10 sintomas da depressão escrita por KS


Capítulo 2
Sintoma um


Notas iniciais do capítulo

-desculpa, acabei que excluí sem querer e tive que repostar-
Oláaaaaaa gente, muito obrigada as duas garotas que comentaram no capítulo anterior! Vocês são demais!
Espero que gostem!
Digam o que estão achando, obrigada!



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                                                                                  “Pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa autoestima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína, fracasso, doença ou morte.”

 

 

            Sara tinha sofrido um acidente há algumas semanas. Sara era a minha melhor amiga desde o ensino fundamental. Atualmente possuíamos sete anos de uma amizade pura e limpa. Nunca nos apaixonamos. Nunca trocamos salivas por diversão. Nós sempre fomos bem maduros sobre essas coisas. E o ciúme que possuíamos um pelo outro, era um ciúme inocente.

            E eu estava morrendo de medo de vê-la partir.

            Sara não estava mais na UTI e era um grande alívio.

            O acidente que Sara havia sofrido tinha sido causado por um carro. Por insistência de sua irmã mais nova, Sara decidiu que viajaria até o Rio de Janeiro. Ninguém nunca soube o porquê de Sara ter sido convencida por sua irmã de ir ao Rio de Janeiro. A irmã mais nova nunca contou e Sara estava em coma.

            Eu ia visitá-la quase todos os dias. Como só eram permitidos duas visitas por vez, eu tinha que dividir as visitas com seus pais e outros amigos. Mas sempre que o possível, eu estava lá para apoiá-la e dizê-la que se ela se fosse, parte de mim também se iria.

            Meus dias haviam sido bem cinza depois do seu acidente. Minha mãe havia brigado comigo uma vez, dizendo-me que eu não poderia deixar que minhas notas no colégio caíssem por causa de Sara, e que assim que ela retornasse do coma, porque ela VAI retornar, ela não gostaria de saber que havia sido o motivo para que eu reprovasse pela primeira vez.

            Isso me deu uma acordada em relação a tudo. Sara seria o meu motivo e a minha inspiração para lutar cada vez mais.

            Sei de alguém que estava sofrendo na mesma proporção ou pior, sua irmã, Laura. Suas notas, assim como as minhas, deram uma abaixada radicalmente. Porém, as notas de Laura não pareciam voltar a subir.

            Nos encontrávamos no colégio como de costumeiro. Já que eu sempre fora o melhor amigo de Sara e Laura era a sua irmã, tínhamos o hábito de nos isolar em três. Assim como eu estava no terceiro ano do ensino médio, Laura estava no primeiro. Com a pouca diferença de idade, até que eu me dava bem com a garota. Mas não tão bem como com sua irmã.

            Quando eramos em três, nos juntávamos no intervalo e conversávamos sobre diversos assuntos variados. Laura não tinha muitos amigos, na verdade, ninguém sabia o que realmente se passava dentro da sala de aula junto com ela, pois ela nunca contava e sempre respondias as questões o mais breve possível.

            Lembro que estive presente em uma situação, sua mãe, dona Jéssica estava a lhe perguntar:

            — E como foi o dia na escola?

            Sei que se fosse Sara em seu lugar, a garota começaria a soltar tantas palavras pela boca que seria preciso mandá-la parar para respirar um pouco. Mas com Laura foi o contrário.

            — Normal.

            — Só normal? — eu lembro que sua mãe questionou, desapontada.

            — Sim.

            E acabou por aí. Laura não deu nenhum indício de que queria continuar a falar sobre isso e sua mãe não deu nenhum sinal de que insistiria.

            Uma vez, um pouco antes de sua viajem para o Rio de Janeiro, Sara chegou a me dizer que estava preocupada com Laura. Ela disse que a garota estava começando a agir de maneira estranha. Disse que talvez ela estivesse sofrendo bullying na sala de aula, já que nunca comentava nada de lá. Sara ficou por investigar, mas nunca soube mesmo se ela estava ou não sofrendo bullying, pois o seu acidente chegou e tirou de nossa cabeça qualquer outra preocupação que senão o seu estado.

            E no entanto, as semanas foram passando. Dia após dia. Até se tornar semana após semana. E então, um mês desde que Sara havia entrado em coma, mas sem nenhum risco. Desligar os aparelhos que lhe mantinha viva não era uma opção para os seus pais. E nem para mim. Acho que essa atitude era um pouco egoísta de nossa parte.

            Acho que esse é um dos nossos problemas. Nos apegamos tanto as pessoas que mesmo que elas estejam sofrendo, somos tão cruéis de deixá-las daquele jeito só porque nós gostamos delas e nos apegamos a elas.

            Nos apegamos a uma esperança que talvez não exista.

            É uma espécie de autotortura.

            Se apegando a essa esperança que criamos, foi que levantei da cama no começo do dia. Um pouco indisposto, devo acrescentar. Eu havia ficado acordado até tarde na noite anterior, pois havia um trabalho de física para entregar no dia seguinte.

            Desliguei o despertador. Chequei as mensagens. Troquei de roupa. Escovei os dentes. Sai para o início da minha jornada no trabalho. Eu trabalhava junto com Laura, e antes com Sara também, na loja de roupas de sua mãe. Ela achava que havia sido uma boa ideia nos juntar para o trabalho.

            De acordo com ela, nós alegrávamos os clientes e conseguíamos vender fácil. O salário foi negociável, mas pelo menos, a minha carteira estava assinada.

            Quando cheguei em frente à loja estranhei o fato de que ainda estava fechada. Geralmente Sara sempre descia para abrir o estabelecimento. Sua mãe tomava conta da administração então por muitas vezes ela não ia para esse setor. Sara não era de se atrasar também, mas eramos precavidos no caso disso acontecer. Havíamos combinado um lugar que seria acessível para os três acharem a chave. Debaixo de uma pedra grande. Um pouco óbvio? Bastante. Mas, pelo menos, não era embaixo do tapete.

            Achei a chave e adentrei o local. Com as luzes ligadas e o computador iniciando, liguei a placa de “ABERTO” e aguardei pela clientela.

            O primeiro cliente chegou só dali meia hora. Assim como Sara.

            — Oi, Sara — eu disse quando sua silhueta apareceu pela entrada.

            Ela parecia avulsa e desesperada. Eu conseguia ver o estresse passar pelos seus olhos.

            — Meu Deus, Lucas! Eu sou uma estabanada, mil desculpas! Eu fiquei até tarde no celular e me esqueci de pôr pra carregar — dizia ela, enquanto entrava furiosa pelo local, rondando as aras de roupas. — E então o celular descarregou e não tive como acordar, só agora que minha mãe entrou no meu quarto. Sinto muito que você tenha tido que ficar aqui sozinho. Mil desculpas. Mesmo. Na próxima vou tentar não ficar acordada até tarde.

            Ela deu um meio sorriso. Era um pouco claro que Laura não havia tido um sono tão bom assim. As olheiras enormes embaixo de seus olhos falavam por si só.

            — Tudo bem, Laura. Nem foi tão difícil assim — dei um riso. — Você está perdoada.

            — Desculpa. De novo. Prometo que vou tentar não vacilar amanhã. E colocar o celular pra carregar.

            — Tudo bem.

            Então uma cliente entrou na loja. Já que Laura parecia um pouco estressada pelo seu atraso, adiantei-me em ir atendê-la. Laura também tinha que trocar de roupa e pôr o seu uniforme do trabalho. Ah sim, eramos obrigados a vestir uma camiseta azul feita por sua mãe. Um pouco brega? Talvez.

                Depois de duras três horas no trabalho — tudo bem, não foram duras, já que o dia não foi movimentado como nos finais de semana. Encaixei minha mochila nas costas e chamei Laura para podermos ir para a escola.

                Antes, subi até a casa de Laura — que era no andar de cima da loja — para me despedir de sua mãe e minha chefe. O clima não era um dos melhores, já que acabei por descobrir que Dona Jéssica havia posto Sr. João, o padrasto das meninas, para dormir no sofá.

                Avisei que estávamos indo e sem muita cerimonia, lá fomos nós. O trajeto foi bem rápido já que a escola não era tão longe assim. Virar umas três esquinas e pronto.

                Quando alcançamos o portão da escola, Laura reclamou do cansaço.

                — Mas já? Quase nem andamos!

                — É, mas eu não tive uma noite boa de sono — ela respondeu, coçando a nuca. Respirou fundo. — De qualquer jeito, até mais tarde, Lucas.

                E Laura seguiu o seu próprio caminho. Sem entender mais nada dei de ombros e prossegui com o meu.

                A primeira aula já era de Física e quando sentei em meu lugar habitual, a lembrança de que Sara não sentaria ao meu lado me abateu. Isso acabou com o meu dia.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!
Digam o que estão achando, obrigada!