Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 24
Capítulo 24 - O perdão.




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Marguerite e William voltavam para casa; andavam em silêncio, nem um e nem o outro falou sobre o acontecido daquela manhã. Marguerite, embora acreditasse no poder do Oroboros, queria saber se o seu desejo tinha realmente se realizado, se John estava bem e vivo. William, por sua vez, apenas a observava em silêncio, pois sabia que o sonho havia mexido tanto com ela que havia baixado a guarda, de alguma forma ele sentia isso nela, talvez pelo seu silêncio e pelos passos rápidos, ele tinha quase certeza que ela queria voltar para casa para ver o John.
W – Marguerite, ouviu?
M - Eu não ouço nada, William, pode ser impressão sua.
W – Não, eu tenho certeza que ouvi algo. Espero que não seja um daqueles que vocês chamam de T-Rex, mas tem algo ali adiante.
M - Vamos ver.
Os dois se aproximaram e puderam ver um animal, de fato, mas sem identificar qual era ou se era um predador. O homem inexperiente, ao ouvir um ruído mais forte, assustou-se, pensando ser algum dinossauro, e antes mesmo que Marguerite pudesse ver o que era ele a fez correr.
W - Vá, vá, eu dou cobertura. Corra.
E logo estava Marguerite correndo à frente e William atrás. O animal se escondia entre a mata não lhes dando uma visão muito clara. William, de tanto desespero, tropeça em seus próprios pés e seu rifle dispara e pelo som que se seguiu puderam crer que haviam acertado em cheio o animal. Porém, o homem não consegue se equilibrar, caindo sobre Marguerite que voltava ao seu encontro tentando ajudá-lo, mas foi inevitável, os dois logo estavam rolando em um pequeno barranco.
William por cima de Marguerite no chão, não sabia como reagir, estava se sentindo envergonhado pela falha. A herdeira, por sua vez, não se aguentava e explodia em risos, que logo contagiaram o homem também.
W - Até que foi divertido, não foi?
M - Se foi divertido? Acho que nem o Malone em todo esse tempo se assustou tanto quanto você aqui neste platô. Ainda mais por causa de um porco do mato.
W - Porco do mato? Mas eu achei que era um dinossauro...
M – É, eu percebi. Tinha que ver sua expressão de medo e o susto.... Hahaha
W - Eu daria risada. Minha mãe tem razão, eu não nasci para selva, nasci para os negócios. Bem, mas não queria que nada lhe acontecesse. Desculpe-me pelo susto e pelo tombo.
M – Bem, se sua mãe diz... Obrigada. Quanto ao tombo, está tudo bem, eu vivo fazendo isso por aí.
William levantou-se e estendeu a mão para a bela morena. Ambos ficaram frente a frente, tão próximos como nunca haviam ficado, os olhos se encontravam; embora Marguerite negasse em partes, ela também queria aquilo, talvez somente assim poderia acabar com a dúvida que lhe atormentava. O beijo entre eles foi espontâneo e os dois não se preocuparam em evitar. William estava com uma das mãos no rosto de Marguerite, a acariciando, sentindo a pele macia, lisa e quente; a outra mão estava na cintura da morena, trazendo-a para perto de si, mantendo o contato entre os corpos como se estivessem ligados. A herdeira acariciava a nuca de William, não lhe negando o beijo e, ao contrário, retribuindo-o. Foi um beijo quente, havia uma mistura entre sedução, desejo, devoção e até mesmo uma pitada de curiosidade. Porém, quando Marguerite sentiu o desejo de William se aprofundar, suas mãos correndo pelo seu corpo, ela logo se esquivou de seus braços.
M - Eu não posso. Não é você, William, mas não posso.
W - Você o ama não é mesmo? Ainda o ama e não o trocaria por mim?
M - John? Sim, eu o amo, mais do que minha própria vida. Não poderia ainda trocá-lo nem por você e nem por ninguém, não seria capaz.
W - Eu imaginei. E a admiro; seu amor por meu irmão, assim como o dele por você, é algo que nunca vi antes. É verdadeiro, está estampado em você, seus olhos me dizem a verdade. E você clama por ele, o quer novamente, mas então, me diga, porque não volta para ele, Marguerite?
M - Porque eu não posso.
W - Não pode ou não quer?
M – Ora, quem é você para me dar conselhos? Nem foi capaz de perdoá-lo.
W - Disse bem, “foi”, no passado. Não quer dizer que eu não vá fazer. Sim, Marguerite, eu irei perdoá-lo. Ele é digno de tal perdão e, se quer saber, você deveria fazer o mesmo. Ele agiu, sim, errado, mas não o crucifico por isso. Você é uma mulher rara, Marguerite, não só em beleza, mas em personalidade, em gênio... é fantástica; qualquer homem teria medo de perdê-la. Ele a ama como nunca amou ninguém. Dê uma nova chance para ele. Já que não pode me amar, então mantenha o amor pelo meu irmão.
M - Eu não sei, William, não quero pensar nisso agora. Na verdade, nem deveria corresponder ao seu beijo, não sabendo da minha situação; mas eu tinha que saber.
W - Saber o quê?
M - O que eu sentia por você. Me sentia dividida em alguns momentos por vocês dois, mas agora... me perdoe, William, mas posso ver nitidamente o que está me falando. Meu coração, minha alma, minha vida, pertencem ao John.
W - Não se desculpe por nada. Poder conhecê-la me fez, além de saber o que é amar, também ver que você mais do que qualquer outra mulher é digna de ser uma Roxton, a Lady Roxton. Por favor, prometa-me que irá pensar sobre o que estou falando, sobre meu irmão?
M - Sobre perdoá-lo você quer dizer?! Está bem, eu irei pensar. Quanto ao seu amor, sinto por não retibruir, porém, se quiser podemos ser amigos enquanto estiver conosco.
W - É claro que quero, será uma honra.
M – Ótimo. Agora vamos pegar aquele "dinossauro" que você caçou e irmos para casa, não vejo a hora de tomar um banho quente.

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Na casa da árvore, o caçador estava preparando um chá para o cientista, que ainda continuava acamado, e café para ele e os demais. Ele havia se prontificado em cuidar do amigo durante a noite, estava tentando consertar o que havia causado.
Verônica e Malone subiam para se alimentarem, quando ouviram o barulho do elevador, eram William e Marguerite. Os dois riam animadamente, o homem havia no caminho se assustado com um porco do mato porque pensou ser um dinossauro, mas, por reflexo, deu um tiro certeiro, assim podendo trazer uma caça para o jantar. A herdeira ria pelo medo, susto e pela sorte do tiro. John parou ao vê-la, ficou imóvel admirando sua risada, ainda que não havia gostado de quem havia lhe causado tais sorrisos; ela parecia estar feliz, estar bem, era a primeira vez que ela sorria em dias.
M – Café... Que cheiro delicioso. Isso é uma necessidade.
A herdeira logo estava na cozinha pegando uma xícara para servir-se de café, mas antes que pudesse o caçador já estava gentilmente lhe servindo. Marguerite levantou o rosto, encontrando os olhos dele ternamente. Por alguns minutos parecia que tudo o que havia acontecido de ruim entre eles havia acabado, a raiva, o ciúme, as brigas. Era como se tivessem apenas os dois. John se aproximou um pouco mais, ainda com receios, mas ela parecia ter sentido tanta saudade quanto ele; e então a abraçou acolhendo-a em seus braços fortes. E, por incrível e mais inacreditável que fosse, Marguerite retribuiu, o apertou firme, forte, assim como ele. Ambos sentiam como se precisassem daquele abraço para mantê-los vivos.
Os três, principalmente Malone, não acreditavam no que estavam vendo; se lhe contassem certamente não acreditariam. John e Marguerite estavam ali, diante de seus olhos, se abraçando, trocando carícias. O jornalista olhou para William, tão incrédulo quanto ele, e o viu carregando uma caça.
N – William, que boa caça! Como conseguiu?
W - Ah foi um tiro de sorte, nada demais.
John e Marguerite ouviram as vozes dos dois homens e a herdeira de imediato soltou-se daquele abraço, como se tirada de um transe.
M - Mas o que pensa que está fazendo? Eu já lhe disse que não se aproximasse de mim. Você não aprende mesmo, Lord John Roxton.
J – Ora, o que penso que estou fazendo.... E outra, você por um acaso não retribuiu?! Se não queria era só soltar, mas não foi bem isso que você fez, não é mesmo?
M - Eu não retribuí coisa nenhuma. Como ia me soltar? Olha o seu tamanho e olha o meu.
J - Faz favor, Marguerite, isso nunca foi problema para você. Não se soltou porque não quis.
M - Ah claro... só em seus sonhos. Quer saber? Já me basta de você por hoje. Aproveitou que eu estava perto, não perde a oportunidade, você é assim com todas que se aproximam. Mas eu não sou nenhuma dessas selvagens que você encontra por aí.
A herdeira seguia para o seu quarto a fim de descansar e apreciar o gosto de seu café.
V – Marguerite, espere. Antes temos que lhe contar algo.
M - Deixa eu adivinhar, mais problemas. O que aconteceu dessa vez?
Malone e Verônica se olharam, cúmplices, e quando um deles pensou em responder, John, assumindo a culpa e pronto para enfrentar a fúria da herdeira, tomou a iniciativa.
J - Challenger foi eletrocutado, Marguerite, e a culpa foi minha. Não me atentei a umas das caixas elétricas, sei que deveria ter prestado mais atenção, porém, não fiz e a falha foi minha. Ela ficou ligada enquanto pegávamos os pontos na segunda trilha, e quando fomos passar o fio de eletricidade, aconteceu o acidente. Se Malone não tivesse atirado na cerca elétrica acredito que ele poderia estar morto e não em coma como está. Agora também estamos sem energia na casa e na cerca, mas isso eu mesmo consertarei e ficarei com os turnos noturnos.
Marguerite fechou os olhos por poucos segundos, respirou profundamente e, deixando a emoção falar mais que a razão como poucas vezes permitiu, mas que nestes últimos dias tinha sido difícil de se controlar, a herdeira se pronunciou, encarando os mesmos olhos ternos de poucos minutos antes agora com tamanho rancor.
M - Eu não acredito. Colocou a vida de Challenger em risco? Não que seja por ele, mas nos últimos dias ele é o segundo que quase morre por sua culpa. O que está pensando? O que está passando pela sua cabeça, John? Já não basta duas culpas, William e seu pai... Eu... Não foi por querer... É... Desculpe... Eu...
John olhava para a herdeira com tamanho remorso, nunca imaginou que ela seria capaz de falar tal coisa, de lhe culpar e expor desta forma, ainda mais com William presente, eles haviam combinado. Verônica apenas abaixou a cabeça no ombro de Malone, os dois sabiam que logo a situação não ficaria como estava e que a herdeira havia extrapolado, mas que também fora por impulso. William olha para Marguerite e para John, ainda assimilando a última frase dita por ela, ainda tentando não crer no que havia ouvido, mas pela expressão de ambos era verdade.
W – John, o que aconteceu depois da minha morte? Papai está morto?
J – Ora, vamos, Marguerite! Você não começou? Termine! Vamos, conte ao William o que houve após a morte dele.
M - Depois... Depois que você morreu, três semanas depois, o seu pai também faleceu.
W - Meu pai está morto? Lord Phillip Roxton, morto? Papai, de uma saúde inatingível?
J - Não foi o que os médicos disseram. Papai faleceu de infarto. Acredito que a emoção de sua morte... ele não aguentou. Eu sinto muito, Will, não faz idéia do quanto fui atingido. Do quanto me doeu.
W - Você atingido? Ora, John, não seja cínico! O único atingido aqui fui eu. Quer saber, eu não fico mais nem por um minuto aqui.
O homem loiro saiu às presas entrando no elevador. John ainda encarava Marguerite, que estava com a cabeça baixa; ela havia falado demais e sentia isso.
J – Satisfeita, Marguerite? Meus parabéns.
M – John, eu...
Porém, antes que a herdeira se pronunciasse o caçador corria para o elevador, seguindo o irmão que já adentrava pela selva.
Verônica, Malone e Marguerite permaneceram na sala, ainda observando a saída dos irmãos. A herdeira levantou um dos braços como num gesto de frustração.
M - Mas que droga. Eu e minha maldita boca grande. Se antes não queria me preocupar com nenhum, agora terei que me preocupar com dois. É só o que me faltava.
N – É, Marguerite, acho que dessa vez você falou mais do que devia.
M - Ah falou o mais quieto da turma. Você nunca fala nada não é, Malone?
V - Vamos parar, vocês dois. Não precisamos de mais discussões por aqui. Temos Challenger para cuidar.
M - Quer saber, você está certa. Ficar aqui discutindo com Malone não vale a pena. Eu acho que sei como ajudar Challenger, mas preciso de você.
Verônica pediu gentilmente para Malone aguardar na sala, enquanto acompanhava Marguerite até o quarto do cientista. A herdeira lhe explicava que teriam que usar em conjunto o Oroboros e o Tryon, desejando as melhoras de Challenger.
V – Marguerite, eu acho que tive uma idéia. E se depositarmos os dois medalhões sobre o tórax de Challenger, cada uma apoiar a mão sobre seu próprio medalhão e fazer os desejos, como orações silenciosas? Funciona?
M – Funciona. Na verdade, nem precisa disso; basta apenas cada uma segurar seu medalhão, darmos as mãos e segurarmos a mão de Challenger para funcionar.
V - Você já testou?
M – Pode-se dizer que sim. Bem, vamos nos apressar com isso, acho que ainda teremos um resgate para fazer. Os irmãos Roxton perdidos pela selva. Juro que se um dia eu conhecer a mãe deles vou perguntar o que ela fazia para controlá-los.
A garota da selva, diante o último comentário da morena, acabou sorrindo; ela de certa forma tinha razão, desde que William chegou os irmãos só haviam arrumado encrencas. Ainda bem que, acreditava ela, tudo isso logo, logo acabaria, ou pelo menos ela esperava.
V - Certo, estamos de mãos dadas e também com os medalhões em mãos; e agora?
M - Você acredita no seu medalhão, no poder que ele tem? Acredita que ele é capaz de ajudar o Challenger?
V - Claro que acredito, você sabe muito bem disso. Ele foi da minha mãe, ela já acreditava no Tryon.
M - Ótimo. Então, faça funcionar; peça, ore, sinta, o que for, contanto que seja de coração e verdadeiro, mas para o George melhorar.
V - Certo, acho que sei o que fazer.
As mulheres fecharam os olhos, cada uma com seu medalhão, as mãos unidas e também segurando as do cientista. Cada uma a sua maneira, não em voz alta, mas mais para si, como se fizessem uma oração, desejaram do fundo de seus corações a melhora do amigo, que ele conseguisse sair do estado de coma, que voltasse para eles.
Os medalhões brilharam, um brilho forte que iluminou boa parte do quarto, esquentou um pouco nas mãos, mas nada que fosse demais e, quando se apagou o brilho que deles reluzia, Challenger estava despertando, ainda abatido, mas mexendo-se e querendo sentar-se.
V - Nós conseguimos, Marguerite.
M – É, parece que sim. Seja bem-vindo, Challenger.
C - Mas o que...? Como? Minha nossa, estou me sentindo quebrado.
M - Eletrocutado, quebrado não.

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A chuva voltava a castigar o platô, dificultando a visão de qualquer um que estivesse no meio da selva. William corria desesperadamente, tinha a esperança de chegar na aldeia Zanga, queria conversar com o Xamã, com o pajé, com qualquer um que soubesse tirá-lo daquele lugar; queria fugir, ir embora, acreditava que talvez os Zangas pudessem ajuda-lo, além do fato de ainda estar aceitando a morte do pai, isso na sua mente não era possível, não queria acreditar.
John tentava segui-lo, mas a chuva estava apagando qualquer rastro deixado e pelas poucas pegadas que encontrou no caminho pôde ver que o irmão estava perdido, parecia sem rumo, até porque William não sabia como andar pelo platô, não conhecia os caminhos, direções e isso era perigoso, pois ele poderia ir parar nos territórios canibais ou no dos predadores carnívoros. O platô não era lugar para se andar sozinho e com chuva o dia estava escurecendo mais rápido. O caçador não conseguia encontrar o irmão, e devido ainda a estar cansado do dia passado teve que fazer algumas paradas para descansar um pouco. O tempo só piorava, faltavam agora poucas horas para escurecer e não havia encontrado ainda William. Os rastros haviam sumido, mas John não desistiria, só iria voltar para casa com o irmão. Mais duas horas se passaram e nada ainda. Porém, um grito e um pedido de socorro um tanto longe lhe chegaram aos ouvidos, pareciam ser os gritos de William.
John se aproximou cautelosamente do local onde ouvira os gritos, pois além do grito humano havia rugidos. Eram dois tiranossaurus rex se enfrentando na beira de um penhasco e, para piorar a situação, era William quem estava segurando-se na beira. O caçador viu apenas sua parte de cima ainda tentando se apoiar, se manter vivo. Tinha que pensar rápido, tinha que fazer alguma coisa e desta vez não adiantaria ele chamar a atenção dos predadores, pois se fizesse quem na certa morreria era ele. Por outro lado, os predadores estavam tão ocupados na sua briga, que talvez nem prestariam atenção nele. O da esquerda estava mais distante da beirada onde William estava; já o da direita nem tanto. Talvez, se John fosse sorrateiro e passasse por baixo ou saltasse por cima da cauda sem ser percebido, ele chegaria ao irmão, o salvaria e os dois poderiam fazer o mesmo trajeto de volta - porém correndo, o que era mais eficiente para escapar. Mas haviam riscos; se o caçador errasse um passo, não teria chance alguma de escapar, em questão de segundos estaria morto. Riscos que valeriam a pena correr, pois era por seu irmão; e não iria perdê-lo novamente, não por sua culpa, mais uma vez.
John foi cauteloso, passo por passo, sua respiração compassada, ia sentindo a chuva cair... com movimentos leves e vagarosamente, pulou a cauda do tiranossaurus rex evitando fazer barulho. Ao aproximar-se da beirada do penhasco, John tomou o cuidado de abaixar-se, vendo o irmão lutando para segurar em algo que lhe desse segurança.
J – William, segure minha mão. Tente apoiar os pés no paredão, fazendo o menor barulho possível. Vou te puxar, vamos.
W - John, como?
J - Agora não dá para explicar, mas segure logo.
John puxava o irmão para cima, tentavam ser cautelosos, mas rápidos também, pois sabiam que a qualquer momento um dos predadores poderia percebê-los.
W - E agora?
J - Pule por cima da cauda e quando chegar nas árvores se esconda. Eu vou logo depois de você.
W - O quê? E você?
J - Vá logo, William, eu sei me cuidar. Se por acaso eu for visto eu sei para onde correr. Vá, eu vou esperar aqui na retaguarda.
William olhou para John, fez um aceno com a cabeça e obedeceu às instruções. Logo chegou a vez do caçador, contudo, para o seu azar, ao tentar pular a cauda do T-Rex ele foi visto. William de longe observava tudo quieto, sabia que o irmão poderia não sobreviver, precisava de ajuda. Tirando a arma do coldre ele deu tiros para cima, chamando a atenção dos dinossauros e dando tempo para John correr em disparado para as árvores; William também corria, mas distante do irmão, porém, mantendo-se onde o enxergasse. Os dinossauros agora estavam no encalço deles.
J - William, vá para a direita! Tem uma caverna mais a frente. Logo eu te alcanço!!!
W - Não sem você!!
J - Seu teimoso, vá logo, não pode morrer aqui!
W - E nem você!
John balançou a cabeça, não aprovava a atitude do irmão e queria mantê-lo seguro, era o mínimo que poderia fazer. O caçador tomou coragem e virou para a direita, para onde o irmão estava, tendo um T-Rex atrás de si; passou por baixo das pernas do outro, o que fez com que que ambos os dinossauros se esbarrasem e voltassem a lutar entre si novamente e permitindo que os irmãos chegassem na caverna em segurança.

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Na casa da árvore, com auxílio de Malone, Challenger foi levado para o andar acima e estava sentado na mesa do jantar, se alimentando; aliás, se alimentando muito bem, Verônica e Malone o observavam feliz, era bom ver o amigo mais corado, já falando sobre invenções, pensando em logo retomar as experiências.
A herdeira havia ficado com o primeiro turno da vigília, estava na varanda atenta aos movimentos da selva próximos a cerca elétrica. Verônica aproximou-se, tomando um pouco da atenção da morena. A garota da selva achava que era hora das coisas começarem a tomar rumo, começarem a se acertar.
V - Sabia que ele tentou se matar hoje cedo?
M - Se está falando sobre John, vá direto ao assunto, Verônica, não me venha com rodeios.
V – Marguerite, não estou com rodeios. John passou a noite fora, tentou se matar hoje cedo; ele não me contou com detalhes, na verdade, enquanto eu estava com Challenger ele chegou bem abatido, fui vê-lo e perguntei. Tudo o que ele me disse é que estava no último instante, no dez, quando lembrou-se de você, disse que não sabe como, apenas estava decidido e, de repente, queria te abraçar, viver por você.
Marguerite estava espantada, não esperava isso. Então o sonho da morte do caçador tinha sido real; ela tinha sonhado com ele se matando, de fato, com raptors o devorando, fazendo-o em pedaços, então o medalhão havia salvado ele; ela poderia tê-lo perdido para sempre. Marguerite sentia seu coração pulsar tão acelerado como mais cedo, parecia que ia sair pela boca, ela debruçou-se sobre o parapeito da varanda sentindo o frescor da chuva, que agora era fina, e a brisa do vento. Mal conseguia pensar bem, não conseguia pensar em nada.
V - Marguerite? O que foi? Aconteceu algo mais?
M - Aconteceu. Eu tive um pesadelo com John, que ele havia se matado. A feiticeira dos Zangas foi quem me acolheu e ajudou, me instruiu a usar o Oroboros pedindo para que não acontecesse. Foi assim que testei o medalhão, só não sabia se tinha dado certo.
V - Bom, sua prova está aí; John vivo.
M - É... Está sim.
Verônica ainda observou um pouco a morena, que parecia estar pensativa, parecia até estar longe dali.
V - Está preocupada, Marguerite? Pode confiar em mim, sabe disso. O que está lhe preocupando?
M - Quer mesmo saber? O porquê estou assim? Não parou para pensar?
V - Não faço idéia do que está falando, Marguerite.
M – Verônica, é simples: com o Oroboros podemos sair daqui, voltar para a sociedade.
V - E isso não é bom? Achei que uma notícia dessa te animaria.
M - Verônica, assim que resolvermos a situação do William, Challenger vai querer correr para voltar para casa. Assim como todos os outros, inclusive o seu Ned. Contudo, para financiar a expedição eu depositei minha última libra. Se eu voltar estarei falida e minha cabeça deve estar a prêmio. Tem ideia do que é isso?
V - Acho que entendo o que está querendo dizer. Se voltar para a sociedade, estará fazendo o mesmo que o William, estará voltando para encarar a morte, é isso?
M - Morte é pouco. Se Xan, ou mesmo se o exército alemão, souber que estou viva irão me torturar; um para conseguir o Oroboros e o outro para conseguir informações sigilosas. Não posso voltar, não nessas condições.
V – Marguerite, eu tenho certeza de que vamos achar um modo para te tirar dessa situação. Entendo sua preocupação, mas como você falou antes tem o William, isso nos dá tempo para pensar. Vamos resolver isso, como sempre fazemos, como uma família.
M – Ah sim, claro, uma grande família feliz. Espero.
V - Nós vamos. Agora, porque não vai se deitar, descansar, eu assumo o turno daqui.
M - Acho que estou precisando.

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Na caverna, já em segurança, os irmãos estavam sentados no chão, quietos e ainda tentando se manterem aquecidos.
W - Acho que vamos passar a noite aqui, não é?
J - Eu não sei, William. Não é seguro nos arriscarmos a ir para casa a noite, ainda mais com aqueles dois T-Rex lá fora.
W - É, isso não é bom.
J - Mas é o que temos. Estamos vivos e é o que importa.
W - Você tem razão. Aliás, o que fez há pouco, irmãozinho, se mataria por mim?
J - Sim. William, eu sei que nunca tive respeito por você, por quem você era, digo, como pessoa, nunca respeitei você, não foi? Nunca perguntei o que você queria na mesa do café da manhã, nunca me preocupei com o que pensava. Só eu estava certo.
William, ainda que estivesse escuro, pôde ver o tom de sinceridade na voz do irmão e, bem, estava na hora disso tudo acabar. Ele mesmo estava exausto dessa situação.
W – John, tem algo que quero lhe falar. Sobre o passado, sobre minha morte. Quero que saiba isso para o futuro também. Foi um acidente, não foi sua culpa. Foi uma fatalidade. Se lembra quando éramos jovens, antes de eu ir para a universidade, como nós nos divertíamos juntos? Sabe, eu vou sair daqui e encarar a morte e eu não quero carregar nenhuma culpa, quero estar em paz comigo e com você. John, você tem o meu perdão, aqui no presente, no passado e no futuro, você não me fez nada. Eu nunca pensei que diria isso, mas é bom te ver, é bom conversar assim com você. Esses dias aqui no platô me ensinaram mais do que a minha vida inteira, e lhe devo isso. Obrigado, irmão.
John tinha lágrimas nos olhos; seu irmão estava lhe livrando da culpa que carregava há 14 anos, ele mal podia acreditar.
W - Acho que você ainda deve estar assimilando. Bom, como prova disso, porque não me dá um abraço de irmão para irmão? Afinal, faz bem mais do que 14 anos desde a última vez.
John levantou e abraçou o irmão; chorava, já não mais se aguentando de emoção. William também estava se segurando para não derramar lágrimas. O irmão tinha feito por merecer, tinha salvado a sua vida mais do que uma vez, além do que o que havia acontecido entre eles, a rivalidade, havia se acabado.
W - Escute, tem mais coisas que quero lhe falar. É sobre Marguerite.
J - Sobre Marguerite? Mas o que ela tem a ver com isso?
W - Tudo. O amor que ela tem por você, John, qualquer homem invejaria. Ela é a mulher de fogo e aço de que papai sempre nos falou, aquela que se encontra uma única vez na eternidade. Eu a amo, meu irmão; olha que azar o nosso, amar a mesma mulher, mas nada vale amar se não se pode viver esse amor e se não for correspondido. Eu nunca a teria. Quero que se case com ela, que a cuide e a ame por toda a vida, ela merece isso. Tome, pegue; é o meu relógio de pulso que papai me deu na formatura, tem ouro o suficiente para fazer uma aliança para você e ainda algum outro presente para ela. Faça isso, não desista dela, assim como não desistiu do meu perdão. Hoje eu a beijei, queria saber como era, e sabe o que senti? Frio. Frio porque o único capaz de aquece-la é você.
John esboçou um pequeno sorriso singelo. Estava feliz, muito feliz; o perdão do irmão, a culpa que antes sentia sobre sua alma, agora estava livre dela, e o melhor o amor de Marguerite era somente seu. William podia tê-la beijado, mas ela não o aceitou, na verdade, só lhe serviu para saber com quem estava seu coração.
J - Obrigado. William, obrigado por tudo. Não foi o único que mudou nesses poucos dias, acho que nós dois mudamos muito. Eu irei fazer, sim, uma aliança para mim e o ouro que sobrar vou guardar para quando tiver um filho. Darei a ele uma pulseira e, sabe, se for um menino vai se chamar William.
O irmão riu diante o comentário de John, depois de anos estavam bem.
W - É um bonito nome, vai ser um belo garoto, como o nome. Meu irmão, não ficou bravo pelo beijo? Quero dizer, ela não teve culpa.
J - Quanto ao beijo, esqueça. Já lhe culpei demais e, além disso, sabemos que em outros tempos eu fiz pior.
W - Tempos passados.
J - Bem, acho que é hora de dormir. Não é a melhor hospedagem por aqui, mas dá para a noite. Amanhã levantamos no primeiro horário, os outros devem estar preocupados.
W - Outros ou uma bela impetuosa?
J - Will, will... Maninho, você entendeu.
W - Hahaha entendi e como entendi. Escuta, Johnezinho, ela sempre teve esse gênio forte? Quase me matou outro dia.
J - Já foi pior, acredite. Quase quatro anos tentando conquistá-la. No primeiro dia que falei com ela, bem, digamos que a sorte é que ela tem uma pontaria muito boa, senão seu irmão aqui pode-se dizer que seria um homem sem honra.
W - Está querendo dizer que ela quase atirou... Bem, quer dizer... Ah, você sabe... e você não fez nada?
J - Eu não. Não com ela segurando aquele rifle. Vai que ela decidisse mirar não mais na gaveta?
W – É, fez bem, pelo menos foi sensato.
Os irmãos ainda deram algumas risadas sobre histórias passadas ou mesmo sobre a vivência de John e Marguerite no platô.
W - Hahaha quem diria, você sofrendo por uma mulher hein, irmãozinho. Se alguém me contasse eu não acreditaria, claro, se não fosse você próprio.
J - É Will, você não faz ideia. Mas em compensação eu fui o homem que domesticou Marguerite Krux.
W - Marguerite Roxton, irmão; ela é uma Roxton. Tem certeza que a domesticou mesmo? Acha que isso seja possível?
J - Hahaha não. Nem que seja possível e nem cem por cento que eu tenha feito. Mas se precisar conquisto ela todos os dias que eu ainda tiver de vida.
W – É, e seja onde eu estiver, lhe dou uma forçinha, pode ser que precise.
J - Pode ser?! Haha nem preciso responder. Qualquer ajuda é bem vinda.

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Após a chuva que castigou o platô a noite toda, na manhã seguinte os primeiros raios de sol, ainda um pouco encobertos, iluminavam o novo dia. Malone estava preparando o café da manhã, Challenger o auxiliando com as torradas, Verônica sentada próximo a varanda. Ainda não havia nenhum sinal de John ou William, estavam preocupados.
Marguerite subia de seu quarto, com a cara fechada, para variar estava com seu humor matinal. Varreu a cozinha com os olhos, procurando também sinal dos irmãos, mas nada encontrou. Todos juntaram-se na mesa conversando uns com outros e não perceberam o barulho do elevador, quando os irmãos entraram no ambiente, ainda a tempo de John ouvir um comentário um tanto preocupado vindo da herdeira.
M - Escutem, escutem: só eu aqui estou preocupada com o sumiço daqueles dois irresponsáveis? Será que estão tão preocupados com essa droga de invenção que não perceberam ainda que eles não voltaram?
J - Ora, ora, achei que não se importasse, Marguerite.
Para a surpresa de todos, principalmente de Marguerite, que estava de costas, os dois irmãos estavam diante deles e bem, além de parecerem ter feito as pazes. A herdeira virou-se para ver um sorriso no rosto de cada um deles, principalmente no de John, certamente ele tinha gostado de ouvir seu comentário e estava apreciando sua preocupação. Porém, quando Marguerite tentou responder William a cortou.
W - Resta saber com qual de nós ela estava preocupada, irmãozinho. Dou meu palpite que era com você. Quer fazer uma aposta?
Agora os dois juntavam-se aos demais na mesa. Os outros com sorrisos, podiam ver Marguerite ficar sem reação e os jogos entre os irmãos, certamente haviam feito as pazes e William estava tentando ajudar John a reconquista-la.
J - Hahaha Will, aposta feita. Eu acho que é com você, afinal, vocês têm passado mais tempo juntos, não é mesmo?
M - Ei, ei, vamos parar por aí! Quer dizer que agora os dois irmãozinhos rebeldes fizeram as pazes e acham de ficar com gracinhas? E, pior, me tornam objeto de aposta.
W - Humm... Irmão, ela está certa. A senhorita não é objeto de aposta, portanto, a retiramos. Mas nota-se, John, que Marguerite não negou a preocupação, ou seja, ela estava preocupada.
J – Verdade, Marguerite, você não negou. Então quer dizer que estava preocupada, de fato?
Marguerite encara John com total espanto; era verdade, ela não havia negado, não havia nem sequer protestado e, pior, os dois estavam agora jogando entre si contra ela.
M - Quer saber, perdi o apetite. Vou para o meu quarto onde não tem ninguém para me perturbar, principalmente Roxton’s.
Após a saída da herdeira, os irmãos não aguentaram e caíram na gargalhada; até mesmo os outros se deixaram contagiar.
C - Bem, então vocês fizeram as pazes? Digo, estão bem?
W - Quer responder, John, ou prefere que eu faça?
J - Pode fazer, William.
W - Sim, estamos bem, Professor. Isso graças ao senhor. Muito obrigado, me deu uma segunda chance, aliás, a chance da minha vida. Obrigado.
J - É verdade, George, devemos isso a você. Obrigado.
C - Ora, imagina. O prazer foi meu e, além do mais, não fiz nada.
J - Pelo contrário, meu amigo. O que fez por nós nesses últimos dias, não me lembro de ninguém ter feito nada igual em toda minha vida. Você merece, o mérito é seu.
Challenger sentiu-se orgulhoso e muito feliz, tudo agora estava bem, tudo de volta aos eixos, todos se sentiam melhor.
N - Desculpe, mas tenho que perguntar: e quanto a situação do pai de vocês? Quer dizer, se acertaram quanto a isso também?
J - O sempre jornalista Neddy boy. Will, acho que essa resposta não cabe a mim.
W – Sabe, Malone, meu pai não gostava de ir aos médicos; eu estava errado em pensar que ele tinha uma saúde de ferro, inatingível. Não foi culpa do John e nem de ninguém, uma hora ou outra poderia acontecer, afinal, nós não sabemos quando a morte vem.
N – É, está certo. Bem, fico feliz por vocês. Já não era sem tempo. E pelo que notei vocês agora vão jogar com Marguerite; sabem que isso não é seguro, não é mesmo? Ainda mais com essas mudanças de humor que ela anda tendo.
J - Mudanças de humor repentinas?
N - Sim, não notou ainda?
J - Não, Marguerite não tem falado comigo, Malone. Na verdade, nem perto dela eu tenho chegado.
C - Deve ser o nervoso, meu amigo. Todos nós passamos por grandes provações, mas cada um lida com seus sentimentos de um jeito.
J – É, pode ser que tenha razão, George.
C - Bem, mas mudando de assunto, acho que além de logo podermos enviá-lo para seu tempo, William, também poderemos voltar para casa.
Verônica, ao perceber de certa forma a euforia de Challenger pelo uso do Oroboros, percebe que, de fato, a preocupação de Marguerite não estava tão longe de se tornar realidade. Ela tinha que conter essa "animação" do cientista, até mesmo antes de contagiar os outros.
V – É, Challenger, vamos com calma. Não basta só viajar no tempo ou de um lugar para o outro, terá que ter a segurança. Sabemos que um erro pode mudar tudo o que temos. Além do mais, eu e Marguerite ainda não tivemos tempo para saber como será feita nem mesmo a viagem do William, não podemos arriscar ainda outras viagens.
C – Ah sim, minha cara. Mas nada que em uma semana não consigamos analisar melhor, estudar, compreender e até tomar providências.
V - Uma semana. Mas não acha que é pouco tempo?
C – Ora, Verônica, de modo algum. Posso acompanhar você e Marguerite e, claro, tentar tomar nota, ajudando vocês com qualquer problema que tiverem.
V - É claro, Challenger. Está certo. Bem, vou me retirar. Com licença, vou ver se Marguerite quer começar a treinar ou se conseguimos conversar.
C – Isso, minha cara; faz bem.
Antes de a garota se retirar, William a chama de volta.
W - Verônica, espere, por favor. Dê um recado meu para Marguerite.
V - Claro. O que é?
W - Só diga que ela não precisa ficar com vergonha em admitir a verdade, que ficou preocupada e é claro que com John, no caso. Que sei perder.
J – Ah sim, e complete dizendo, por favor, que não vou desistir dela por nada e nem por ninguém.
V - Vocês dois estão loucos, não é? Quer dizer, sabe o que ela pode fazer com vocês? Marguerite não vai gostar disso.
J - É um risco a correr, eu assumo por mim e por meu irmão. Vale a pena.
V – Bem, eu falo. Tudo bem.
Verônica logo desceu para o quarto da herdeira.
N – John, perdeu o juízo?
J - Perdi sim, Malone. Mas isso faz quatro anos, desde quando vi Marguerite.

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Verônica e Marguerite conversavam em particular sobre os medalhões. O mau humor da herdeira, após ter tomado seu café, já estava melhorando.
M - Então é isso. Challenger nos dá uma semana para nos decidirmos, para resolver todos os problemas do mundo?
V - Marguerite, eu acho que podemos enviar o William nessa semana, mas, para atrasar um pouco, posso anunciar meu relacionamento com Malone, ganhamos mais dois ou três dias. Podemos fazer uma festa, assim, quem sabe, até ganhamos mais uma semana. O que acha?
M - Pode ser, mas não sei se é o suficiente para eu coletar tantas pedras. Minhas dívidas são altas. Nem com todo o tesouro que tenho escondido não é o suficiente.
V - Use o Oroboros. Vou te passar mapas de cavernas com pedras preciosas, é só se teletransportar, pegar e sair.
M - E a minha ausência?
V - Falamos que está treinando, simples. Para quando voltarmos, para a nossa viagem de volta. Ou melhor, de vocês.
M - Parece ser um bom plano... não sei. Mas é o melhor que temos. Aliás, o único.
V – É, vamos ter que arriscar isso ou terá menos tempo ainda, menos do que imaginávamos.
M - É... Verônica, você não irá mesmo conosco se sairmos daqui?
V - Quem sabe um dia, para visitar; mas enquanto eu não encontrar onde minha mãe está, onde é esse lugar, Avalon, eu não irei. E Malone também não, ele ficará comigo, me ajudando e apoiando.
M - Eu fico feliz por vocês. Quem sabe, de vez em quando, eu não venha para o platô, sabe, quando as coisas saírem do controle e eu não tiver para onde ou para quem recorrer.
V - Isso não é verdade, você sempre terá a nós. E sabe de uma coisa, acho que terá um encalço no seu caminho, aliás, no momento você tem dois.
M - O que, John e William? Não, cada um vai voltar para a sua vida, de onde nunca deveriam ter saído.
V – Marguerite, John a ama, ele não vai desistir de você tão fácil. E parece que ganhou William como aliado.
M - Isso enquanto estamos aqui, Verônica. Mas quando retornarmos tudo estará acabado e mudado. E chega desse assunto, não quero saber nem de um, nem do outro.
V – Olha, eu não estaria tão certa assim.
M – Por que não?
V - Porque tenho dois recados para você, que podem mudar a sua opinião.
M - É mesmo? Duvido, mas então agora que começou diga logo que recados são esses?
V - Eu acho que você não vai gostar muito, mas... O primeiro é do William, que falou que sabe que você ficou preocupada, não com ele, mas com John, porém que ele sabe perder. E o segundo, complementando, é do John, ele falou que não vai desistir de você por nada, nem ninguém.
Marguerite, boquiaberta, olhava para Verônica, ainda um tanto desnorteada, não acreditava que eles tinham falado isso, que tinham sido tão atrevidos.
M - Eu não acredito. Bem, tinham que ser irmãos mesmo para serem tão parecidos. Mas se acham que vão falar assim as minhas custas e sem a minha presença, estão muito enganados.
A herdeira levantou-se rapidamente, não estava exatamente furiosa, mas estava irritada, fechando os punhos. Rumou para o andar de cima, seguida por Verônica, que agora só assistia a tudo. Bem, ela tinha avisado.
Challenger era o único presente no andar de cima, os demais pareciam ter saído.
M – Challenger, cadê os outros?
C - Parece que foram até o lago. Por quê?
A herdeira, sem lhe dar nenhuma satisfação, saiu em direção ao elevador, pegou seu cinto antes e saiu apressada, seguida por Verônica. O cientista apenas balançou a cabeça desaprovando a atitude da herdeira, porém, sabia que do modo como ela estava, ele que não iria contrária-la.
O lago ficava a menos de dez minutos da casa. Malone e William já estavam mergulhados na água e John estava de vigia, depois trocaria com um deles para poder se banhar. Ele estava sentado em uma pedra próxima quando viu as duas mulheres se aproximando e Marguerite não parecia estar com uma boa cara.
N - John, lá vem ela, meu amigo.
J - Eu percebi, Malone, eu percebi. Não esperava que seria tão rápido.
M - Aí está você. Sua mãe não lhe educou, não? Que falar pelas costas é algo muito deselegante, ainda mais vindo de um Lord e em se tratando de uma dama?
William e Malone já estavam se esgueirando por entre os arbustos e vestindo pelo menos a parte de baixo, sabiam que a briga entre eles não acabaria bem, ainda mais da maneira como estavam tão perto e a herdeira chegava a ter o rosto tingido de um tom levemente vermelho de raiva.
J - Minha mãe me ensinou muito bem, por sinal. Porém, existem coisas que fiz questão de esquecer, duas delas: uma que sou um Lord, ou pelo menos durante todo o tempo, e a outra que você seja uma dama. Até porque, sabemos que muitas vezes seus modos nos mostraram o contrário.
M – Ora, seu... Quem pensa que é para falar desse jeito comigo? Você não é nada, John, nada! Está me ouvindo? E não o quero, nem agora e nem nunca.
J - É mesmo? É o que vamos ver.
John aproveita-se da oportunidade, da proximidade de ambos, e puxa a herdeira pela cintura de encontro ao seu corpo; então, ele toma-lhe os lábios. Ainda que ela o negasse, ele saboreava o sabor daquela boca de língua tão afiada, mas de sabor tão doce. Marguerite, que de início negava, sentindo os braços do caçador envoltos a si prendendo-a e perto de seu corpo másculo, acaba cedendo aos seus desejos, correspondendo ao beijo, tão quente, tão voraz.
William era o que estava mais próximo do casal. Em um tom baixo e brincalhão, aproveitando-se de que o casal não percebia a presença dos demais, ele decide que estava na hora de eles terem mais momentos à sós.
W - Ned, Verônica, vão indo vocês dois na frente, eu já os sigo.
V – William, o que vai fazer?
W - Só dar uma mãozinha ao meu irmão. Vão.
William foi o único que permaneceu, como combinado, esperando apenas o momento certo de agir. Marguerite, ao soltar-se dos braços do caçador e então recobrar o fôlego e a noção do que estava acontecendo, torna a ficar furiosa e agora até mais do que antes, chegando a levantar a mão para estapear o rosto de John. Claro que ele, mais ágil, a segura a tempo. Assim, um encarando o outro, novamente próximos como minutos antes de trocarem o beijo, William coloca seu plano em ação. Como os dois estavam ocupados demais em se fuzilarem não notaram o determinado momento em que ele, por trás de Marguerite, chega e a empurra, fazendo com que ela caísse nos braços do caçador e este, por estar tão próximo dá beirada do lago, perdesse o equilíbrio e fosse para dentro da água com Marguerite abraçada. E, claro, foi o tempo de William correr e alcançar o outros.
Na água, John e Marguerite submergiam ainda abraçados, ou melhor, a herdeira ainda com os braços do caçador envoltos nela; porém, ela mesma por ter sido pega desprevenida se viu tendo que segurar-se nos ombros de John.
J - Mas o que foi isso?
M - O que foi isso? Não se faça de desentendido, John, foi mais uma de suas brincadeiras idiotas e ainda tendo William como cúmplice.
J - Ah não... Não... Não, Marguerite. Não está achando que eu fiz isso também? Que planejei que isso acontecesse?
M - Claro que planejou, você quis que isso acontecesse.
A herdeira havia conseguido se desvencilhar dos braços de John e já nadava perto da margem do lago para poder sair da água e ir para casa. Quando ela chega na beirada e se abaixa próximo para pegar seu chapéu, o caçador a puxa de volta, não contando que ela viesse novamente para cima dele, apenas que caísse na água.
J - Preste atenção, Marguerite, por tudo que é mais sagrado. EU NÃO VOU DESISTIR DE VOCÊ, NÃO VOU! Estamos entendidos? Eu sei o mal que lhe causei, o amor e a confiança que quebrei, mas se não der ao menos uma chance como poderei me redimir? Como poderei me desculpar e consertar tudo que aconteceu?
Marguerite estava tão próxima de John... Como sentiu falta disso, de saber que era amada, que estaria segura. E pior, em duas semanas isso talvez acabaria de uma vez por todas; mas não estava disposta e nem pronta ainda para perdoá-lo, para lhe dar uma chance, nem por perto como estavam. Partes de sua dor ainda lhe incomodavam.
M - Tarde demais. Deveria ter pensado nisso antes de trair meu amor e minha confiança. Três anos jogados fora, três anos que ficou no meu encalço e para quê? Para que quando conseguisse fazer como os outros fizeram um dia, não valorizar e desperdiçar. Não, Lord Roxton, eu não lhe darei nenhuma chance, não lhe darei nada. E se sairmos daqui me esqueça. Embora acho que isso eu nem preciso pedir, mas só para reforçar: suma da minha vida.
John, por alguns instantes ainda com a morena próximo de si, pensou em sorver novamente seus lábios, sentir seu gosto mais uma vez, porém, ao ouvir as palavras dias de Marguerite, apenas a soltou, baixou a cabeça e não teve coragem nem sequer de olhá-la indo embora.


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