Olha a tinta escrita por Lyubi
Notas iniciais do capítulo
Entendedores que entendam.
Olha a tinta! Cuidado com a tinta ainda fresca! Não pisa!
A tinta que escorre da impressora, do rosto, que molha o asfalto barato, que mancha o ônibus velho, lotado. A tinta com que escrevem o adesivo: GREVE, grave. A tinta que mancha a cidade, que escorre entre as pedras nas calçadas, a tinta que não seca por que quando esvazia um surgem dez para colocar no lugar.
Essa merda de tinta! Cada dia mais cara, que encheram de números e cobram impostos. Tinta que não saí com água, quando tem água, mas ferve a cabeça debaixo desse sol. Tinta fedida, com cheiro de morte, que apodrece a carne por baixo, por cima. Tinta que escorre das têmporas que escorre dos olhos, da boca num grito mudo. Toda essa tinta jogada fora!
E a escola, a saúde, o mercado, a condução, a gasolina, o salário, o patrão! Todos sugando e sangrando nessa grande corrupção. E os meninos roubam, as meninas dão, os Josés morrem e as Marias nas clínicas clandestinas por violação. Nós somos um estado laico! Mas até a tinta do Filho de Deus mancha as notas do Real imaginário.
Estamos todos marcados, sujos, impregnados. Mas somos gente de bem. A gente tem cerveja gelada, futebol e Carnaval. Então deixa o sangue escorrer no jornal. Hoje em dia, ninguém lê. É normal.
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