.

A cornucópia situada ao centro estava não mais do que cinquenta metros distante, os outros tributos que chegavam aos poucos a rodeavam, afastados talvez uns vinte metros uns dos outros, todos equidistantes entre si rodeando a estrutura central. Esta estava repleta de mochilas coloridas, a maioria delas com sua cor verde sinalizando que nelas havia contido alimento, as quais atraíam a atenção dos competidores.

O maior obstáculo, porém, era o meio pelo qual os tributos teriam que percorrer para pegarem os artefatos.

Água

Situada como uma ilha em meio a um lago artificial, a cornucópia pareceu mais convidativa ao treinador do que ele poderia pensar. Se sua intenção era sobreviver, um estoque de alimento lhe faria bem. Sem contar que ele era um exímio nadador; uma das vantagens adquiridas pela vida na região insular.

Ele logo mudou de ideia ao perceber que, se por um lado ele provavelmente conseguiria chegar lá antes dos oponentes, seria praticamente impossível que ele pudesse escapar com vida. Provavelmente seria uma opção melhor a ele fugir como havia planejado por todos aqueles dias que se antecederam aos jogos, visto que mais vinte ou trinta metros de água o separavam da terra firme, que se abria em direção a uma floresta que rodeava a arena.

— Noventa segundos! Posicionem suas pokébolas no compartimento!

Claro… estava fácil demais…

Todos os Pokémon eram automaticamente liberados de suas pokébolas no início dos jogos; um meio de tornar a carnificina mais interessante. Tal situação dificultava a vida de treinadores com Pokémon mais pesados, como Aggron ou Hippowdon, os quais eram muito populares antes da regra entrar em vigor; seus poderes defensivos eram elevados, porém sua baixa velocidade não os permitia que pudessem fugir do banho de sangue que costumava ser o combate inicial.

Tal situação não seria problema para Gecko, cujas habilidades de camuflagem permitiam que se mantivesse invisível. O mais provável, no entanto, seria que algum Pokémon usado por um dos inimigos frustrasse os planos de fuga de Andrew.

O treinador encarou o feixe de luz cinzento que se irradiava para cima partindo do topo de sua cabine, sinalizando que a pokébola com o Kecleon havia sido posicionada e revelando o tipo normal de seu Pokémon. Ele não era o único; outros dois treinadores, distantes de Andrew, haviam se decidido pelo mesmo atributo. Era uma escolha talvez inteligente, considerando que a tipagem normal possui habilidades variadas de outros tipos, possibilitando uma capacidade maior de adaptação ao ambiente e a variabilidade de técnicas, apesar de seu poder inferior a um Pokémon especializado.

E mais uma vez o treinador se considerou com sorte. A neutralidade de Gecko com relação à agua que os cercava era até positiva em comparação aos tributos mais próximos dele. Dentre os seis Pokémon ao redor do garoto, nenhum deles estaria em grande vantagem; caso a memória não lhe falhasse com as cores, dois dos oponentes eram do tipo pedra, um do tipo terrestre e um do tipo metálico. As escolhas deles seriam muito melhores em um ambiente seco, porém o lago que os rodeava lhes dava uma imensa desvantagem. Os outros dois Pokémon, em condições ligeiramente melhores, eram dos tipos voador e planta; o primeiro até poderia se considerar em boas condições, não fosse a desvantagem de tipo com relação aos que se situavam ao seu lado, enquanto o outro teria as mesmas dificuldades de locomoção, apesar de o ambiente aquático atrair Pokémon nos quais seus golpes seriam efetivos.

— Sessenta segundos. Cinquenta e nove…

A contagem regressiva transmitida por todo o ambiente da arena fez com que Andrew voltasse a planejar sua fuga. Talvez ele pudesse vencer os menos de trinta metros de água que o separavam da terra firme sem muita dificuldade; escondendo-se por entre as árvores assim que fosse possível. Ele tornou a olhar para a frente, para ter certeza de que não teria empecilho.

E pela terceira vez em menos de um minuto, sentiu-se com sorte.

Era como se o destino dissesse ao jovem que ele não deveria fugir. Não sem antes alcançar alguma das mochilas que via flutuando sobre as águas calmas do lago; não as notara antes por conta do nervosismo. Três delas se situavam próximas o suficiente para que o garoto cogitasse pegá-las. Decidiu por ignorar a mais distante delas, de cor amarela; seu conteúdo, possivelmente algum tipo de arma, era pouco chamativo considerando as intenções dele. Andrew fez uma nota mental a respeito de destruí-la se tivesse oportunidade.

A mochila em posição intermediária lhe pareceu também a mais convidativa. De acordo com as instruções que recebeu antes dos jogos, nela deveria haver um kit de primeiros socorros, o que era indicado por sua cor vermelha. Ou uma parte dele, pensou o rapaz. Eles não seriam tão bonzinhos. E, de utilidade comparável, a mochila azul que deveria conter algum tipo de pokébola estava próxima o bastante para que Andrew considerasse ser dele. Menos de cinco metros o separavam dela.

O instante de dúvida foi breve, porém suficiente para agravar o nervosismo que já o dominava. Mudando tudo o que planejara pelos últimos dois dias, Andrew cochichou para Gecko, esperando que o Kecleon pudesse ouvi-lo de dentro da pokébola mesmo após ela ter sido colocada no compartimento de liberação da cabine.

— Pegue a mochila azul e fuja pra floresta. Eu te encontro lá.

Ele não tinha como saber se seu Pokémon entenderia a mensagem, porém contava com isso. Se tudo corresse bem, conseguiriam escapar ambos sem ferimentos, além de carregarem dois artefatos importantes para sua sobrevivência.

E se não correr… que pelo menos seja indolor.

Andrew tentou tirar os pensamentos negativos da cabeça, repassando o plano e se atentando à contagem regressiva. Dezoito segundos.

Havia tempo para planejar uma rota de fuga alternativa caso algo desse errado. O Pokémon voador a sua direita provavelmente iria atrás da mochila amarela caso não rumasse diretamente para a cornucópia; a maioria dos treinadores não costumava valorizar a necessidade de se manter vivo até que o pior acontecesse.

Depois, Andrew procurou entre as luzes das cabines mais distantes por alguma de cor branca ou amarela. Os tipos gelo e elétrico seriam muito mais mortíferos nas condições de batalha que lhes eram apresentados. Felizmente nenhum dos treinadores teve essa sorte na escolha do parceiro. Se bem que mesmo que Andrew tivesse trazido seu Pichu em vez do Kecleon seu poder de ataque não seria tão grande a ponto de fazer com que os outros competidores morressem.

O que desconcentrou o rapaz, no entanto, foi o que ele não viu.

Os tributos de cada região eram colocados em posições opostas, uma medida dos idealizadores para dificultar que eles trabalhassem em equipe.

Somente por esse motivo Andrew teve certeza que a cabine não iluminada era a de Letty. O que significava que ela não trouxera nenhum Pokémon para a arena, visto que elas eram inutilizadas por uma onda magnética a cerca de vinte segundos do início dos jogos, eficientemente trancando qualquer Pokémon contido nelas caso um treinador tentasse escapar das condições impostas pelos idealizadores dos jogos.

— Oito. Sete…

Não havia tempo sequer para sentir pena, por mais que seu coração dissesse o contrário ao pular uma batida.

O que não impediu Andrew de perder o curso de ação que planejara para o início dos jogos.

O feixe de luz imediatamente à direita de Letty mudou de cor por um breve instante, rápido o bastante para que um olhar desatento não o notasse.

Lilás.

Andrew olhou rapidamente para sua própria direita, tentando identificar a nacionalidade do tributo enquanto o feixe retornava ao tom cinza-azulado característico do tipo voador. A representante de Sinnoh ao seu lado sorria de maneira sádica, como se percebesse o que o garoto acabara de ver; a desvantagem aparente de seu próprio Pokémon do tipo grama não a incomodava.

E foi a última coisa que ele viu antes que a sirene indicando o início dos jogos soasse.

Os treinadores tinham cerca de dois segundos de vantagem frente aos Pokémon por conta do tempo de liberação do mecanismo; Andrew perdeu cerca de metade desse tempo ao se desconcentrar com os feixes de luz dos oponentes. Tudo não poderia ter passado de uma ilusão de ótica, afinal nenhum dos tipos de Pokémon era associado com a cor. O tipo psíquico, de cor rosada, tinha uma tonalidade diferente o bastante para não ser confundido, assim como os tipos venenoso e fantasma tendiam muito mais ao púrpura.

Sem contar que o lilás se aproximava vagamente do tom de azul acinzentado do tipo voador. Estava claro se tratar de uma peça pregada por sua própria mente, uma distração que poderia ser a diferença entre a vida e a morte. E se não o fosse, ele poderia pensar com toda a calma do mundo quando estivesse em segurança. E isso só aconteceria se ele conseguisse alcançar a mochila vermelha.

Andrew já passava da metade do percurso, ainda mergulhando, quando a primeira explosão aconteceu.

As águas cristalinas permitiram a ele que olhasse de relance para cima, acompanhando a movimentação que ocorria fora d’água. Um pássaro voava em direção à mochila amarela, aparentemente. Seu treinador possivelmente não teria escrúpulos quanto a matar, pelo visto.

Três braçadas… duas… uma…

Andrew colocou a cabeça para fora d’água no exato instante em que o Swellow que vira voando ser atingido por um golpe super efetivo, evidenciando o lapso de pensamento que colocaria tudo a perder.

O Pokémon pássaro, cristalizado por um Ice Beam, atingiu o lago no instante em que o garoto puxava a mochila vermelha para si. Seria mais difícil mergulhar com ela, verdade, mas ele acreditava que poderia fugir nadando em seu planejamento inicial. No breve instante em que analisava qual seria sua rota de fuga, teve sua dúvida respondida antes mesmo que terminasse de se perguntar como um Pokémon do tipo pedra poderia usar o movimento do tipo gelo que derrubou o Swellow, ou mesmo porque o faria, considerando se tratar de um golpe de atributo especial quando o tipo pedra tinha por estereótipo o uso de ataques físicos.

Merda. Esqueci dos tipos secundários.

Andrew notou que o Omastar do treinador de Kanto o encarava.

Estava claro que ele era o próximo alvo. O Ice Beam que viria em sua direção já estava sendo carregado pelo Pokémon fóssil.

Não restou outra opção a Andrew a não ser abortar seu plano, abandonando a mochila e mergulhando para longe, o objeto servindo de mero obstáculo para auxiliar sua fuga.

A onda de frio foi sentida por ele enquanto se distanciava do Pokémon fóssil. Sua presença na arena não o surpreendeu apenas por sua raridade como espécie pré-histórica, não mais que por estar em posse de um tributo, considerando que a tecnologia de revitalização de fósseis era de domínio da capital

Andrew olhou para os lados, ainda sob as águas; a falta de ar não tão incômoda quanto o medo de ser atingido em cheio por um ataque antes de se distanciar o suficiente da cornucópia. Já estava a uma distância que considerava segura do Omastar, mas não estava disposto a testar sua hipótese. Expulsou com força o ar que estava em seus pulmões, dando mais três ou quatro braçadas antes de emergir, não muito surpreso por seu plano ter dado errado.

Muito mais importante seria que Gecko tivesse conseguido resgatar a mochila azul e se esconder. Encontrá-lo seria um novo problema, porém de muito menor urgência, visto que se entendiam através de diversos códigos visuais e sonoros que aprenderam com os mais de quatro anos de convivência.

O primeiro deles, talvez óbvio demais, foi encontrar a mochila azul já em terra firme, talvez uns dois metros distante do lago. Uma camada de lama estava sobre ela, como se alguém a tivesse pincelado por três vezes, um risco cruzando os outros dois paralelos.

Andrew deu um breve sorriso, correndo em linha reta na direção imediatamente oposta a cornucópia baseado na posição que a mochila se encontrava. Aquele sinal foi claramente deixado por Gecko.

Tanto tempo e ele não aprendeu a desenhar direito…

De uma coisa o jovem não podia reclamar: seu Pokémon estava seguro, provavelmente levando o conteúdo da mochila consigo. Andrew levava o objeto, agora vazio, sem descartar sua serventia apesar da cor chamativa. Tê-la consigo poderia ser de bom proveito, afinal.

Quando finalmente chegou à floresta, logo procurou por algum outro sinal de seu Pokémon, porém dessa vez sem muito sucesso. Não havia o menor indício de outro ser vivo no perímetro.

Andrew, no entanto, não se desesperou. Talvez levasse minutos, ou até horas, mas o Pokémon também iria procurar por seu treinador. Cabia ao jovem apenas sinalizar que estava por ali; ele o faria através de uma série de assovios, o que o fez após escalar uma árvore robusta o bastante, visto que a audição de Gecko era boa o bastante para que o ouvisse se estivesse próximo, ao mesmo tempo que não chamaria a atenção de outro tributo que tivesse decidido se esconder por ali.

Não foi mais do que quinze minutos depois que os tiros de canhão se fizeram ouvir. Era o segundo melhor som que poderia ouvir naquele momento, atrás apenas dos sons de seu Kecleon.

O jovem teria que esperar até a noite para saber quem deixara o jogo, mas não pôde deixar de se animar de qualquer modo. Três a menos.

O problema era que para ele sobreviver, doze mais teriam que morrer. E Andrew ainda imaginava que poderia conseguir assistir a todas essas mortes sem sujar suas mãos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Podem fazer suas especulações nos comentários se quiserem, eu não vou morder.