Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 12
Capítulo 12 - Um despertar para vida.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680666/chapter/12

Jarl e Verônica, em seu ritmo acelerado e por estar de dia, conseguiram fazer o percurso para a aldeia em três horas. O sangue da ferida na perna da garota da selva já havia estancado, o curativo também ainda estava bem seguro, o que lhe permitia andar rápido; além disso, ela tinha seus pensamentos tão concentrados em salvar Malone, que mal sentia dor. Jarl estava ao lado levando o ovo em sua sacola com o maior cuidado possível e voltando sempre sua atenção para os arredores, verificando se havia algum sinal de perigo. Ao entrarem na aldeia, logo Assai veio ao encontro da amiga e do esposo, mal podendo acreditar que ambos estavam vivos, estavam bem e que conseguiram trazer o ovo. A aldeia festejou o retorno deles, pois como o Xamã havia dito, poucos Zangas tinham se arriscado em uma aventura como aquela e os que fizeram não haviam sobrevivido. Embora Verônica estivesse feliz em ver a amiga e em ser recepcionada de maneira tão afetuosa, ela logo se direcionou com o ovo em mãos para a cabana do Xamã.
X - Vejo que conseguiu retornar, minha filha, e que trouxe o ingrediente para o antídoto.
V - Trouxe sim. Agora o senhor vai conseguir salvá-lo, não vai?
O Xamã expressou um sorriso no rosto, não apenas porque salvaria Ned e faria Verônica muito feliz, mas porque assim os dois teriam uma nova chance para recomeçar, unindo-se um ao outro. Além disso, o que sobrasse do líquido do ovo (mais precisamente a gema) seria usado para salvar outras vidas.
X - Eu vou trazê-lo sim. Mas preciso ficar sozinho com ele. Vá se alimentar e descansar um pouco, irá lhe fazer bem. E deve guardar suas forças para quando ele acordar.
Verônica estava mesmo cansada, faminta e agora começava a sentir um pouco de dores no ferimento. Ela apenas acenou com a cabeça para o Xamã, e foi ao encontro de Assai, que iria lhe ajudar com tudo que precisasse. “Volte para mim Malone”, pensou dando uma última olhada no homem antes de sair.
–--------------------------------------------------------------------------
Challenger e William tentavam apurar o que poderia ter causado o erro, o que teria acontecido para que o cientista não tivesse conseguido chegar na data certa. William, como um bom assistente e com a permissão do professor, estava verificando os cadernos de anotações que continham todos os cálculos precisos que George utilizava, enquanto o próprio cientista cuidava de averiguar a aparelhagem em si.
W - Professor, acho que encontrei o seu equívoco. O senhor pode vir aqui um instante?
C - Claro, claro, já estou indo.
Ao se aproximar de William, o mesmo aponta onde George possivelmente havia se equivocado; talvez não fosse no cálculo do tempo, mas sim no cálculo da distância do platô para África.
W - Está vendo? O erro parece estar bem aqui. Quanto às datas, pelo que meu irmão lhe forneceu o senhor calculou certo, mas a distância não. Talvez o senhor devesse calcular da Amazônia até a África, visto que não se sabe a medida certa deste Platô.
George mirava William com os olhos brilhando, tamanho orgulho; era realmente um rapaz inteligente, havia descoberto sua falha em questão de poucas horas. Sozinho o cientista talvez fosse demorar dias.
C – Esplêndido, meu jovem, está absolutamente certo! Bem, venha, vamos tentar te levar de volta para casa. Se estiver certo, claro. Pelo menos os seus cálculos estão, ao meu entender.
Em instantes, ambos se posicionaram e Challenger fez o teste. Agora sim, estava tudo correto. Eles fecharam os olhos e aguardaram alguns minutos que mais pareciam uma eternidade.
W – Challenger, tem certeza que isso está certo? Quero dizer, está demorando muito, é normal?
Challenger não pôde deixar de notar que o homem ao seu lado era tão impaciente quanto a herdeira, mas fora ao menos mais educado, sem nenhum sarcasmo ou provocações típicas da morena.
C - Bom, temos que levar em conta que devido às chuvas, o sol que está iluminando a caverna está mais fraco, mas vamos aguardar. Garanto que irá gostar muito de presenciar a experiência, agora de uma maneira mais calma, sem estarmos fugindo de nenhum animal.
Mais alguns minutos se passaram e nada aconteceu; nem luminosidade, muito menos o reflexo da luminosidade. Nada. Estava completamente silencioso, cada um dos dois em seu círculo, olhos fechados, calados, apenas concentrados em seus pensamentos.
W – Professor, eu não quero lhe assustar, mas algo não está cheirando bem.
C - O sim, meu caro, é cheiro de lugar fechado. Realmente alguns lugares assim cheiram muito mal, sem falar quando habitados por predadores. É insuportável.
W - Não é a este cheiro que me refiro e sim ao cheiro de algo queimando.
C – Queimando? Como assim, queimando?
Ambos abrem os olhos e vêem que o teletransportador estava em chamas. Challenger de imediato se assusta, assim como William. Ambos dão passos para trás.
C - Eu não posso deixar que aconteça isso! Vamos, homem, me ajude!
William segura no braço do professor firmemente, impedindo-o que fosse em direção a aparelhagem em chamas. O fogo aparentemente havia começado em algum dos fusíveis que deveriam estar gastos, ou ficaram depois da última viagem, e agora já estava se alastrando por todo o resto.
W - Antes sua máquina pegando fogo do que nós, professor. Temos que sair daqui, pois estou com pressentimento que ela irá explodir, principalmente quando o fogo atingir o refletor. Vamos!
Challenger não queria deixar sua invenção para trás; havia trabalhado meses nela dedicando-se na sua construção, mas sabia que se ficasse, o jovem estava certo, iria logo estar em chamas ou morrer sufocado pela fumaça. Assim, ambos deitaram no chão e rastejaram rumo à saída da caverna. Menos de cinco minutos após saírem do lugar houve uma grande explosão, assim também bloqueando a entrada da caverna.
W – Professor, o senhor está bem?
C - Claro, claro. Ou melhor, não; eu não estou bem. Por Deus, sem o meu teletransportador como vou lhe tirar daqui? E outra: a Marguerite; eu prometi a ela que acharia uma solução, quer dizer, agora que ela não vai mais levar em consideração nada do que eu falar.
W - Ora, eu acredito no senhor. Quanto à mim, bem, se a senhorita Verônica não se importar eu fico mais um tempo com vocês, ajudo no que for preciso, tarefas e tudo mais. E posso tentar conversar com a senhorita Krux para que tenha paciência e lhe dê mais tempo. Até porque, ora, isso foi um erro, foi uma fatalidade e essas coisas acontecem.
C - Sim, eu concordo que foi uma fatalidade. Quanto a permanecer conosco durante mais um tempo, tenho certeza que a Verônica não irá se importar. Agora, quanto à senhorita Krux, meu caro, duvido que consiga conversar e ainda sair ileso. Mas um conselho: se optar por isso leve para ela uma xícara de café. Ajuda.
Dizendo isso, o homem ruivo deu um tapinha no ombro do mais novo e saiu em direção à casa da árvore. William o seguia ainda pensando o porquê da xícara de café, mas optou por não questionar, apenas iria fazer – ou ao menos tentar.
–----------------------------------------------------------
N - Verônica? Verônica, onde está? Eu preciso de você…
O Xamã já havia dado o antídoto para Malone. Claro, ele não funcionava de imediato, mas era rápido e eficaz. Malone já estava acordando, ainda confuso e chamando por Verônica, como havia chamado nos dias anteriores.
N – Onde estou? Que lugar é esse? O que aconteceu?
O Xamã o ajudou a se sentar, até porque, agora ele ainda estava fraco, ainda precisaria de ajuda para se apoiar, mas logo mais estaria em pé e forte novamente.
X - Calma... Isso, sente-se. Você não se lembra de mim? Nos encontramos antes já. Sou o Xamã Zanga; você está entre amigos.
Malone olhou para o homem. Sim, ele se lembrava do Xamã Zanga; já o havia ajudado anteriormente. Agora estava se recordando de tudo: do que havia acontecido, do massacre que houve na aldeia onde se hospedou... estava tudo muito claro. O Xamã gritou para o guerreiro que vigiava a entrada da cabana pedindo para que ninguém interferisse no trabalho que estava sendo feito. Falando em sua própria língua pediu também para que trouxessem Verônica.
Em uma cabana próxima, a garota da selva dormia tranquilamente, seu curativo já havia sido refeito e ela não sentia mais nenhuma dor. Assai entra na cabana ofegante, estava animada com a notícia de que o jovem jornalista havia acordado.
A - Verônica? Acorde! Vamos, parece que o Xamã tem notícias para você. Vamos, vamos!
Verônica quase pulou da cama com a notícia; nem sequer falou nada, só saiu correndo em direção à cabana do Xamã, deixando a amiga para trás. A garota nem esperou ser anunciada e foi logo entrando. Quando, de repente, ela parou e ficou olhando para o jovem sentado ao lado do Xamã, ainda abatido e ferido, mas estava acordado. Malone havia recobrado a consciência.
V - Ned?! Ned, você voltou… Você está bem? Está…
Verônica não sabia nem o que falar; estava tomada de alegria, de emoção, lágrimas começavam a descer por seu rosto. Ela esperou tanto por isso, achou que nunca mais iria vê lo um dia. Malone já conseguia ficar em pé; ele mesmo estava tão emocionado quanto a garota da selva. Durante sua jornada ele acordava e dormia pensando nela, em como ela estava, na saudade. Claro, pensava em seus outros companheiros, mas nela principalmente. Por várias vezes quis voltar para casa, mas antes tinha que se descobrir. Já em pé, Malone foi ao encontro de Verônica, abraçou-a aconchegando-se naqueles braços com os quais tanto imaginou, tanto sonhou reencontrar.
N - Eu… eu estou bem. Ah, Verônica, senti tanto sua falta, queria tanto ter me despedido de você... Está chorando. Porque está chorando?
Verônica, ainda nos braços de seu amado, enxugava as lágrimas com as próprias mãos.
V - Eu senti tanto sua falta... Pensei até o pior. Todos os dias, ao amanhecer, eu pensava se não era o dia em que retornaria para mim… Ah, quer dizer… para nós. Mas você nunca retornava.
Ela praticamente tinha admitido o que sentia por Malone, também a sua saudade e angústia. Mas agora isso já não importava mais. Verônica esperou isso por tanto tempo, pra falar e para admitir.
V – Ned, eu tenho que te falar uma coisa.
Ned também queria falar algo para Verônica, algo de que teve certeza desde a primeira vez que os exploradores haviam decidido ir embora e ele optou por ficar ao lado dela, da mulher da sua vida.
N – Estou ouvindo, Verônica. Mas antes preciso lhe falar algo. Eu preciso mesmo. Essa viagem me ensinou muito, me fez pensar muito e mudar muito, mas tem algo que nunca mudou. Na verdade, só aumentou com o passar do tempo e a saudade crescendo. E eu não posso mais esconder isso. Verônica, eu amo você, sempre amei, todos os dias ao acordar e ao dormir eu só pensava em você. É… É isso… eu... você… não quero nunca mais te deixar.
Verônica apertou mais ainda Malone em seu abraço e ao soltá-lo ela tomou uma atitude pela qual esperou meses: o beijou; um beijo que dizia a falta que ele lhe fez, a saudade que sentiu, a emoção de ter ouvido aquelas palavras e também o que ela mesma queria dizer.
V – Ned, eu amo você também. Esperei tanto para que voltasse. Eu… eu estava errada quando te falei que poderíamos ser apenas amigos. Eu… não quero te perder de novo. Nunca mais.
N- Você não vai. Eu nunca mais vou embora, vou ficar com você aqui, esse platô é o meu lugar. Ao seu lado.
Os dois estavam tão envolvidos que haviam se esquecido do lugar onde estavam e com quem estavam. O Xamã, no entanto, apenas admirava o encontro dos dois; era definitivamente um amor puro, um amor verdadeiro. Quando se conscientizam da presença de uma terceira pessoa, ambos se envergonham de imediato, mas a emoção tinha sido tamanha que o mundo ao redor havia sumido e naquele momento só existiam eles.
X - Está tudo bem, meus filhos. Sabem, não é comum ver um amor assim como o de vocês. Aliás, vocês de outro mundo têm sorte grande. Eram seis, sendo que quatro carregam esse sentimento. Bom, precisam conversar. Fiquem a vontade.
Ned não havia compreendido muito bem o que ele quis dizer com quatro deles carregarem esse sentimento e também não achava certo o Xamã ter que sair de sua própria cabana.
N - Espere, fique. Não acho certo você sair, nós dois podemos conversar no caminho pra casa. Ainda quero voltar hoje. E o que quer dizer com quatro de nós carregarem esse sentimento? Que são os outros dois?
X - A mulher de cabelos escuros que sempre vem fazer trocas, que gosta de pedras, e o homem com chapéu e armas bonitas que veio oferecer caça para pregar pedras num círculo de ouro.
Malone agora não entendia mais nada, olhada para Verônica esperando alguma explicação, que ela soubesse de algo. Claro que pelas descrições eram Marguerite e John, mas círculo de ouro, pedras e caças? Bem, ele já não entendia mais nada e nem Verônica.
V - Mas porque John faria isso? O senhor tem alguma idéia do significado, o porquê dele ter feito isso?
O Xamã soltou uma gargalhada que ecoou.
X - Ora, vocês dois sabem o motivo; o mesmo pelo qual estão ainda segurando a mão um do outro. Amor.
Os dois se olharam e só então notaram que o Xamã estava certo; eles sorriram um para o outro e para o velho sábio.
X – Bem, se ainda vão voltar hoje para casa acho melhor eu me apressar quanto aos cuidados em seus ferimentos; não são graves, apenas superficiais, mas você precisa se fortalecer, comer algo.
Malone acenou com a cabeça já se sentando onde antes esteve deitado. Verônica saiu da cabana em busca de alimentos para o jornalista e o Xamã tratava de preparar suas pomadas e poções para os ferimentos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Choque de Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.