Arkhé - Perseguidos escrita por Yendel


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

E agora...
O fim.

(O tão aguardado - ou não - final que eu demorei tanto tempo para postar, mas que finalmente está aqui)

Espero que gostem.



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—Alex tem uma caixa de grafites no meu bolso, veja se você consegue pegar.

Estávamos acorrentados a parede, as mãos atrás das costas. A posição era extremamente desconfortável, mas eu não podia reclamar da vista: Painéis de vidro cobriam toda a parede a nossa frente, mostrando a cidade inteira.

—Grafite?

—É, grafite. Depois eu te explico, só pegue, está no meu bolso da frente.

—Isso envolve usar seus poderes?

—Com certeza? O que você acha que eu faria com grafite?

—É o que eu estou perguntando. Mas você acha que eles iriam nos prender sem tomar precauções para os nossos poderes antes?

—Estava na esperança.

—As correntes são a prova disso, só podem ser abertas por coisas matériais. Ou seja, da forma tradicional: Com a chave, ou sendo quebradas com alguma coisa mesmo. Aguentam fogo, água, vento, terra, telecinese... Qualquer coisa que envolva nossos poderes.

—Como diabos fizeram uma corrente assim?

—Esse é o mistério.

—Enfim, só me dá a caixa de grafites vai.

—Mas eu acabei de fa...

—Só faz isso.

Ele suspirou. Então andou mais para perto de mim e se contorceu para pegar os grafites no meu bolso.

—Pronto. – Ele colocou a caixa nas minha mãos e então voltou para o lugar em que estava antes.

Agora que tinha a caixa nas mãos percebi que não tinha pensado em uma coisa: Como eu ia tirar o grafite dentro sem derrubar tudo?

—Desculpa. – Alex disse subitamente.

—O quê? – Ainda estava concentrada em abrir a caixinha.

—Não era para você estar aqui, você não tem nada a ver com isso, eu que te meti nisso tudo e...

—Ei. – Desviei a minha atenção da caixa para olhar para ele. – Você não tem nada a ver com o fato de eu ser Arkhé. E eu não lamento nem um pouco ter te conhecido. Imagino como seria a minha vida se eu não tivesse ido roubar aquele gabarito, eu provavelmente entraria em depressão em alguns anos.

—Você tinha uma vida...

—Caramba que vida aquela, sério. Alex, pare de se culpar por tudo.

—Mas se a culpa é minha você quer que eu faça o que? Coloque em você?

—Sim, eu só estou aqui por que eu escolhi, tudo o que eu fiz até agora me levou até aqui. E ok então, sim, você é o culpado disso, o culpado de mudar a minha vida para melhor, não pior.

—Eu não...

A porta se abriu com um estrondo. Whithill entrou com mais dez seguranças e dois homens de jaleco.

—Então, como gostariam de morrer?

Engoli em seco, ainda não tinha conseguido abrir a porcaria da caixa.

Alex simplesmente encarou Whithill.

—Por que nos matar? – Perguntei do nada, eu precisava ganhar tempo.

—Perdi tempo demais tentando fazer com que o meu adorado sobrinho me dissesse onde está a chave a qual vai de uma vez por todas resolver o trabalho de vida de Robert e eu.

—Vejo que se empenhou bastante, para chegar até a tortura-lo. – Disse com desgosto. – Aliás, que tipo de tortura é essa que não deixa marcas?

—Eu respondo ou você Alexandre?

—É... Não existe só uma forma de se torturar uma pessoa... – Disse Alex com a voz falha.

—Sem contar com os remédios milagrosos feitos nos laboratórios. – Whithill disse animado.

—Eu... Eu não entendo. Se estava tão desesperado para conseguir a chave, por que não vasculhou a casa? Por que não colocou buscas para Alex? Por que, querendo realmente te insultar, não era como se ele não pudesse ter uma vida, ele tomava precauções, mas se estivessem mesmo atrás dele, com toda essa tecnologia que vocês tem, ele não conseguiria nem sair de casa.

—Ah nós vasculhamos a casa, no mesmo dia em que Robert desapareceu e abandonou o filho – Ele fez questão de enfatizar essa última parte, fiquei com uma raiva mortal. – E por favor querida, o mundo não gira somente em torno de Alexandre. Claro que encontra-lo e faze-lo falar é algo importante, facilitaria nosso trabalho. Mas a questão é que temos várias outras coisas a fazer. Sem falar que isto é somente um centro de testes e pesquisa. A base de rastreamento e perseguição de Arkhés não fica nesta cidade, e realmente, se eles estivessem atrás dele, Alexandre já estaria dentro de uma cela de contenção máxima em, no máximo, três dias após o alerta entrar no sistema.

—Então porque ainda não colocou meu alerta no sistema? Não seria bem mais fácil deixar o trabalho de me perseguirem para eles? – Disse Alex com ódio.

—Por que Alexandre, eles não simplesmente te prenderiam e trariam para cá, eles tem um código e regras a serem cumpridas. Não podem avaliar por cada caso e relevar um de vez em quando. Apesar de sermos da mesma corporativa, temos interesses e métodos diferentes.

—Não tenho tanta certeza quanto aos métodos. – Falou Alex.

—Acredite, o que fiz a você, não é nada em comparação ao que eles fariam. – Whithill disse se aproximando de Alex e o olhando nos olhos. – Você não sabe a vontade que eu tenho de tirar esses poderes de você, de tirar de todos iguais a você. Vocês não sabem o que tem nas mãos, não conseguem entender.

—Você tem inveja. – Disse no ato.

—O que? – Whithill se virou para mim.

—Você tem inveja. De seu irmão e de Alex, por eles serem Arkhés e terem poderes e você não, não acha justo que eles tenham algo que você não tem. Por isso não sente remorso em torturar Alex, aposto que se mordia todo por dentro quando o pai de Alex usava os poderes.

Victor Whithill me encarou, um olhar gelado que fez meu corpo tremer.

—Eu acho que vocês são aberrações, aberrações que ameaçam a linhagem dos homo sapiens, e por isso tem que ser exterminados. Mas isso nós já vamos dar um jeito logo logo.

—Se não pode ser um deles, os odeie, porque não? – Disse ironicamente.

Whithill riu.

—Não, você está entendendo tudo errado querida. Não odeio vocês. Como poderia? É estudar vocês que me traz sucesso.

—Perseguir, torturar e matar também. – Rebati.

—Para ter sucesso, sucesso de verdade, temos que fazer coisas que não estávamos dispostos a fazer antes. Como é que se diz? Expandir horizontes.

—Você é louco. – Disse Alex.

Whithill sorriu. A minha raiva e ódio por aquele sujeito só aumentavam mais e mais, eu não sei se conseguiria manter tudo o que eu estava pensando dele só pra mim por muito tempo.

Minha mãe. Meu pai. Alex e o pai dele. E (Não tenho como provar isso, mas ele definitivamente tinha algum envolvimento com a máfia, o restaurante e o meu colégio). Além de inúmeras outras coisas que ele já fez e pessoas que machucou. Eu já estava por aqui. O tanto que ele me atingiu (Minha vida toda foi destruída por causa dele se pensar assim, e eu nem conhecia ele, passei esse tempo todo pensando que meus pais me odiavam ou algo do tipo). Eu não podia dar um soco na cara dele, mas se eu não fizesse algo logo, parecia que eu iria explodir.

—Vocês se acham superiores só por que tem poderes, sinto muito informar, não é bem assim que funciona. Quem está acorrentado são vocês não eu, quem estão sendo perseguidos são vocês e não eu e quem vai morrer nesta sala serão vocês e sou eu que vou dar a ordem.

Reparei que Whithill tinha os mesmos olhos de Alex. Verdes e Brilhantes. Mas ainda assim não eram iguais. Dava pra ver a sede de (vigança? Não sei muito sobre a família de Alex para ter certeza. Ainda estou tentando adivinhar quem é Adele, o nome é francês, então eu aposto que seja a mãe dele, mas vai que ele tem uma irmã e eu não sabia...).

Os olhos de de Whithill brilharam com a “visível” vitória, se dependesse de mim isso não iria acontecer tão cedo.

Não dá. Já chega.

—Você é o pior de todas as pessoas que já conheci. Você é vingativo, desconfiado, obsessivo, rancoroso, vagabundo, frio, cruel, antiético, sem caráter, traidor, orgulhoso, pessimista, preconceituoso, egoísta, materialista, falso, malicioso, mentiroso, invejoso, cínico, ignorante, fofoqueiro, hipócrita e traiçoeiro. Você é um canalha completo. Só ama a si mesmo e se duvidar não ama nem a sua mãe. Você é imprestável e o mundo estaria bem melhor sem você nele. Você é um tirano que não tem nem poder para tal. Você, você é que deveria ser exterminado.

Silêncio total na sala, se uma agulha caísse no chão agora mesmo, daria para ouvir o som.

Alex foi o primeiro a falar:

—Me lembre de nunca brigar feio com você.

Whithill veio na minha direção, não consegui entender seus olhos. Ele pegou meu queixo de uma forma nada delicada e me fez olhar para ele.

—Assim você me lisonjeia, mas sugiro que guarde suas palavras para outra ocasião, garanto que há sim pessoas piores do que eu nesta vida. Uma pena que você não terá tempo de conhece-la. E não importa o que você quer ou não quer querida, vocês é que serão exterminados hoje.

Consegui a abrir a tampa da caixinha. Ah aquele velho desgraçado ia ver só.

Consegui colocar um grafite na mão, derrubei a caixa no chão, fechei os olhos e me concentrei no tubo na minha mão.

—Podem matar. – Ouvi Whithill dizer.

Conseguia ouvir Alex se debatendo nas correntes e tentando se soltar.

Mais alguns segundos.

Ouvi então as travas de várias armas sendo apontadas para nós.

Disposição tetraédrica. Disposição tetraédrica.

Senti o grafite na minha mão mudar de forma. Assim que virou um bastão eu o girei e rapidamente quebrei as correntes, estava livre da parede mas minhas mãos ainda estavam presas. Pulei e passei as mãos por baixo dos pés, agora minhas mãos estavam na frente (E eu acho que torci o ombro direito fazendo isso. Ai.) Movi o bastão e quebrei as correntes que juntavam minhas mãos.

Livrei Alex das correntes e então lancei o bastão na direção de um dos homens que estavam com as armas maiores apontadas para nós (Não espera. A atiradora era uma mulher. Enfim. Detalhes.).

Agora livre das correntes. Alex fez um círculo de fogo ao nosso redor. Eu tranquei a porta por telecinese e então me abaixei para pegar a caixa de grafites, joguei todos na minha mão esquerda e descartei a caixa. Passei um para a direita e comecei a gira-lo entre os dedos, segundos depois, segurava outro bastão de diamante nas mãos. Estava pegando o jeito da coisa.

Enquanto Alex lançava bolas de fogo nos seguranças, eu atirei o bastão no outro cara (Dessa vez era um homem mesmo) que estava com outra arma gigante na nossa mira. Ele caiu no chão e eu puxei a arma até mim por telecinese e apontei para um grupo que tentava abrir a porta. Atirei. Um campo magnético (Esse é o termo? Não faço a menor ideia) foi na direção deles e os atirou contra a parede e depois para o chão.

Atirei uma, duas, três vezes até que todos estavam no chão. Inclusive Whithill.

—Não sei você Alex, mas eu adoro ser uma aberração.

Alex sorriu e reprimiu o riso.

Ele virou e veio na minha direção, ficou de costas para Whithill, por isso não viu quando ele pegou uma arma de campo magnético, mirou nele e atirou. Tentei parar, embora não saiba se tem como parar uma onda de campo magnético com telecinese, se tiver, meus poderes não chegaram nesse nível ainda.

Alex foi jogado no ar e caiu do outro lado da sala, no meio do caminho percorrido, ouvi o som de algo metálico caindo no chão de mármore. Fui até lá e peguei o objeto, o medalhão de Alex, que nós tínhamos achado a algum tempo atrás (Mas que parecia há séculos) dentro de um livro falso. Devia ter caído do pescoço dele ou do bolso dele.

—Eu sabia. Eu sabia! Você tinha a chave! Estava com ele o tempo todo! Menina, passe isso para cá.

Virei para olhar para Whithill, ele apontava um revolver para mim com uma mão e estendia a outra para pegar o medalhão;

—Todos esses anos... E finalmente, tudo vai ter valido a pena. Enfim vou poder descobrir onde fica a Academia, e com ela, todas as outras. Acabar com Arkhés será tão mais fácil e finalmente terei o que é meu por direito, os poderes que Robert não tinha o direito de ter, poderes que eram para serem meus, terei a minha vingança e...

Com um mero aceno de mão, joguei a arma pela janela, quebrando o vidro. E então minha concentração foi para o pescoço do querido tio de Alex. O levantei do chão.

—Você merecia ser morto depois de tudo o que fez. Mas eu não sou como você. Ainda assim, existem coisas piores do que a morte. Então eu acho melhor você sumir da minha frente antes que eu resolva experimentar novas técnicas de tortura com você.

Senti uma corrente elétrica percorrer todo meu corpo, tenho certeza que meus olhos faiscaram.

—Você... Você é uma... Não é possível... – Fiz um movimento com os dedos e ele fez um barulho estrangulado.

—Saia da minha frente e não apareça nunca mais. Suma da minha vida e da de Alex. Se eu ver você mais uma vez...

Sem tirar Victor Whithill do ar, deslizei o dedo indicador pelo pescoço. Então o deixei cair no chão. Ele se levantou cambaleando e saiu correndo, parando na porta para olhar uma última vez para mim.

—Você está bem? – Alex apareceu atrás de mim.

—Estou ótima. – Disse me virando para ele. – E acho, - Peguei o medalhão e passei pelo pescoço dele. – que isto pertence a você.

Ele olhou para o medalhão no peito e para mim (Olhos verdes. Olhos verdes. Olhos verdes. Olhos verdes. Tá bom, parei). E então se inclinou e me beijou, passei os braços ao redor do seu pescoço enquanto ele colocava as mãos na minha cintura.

—E agora? O que fazemos? – Perguntei quando nos desgrudamos.

—Voltamos a vida normal eu acho.

—Eu acho que isso será um pouco difícil. Aconteceu muita coisa durante o tempo que você estava sequestrado.

—Só foram três dias.

—Isso mesmo. Muita coisa aconteceu. Mas no momento, acho que acabamos de ganhar um mistério para resolver.

—Como assim?

—No final, a chave que o seu lindo e maravilhoso tio procurava era o seu medalhão.

—Espera. O que? Isso nem é uma chave!

—Para ele sim. Ele falou alguma coisa sobre descobrir uma Academia, que o medalhão o levaria, ou algo do tipo.

—Olha, quer saber? Depois você me conta tudo o que eu perdi, estou realmente curioso para saber essa história de você transformar grafite em diamante, mas no momento, eu estou afim de voltar para casa. Além de que, ainda tem muitos outros andares nesse prédio, não vamos dar a chance de nos acharem aqui em cima para lutar.

—A casa dos seus pais está uma bagunça, caos total.

Alex franziu a testa.

—Não posso passar uma estadia na sua casa não?

—Apesar de eu continuar sendo invisível e tudo mais, acho meio complicado.

—Tudo bem, vamos para um hotel então.


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Notas finais do capítulo

^-^

E ai, o que acharam?
Espero que tenham gostado.
Foi certamente uma jornada e tanto, e eu peço mil desculpas por ter demorado tanto a postar o final.
Que...
Na verdade, na verdade...
Não é o final.



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