“Beep... beep... beep...”

Um ruído ritmado soava pelo ambiente. Eu estava de olhos fechados, porém, sentia que estava em um lugar não familiar. Preso em um estado acordado, porém, ao mesmo tempo dormindo, eu tentava me recordar da última coisa que fiz antes de chegar a esse ponto, mas apenas havia um vácuo no lugar das memórias. Comecei a pensar em coisas e pessoas para me lembrar.

A primeira pessoa que me veio à mente foi Katherine, com seus olhos azuis profundos e suas bochechas rosadas. Depois que Lysandre, com seu olhar gentil e voz confortadora. Pensei na imagem dos dois, mas nada mudou. Depois pensei em Star, a imagem de seus longos cabelos castanhos logo mentalizei, recordei seus olhos verdes brilhantes e sua risada contagiante. Lembrei do seu belo corpo e do seu vestido azul favorito, lembrei do seu jeito meigo de acariciar meu rosto. Era como se ela estivesse diante de mim.

Ela me envolveu em seus braços, seu rosto se apoiava no meu ombro enquanto eu abraçava seu quadril. Senti seus lábios tocarem minha orelha e ela sussurrou:

“...Micaela...”

Eu repeti.

“...Micaela...”

Micaela.

Eu lembrei. Micaela.

Todas as memórias perdidas me atingiram em cheio. A neve descendo, a rua, as luzes do farol, o carro ... e Micaela. Acordei no susto. Meu coração batia a mil enquanto o monitor acompanhava meus batimentos. O som alertou os médicos da área que invadiram meu quarto para me acalmarem.

Eu estava no hospital e fazia dois dias que estava desacordado, meu rosto estava parcialmente enfaixado, mas nada fraturado. Não podia dizer o mesmo sobre meu braço esquerdo, que estava completamente imobilizado. O resto do meu corpo estava dolorido, mas bem. Eu tinha perguntado sobre Micaela, mas ela não sabia de nada. Tentei pensar positivo e torcer para Mica estar sã e salva.

Eram seis e meia da manhã quando falaram que eu tinha visita. A porta do meu quarto se abriu e vi Katherine cobrir a boca e seus olhos se encheram de lágrimas, uma pequena figura correu adentro e pulou em cima da minha cama. Senti felicidade e tristeza profundas quando vi o rosto delicado, porém ralado da minha irmã.

— Maninho! – Ela tentou me abraçar, porém foi impedida pela enfermeira, que lhe informou que só podia ficar ao lado da minha cama.

Sua decepção era clara, mas obedeceu às instruções com um aceno da cabeça. Estendi minha mão direita a ela, e logo um sorriso apareceu em seus lábios enquanto envolvia sua mão na minha.

— Mica... você está bem? – Minha voz soou fraca.

Ela acenou e logo as lágrimas começaram a descer. Franzi a testa.

— Porque você está chorando?

Ela fugou, levando minha mão ao seu rosto, acariciando-o com sua bochecha.

— Eu achei que você não ia mais voltar... que nem a Star...

— Não se preocupe, eu estou aqui. Não vou te deixar nunca mais.

Ela sorriu entre as lágrimas e fechando os olhos.

— Eu te amo, Maninho.

Katherine aproximou se nós, também chorando. Sua mão acariciou meu cabelo, descendo até minha bochecha descoberta.

— Castiel... eu sinto muito... – mais lágrimas desceram pelo seu rosto – eu sinto muito por tudo, eu não estava com você quando precisou de mim...

Eu balancei a cabeça.

— Você não tem o que se desculpar, está tudo bem.

Kathy fechou os olhos, aliviada e sorriu.

— Estamos felizes de você estar bem. Não saberíamos o que fazer sem você.

Na tarde, depois do almoço, as duas me visitaram de novo. Mica fazia a tarefa numa mesa ao lado da minha cama, mas constantemente se distraia com a televisão ligada. Katherine, observando a situação, riu para si, sem perceber que eu contemplava. Desde de que eu tinha acordado do acidente que eu sentia falta de sua presença e de seu carinho. Eu não soube o que dizer quando ela se declarou para mim pela primeira vez, mas após ver sua preocupação e amor por mim, eu tinha certeza sobre meus sentimentos.

Ela olhou para mim quando segurei sua mão. Sem dizer nada, ela apertou-a carinhosamente.

— Kathy... eu senti sua falta.

Ela sorriu.

— Eu também senti sua falta, Cast.

— Eu queria pedi desculpas por antes.

Seu sorriso diminuiu ao ouvir eu mencionar o incidente. Ela desviou olhar.

— Ah, esquece aquilo. Você não fez nada de errado. Na verdade, foi eu que invadi sua privacidade, então eu devia pedi desculpas.

Eu balancei a cabeça.

— Não Kathy, você não precisa pedi desculpas.

Meu polegar começou a massagear sua mão, fazendo-a voltar a me olhar.

— Você sabe quanto eu amava a Star e eu sei o quanto você a amava também – Kathy baixou a cabeça, concordando – Mas eu sei que ela se foi, vou sempre senti sua falta, mas está na hora de eu seguir em frente.

Katherine me olhou, um pouco surpresa, mas sem entender muito bem o que eu estava querendo dizer.

— Uma parte de mim sempre vai pertencer a ela, mas apenas uma parte.

Ela riu de leve.

— Que bom. Sua próxima namorada vai querer uma parte também.

— Kathy... – eu a chamei, fazendo ela fixar seu olhar no meu – você sempre esteve comigo durante toda minha fase difícil, você sempre cuidou de mim quando eu mais precisei, me deu carinho e amor mesmo quando eu não pude oferecer o mesmo para você. E o melhor, é que você ama Micaela tanto quanto eu, o que faz de você uma das pessoas mais preciosas da minha vida.

Ela sorriu mais uma vez, mas o sorriso não subiu até os olhos.

— É para isso que serve as melhores amigas, não?

— É, mas você não é só minha melhor amiga.

Finalmente, seus olhos arregalaram enquanto ela começava a entender.

— Você é muito mais do que isso. Você sempre foi muito mais do que isso, eu só demorei um pouco para enxergar o quanto eu realmente era apaixonado por você.

Levando a mão à boca, no canto dos seus olhos formaram gotas de choro, mas seu sorriso meio escondido denunciou sua emoção.

— Castiel...

— Se não for muito tarde, eu quero dá para você tudo de melhor que não consegui oferecer antes.

Levei sua mão até meus lábios.

— Te amo, Kathy.

Ela sorriu com lágrimas, sem conseguir dizer nada, mas a mensagem estava clara. Me levantei um pouco da cama e ela envolveu seus braços na minha cintura enquanto selamos nosso primeiro beijo. O beijo mais doce que havia recebido a muito tempo. Perdidos no momento, não notamos nossa plateia que nos observava da mesa.

Fiz contato visual com Micaela que nos observava com um olhar de deboche.

— O que foi? – Eu perguntei ao separar do beijo.

— Finalmente né?

Joguei uma das almofadas na cara dela.

— Eu não faria isso se eu fosse você. Nem recuperou do acidente e já está declarando guerra.

— Eu estou ótimo, aliás...

Puxei-a pela cintura, quase a deitando em cima de mim, dando-a mais um beijo antes da enfermeira expulsa todo mundo do meu quarto.

Dois dias depois, fui liberado do hospital. Meu braço ainda estava engessado, mas sair de lá já era um alívio. Katherine me esperava na frente. Abracei-a por trás e plantei um beijo na sua bochecha, ela riu em meus braços e virou-se para me puxar pelo pescoço e beijar.

— Ansioso para voltar para casa? – Perguntou enquanto caminhávamos.

Deslizei meu braço pelo seu ombro, dando mais um beijo na sua testa.

— Com você? Com certeza.

CONTINUA...