Apenas mais uma de amor escrita por PostModernGirl


Capítulo 7
Sinto Muito




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Watari apresentava as dependências do novo apartamento a Chiara. Estava todo mobiliado e tinha uma decoração austera, o que ela não gostava. Na verdade a pianista já estava pensando em como poderia mexer na decoração para deixar o ambiente mais alegre. Tirar todo o excesso de marrom já seria um começo. Ela odiava marrom.

Na sala, Watari mostrou-lhe um grande piano preto.

— Uma cortesia minha especialmente para a senhorita – A educação de Watari fazia jus à fama dos Lords ingleses. Na verdade, ele adorava concertos de piano, e tinha esperança de que Chiara o tocasse.

— Muito obrigada, Watari, mas não sinto mais vontade de tocar piano – Ela o olhava com pesar.

— Mas se um dia sentir novamente vontade, terá um – O senhor respondeu com um sorriso simpático.

Chiara teve um dia para arrumar suas coisas e então dirigiu-se ao andar onde estava concentrada a equipe da força tarefa. Foi acompanhada de Watari e recebida pelo próprio L. Ela usava uma blusa cáqui por baixo de um colete cinza escuro e uma calça jeans clara, além dos colares e anéis habituais. L percebeu que até na escolha das roupas ela não costumava ser tão óbvia.

— Seja bem vinda, Chiara. Antes de começar o trabalho, o Sr. Aizawa irá lhe atualizar de tudo o que foi investigado até hoje e a situação da investigação atualmente.

“Por que logo eu?”, pensou Aizawa. L parecia fazer de propósito.

— Pode vir comigo? – Aizawa estava contrariado, enquanto indicava o caminho de uma sala logo ao lado. Ele tinha dúvidas em relação àquela mulher. Era tatuada, tinha um comportamento que ele considerava errado em relação aos homens... Não conseguia imaginar que ela poderia ter profissionalismo.

O restante da equipe observou enquanto Chiara o seguiu. Horas depois, eles retornaram.

— Ryuzaki, já repassei todas as informações para a Chiara.

— Então já podemos religar os telões e ela já pode assistir ao interrogatório – Apressou-se Matsuda. Ele parecia empolgado com a participação da ruiva na equipe.

— O que vai ver agora é uma imagem forte, Chiara. Espero que esteja preparada. – L estava preocupado com a reação dela ao ver os prisioneiros. Digitou algumas palavras e os monitores, 8 no total, ligaram-se e exibiram imagens de três locais diferentes. O Sr. Yagami, sentado em uma cadeira dentro de uma cela; Light, deitado em outra cela com as mãos amarradas e por último a mais chocante: Misa amarrada em uma cadeira esquisita sem possibilidade de se mover. Chiara contraiu o rosto, visivelmente chocada com a imagem de Misa.

— Isso é realmente necessário?

— Como eu disse, há provas físicas de que ela é o segundo Kira. Estamos pressionando para que revele a identidade do Kira original – Respondeu Aizawa.

A compaixão de Chiara foi logo amenizada com essas palavras. Lembrou-se da fatídica noite em que o encontrou e que perdeu Sam.

— Então é ela.... – Disse, contraindo os olhos verdes que estavam vidrados no telão. L tentou imaginar o que ela estaria pensando. De repente, o detetive pôde perceber uma expressão de decepção no rosto de Chiara.

— Aconteceu alguma coisa, Chiara? – Ele estava curioso.

— O Shinigami não está mais com ela...

L começou a pensar. Há um dia, Misa mudara completamente seu comportamento. Se antes, evitava falar qualquer coisa, agora respondia espontaneamente, e falava de forma tão verossímil que L estava inclinado a acreditar que era verdade. Se o Shinigami existir e tiver realmente ido embora, será que ele apagou as memórias de Misa? Ou talvez tivesse deixado de controlá-la. Essa era uma possibilidade. Nesse caso, o plano de Light seria mandar o Shinigami embora e perder as memórias também? E como ele faria para recuperá-las depois? Algo ainda não fazia sentido.

— O que acha da atitude de Light, Chiara? – L olhou diretamente para ela.

— Acho que o fato de ele decidir ser vigiado não prova que ele é inocente. Pelo contrário, se ele for Kira, é um bom plano para provar inocência. Bastaria repassar o caderno para outra pessoa, que continuaria matando criminosos enquanto ele estaria confinado e assim que tiver sua inocência provada, pegar o caderno de volta.

A teoria dela parecia fazer sentido, mas por mais que a achasse inteligente e interessante, era difícil até mesmo para L acreditar na existência de Shinigamis.

— Entendo... – Limitou-se a responder. Essa era a resposta padrão de L quando não queria encompridar uma conversa.

Chiara percebeu que ele hesitava em acreditar nela e isso a incomodava. Ela não se importava muito com a opinião alheia, mas por algum motivo queria que ele acreditasse nela. Queria saber o que ele estava pensando... Na maior parte do tempo, ele apenas sentava-se com os joelhos encostados no peito e o dedo polegar encostado na boca. No que tanto ele pensava? Será que pensava nela em algum momento? O que será que ele achava dela, afora o fato de ela ser inteligente?

“Para de pensar nisso, Chiara. Não perca o foco.”

— Acho que você vai ter que usar um desses também – Matsuda mostrava seu cinto com orgulho. Chiara voltou do seu devaneio para prestar atenção nele. Ele parecia procurar qualquer desculpa para conversar com a nova colega de trabalho.

Chiara olhou para o cinto, que achou horrível.

— Eu não vou usar isso.

Matsuda ignorou a resposta dela, mas Aizawa tinha uma expressão de raiva em sua testa franzida. Ele estava certo sobre a falta de profissionalismo dela, afinal.

— Esse cinto tem um botão que, se acionado, nos manda sua localização. É um dispositivo de segurança – Watari falou educadamente - Imaginei que a senhorita não fosse gostar do acessório, então mandei desenvolver um especialmente para você – E entregou-lhe uma pulseira prateada com uma pedra verde retangular.

— Obrigada, Watari, você é muito gentil! – Disse ela, sorrindo, enquanto lhe dava um repentino beijo na bochecha.

Watari sorriu, surpreso e vermelho de vergonha.

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Alguns dias se passaram, e a equipe se dividia entre vigiar os suspeitos nos telões e acompanhar as mortes de criminosos, que haviam parado até aquele momento.

— Bom dia – Disse Chiara bocejando e com uma visível cara de sono.

— Bom dia, Chiara! – Disse Matsuda com seu sorriso fácil. Ele costumava sorrir com muita facilidade e Chiara gostava disso.

— Não parece ter dormido bem. – L não costumava olhar para as pessoas enquanto falava com elas, mas ele deu uma rápida olhada para Chiara, para ver se os olhos dela ou sua expressão facial entregariam alguma coisa que ela não quisesse dizer.

— Estou bem – Disse ela, sem dar mais detalhes, sentando-se em uma cadeira e mexendo em papéis sobre a mesa.

— Já faz tempo que você aparece aqui com cara de sono. O que tem feito durante a noite? – Questionou Aizawa desconfiado. Não era exatamente por mal, a desconfiança era uma característica da personalidade dele. Não gostava de ser enganado.

— Não acha que está sendo indiscreto, Aizawa? – Ela não o tratou como Sr., pois não gostava muito de formalidades, coisa de brasileiros.

— Na verdade acho tudo isso muto suspeito. Primeiro você invade o prédio da força tarefa, depois consegue se infiltrar na equipe, e ainda parece que faz algo misterioso que lhe ocupa toda a noite. Apesar de termos suspeitos em custódia, todo cuidado é pouco quando se trata de Kira. Você pode muito bem ser uma pessoa cujos atos ele está controlando antes de morrer e pode estar nos colocando em risco. – Aizawa estava convencido do que dizia.

— O quê? A chiara é uma pessoa legal, Aizawa, não deveria falar assim dela. – Matsuda saiu em defesa da colega. Ele costumava acreditar facilmente nas pessoas.

— Não acha que posso ter razão, L? – Aizawa insistiu.

L não acreditava nisso, mas decidiu parar para refletir. Todas as suas suspeitas estavam concentradas em Light e Misa, e ele estava certo de que eles seriam os Kiras. Entretanto, Chiara invadiu a força tarefa e facilmente conseguiu fazer parte dela. Ele poderia suspeitar ao menos que ela estivesse sendo usada por Kira. Mas isso não passou pela cabeça do detetive. Não que não fosse inteligente o suficiente para tal, mas porque estava encantado com as habilidades da ruiva e não acreditava que tudo o que ela fizera fora apenas por controle de alguém. Na verdade, era nisso que queria acreditar. Por que aquela mulher mexeu com ele a ponto de ele não querer considerá-la suspeita? Ele rejeitava a ideia de que ela pudesse confundi-lo, então tomou uma decisão.

— Eu compreendo, Sr. Aizawa. Não acredito que a Chiara esteja sendo controlada por Kira, mas apenas por questão de segurança, vamos assistir às gravações de todas as noites que ela passou aqui para descobrir se não há nenhuma atitude suspeita.

Chiara havia sido informada anteriormente por Watari que por segurança, todo o apartamento tinha câmeras, mas ele disse que as gravações não seriam assistidas a não ser que fosse necessário.

— Isso é um absurdo! – Ela esbravejou, com uma expressão de revolta em seu rosto, direcionada exatamente, para L. – Não pode estar suspeitando de mim!

— O que tanto tenta esconder, senhorita Chiara? – Aizawa a desafiou.

— Minha intimidade? – Ela respondeu irônica.

L não estava feliz pelo que fora obrigado a fazer, mas não podia tratá-la de forma diferenciada, como vinha fazendo.

— Chiara, eu prometo que assim que resolvermos isso, deixaremos de vigiar você – Ele olhou nos olhos dela, estava tentando fazê-la se sentir melhor.

— Eu não vou ficar aqui enquanto isso! – Ela se levantou absolutamente revoltada, como se realmente tivesse algo a esconder – Me chame quando formos investigar algo que realmente importa! – e bateu a porta quando saiu.

L não podia amolecer por causa dela. Tinha que agir da mesma forma que agiria se não se importasse com ela.

— Watari por favor, pode me passar as gravações do apartamento da Chiara desde quando ela se mudou pra cá? – Ele falou no microfone enquanto apertava um botão.

— Sim Ryuzaki – Respondeu Watari.

—___________________________________________________________________________

L transferiu as imagens para o telão. Misa estava adormecida, Light estava calado deitado de bruços e o Sr. Yagami também dormia. Eles poderiam voltar a sua atenção para as gravações de Chiara. Matsuda e Aizawa estavam de pé um pouco atrás de L, que estava sentado de sua forma habitual. Apesar de ter deixado Chiara irritada, ele estava feliz por poder conhecer um pouco mais da rotina dela. Na verdade ele estava ansioso para assistir, e para poder observá-la por mais tempo que o comum.

L adiantou as imagens até o momento em que Chiara chegou no apartamento, na primeira noite em que dormiu lá. Não viu nada de suspeito a princípio. Ela guardou a bolsa, tirou o casaco, alimentou a gata de estimação e foi tomar banho. A câmera no banheiro estava colocada de forma que não era possível vê-la sem roupa, pois o vidro do box era fosco. Depois, leu um livro, tomou um pouco de sorvete que pegou na geladeira. Sentou-se no sofá e ficou olhando pro mural de fotos que trouxe do outro apartamento. Depois deitou-se pra dormir. Ela parecia meio apática, mas não havia nada de suspeito nisso.

O detetive continuou a observá-la enquanto dormia. Ele não se sentiu entediado em nenhum momento. Pelo contrário, sentia-se bem ao vê-la dormir. Entretanto, algumas horas depois, algo começou a acontecer. Ela começou a se remexer na cama, com cada vez mais intensidade. Virava de um lado para o outro e balbuciava palavras que L não conseguia compreender, a não ser um não que ela repetia incessantemente. Quando seus gritos pareciam que não podiam ficar mais altos, ela acordou assustada, com lágrimas nos olhos.

— Ela tem pesadelos! – Disse Matsuda impressionado – Então não há nada de suspeito nela!

— É muito cedo para concluir qualquer coisa, Matsuda – Aizawa parecia confuso.

L não falou nada. Apenas observou enquanto ela se levantou, enxugou as lágrimas e sentou-se no sofá, onde abraçou uma almofada e ficou quieta por algumas horas até pegar no sono novamente. O detetive estava atormentado pelo que acabara de ver. Com o quê Chiara estava sonhando que parecia tão ruim? Ele estava aflito pela condição dela. Não gostava de vê-la daquela forma. Pensou se não haveria alguma maneira de ajudá-la.

— Vamos assistir às outras gravações – Disse Aizawa.

Novamente, L adiantou a gravação até o momento em que Chiara chega em casa. Como no dia anterior ela alimentou o animal e tomou um banho, mas dessa vez apenas se sentou no sofá e ficou observando o piano. “Ela deve estar receosa de tocar novamente”, pensou L. Depois, foi dormir. Havia um detalhe que L não havia reparado. Ela estava usando uma blusa preta masculina, que nela ficava parecendo um vestido. “Ela ainda não conseguiu superar a morte do Sam. Será que os pesadelos dela tem a ver com a morte dele?” Mais uma vez, depois de algumas horas, ela acordou aos gritos. Levantou-se, sentou-se no sofá e abraçou a almofada. Só que dessa vez ela olhou para a foto de Sam, no porta retrato em cima de uma mesinha com flores.

— Queria que você estivesse aqui – Disse ela para a foto, quase sussurrando.

L sentiu um nó na garganta e um aperto no peito. Entristeceu-se com a tristeza dela. Ele não sabia como, nem porquê, mas estava envolvido.

— Eu sinto muito, Chiara – Disse L, para si mesmo, num sussurro quase inaudível.


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Notas finais do capítulo

Existem mais mistérios para L descobrir, afinal...



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