~Pov's Castiel~

Quando finalizo com a gravata em meu pescoço, dou uma última olhada geral para meu reflexo no espelho. Paletó aberto e passado, gravata posicionada em meu peito, máscara cobrindo parcialmente meu rosto. Melhor que isso não fica...

—Hey, galã!- Adrien chama minha atenção quando abre a porta sem avisar.- O baile já vai começar, anda logo aí! Até as meninas já estão prontas e você não!

—Ah, vê se não me enche!- Reclamo enquanto olho-o através do espelho.- E, pro seu governo, eu já terminei de me arrumar.

—Tá, tá! Anda logo aí.- Ele me ignorou completamente e simplesmente saiu.

Não demorei muito para sair do quarto também.

Chegando no pé da escada, percebo que o espaço do salão está começando a se preencher com pessoas, todas elas muito bem-arrumadas.

Sinto uma mão em meu ombro...

—Parece ansioso.

—... não pareço não.- Digo me apoiando na barra gélida, por mais que meus braços estivessem cobertos pelo tecido quente do paletó eu podia sentir o frio do ferro muito bem.

—Sim, você parece.- Lysandre se apoiou ao meu lado e começou a observar o movimento do salão.- Preocupado?

—Com o que eu estaria preocupado?- Rio da maneira mais normal possível.

—Não sei, quem sabe... com uma certa pessoa chamada Ailina.

—...- Suspiro, o que apenas confirma o que ele disse.

—Estresse não faz bem pra saúde.- Ele avisa.

—Ah, é? Obrigado por avisar.- Reviro os olhos, ouço-o rir.- Ela ainda me mata, algum dia.

—Que exagero de sua parte, uma garota tão doce e gentil quanto ela nunca mataria ninguém.- Eu olho-o com desdém, sei que está se divertindo com minha situação.- Mas, metaforicamente falando, sim, com certeza ela te mata.- Pausou por um momento.- Porque não, né? Afinal é...

—Ailina...

~Fim pov's Castiel~

—Obrigada pela carona, Sebastian.- Agradeci.- E... por aceitar o favor.

—Por nada...

—...- Suspiro.

—Mais tarde devo te buscar?

—Ãhn... não, não quero incomodar seu sono.- Rio levemente, ele retribuiu com um sorriso fraco.

—Tudo bem então...

—Até mais.- Abro a porta para eu sair.- E... obrigada.- Vejo-o fazer que sim com a cabeça.

Ao ver Sebastian sair e perceber que estou sozinha no meio-fio, sinto meu coração pulsar mais rápido. Talvez ansiedade acarretada com o fato de eu me encontrar sozinha (embora eu saiba que, ao entrar, vou encontrar meus amigos).

Respiro longamente e vou caminhando no meio de poucas pessoas para a porta do salão, onde eu entrego meu convite para um moço alto, forte e realmente ameaçador. Rosa exagerou.

Conversas se misturam pelo salão muito bem enfeitado e iluminado, uma música calma toca ao fundo, combinando muito bem com a atmosfera do lugar. Olho para todos os lados, procurando um rosto conhecido no meio daquele mar de gente, mas não percebi ninguém.

Sinceramente, não tenho nada contra multidões desconhecidas, eu não me importo em estar em uma, mas, naquele momento, aquele meio me parecia a pior coisa do mundo, a ideia de passar entre pessoas com máscaras, não podendo distinguir direito suas fisionomias. Tudo bem que vejo meus amigos todos os dias e sou plenamente capaz de achá-los mesmo mascarados, mas, talvez por conta da ansiedade e da inquietude momentânea, eu esteja me sentindo... completamente perdida, realmente desejei que aquele fosse um baile sem máscaras.

—Bu!!- Sinto mãos em minhas cinturas, eu congelo por completo. Ouço uma risada.- Que reação é essa?

—...- Nem sequer me mexi, ainda estava processando o ocorrido.

—Pelo visto o susto foi grande mesmo.

—...- Consigo soltar um suspiro, não de alívio, mas sim de indignação.- Oras, seu sem graça! Não me assuste assim!- Me viro para encarar meu amigo, na hora, ele parou de rir.- É bom parar de rir mesmo!

—Desculpe, acho que confundi de pessoa.- Ele diz me olhando de cima para baixo.

—Pelo amor!- Levanto levemente a máscara.- Sou eu.

—Jesus!! Você está incrível!- Exclamou surpreso.

—M-Menos...- Digo sentindo minhas bochechas esquentarem.

—Mas é sério!

—T-Tudo bem, obrigada.

—Ainda bem que achou um vestido!

—Né?- Concordo com um sorriso. Meus olhos vagam pelo salão, em especial a escada dele que leva para o segundo andar. Lá meus olhos encontram Iris e Adrien descendo juntos. Em seguida Rosa e seu namorado, depois Alexy e Lysandre. De repente não me sinto mais tão acelerada.

~Pov's Castiel~

Eu estava ansioso. Ansioso o suficiente para esquecer meu celular em algum lugar do andar de cima.

Quando eu voltei para as escadas já com o celular em mãos, observo o salão e vejo meus amigos em uma roda, onde também se encontrava ela... Ailina. Embora estivesse de costas para mim, eu sabia que ela estava linda. Ah, como eu quero vê-la de perto...

—Claro que ele pode entrar!- Ouço uma voz ao fundo de muitas outras.- Ele é meu estagiário. Ai!- Procuro com os olhos o dono da voz, estava na porta do salão. Eu sabia. Claro que ele viria. Mas... pensei que viesse sozinho. Viktor está acompanhado de alguém, um homem, alguém que desconheço.

Desconheço?

Não importa.

Desço as escadas, cada degrau que passo meu coração bate violentamente em meu peito, mostrando-me o quão ansioso e inquieto eu estava. Talvez fosse impressão minha, mas estava quente, muito, muito quente. Quando desço o último degrau, jurei que meu coração ia parar, mas, graças a um milagre, continuou seu ritmo acelerado.

Vou atravessando o mar de pessoas até o grupo de amigos, demorou uma eternidade (que, provavelmente, foram minutos) até eu chegar até eles, mas, quando cheguei, não poderia estar mais aliviado, tudo valeu... cada segundo do dia que esperei...

—Olha ele aí.- Adrien anuncia, os olhares são direcionados para mim, inclusive o de Ailina.

—Finalmente, achei que não viria.- Outro comentário seguiu, mas, desse em diante, não prestei atenção, estava ocupado encarando Ailina.

Eu sabia que combinaria com ela. É perfeito. Seu corpo se ajusta tão perfeitamente naquele vestido, dando destaque a sua cintura incrível. O cabelo delicado como ela e a máscara não poderia estar melhor colocada em seu rosto. Suas pernas estavam expostas da maneira que deviam e, em seus pequenos pés, saltos que a deixavam maior, mas ainda estava menor que eu.

Eu não consigo defini-la como coisa menor que “incrível”...

—Terra para Castiel! Alô!!

~Fim pov's Castiel~

—Terra para Castiel! Alô!!- Rosa começa a passar a mão em frente ao rosto de Castiel que estava com o olhar fixo em mim (e eu com o olhar fixo nele).

—Tá, chega.- Ele abaixou a mão dela enquanto resmungava. Depois de um tempo ele tornou a me olhar, mas, dessa vez, não em silêncio.- Você está... perfeita.

—Obrigada...- Agradeço-lhe timidamente.- V-Você também está muito lindo...- Digo-lhe, ele sorri.

—Que casal!- Alexy comenta.

—Ai gente, por falar em casal...- Rosa olha para trás por um momento.- Vou pedir uma música logo, to cansada de ficar aqui parada sem dançar com meu amorzinho.- Diz passando a mão pelo braço do namorado.- Já volto, bem!

E ela foi andando pelo meio das pessoas, depois de um tempo eu começo a ouvir a música tocar. Era uma música relativamente devagar, mas não totalmente...

—Eu conheço essa música!- Eu e Kentin acabamos por dizer juntos, nos olhamos.- “Runaway – Aurora”!

—Se não se importar, aceitaria essa dança?- Kentin pegou minha mão direita e se curvou um pouco, sorrindo para mim. Olho de relance para Castiel, que dá de ombros. Torno a olhar meu amigo com um sorriso gentil.- Claro!

Saio junto de Kentin para o centro do salão. Ele coloca a mão em minha cintura e estende a outra para mim segurá-la, o faço e levo minha mão livre até seu ombro.

I was listening to the ocean

I saw a face in the sand

But when I picked it up

Then it vanished away from my hands

I had a dream I was seven

Climbing my way in a tree

I saw a piece of heaven

Waiting impatient for me

—Devo dizer que não sou bom nisso.- Ele diz se preparando para começar a dançar a próxima parte.

—Só me acompanha.- Sorrio e ele afirma de maneira apreensiva.

Começamos a dançar uma meia valsa no ritmo da música, com as mãos não dadas, mas sim sobrepostas.

And I was dancing in the rain

I felt alive and I can't complain

Então ele me segurou em apenas uma das mãos e eu girei lentamente, quando ele me segurou novamente em seus braços ele curvou-me para trás delicadamente.

I can't take it anymore

Subo novamente e voltamos para nossa valsa um tanto quanto incomum. Ele estava pegando o jeito da coisa.

I was painting a picture

The picture was a painting of you

And for a moment I thought you were here

But then again, it wasn't true

And all this time I have been lying

Oh, lying in secret to myself

I've been putting sorrow on the farthest place on my shelf

Estávamos leves, estávamos despreocupados e, principalmente, estávamos felizes. É assim que gosto de estar junto de Kentin, apenas dois amigos se divertindo juntos, sem notar as preocupações, apenas concentrados em fazer com que a alegria nos alcance (e como é fácil).

~Pov's Kentin~

Ela estava feliz e era tudo o que importava naquele momento.

But I kept running for a soft place to fall

Ela se afasta um pouco de mim, giro-a uma vez.

And I kept running for a soft place to fall

Ela se afasta mais, mas não permito que solte minha mão. Ela vai até onde consegue e eu a puxo novamente para mim, se enroscando em meu braço.

And I kept running for a soft place to fall

Ela se desenrosca de mim e curva-se para trás, eu a seguro firme para que não caísse.

And I kept running for a soft place to fall

Ela retornou para cima e me deu um abraço, a música parou por um instante e, então, ela retornou a valsar comigo.

Como ela era empenhada em dançar... e ainda mandava bem. Nunca vi igual.

And I was running far away

Would I run off the world someday?

But now take me home

Take me home where I belong

I got no other place to go

Now take me home

Take me home where I belong

I got no other place to go

Claro que ela iria me surpreender, senão não seria Ailina. Ela pulou rapidamente em meus braços, obviamente a segurei pelas pernas e costas enquanto ela ria.

De repente estou com uma sensação... porque será que estou me sentindo angustiado de repente? É como se...

~Fim pov's Kentin~

I can't take it anymore...

Quando a música acabou, ele permaneceu me segurando no colo...

—Foi uma boa dança.- Digo-lhe.

—Não uma das melhores, mas foi.- Rimos. Ele permaneceu me encarando.- Porque estou com um pressentimento estranho...?- Perguntou, eu neguei com a cabeça.

—Eu não sei, não deve ser nada.- Afirmo.

—...- Ele suspira.- Eu vou acreditar em você, mas é melhor não estar mentindo, por favor, não faça isso comigo.

—Sabe que não vou...- Encaro-o.

—Sei que não.- Diz enquanto me coloca no chão delicadamente. A próxima música é anunciada no microfone. Ele parece querer falar mais algo, mas então para no caminho. Ouço um pigarreio atrás de mim.

—Será que posso ter minha vez?