SKYLER JONES • POV

Eu já estava enfurnada naquele quarto de hospital há quase três semanas, o que eu achava realmente desnecessário já que eu estava bem melhor. A única coisa que me impedia de enlouquecer e sair correndo para casa, eram as visitas de Michael. Ele me visitava quase todos os dias, e mesmo eu dizendo que ele tinha que se concentrar em sua carreira, ele insistia em vir, mesmo que fosse à noite. Michael havia me contado que estava movendo um processo contra a Pepsi, e eu estava prestes a dizer que não precisava se dar ao trabalho por mim, mas aí eu lembrei o que ele faria com o dinheiro que a Pepsi teria de pagar. E com certeza era uma coisa que eu não queria que mudasse.

Eu ainda sentia um forte incômodo no lugar onde me queimei, mas eu sentia que aquela dor era como um troféu, porque eu havia conseguido. Eu salvei Michael! Não podia estar mais feliz por ter uma queimadura de segundo grau nas costas. Todos os dias em que eu via seu rosto, suspirava de alívio por saber que ele vai estar vivo quando eu voltar para 2016. Mas também sentia certa frustração ao lembrar que logo irei embora.

Eu sei que tenho uma família que deve estar desesperada procurando por mim, e eu não nego que sinto saudades de casa. Mas parte de mim não quer deixar Michael. O que ele irá pensar quando acordar um dia e perceber que eu sumi? Nossa amizade está se fortalecendo, e ele com certeza irá notar minha ausência, mas eu não posso simplesmente contar a verdade a ele. O que eu iria dizer? ‘’Bom dia, Michael. Como você está? Ah, a propósito, eu sou do ano 2016 e viajei no tempo para salvar sua vida. Vamos almoçar?’’ Não, isso está fora de cogitação. A única coisa que eu posso fazer é esperar que quando eu for embora, ele não se lembre de que já me conheceu.

Hoje é dia 27 de fevereiro. Já faz um mês que estou no hospital. O Grammy será amanhã. E eu ainda não recebi alta. Merda, eu já fiz todos os exames necessários, o médico já me receitou os remédios, sou obrigada a passar uma pomada sobre a queimadura todos os dias. O que mais eu tenho que fazer para sair daqui?

— Olá, Jones. — Michael entrou no quarto, e segurava uma sacola em uma das mãos.

— Olá, Jackson. — chamei-o pelo sobrenome. Era uma mania que tínhamos adquirido com o tempo. Ele sentou-se na poltrona ao lado da minha cama, como sempre fazia quando me visitava.

— O que foi? Parece inquieta. — ele perguntou ao notar que eu estalava os dedos e mordia o lábio inferior sem parar, coisas que eu só fazia quando estava nervosa.

— Eu não aguento mais ficar aqui. — respondi sem rodeios. — Preciso receber alta logo. — ele abriu um sorriso e me encarou. Qual é? Agora é engraçado me ver nesse estado? — O que foi? — ele jogou a sacola que segurava em cima de mim.

— É melhor se arrumar, Jones. — ele respondeu ainda sorrindo e eu franzi o cenho. — Você vai para casa hoje. — olhei dentro da sacola, e ali tinham algumas roupas. Respirei fundo, me sentindo mais aliviada do que nunca. Finalmente eu sairia daquele cubículo. Olhei para Michael sorrindo em agradecimento e corri até o banheiro para me arrumar. Peguei as roupas dentro da sacola, esperando ser as minhas, mas quando as vi, me segurei para não abrir a porta e jogá-las em cima de Michael.

Era o figurino perfeito de Thriller, mas em modelo feminino. Mas que droga, o que ele tinha na cabeça?

Bem, de qualquer forma, é melhor do que aquela roupa horrível de hospital, então coloquei a roupa que Michael havia me dado, mesmo contra minha vontade, e com certa dificuldade devido a queimadura.

Quando saí do banheiro, Michael já segurava a risada. Mas quando me viu, explodiu em gargalhadas. Idiota.

— Que brincadeira é essa, Jackson? — ele segurava a barriga enquanto ria como uma criança.

— Ótimo gosto para roupas, Skyler. — ele respondeu, ironizando. Juro que eu me segurava muito para não estapear aquele rosto lindo.

— Eu não vou sair assim. — ele parou de rir por um segundo e me lançou um olhar desafiador e eu logo notei o que ele pretendia. Arregalei os olhos enquanto ele andava em minha direção.

— Ah, sim. Você vai. — ele agarrou meu braço e me arrastou para a porta, enquanto eu tentava puxá-lo de volta. Ah, Michael Jackson, você me paga.

Infelizmente, por ele ser muito mais forte e mais alto que eu, eu perdi a luta, e fui obrigada a andar pelos corredores do hospital vestida daquele jeito enquanto enfermeiras, médicos e alguns pacientes nos olhavam dando risadinhas. Quando saímos pela porta, eu corri até o carro que nos esperava para evitar que alguém na rua visse. Michael entrou logo atrás de mim, ainda rindo. Eu nunca me senti tão ridícula.

— Eu te odeio. — murmurei, o que só fez as risadas e Michael aumentarem. Respire fundo e conte até dez, Skyler. Um... dois...

— Eu também te amo. — meu coração falhou uma batida e eu interrompi a contagem instantaneamente. Senti meus olhos marejarem e virei a cabeça para a janela, evitando que Michael percebesse. Eu sei que é apenas brincadeira, mas só Deus sabe quanto tempo eu esperei para ouvir aquelas palavras saírem da boca de Michael Jackson.

Percebi que estava realmente quase chorando e balancei a cabeça, afastando estes pensamentos. Dei o endereço ao motorista e seguimos até minha casa.

Eu não imaginava que o hospital onde estava ficasse tão longe, quase dormi durante o trajeto. Mas despertei ao ver que passávamos por um lugar conhecido. O abrigo onde eu era voluntária desde que Zoey fora embora. Eu havia esquecido totalmente. Pedi ao motorista que parasse o carro imediatamente e tanto ele quanto Michael não entenderam.

— Aonde vai? — perguntou Michael quando me viu saindo do carro. Eu já havia esquecido totalmente o problema com as roupas, nem ligava se alguém ia notar, só queria entrar lá e ver como as coisas estavam. Nem percebi que Michael me seguia.

Atravessei a rua e entrei no abrigo sem rodeios, não havia muita segurança. Era uma casa não muito luxuosa, mas muito confortável. Era feita de material e tinha dois andares. Os cômodos do andar de cima e alguns do de baixo eram todos quartos. Tinham três banheiros, uma sala e uma cozinha enorme. Tinha lugar para todos ali, mas estava começando a ficar apertado. Eu mal conseguia me locomover com a movimentação ali dentro.

— Posso perguntar o que estamos fazendo aqui? — Michael finalmente se pronunciou e eu notei que ele estava atrás de mim.

— Eu sou voluntária nesse abrigo. — ele me olhou encantado. Algo me diz que Michael não esperava isso de mim.

Nós ficamos ali durante horas. Michael me ajudou a alimentar algumas pessoas que estavam com fome, já que nem sempre a comida que havia ali dava para todos, cuidamos de alguns doentes e lemos alguns livros de histórias infantis para as crianças. Algumas me perguntaram por que eu estava vestida como Michael, o que fez ele voltar a rir e eu voltar a sentir vontade de socar seu nariz. Fomos para minha casa apenas quando já estava anoitecendo.

— Você me surpreendeu, Jones. — disse Michael enquanto eu o ajudava a carregar suas malas para o antigo quarto de Zoey.

— Me diga quando é que eu não te surpreendo. — deixei a última mala sobre sua cama, já ofegante. Michael me olhou com uma expressão que eu não consegui decifrar, e aquilo me deixou um tanto receosa.

— Realmente, você é cheia de surpresas. — ele disse sorrindo, e eu senti meu rosto esquentar. Droga, não fique corada na frente dele, sua idiota. — Você até que ficou bem com essa roupa, sabia? — ele voltou a dar risada. Deus, será que ele não cansa?

— Ah, cala a boca. — falei, mas não consegui segurar a risada. Ficamos rindo durante alguns segundos, e quando paramos, Michael voltou a me encarar daquela forma misteriosa, e eu desviei meu olhar do seu. — Bom, eu vou dormir. Fique a vontade, a casa é sua. Boa noite. — disse rapidamente e saí do quarto, sem deixa-lo responder.

Entrei no meu quarto correndo e, não sei exatamente o porquê, mas tranquei a porta. Algo me diz que serão longos dias com Michael aqui.