Dias de chuva escrita por Sazi


Capítulo 8
A bailarina


Notas iniciais do capítulo

Gostando? comentem por gentileza. Isso ajuda muito ao autor a saber como anda sua trama.



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Eu fiquei extasiado ao olhar para ela. Aquela realmente era Tayla? A dança terminou e as outras duas aplaudiram ela, que ficou um tanto corado.

— Leonardo, vem. – minha irmã sussurrou e fomos embora sem ser notados.

O que eu não conseguia entender era como ela conseguia parecer um garoto se ela era tão feminina e tão meiga. Alguma coisa devia estar acontecendo e eu vou dar uma de Laís e descobri.

Falando nela ela pediu sigilo. Disse que não podíamos contar nada a ninguém. Que Tayla não disse isso a nenhuma pessoa, justamente poderia ser que ela quisesse esconder. Bem se ela sendo mulher pensa assim eu concordo com ela.

Voltamos para junto dos outros que estavam com cede. Distribuímos a bebida e por um momento eu me esqueci que Larissa estava divando ali na quadra em um ensaio.

A imagem da boxeadora sendo bailarina não saiu da minha mente por um tempo. Notei os olhares cheios de desconfiança da minha irmã. Qual é? Eu não me apaixonei, nem nada do tipo. Apenas eu estou impressionado. É isso e fim.

— Você demorou, eu fiquei preocupado. – Daniel sussurrou, não sei se ele tinha intenção de ser ouvido ou não.

— Desculpa, me distrai com umas amigas que achei. – ela respondeu e deu lhe seu melhor sorriso. O idiota derreteu todo.

Kevin brotou não sei onde e se sentou perto de nós. Não sei como, mas acho que minha irmã estava cansada de fazer o seu papel de trouxa. Ela não deu atenção a ele. Já o loiro, não desgrudava a atenção dela. Que estupido.

— Ei rapazes. Por que ainda estão aqui. – ele perguntou.

— Estávamos ajudando a Laís na gestão participativa e ficamos pra assistir o ensaio das lideres. – Renan foi o único que se dignou a responder.

Minha irmã se levantou e disse que iria embora. Matheus foi o primeiro a acompanha-la.

Daniel, como o bom cachorrinho que era, foi atrás. Renan deu um até logo pro Kevin e eu segui eles. Deixei Larissa brilhando na quadra enquanto seguia meus amigos.

— Por que vocês não terminam o trabalho lá em casa. É cedo ainda, como nossos pais ainda não chegaram eu preparo um lanche pra vocês. – se uma coisa que aquela garota era é boa cozinheira. Nossa mãe perdia no quesito habilidades pra Laís.

— Concordo. – Matheus disse. A cada palavra dele eu me surpreendia mais. Não estou acostumado a ouvir ele falar.

...

O dia seguinte logo raiou e eu já estava a caminho da escola. A aula foi tranquila e esbarrei com Tayla no corredor. Ela parecia assustada hoje e isso muito me intriga. Aquela garota é um mistério a parte e eu quero muito desvenda-lo.

— Está tudo bem? – eu disse, mesmo não querendo me meter.

— Sim esta sim. – ela disse fitando o chão.

Larissa passou por nós e parecia querer me provocar com a sua beleza. Desviei o olhar para ela até vê-la sumir no corredor.

— Acho incrível com você ainda se humilha pra ela. – eim? Quem deu permissão pra ela ser sincera? – Eu não conheço você direito, mas pelo que posso ver, não é tão idiota quanto os outros. Então me explica porque corre atrás dela se a garota já estava em outra?

Eu ouvi calado as palavras dela. Hoje suas vestes estavam como sempre e pude perceber que ela havia chorado, pelo inchaço dos olhos e por a vermelhidão aparente. Ficamos nos olhando fixamente, quando fomos interrompidos pelo barulho da chuva. E como sempre eu esqueci o guarda-chuva.

Quando olhei pras gotas de água caindo não percebi que ela saiu de perto de mim. Quando notei ela já estava indo na direção oposta ao que ia. Me evitando? Não sei por qual motivo, mas eu a segui. Discretamente claro. Ela estava indo pro clube de box. Qualquer um pode assistir aos treinos, certo? Então eu entrei, ocupei aquela pequena e chata cadeira e fiquei olhando-a.

Minha presença dessa vez foi notada e o treinador veio até mim.

— Quer treinar, rapaz?

— Eu? Não. Apenas estou olhando. Não tenho físico pra boxe. – tinha de despistar a ideia do homem.

— Entendo, eu também não tinha. – ele retrucou. – Encantado pela mocinha ali?

— Não, não. – eu nem sabia o que dizer. Ele me pegou de surpresa.

— Sei. Tayla é a melhor entre as garotas. Coloca muito marmanjo pra chorar. Já que ela tem que ser forte o tempo todo.

— Como assim?

— Hora rapaz, não sou fofoqueiro. Se quer saber de alguma coisa, pergunte a ela. – ele se afastou me deixando em duvida.

O treino fluía e eu senti que estava sobrando ali. Meu celular vibrou e era uma mensagem.

‘ Estou indo da frente com a Jessica. Preparo seu almoço. ‘ Certo irmãzinha. Eu fico aqui e vou tomar banho de chuva sozinho.

Já passava meia hora do horário de eu ir pra casa. Fiquei olhando as gotas caírem agora fora da sala do clube de box. Me escorei na parede e senti o vento fresco percorrer meu rosto. Tinha de ir pra casa. Mas não estava com vontade de me molhar todo. Caminhei pela escola e voltei pra sala de aula, quando ia entrando Kevin estava lá com Larissa. Me escondi e fiquei escutando. Coisa feia eu sei. Me perdoem.

— Eu quero sair esse fim de semana pra comer comida mexicana. – ela amava esse tipo de comida. Eu sei que Kevin não.

— Certo, nós vamos. – ele disse a contra gosto.

— Você tem de parecer mais entusiasmado com o nosso namoro Kevin. – como assim?

— Eu sei. Eu vou me esforçar.

— Você não quer que eu conte tudo a eles não é? Não acha que seria pior que se eles soubessem agora o que aconteceu entre nós quando eu namorava o Leonardo.  – o que?

Eu fiquei sem reação. Como assim o que aconteceu entre eles? Eu precisava saber.

— Claro que eu sei. Mas que bom que eu livrei o meu amigo de você.

Como assim me livrou dela? Ei, ei , ei. O que estava acontecendo ali. Fiquei muito confuso. Precisava assuntar mais.

Antes que eu fosse notado sai de fininho, não percebi quando Tayla estava vindo em minha direção.

— Eu posso te ajudar? – como assim? Não entendi. – Aconteceu algo?

— Não, nada. –mas não percebi que estava chorando.  

Era a primeira vez que alguém me via chorar, desde que eu tinha doze anos. Eu me senti um tolo e quis sair rapidamente. A garota que eu amava estava de alguma maneira ameaçando meu quase ex-melhor amigo.  Eu precisava ir para algum lugar ou conversar com alguém. Me sentia como uma garota chorona.

Quis passar por ela, mas fui puxado pelo braço. Tive de olha-la. Quando nossos olhos se encontraram eu não sabia dizer quem sentia mais dor, eu ou ela.

Me deixei levar e abracei. Ela apenas me acolheu nos seus braços e eu me permiti chorar.

Ela me apertava como se quisesse que eu toda a dor eu sentia entrasse em seu corpo. Porque essa estranha estava me consolando. Porque ela estava me dando a tranquilidade que eu precisava. Eu não conseguia entender. Apenas me deixei afundar mais e mais. Apenas me deixei nadar naquele desespero que me aturdia.

Levamos uns quinze minutos ali. Quando eu a soltei percebi suas lágrimas. Ela dividiu comigo o momento de dor. Eu queria me desculpar. Eu queria dizer que era homem o suficiente para não ser tão fraco.

— Não diga nada. – ela rompeu nosso silencio. – vamos embora, te dou uma carona de novo. São dias de chuva.

Pouco tempo depois o silencio nos inundou. Estávamos caminhando para casa. A carona em seu guarda chuva era acolhedora e eu me sentia um idiota. Nunca chorei na frente de ninguém. E agora estava sendo um fracassado total. Precisava agradecer a ela. Mas sentia vergonha de falar.

— Eu segui você para lhe convidar pro treino, mas quando te achei estava naquele estado. Me desculpa me intrometer na sua vida. Eu não queria. – ela falou.

— Eu que agradeço pelo consolo. Não sou assim, peço mil perdoes. – nem sei se era isso que eu queria dizer.

Andamos apenas ouvindo o barulho das ruas e da chuva. Chegando perto de casa eu quis me despedir dela.

Cheguei próximo e dei um beijo na sua bochecha. Só que ela virou-se de uma vez e acabou por virar um pequeno selinho.

— Eu, não tive a intenção. Por favor, não me bate. – peguei distancia dela e fiquei me molhando.

Ela apenas me olhou e quis rir.

— Tudo bem, acidentes acontecem. – ela olhou pro lado e começou a girar o guarda chuva, como quem quer se distrair.

— Certo. – eu estava constrangido. – Até.

Me despedi e subi rapidamente. Como da outra vez, para ver ela indo embora.

Era o sorriso mais lindo que eu já vi.


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