Apenas mais uma de amor escrita por PostModernGirl


Capítulo 15
Fantasia




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L não foi ao quarto de Chiara naquela noite, pois não a ouviu gritar. Ela não teve pesadelos porque não havia dormido. Estava ansiosa demais com o plano que arquitetava para pegar Kira. Sentia-se também extremamente decepcionada com o detetive. Ela esperava que a essa altura ele já declarasse acreditar nela, mas ele não o fizera. Na verdade, a ruiva já não tinha mais tanta certeza se ele acreditava nela. De qualquer forma, se o que ela estava planejando funcionasse, logo conseguiria mostrar qual daqueles executivos da Yotsuba era Kira. Era um plano arriscado, mas ela não se importava.

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No dia seguinte, Chiara apareceu um pouco mais tarde na sala de comando. Vestia uma calça jeans e uma blusa básica branca, uma roupa um pouco mais comum do que as que costumava usar. Apoiada no ombro, uma bolsa preta grande de alças largas.

— Bom dia – disse, aproximando-se dos rapazes. -  Detetive, por favor, poderia preparar a minha escolta? Vou precisar sair.

L não se abalou com o sarcasmo dela.

— Poderia informar onde está indo, Chiara? – perguntou pacificamente o detetive.

— Vou ao médico. Mas não se preocupe, não é nada demais, só alguns probleminhas ginecológicos... Preciso dar detalhes? – Apesar de ainda estar com raiva, Chiara teve vontade de rir do próprio sarcasmo.

Os homens na sala ficaram vermelhos. Até L ficou um pouco ruborizado.

— Não... não precisa. O Sr. Mogi irá acompanhá-la.

— Obrigada. – Chiara virou as costas e saiu acompanhada por Mogi.

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Ao chegarem no hospital, Chiara foi confirmar a consulta na recepção e depois sentou-se ao lado de Mogi para aguardar. O policial era tímido e só conversava com ela o essencial.

— Vou ao toalete – disse a ruiva, após alguns minutos.

Esse era o primeiro passo da execução do plano. Tudo deveria sair perfeito. Chiara sentia a adrenalina correr em suas veias e isso a motivava. O banheiro feminino, que ficava no fim de um corredor perpendicular à recepção, estava no campo de visão de Mogi, então ela deveria ter cuidado. Ao chegar lá, Chiara tirou o aparato que trazia em sua bolsa: um uniforme de enfermeira igual aos do hospital em que estava. Ela havia pesquisado tudo na noite anterior. Rapidamente, trocou de roupa e prendeu os cabelos ruivos para que não chamassem a atenção. Por fim, colocou o quepe de enfermeira e guardou a roupa que havia tirado de volta na bolsa. Pegou apenas o celular, que pôs no bolso. Respirou fundo e abriu a porta lentamente. Saiu caminhando de cabeça baixa e percorreu o corredor, mas antes de chegar na recepção, virou à esquerda e andou o mais rápido possível para a saída que ela sabia que havia por trás do hospital, como havia pesquisado.

Ao chegar na saída, um carro de luxo vermelho estava à sua espera. Sem demora, a ruiva entrou e bateu a porta.

— Olá, Higuchi – disse com um sorriso.

O homem no volante não tentou disfarçar o seu olhar malicioso para a ruiva. Reparou na roupa que ela usava e no seu decote.

— Moça, devo dizer que não é comum que uma mulher se vista assim para se encontrar sozinha com um homem – disse enquanto acelerava o carro.

— Foi a forma que eu encontrei de não ser reconhecida por ninguém. Na verdade não tive tempo para pensar em nada melhor. – Ela percebeu os olhares dele.– E eu sei me defender muito bem.

— Confesso que fiquei surpreso com a sua ligação.

— Mas eu não fiquei surpresa com as suas investidas. Percebi seu interesse por mim desde a entrevista da Misa. – Ela falava de maneira forte, de forma a impor-se. – E não foi por isso que eu decidi me encontrar com você.

O homem fingiu estar surpreso. Ele havia acreditava que Chiara iria se relacionar com ele para buscar algum benefício pessoal.

— E qual o motivo do convite, então?

A ruiva puxou um pouco o cinto de segurança e virou-se para ele.

— Por que eu quero que você saiba de algo. – Fez uma pausa. – Eu sou o segundo Kira.

—____________________________

Mogi estava estranhando a demora de Chiara. Já haviam se passado quinze minutos e ela não aparecera. Ele teve medo de tê-la perdido de vista. Do jeito que ela era, isso não seria difícil de acontecer. O policial resolveu ir até a porta do banheiro verificar se havia alguém lá. Quando teve certeza de que não havia ninguém, entrou rapidamente. Estava vazio, a não ser pela bolsa preta de Chiara em cima da pia.

“Droga”, pensou Mogi, imaginando que além de poder ter fugido, a ruiva poderia também ter sido sequestrada. Antes de ligar para L, abriu a bolsa para verificar. Encontrou as roupas dela, as correntes que costumava usar e o bracelete que Watari havia lhe dado. Mogi ficou aliviado, porque a possibilidade de fuga era mais provável e bem melhor do que a de sequestro. Pegou o telefone e ligou para um número pré-gravado.

— Ryuzaki, temos um problema.

Houve apenas silêncio do outro lado da linha.

— Eu perdi a Chiara.

Na sala de controle, L não disse nada, apenas segurou a barra da calça com toda a força que conseguia aplicar.

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Higuchi perdeu o controle do carro por alguns segundos, mas conseguiu se controlar. Ele não sabia o que sentir, ela o pegara de surpresa. Depois de alguns minutos de silêncio, deu uma gargalhada.

— Isso é algum tipo de brincadeira? Não espera que eu acredite que você é o segundo Kira.

— A questão é a seguinte: eu prestei atenção na entrevista com a Misa Amane. Eu notei que vocês estavam interessados demais no fato de ela ter sido acusada de ser o segundo Kira. Depois, investigando melhor, percebi que nos últimos meses houve dezenas de mortes suspeitas por ataque cardíaco benéficas à Yotsuba, o que pode sugerir que Kira está apoiando vocês, ou, melhor ainda, que ele é um de vocês.

Higuchi espantou-se com a astúcia dela, assim como com as informações que ela descobrira. Sendo ela quem fosse, era perigoso demais que permanecesse viva, pois já havia percebido tudo.

— Mas a acusada de ser o segundo Kira não era a Misa Amane? – Ele iria tentar descobrir o que mais ela sabia.

— Você acha mesmo que a toupeira da Misa é o segundo Kira? – Ela gargalhou. – Eu armei tudo para que ela levasse a culpa. Misa não é difícil de ser manipulada. Quando L a prendeu, teve que inocentá-la porque ela realmente não sabia de nada.

O homem estava começando a considerar a hipótese de ela estar falando a verdade. Se aquela mulher fosse o segundo Kira, ela teria os olhos de Shinigami, o que seria muito útil a ele.

— E qual o seu plano?

— Primeiro sair com cada um de vocês executivos da Yotsuba, até descobrir quem é o Kira. Depois, quero me casar com ele. Sempre fui uma seguidora de Kira. Seria perfeito se uníssimos nossas forças. – Ela olhou com um olhar levemente sedutor.

Higuchi estava tentando pensar com clareza, mas a beleza da mulher ao seu lado o distraía. Ela havia descoberto o esquema da Yotsuba, dizia ser o segundo Kira e estar procurando pelo original. O que ele deveria fazer?

— Prove-me que é o segundo Kira. Mostre-me como você mata.

— Seria imprudente e perigoso se eu simplesmente matasse na sua frente. Mas eu tenho informações que fariam Kira me reconhecer.

— Como o quê, por exemplo?

— Eu sei que o instrumento que Kira usa para matar é um caderno de Shinigami, assim como eu sei que o próprio Shinigami segue o Kira por onde ele vai. Basta escrever o nome de uma pessoa no caderno para que ela morra.

O carro parou bruscamente, de forma que assustou Chiara. Higuchi virou-se para ela e segurou-lhe o braço com força, visivelmente nervoso.

— O que você está dizendo?!

— Não toque em mim! – Chiara soltou-se dele e o olhou-o com firmeza.

Ele retornou à posição normal e voltou a dirigir.

— A julgar pela sua reação acho que sabe do que eu estou falando – sugeriu a ruiva.

Higuchi, agora mais controlado, sorriu:

— Tem algo que eu tenho que lhe dizer.

Chiara apertou discretamente um botão em seu celular, que estava no bolso do uniforme de enfermeira.

— Eu sou o Kira!

Chiara riu.

— Porque eu acreditaria que você é o Kira? Você pode muito bem estar dizendo isso só pra me levar pra cama, depois que eu falei que me casaria com o Kira.

— Eu estou revelando que sou o Kira porque sei que você não saberia o que sabe se realmente não fosse o segundo Kira.

— E você gosta da proposta de os dois Kiras trabalharem juntos?

— Seria magnífico – respondeu ele lançando novamente aquele olhar malicioso.

— Agora eu é que preciso que você prove que é Kira.

— Eu também não posso matar ninguém na sua frente, moça – retrucou o executivo.

— Eu tenho uma ideia melhor. Pare com as mortes por alguns dias e eu vou saber que você é Kira e entrarei em contato com você.

— Mas você sabe de coisas demais. Como posso confiar em você?

— Eu te dei o meu nome verdadeiro, você pode confirmar isso. Se em no máximo duas semanas, eu não entrar em contato com você, escreva meu nome no seu caderno de Shinigami.

— Está bem.

— Por favor, pare o carro, preciso ir. – Chiara falou esforçando-se o máximo para disfarçar a vontade de ir embora.

Ele parou o carro e aproximou-se dela, quase beijando-a.

— Espero que nos reencontremos logo.

— Isso só depende de você. – Ela sorriu para ele e deixou o carro. Saiu caminhando a esmo, pois não sabia em que parte da cidade estava. Esperou ansiosamente ouvir o arranque do carro para ter certeza de que ele havia ido embora. Quando aconteceu, deu um longo suspiro de alívio. Seu plano dera certo. E por sorte, conseguira de primeira o eu queria. Apesar de não ter transparecido, Chiara esteve tensa o tempo todo enquanto estava ao lado dele. Tivera que se esforçar ao máximo para disfarçar sua repulsa por aquele homem repugnante. Por sorte, tudo havia dado certo.

No banco de trás do carro de Higuchi, Rem havia presenciado tudo, silenciosa.

—____________________________

— Watari, consiga as imagens das câmeras de segurança do hospital, assim como das ruas próximas. Precisamos saber onde Chiara foi.

L estava angustiado com o sumiço da ruiva. Sentia-se responsável pela fuga dela, pois devia ter previsto o que ela estava planejando. Ele, que sempre fora tão bom em prever os atos alheios não conseguia acertar com ela. Parecia que havia algo que lhe turvava a razão e não o deixava pensar com clareza quando ela estava envolvida. Mas também não conseguia entender por que ela se arriscava tanto. Por que ela colocava a vida em risco para provar que dizia a verdade? Novamente, ele era o culpado. Deveria ter dito que acreditava nela. Um dos motivos da fuga de Chiara era provar para ele que ela estava falando a verdade. Se ele tivesse acreditado nela, talvez nada disso estivesse acontecendo e ele não estaria desesperado pensando no que poderia ter acontecido. E se ela estiver em perigo? L lidava com os mais diversos tipos de crimes e se tinha uma coisa que ele sabia, era que o mundo é cheio de pessoas desprezíveis. Sentia medo de que Chiara acabasse topando com alguém assim. A garganta apertava-lhe só de imaginar que alguém pudesse sequer encostar na sua ruiva. Ela já havia sido violentada antes e isso não poderia acontecer novamente...

O telefone de Mogi, que agora já havia chegado na sala de controle, toca.

— Mogi, por favor, você pode vir me buscar? – disse a voz feminina do outro lado.

L salta da cadeira onde estava sentado e toma o celular da mão de Mogi, para o estranhamento de todos na sala.

— Chiara, onde você está? – Havia urgência em sua voz.

Ela se sentiu melhor em ouvir a voz dele. Ainda estava tensa com o que acabara de fazer

— Eu não conheço essa região da cidade, mas tem um parque com muitas cerejeiras aqui perto.

— É o suficiente. Não saia daí. Vou mandar te buscarem agora!

—____________________________

Subindo no elevador ao lado de Mogi, Chiara já estava mais calma. Ainda usava seu uniforme de enfermeira, mas seus cabelos agora estavam soltos. Passada a ansiedade do encontro com Higuchi, agora ela sentia a satisfação de poder conseguir provar que estava certa. Ao chegar na sala de controle, Chiara chamou a atenção de todos. Os homens não conseguiram disfarçar os olhares para a moça, desconcertados com o fato de ela estar vestida de enfermeira e ao mesmo tempo encantados com a beleza dela. A roupa a deixava mais sensual. Até mesmo L reparou nisso. O detetive ficou aliviado em vê-la aparentemente bem.

Ignorando os olhares, Chiara se dirigiu ao centro da sala e ligou a gravação do celular. Quando terminou, seu olhar era triunfante. Todos estavam impressionados.

— Então Higuchi é o Kira... – disse L, pressionando o polegar contra a boca.

— Sim, e enquanto planejamos como pegá-lo, ninguém mais vai morrer. Fiz um ótimo trabalho!

Ela estava se satisfazendo com o momento.

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Naquela noite, L não esperou até a madrugada para ir no quarto de Chiara. Antes mesmo de ele bater na porta, a pianista reconheceu seus passos pelo corredor, assim como notou a sua expressão ainda preocupada quando ele entrou. Eles conversaram de pé na sala de estar do apartamento dela.

— Por favor, não faça isso novamente – implorou o detetive, mas na sua forma calma de sempre.

— Eu é que deveria lhe pedir isso. Além de você não confiar em mim, tentou controlar os meus passos. Você sabe que isso não é correto. – Apesar de tudo, o tom dela não era acusatório.

— Eu sei. Mas estava com medo de alguma coisa acontecer. Eu me sinto responsável por você e não sei o que eu faria se alguma coisa te acontecesse. – Ele falou sem olhar pra ela. – E você não pode se arriscar assim, Chiara. Não é justo com quem se preocupa com você.

— Eu entendo. Acho que nós dois erramos, não é? Estamos quites então? – perguntou ela, dando um leve sorriso.

O detetive esboçou um sorriso.

— Acho melhor você ir buscar o sorvete.


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