Destino escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 20
Capítulo 19




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No meio do cerrado, eis que surge uma caverna com uma pequena abertura para que eles possam entrar. Fabiano desce do cavalo e o conduz para uma rocha , onde amarra seu animal, deixando a corda se fixar bem. Sofia desce do cavalo com a ajuda de Murilo enquanto Ashley observa, preocupada, ainda em cima de seu animal. O lugar não lhe dava a menor segurança para entrar, em sua mente surgiam diversas hipóteses , onde todos acabariam mortos por onças, já que tinha lido que esse era o tipo de lugar que elas usavam como refúgio.

— Ashley – chama Murilo amarrando seu cavalo — Está tudo bem?

— Tem certeza que temos de entrar aí? – questiona a jovem, nervosa.

— Ah menos que você conheça outro lugar que tenha o que precisamos... Sim, nós temos de entrar – responde Murilo fazendo carinho em seu cavalo. Ele se aproxima de Ashley , pensando nas palavras de Sofia. Ergue a mão em direção a loira — Venha, eu te ajudo.

— Eu sinto muito, mas não consigo – responde Ashley, amedrontada com as possibilidades que permeiam sua cabeça.

— Ashley, você tem razão – admite Murilo, surpreendendo Lady de Argyll que o encara. — Não tenho oferecido nenhuma garantia a você e peço desculpas. Eu realmente não queria que essa viagem fosse dessa forma. Na verdade, planejei bem diferente do que tem  sido até agora e peço desculpas.

— Tudo bem, Murilo. Eu entendo você – responde Ashley.

— Não, você não entende. Eu tenho despejado toda minha raiva em você pelas coisas que disse e pelo motivo de estar aqui, a ponto de esquecer quem é você para mim e da promessa que fiz a você há muito tempo.

— Murilo... – começa Ashley sem jeito. — Éramos apenas crianças.

— Mesmo assim. Meu pai me ensinou a nunca quebrar uma promessa – responde Murilo — Será que podemos recomeçar? Deixar as palavras que dissemos para trás? Digo, a partir de agora tudo o que dissemos ficará no passado. Aceita?

— Já está esquecido, Murilo – responde Ashley com um leve sorriso. Por algum motivo acredita nas palavras sinceras do rapaz de olhos castanhos.

— Ótimo. – exclama Murilo com um sorriso. Ele estende a mão para Ashley — Saiba que desejo que você tenha a melhor despedida de solteira da sua vida. Venha, prometo a você que a protegerei.

— Você nunca quebra uma promessa, certo? – questiona Ashley respirando fundo. Ela dá a mão para o rapaz que a ajuda descer. Ele não evita que seu corpo grude no da loira que também não tenta se desvencilhar. Eles se entreolham, seus lábios se abrem enquanto seus rostos se aproximam...

— Ei, vocês vem ou não? – pergunta Sofia aparecendo na entrada da caverna.

— Sim – responde Murilo se afastando. Ele segura na cela do cavalo de Ashley, sem olhar para ela — Pode ir à frente com a Sofia, vou amarrar o seu cavalo.

— Obrigada – agradece Ashley, sem jeito.

Ela se afasta caminhando em direção da Sofia que a observa. Pelo visto Murilo já começou a por em prática a idéia que lhe dei, pensa satisfeita. Ashley sorri para a ruiva que a ajuda entrar na caverna que não é tão funda quanto parecia e os feixes de luz que entram pelos vãos das rochas, deixam o lugar bem iluminado.

As paredes desse abrigo estão decoradas com pinturas simples, abstratas, lineares, acompanhadas por algumas figuras chapadas. O pigmento utilizado, predominantemente, é o vermelho e o vinho. Entre as figuras mais antigas algumas fazem combinações de linhas vermelhas e amarelas.

No grande espaço subterrâneo há também gravuras, às vezes complexas, compostas por sulcos retilíneos e pequenas depressões.

— Aqui encontramos os mais antigos vestígios do Homem sul-mato-grossense – comenta Fabiano animado — instalado, num primeiro momento, com certa estabilidade; em momento posterior certamente de forma passageira, em suas excursões de caça e coleta. Ele não nasceu aqui, nem é esta sua estação pioneira, porque assentamentos semelhantes já se espalharam, nesse momento, por todo o planalto brasileiro e nem a Amazônia está excluída. Mas alguns descendentes se estabeleceram aqui e deixaram suas marcas...

— E quem seriam eles? – questiona Ashley maravilhada com as gravuras.

— Como na região de Corumbá só temos sítios cerâmicos datados entre 2.800 e 1.200 anos A.C., não nos sentimos justificados a usar uma analogia etnográfica direta com os grupos canoeiros que, no período colonial, dominavam o Pantanal, como os Paiaguás, donos do rio Paraguai e os Guató, do lago de Xaraiés . A montante do Paraguai, tanto no Mato Grosso do Sul, como no Mato Grosso, existem datas mais novas para uma cerâmica menos decorada, da mesma tradição, com a qual uma analogia etnográfica direta talvez não seja descabida para o nosso projeto . – responde Murilo se aproximando de Ashley. Ele sorri e continua — Além dos canoeiros Paiaguá, da família lingüística Guaicuru e dos igualmente canoeiros Guató, da família lingüística Macro-Jê, os cavaleiros Guaicurus, que vêm do Chaco trazendo seus rebanhos de cavalos e se estabilizam no território brasileiro sob o nome de Kadiwéus; os Terena, da família lingüística Aruaque, originários da Amazônia, que peregrinaram pelo Chaco antes de se fixarem no lado brasileiro do Pantanal. Além dos Guaranis, certo Fabiano?

— Correto – responde Fabiano se aproximando de Sofia que arruma seu equipamento de fotografia. — Quer ajuda?

— Não , valeu – agradece Sofia. Ela se vira para o Murilo e continua — Só me diga o que deseja que eu fotografe.

—Essa parte eu deixo nas mãos da Ashley – revela Murilo surpreendendo a todos.

—Tem certeza? – questiona Ashley, nervosa.

— Sim. – responde Murilo tranquilamente — Você é formada na London School of Economics. Especializou-se em Decoração, além de ter trabalhado na Candy & Candy, nossa antiga parceira, onde aprendeu muito a respeito da forma como trabalhamos. Atualmente é a Diretora Geral da L &D. Logo, você melhor do que ninguém sabe o que nós precisamos para que o projeto seja muito bem aceito no mercado.

— Uau – exclama Ashley, surpresa por Murilo saber tanto sobre ela — Andou pesquisando mesmo a meu respeito.

— Ele sempre soube tudo a seu respeito – solta Sofia sem perceber que falou alto o suficiente para que a loira pudesse escutar . Ela sorri sem graça para Murilo então encara Ashley — Então , chefa, quais são as ordens?

Ashley observa as paredes com cuidado. A parede está repleta de gravuras sob a forma de círculos, ou círculos concêntricos, com ou sem raios internos, pisadas semelhantes às humanas, mas também de felinos, e extensos sulcos, que incorporam ou fazem conexão entre as figuras.

— Queria ter mais base para saber o que fazer – comenta para si.

— Essas gravuras foram feitas por caçadores – comenta Fabiano atrás dela — Estão retratando uma grande caçada a qual tiveram sucesso e ainda conseguiram combater um grande inimigo: A onça pintada – apontando para as pegadas criadas. Ele sorri — Espero ter ajudado.

— Ajudou muito – responde Ashley que olha para Sofia — Já tenho uma idéia do que desejo que capture.

Aos poucos Ashley e Sofia começam a capturar as imagens. A sensibilidade da Sofia com suas lentes, somada a análise apurada de Ashley, transformou aquele primeiro dia muito produtivo, a ponto de nem notarem a hora passar. Enquanto elas capturavam as imagens, Fabiano e Murilo analisavam os próximos sítios e possíveis artefatos que iriam encontrar.

Apesar de esse sítio ter sua importante, ele era apenas um sítio complementar. Do sistema de sítios arqueológicos do Pantanal se conhecem, eles possuem ao menos esses três elementos: grandes assentamentos centrais em lugares em que há recursos variados, abundantes durante todo o ano; eles nunca seriam completamente abandonados, mantendo-se ativos durante séculos; sítios complementares, em que os recursos são abundantes apenas durante a enchente, obrigando os ocupantes a se dirigirem a um sítio central tão logo as águas baixem; e os petroglifos, que estão próximos aos assentamentos centrais, e podem ser considerados seus principais sítios rituais.

O pouco que eles sabem é que dos dez sítios escolhidos, apenas três deles podem ser considerados petroglifos, algo raro já que muitos acabaram sendo destruídos em guerras tribais, ou por conta do bioma do pantanal ser tão instável. Murilo estava confiante de que encontraria pelo menos um deles e assim enriqueceria seu projeto, o tornando único.

— Terminamos –  avisa Ashley satisfeita com os resultados obtidos em conjunto com a Sofia.

— Uau, ela é boa mesmo – elogia Sofia sorridente verificando as imagens capturadas — Não vejo a hora de revelar.

— Acho que ainda dá tempo de irem a cidade – comenta Fabiano olhando o relógio — O que você acha, Murilo?

— Por mim tudo bem – responde Murilo olhando para Ashley — Claro, se você não estiver muito cansada.

— Não me importo – responde Ashley rapidamente — Até por que preciso ir mesmo a cidade comprar roupas, me interar de como andam as coisas do meu casamento... Entre outras coisas.

— Claro – comenta Murilo, sério. Ele sabia bem que "Entre coisas" tinha nome: Darwin — Então é melhor irmos embora logo.

O caminho de volta a fazenda foi mais rápido, dando tempo para elas almoçarem e também pegarem a chalana em direção a cidade. O lugar onde iam revelar as fotos não era muito longe do porto, então elas foram a pé até a loja, onde foram atendidas prontamente por um rapaz com traços indígenas.

— Boa tarde – cumprimenta o rapaz com um bel sorriso — Em que posso ajudá-las.

— Preciso revelar algumas fotos – informa Sofia entregando seu cartão de memória ao rapaz. Ela balança um pouco as pernas então pergunta — Você tem banheiro?

— Tenho sim. Fica no final do corredor – explica o jovem apontando para o corredor.

— Segura pra mim – pede Sofia a Ashley que a encara, nervosa — Não vou demorar.

A ruiva some para dentro da loja , enquanto a loira observa o rapaz que em poucos minutos já entrega todas as fotos reveladas nas mãos de Ashley que as segura enquanto sua mente é tomada pela fala de seu noivo "Faça de tudo para que sua ida não tenha sido em vão, Ashley. E assim que estiver em posse das imagens, envie-as para a nuvem."

Ashley olha para o fundo da loja, sem sinal de Sofia. Então se vira para o rapaz que agora está entretido no computador, sem dar muita atenção para ela que mexe na bolsa buscando seu celular, sem tirar os olhos do corredor. Seu estômago embrulha, enquanto suas mãos tremem tentando abrir a câmera do celular.

— Seja o que Deus quiser – sussurra enquanto as imagens são tiradas, apertando o coração da loira.


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