Dias de chuva escrita por Sazi


Capítulo 23
O quase fim.


Notas iniciais do capítulo

Estão preparados para o último capítulo? Não fiquem tristes, em no máximo uma semana eu vou continuar essa história. Pois vocês ainda tem de ver várias coisas. Só que eu vou trazer para essa história Elisa de O peso de uma escolha. Então caso queiram, deem uma olhada na sinops dessa trama.
Agradeço demais aos que estiveram comigo desde a primeira palavras, que acreditaram em mim e não desistiram depois da primeira linha. Dias de chuva só é o que é hoje por causa de vocês. Dos que leem e não comentam, dos que comentam e me enchem de alegria. Estou sem palavras. Mas não é uma despedida, nem muito menos o fim da história de Leonardo. Ele vai voltar sim e trazendo mais do seu jeito para nós.
Boa leitura e até a próxima.



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Corremos para a casa de Larissa. Pela noticia que me deram ela já estava em casa. Toquei a campainha e a mãe dela veio abrir, ao me ver me deu um abraço apertado e as lágrimas brotavam do seu rosto. Olheiras enormes emolduravam seu rosto e um ar de alivio trazia de novo a cor a sua face. Quando adentramos a casa, Hirome e Rebeca já estavam lá. Elas foram as poucas a serem permitidas a entrar. Já que muitas pessoas queriam vê-la. Não por amor a ela, mas sim por curiosidade. Tayla estava meio constrangida ao entrar na casa. Mas a mãe de Larissa a encorajou.

— Venham, ela está no quarto. – quando lá chegamos eu fiquei assustado com a garota que eu encontrei. Ela estava mais magra do que o habitual, seus cabelos estavam cortados e cheio de partes queimadas, sua pele, tão bonita, estava seca e sem brilho. Haviam calos visíveis em suas mãos. Em sua testa havia um corte e seu rosto estava com sinais de violência. Fiquei com medo de imaginar que o corpo dela também pudesse ter esses mesmos sinais. Eu não conseguia conter a raiva que sentia do ser que teve coragem de fazer isso com ela.

Rebeca chorava ao lado da cama, enquanto Hirome segurava a mão da amiga. Quando a loira avistou Tayla ela começou a chorar. Isso foi o que mais me surpreendeu.

— Me perdoe, me perdoe, me perdoe. – ela começou a dizer. Nós não entendíamos nada, então minha namorada chegou perto dela e abraçou. Estavam ambas chorando e Tayla afagava o cabelo da loira que se deixou afundar no colo da mesma.

Fiquei olhando estático pra elas. O que estava havendo ali?

Depois de um tempo Larissa melhorou seu estado, nesse meio período, os meninos e Laís chegaram. Todos estávamos em seu quarto, sentados ao redor da cama. Então ela olhando cada um dos presentes começou sua narrativa.

— Tudo aconteceu muito rápido e eu não pude nem reagir. Começou quando conheci o Trevor. Eu estava em uma rua qualquer depois de voltar de um passeio com a Rebeca. Um cara me abordou querendo minha bolsa, sorte que ele não estava armado. Mas naquele momento do nada fui ajudada por aquele homem. Não sei de onde ele veio, mas me ajudou batendo no ladrão e o expulsando. Como recompensa por isso eu o convidei para tomar uma bebida comigo e assim foi que eu o conheci. Assim passamos a conversar mais e a sair. Eu achava que ele era um cara legal e que eu podia enfim esquecer o Leonardo e o Kevin e rumar adiante. – ela baixou a cabeça envergonhada. – Nossa relação ia bem na segunda semana, mas ele demostrou um comportamento diferente.

Tayla apertou a minha mão, era como se ela estivesse tendo um dejavu. Conhecia muito bem como ele era e eu me senti impotente, por não protege-la. Na realidade eu nem a conhecia, mas mesmo assim.

— Ficou mais violento e sempre falava sozinho sobre uma garota. – ela olhou pra minha namorada que lhe lançou um olhar de medo. – Eu sinto muito Tayla. – ela disse.

— Tudo bem Larissa, pode continuar. – Laís foi quem tomou a palavra.

A loira assentiu com a cabeça e continuou.

— Foi então que em um dia eu fui ao seu apartamento e ficamos lá. Em uma hora qualquer ele saiu e eu fiquei sozinha em seu quarto. Estava procurando um carregador para o meu celular e decidi tentar achar em uma gaveta que estava no criado mudo, que ficava ao lado da cama. Quando abri não encontrei o que procurava, ao invés disso, havia várias e várias fotos. De garotas. – ela disse passando o olhar por todos nos. – Haviam três delas ali. E uma delas era a Tayla. – senti minha namorada tremer. E a segurei mais forte. Laís também pegou a mão dela e lançou aquele olhar que só ela saberia interpretar.

— Quem eram as outras? Você conhecia? – Matheus perguntou.

Ela balançou a cabeça em tom negativo.

— Não. Quando eu vi as fotos fiquei assustada e peguei minhas coisas, queria ir embora dali o mais rápido possível. Mas quando eu ia abrir a porta do apartamento ela estava trancada por fora. Bati na porta freneticamente, mas nada. Ninguém me atendia. Respirei fundo e me sentei no sofá. Esperei que ele chegasse e ensaie uma desculpa pra ir embora. Alguns minutos depois ele voltou. Mas trazia consigo uma mochila. Acho que ele pode farejar o meu medo, pois estranhou o meu comportamento. Eu disse que precisava ir embora. Ele pediu que eu ficasse e passasse o resto do dia com ele. Eu disse que não. Que minha mãe estava precisando de mim. Foi nessa hora que ele deu um sorriso esquisito e me revelou que já havia ligado pra ela. E pedido permissão para que eu ficasse com ele. Então me chamou de mentirosa e me bateu. – ela começou a chorar.

— Se não quiser continuar tudo bem. – eu disse.

— Não, por favor, me escutem até o fim. – ela limpou as lágrimas com as costas das mãos, mas mesmo assim elas insistiam em escorrer. – Com o baque eu desmaie. Acordei deitada na cama, toda amarrada. Uma dor enorme me percorria a cabeça. Me toquei de que estava sangrando. E que ele tinha me acertado com algum objeto. Percorri o quarto com os olhos e avistei um taco de beisebol. Então fora com aquilo. Pedi que ele me soltasse, que eu queria ir pra casa. Jurei não dizer nada, implorei de toda maneira e de todo o jeito. Mas ele estava apenas calado e irredutível. Murmurava algumas coisas que eu não conseguia entender. Não sei por quanto tempo eu fiquei daquela maneira. A noite estava chegando, foi o que eu pude perceber através da pequena janela que o quarto tinha. Estava sozinha, o silencio era perturbador. De súbito eu o ouvi ao telefone. Estava falando com a minha mãe. Disse a ela que nós discutimos e que eu havia saído. Pediu que avisasse assim que eu chegasse. Foi ai que eu me desesperei mais ainda. – ela respirou fundo, estava tremendo. Mas Kevin pegou em sua mão e lhe deu um pouco de força. – Quando ele voltou pro quarto o olhar que ele lançava era de um psicótico. Eu sabia que não podia esperar nada de bom. Então ele me vendou e me levou nos braços para um carro. Tentei manter a noção do tempo. Ele dirigiu por cerca de uma hora sem paradas. Quando chegamos ao destino, me vi em um celeiro. Ouvi o barulho dos animais lá fora e notei que podíamos estar em algum interior. – ela soltou a mão de Kevin. – Então meu pesadelo começou. Ele ia me ver uma vez ao dia. Trazia alguma comida, mas muito pouca. Apenas para que eu não morresse. No terceiro dia ele trouxe uma tesoura e um maçarico. Nessa hora eu temi por minha vida, mas na realidade tudo que ele fez foi queimar e cortar o meu cabelo. Alegando que eu me achava demais e que não merecia a beleza que tinha. Eu pensei que ele iria me violentar, mas não. Ele não o fez apenas  me batia. Me batia. – ela olhou para minha namorada e hesitou antes de continuar.

— Bem, ele disse que eu tinha sorte. Pois ele pretendia sequestrar a pessoa que eu ele amava.  Um monstro daquele não tem capacidade de amar ninguém. – ela disse com agora uma sombra de raiva no olhar. – ele queria você Tayla. – eu abracei minha namorada com força. Para passar a ela a sensação de que eu estaria ali e aquele homem não encostaria um dedo nela. – Mas não se preocupe eu acionei todas as policias possíveis e meu pai esta cuidando disso. – o pai da Larissa era da policia federal. Estava sempre trabalhando, mas era um pai cuidadoso e amoroso com os filhos. – Bem, ele disse que eu não merecia ser usada por ele.

— Como você conseguiu fugir? – Rebeca disse parando de chorar. Detalhe ela ainda estava chorando.

— Tentei contar os dias, percebi que já passava de uma semana. Naquele dia em especial ele não fez nada comigo. Não me bateu como sempre, não me chamou de palavras de baixo calão. Apenas ficou ao meu lado, me olhando e saiu. Não sei o que se passava em sua mente. Mas ele esqueceu a porta destrancada. De certo contava que eu não fosse ter forças para sair dali. Mas mal sabia ela que dia após dia eu tentava afrouxar as cordas. Como meu corpo estava perdendo peso assim como as cordas perdiam força. Pois ele não se dava ao trabalho de renova-las. Em um belo dia eu consegui soltar as mãos e depois as pernas. Quando quis me levantar simplesmente eu cai. Meu corpo estava fraco e todo dolorido, mas pernas estavam dormentes e eu percebi calos e hematomas nos meus membros. Procurei em vão as minhas coisas, não estavam lá. Quando consegui me levantar direito eu andei em direção ao lado de fora. Tive de passar por uma fresta. Já que a porta não estava trancada, mas uma corrente a prendia. – notei vários arranhões nela. E isso me deu mais raiva e nojo daquele ser. Ela continuou. – Andei por mais ou menos meia hora por dentro de um matagal. Não podia arriscar que ele me visse na estrada.  Quando enfim vi que um carro da policia estava passando e fui pra estrada rapidamente. Eles me socorreram. A primeira coisa que eu fiz foi notificar quem fora o culpado. Bem de resto é isso.

Ficamos todos em silencio ali. Ninguém teve coragem de dizer nada.

— Estamos aqui agora, a justiça será feita e você pode ter a certeza de que estaremos ao seu lado. – Tayla disse quebrando aquela atmosfera ruim.

...

Uma semana se passou desde aquele incidente. Trevor fora preso e indiciado. Foi um golpe de sorte. Ele mantinha um padrão. Sempre ia ver Larissa uma vez ao dia, após as dezesseis horas. Naquele dia era fugira uma hora e meia depois. Justamente o mesmo tempo que ele chegava em casa. O local onde ela ficava era abandonado e isolado. Não havia uma casa sequer a quilômetros. Como a policia estava a procura dela faziam as buscas também pelos arredores da cidade. Tudo correu bem. Como devia ser. Ele pegou apenas vinte anos de prisão. Por enquanto seus outros crimes ainda não eram descobertos. O pai de Larissa cuidou para que ele não colocasse um pé fora de uma sela por muito tempo.

Por falar na loira ela meio que se regenerou. Mudou bastante a forma como agia e pensava. Estava mais humilde e creio que a dificuldade a deixava mais humana. Fiquei feliz com isso. Pensei que ela queria voltar para o Kevin, alias que eles iriam tentar, mas não. O máximo que eles tinham era uma casta amizade. Por falar nesse sentimento, minha namorada e a loira estavam mais unidas. Hirome voltou a ser amiga dela que por sua vez aprendia dia a dia como ser uma pessoa melhor.

Ela soube da nossa busca por ela. Ficava sempre emocionada e chorava por nada. era estranho vê-la assim. Mas aquela era a nova Larissa. Que infelizmente amadureceu pela dor.

As vezes eu a chamava lá pra casa. Onde nos reuníamos e víamos filmes, conversávamos e nos divertíamos muito. Em uma dessas reuniões eu estava indo ao mercado com Kevin comprar mais refrigerante.

— Kevin.

—Sim. – ele dizia ajeitando as sacolas.

— Como se tira sangue de uma pessoa sem que ela saiba? – eu perguntei com um sorriso.

Ele começou a rir e então me olhou começou a tão esperada narrativa.

— Você sabe que eu sempre doei sangue. – isso é uma verdade. Kevin doa sangue desde os quatorze anos. Com uma permissão legal dos pais. Ele um dia sofreu um acidente quando tinha dez anos e o que o salvou foi o sangue de um doador. Desde esse dia ele nutriu a vontade de fazer o mesmo. Assim sendo conseguiu uma permissão. E sempre que pode vai ao centro mais próximo.

— Sim, eu sei.

— Então em um dia a esmo eu fui com a Larissa. Estava desconfiado de que ela não estivesse mesmo gravida. Então eu decidi dar um jeito de fazer o exame lá mesmo. Conhecia todos e sabia que eles faziam esse tipo de exame. Então eu disse a ela que eles iriam recolher uma amostra de sangue para ver se o mesmo era bom para doação. Isso é um procedimento padrão, então ela não estranhou. Mas eu disse a ela que era preciso que ela assinasse e fosse insistente que queria fazer o exame. Pois era de menor e eles tinha resistência a fazer isso. – ele começou a rir. – Dai ela aceitou e pronto. Quando a moça veio recolher, não perguntou nada. Só se ela realmente queria fazer esse exame. Ela disse que sim e pediu que ela fosse rápida. E assim o foi. Entendeu agora porque eu tirei o sangue dela sem que ela soubesse? O exame deu negativo e o resto da historia você já sabe.

— Nossa como você é inteligente. – eu baguncei o cabelo dele com a mão livre.- Preciso contar a todos. – eu disse pegando meu celular.

— Não se incomode. Todos já sabem Leonardo. Menos você. – ele disse gargalhando e correndo na minha frente.

Fiquei parado com cara de paisagem e corri até ele.

E os meus dias não são e nunca serão perfeitos, mas cada pedaço de alegria que me é dado é um motivo de felicidade. É um raio de sol por entre as nuvens. Agradeço todos os dias por ter a oportunidade de mudar, de melhorar de ser um homem que vai dar orgulho a minha família e a mulher que eu amo. E assim poder dançar de alegria, ao invés de cultivar tristeza, nesses meus dias de chuva.


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Notas finais do capítulo

Não vou dar spoilers, mas a próxima temporada será bem mais envolvente. Obrigada de novo.



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