Dias de chuva escrita por Sazi


Capítulo 11
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura a todos.



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Fiquei pensando nisso o resto do dia inteiro. Laís estava cansada, comeu um pouco do que eu e Daniel fizemos e depois foi dormir, não sem antes agradecer ao amigo e lhe dar um forte abraço.

— Obrigada por se preocupar. – ela disse antes de se deitar.

Daniel e eu fomos pra sala ver alguma coisa a esmo na televisão.

— Você sabe o segredo da Tayla? Algo sobre o passado dela? – eu questionei.

— Sinceramente, não. – ele disse sem tirar os olhos da tela.

— A Laís sabe, só que ela esta cansada, depois eu pego a informação com ela.

— Acho bom você a deixar descansar tranquilamente. – ele me questionou. Segundos depois ele bocejou e levantou-se. – Estou indo embora. A noite eu volto, quero dormir um pouco.

— Dorme aqui. – eu sugeri. – Pode usar a minha cama.

— Você não se importa?

— Claro que não. Dorme um pouco.

Depois desse nosso pequeno dialogo ele foi dormir um pouco, meu amigo estava cansado e eu extremamente curioso.

A tarde logo escorreu por entre os dedos e a noite eu estava sentado ao lado da cama da minha irmã quando ela acordou. Deu aquele sorriso leve e me convidou a deitar ao lado dela.

— Esta curioso? – ela disse mexendo nos meus cabelos.

— Sim, bastante, mas antes me diga se você esta bem.

— Estou melhor, bem descansada. Vamos ao que interessa?

— Claro, matar a curiosidade do seu irmão. – eu disse sorrindo para ela. – Mas a Tayla disse que depois iria me contar, fico em duvida se eu espero ou não por ela.

— Bom, se eu fosse você ouviria as duas versões, dai quando ela lhe dissesse você poderia opinar mais precisamente.

Eu realmente concordei com ela plenamente.  Ajeitamos-nos na cama, lado a lado e ela começou sua narrativa.

— Tudo aconteceu ano passado. Acredito que bem no começo do ano, Tayla era do clube de ballet apenas e começou a namorar um rapaz que era jogador aqui da escola. Ele já saiu, mas seu nome era Trevor. Eles tinham um romancezinho que não chamava a atenção das patricinhas do local. Um dia a esmo ela foi convidada pra uma festa com ele. De inicio ela não quis ir. Mas aos foi e lá ele bebeu muito e quis fazer sexo com ela na frente de todos. Ela tentou se defender, se debater, mas parece que ele conseguiu. A despiu na frente de todos e a estuprou. Literalmente dizendo. Esse caso repercutiu um pouco. Uma amiga dela que estava presente tentou impedir, mas foi segurada. A policia foi acionada por ela. Chegou poucos minutos depois do caso já ter sido consumado. Ela era virgem e estava sangrando muito, alguns amigos dele tiravam fotos e riam da situação, enquanto a única amiga dela a cobria como podia. Tayla é órfão. Os pais adotivos dela não estavam na cidade no dia e a deixaram aos cuidados do irmão mais velho, que nesse dia estava trabalhando, já que ele é médico plantonista. Quando as autoridades chegaram ele ainda teve o descaramento de dizer que ela queria tudo desde o inicio, a chamou de covarde e todas as coisas ruins.

Eu fiquei estático, não acreditava que estava ouvindo aquelas palavras. Que baita idiota. Eu queria quebrar a cara daquele imbecil.

— Por fim ela acabou se afastando de todos, entrou no clube de boxe e agora e essa mulher que você conhece. – minha irmã continuou. – Eu acredito que ela tenha sofrido muito. Estado sempre sozinha. E a amiga dela, aquela que foi a única que a defendeu, bem ela morreu no inicio desse ano.

Essa ultima noticia foi como um soco no estomago pra mim.  A única pessoa que a defendeu naquele dia, que foi seu apoio estava morta. Como Tayla foi forte. Fiquei estático fitando o teto, eu sabia que os seres humanos tinham seu lado monstruoso, mas não sabia que era assim tão presente. Eu quis chorar por ela. Eu não sou mulher, mas creio que a dor que ela possa ter sentido seja enorme. Senti vontade de quando voltar a escola ir atrás daquelas garotas e jogar lixo nelas, pois pra mim era o que elas eram.

— Agora entendi, porque ela se esconde daquela maneira. Entendi porque ela parece um garoto e luta boxe. – eu completei.

— Ela apenas quer fugir e se esconder. Quer que ninguém perceba o quanto ela é assim. Creio que ela tenha medo de que uma hora alguém apareça e faça o mesmo.

Com as ultimas palavras dela eu pude entender que o que eu fiz, foi muito idiota. Eu a beijei. Eu violei o seu espaço novamente. Não como ele fez, mas eu acabei violando. Acabei sendo um monstro, mesmo que fosse um pouco.

— E você a beijou. – ela tocou no assunto.

— Sim. Eu fiz isso por impulso, vou te confessar que estou me sentindo um completo idiota agora.

— Creio que ela saiba que foi feito para tentar ajuda-la. Eu não consegui chegar até ela, pois Tayla se fechou pra muitas pessoas. Só a vejo sendo ela mesma quando esta dançando ou lutando. Eu já fui amiga dela um tempo. – essa ultima noticia me surpreendeu. – No dia da festa eu não estava lá. Peguei uma gripe e não fui.

— Ainda bem que não. Imagina se aqueles caras tentam algo com você? Acho que eu estaria na cadeia agora. – rimos juntos do que eu disse e nesse momento Daniel estava na porta.

— Posso entrar? – ele disse com cara de sono. Tinha esquecido completamente dele.

— A vontade.-  foi minha irmã quem respondeu.  

Ele sentou-se em uma cadeira, o cabelo estava bagunçado e o olhar ainda sonolento.

— Você fica tão bonito assim. – tanto eu quanto ele ficamos surpresos com o elogio dela.

Não vou nem precisar dizer que ele ficou sem jeito. Meus pais haviam chegado e minha mãe veio ver como ela estava, ao entrar no quarto ela cumprimentou o meu amigo.

— Fica para jantar Daniel. – ela convidou.

— Eu passei o dia quase todo aqui, não seria incomodo ficar ainda mais?

— Que é isso, você é mais que bem vindo aqui. – minha irmã completou. – Anda deixa disso. – ela se levantou e pegou no braço dele. – Vai tomar um banho e depois vamos comer algo gostoso. A comida da minha mãe não é tão boa quanto a minha, mas dá para comer. – todos riram disso, menos ele claro, que estava vermelho de vergonha.

Depois do jantar decidimos ficar junto da minha irmã um pouco mais. Conversamos sobre coisas a esmo. Matheus e Renan vieram visita-la. Nos reunimos lá mesmo e papeamos até quase umas vinte e duas horas.

Todos foram para casa. Senti que Daniel queria ficar um pouco mais ao lado dela, mas ele foi embora. Creio que logo eu o teria como cunhado.

Enquanto ao que soube hoje, não tenho muitas palavras para medir a sensação ruim que me veio, o sentimento de ser impotente nesse sentido. Sabia que relembrar essa cena não seria fácil para ela. Eu mesmo não queria mais que fosse dito a mim pela sua boca.

Porem o que eu mais queria nesse momento era vê-la sorrir. Poder dar um pouco mais de alegria. E eu iria tentar isso.   


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Notas finais do capítulo

Até a próxima.



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