Fado - Entre a Sorte e o Azar escrita por Theo Cavallone


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Sugestão instrumental:
Sonata No, 14 - Moonlight Third Movement



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Sorte e azar são dois lados de uma mesma moeda. Em jogos existem sempre cinquenta percento de chance de tudo dar certo ou sair catastroficamente errado. Para Adrien, que às vezes ousava brincar com o perigo, os dados às vezes não batiam com as chances. Uma vez jogando dez vezes uma moeda para o alto, obteve dez vezes o mesmo resultado. Muitos veriam essa brincadeira como sinal de sua sorte se ele não estivesse tentando obter a face oposta da moeda em suas dez tentativas.

     - Não espere resultados diferentes fazendo uma mesma coisa - sempre dizia o seu tutor de piano, Félix.

  Fácil dizer, pensava Adrien. Mas eram mesmo impossíveis resultados diferentes? Havia uma chance de cinquenta percento de tudo mudar, não é? Ou era apenas o que Adrien dizia-se enquanto movia a sua moeda do azar entre os dedos, ouvindo a sonata número 14, terceiro movimento de Moonlight. Seus dedos ainda estavam ligeiros por recém ter deixado sua aula de piano, onde os seus fones reproduziam a mesma música que gravou pouco antes, tentando encontrar o erro em sua performance que o seu tutor insistia notar.

   Para Marinette, que havia terminado de comprar alguns tecidos novos em sua loja favorita no centro, a sorte funcionava de maneira diferente. Era entre os sons dos carros e das pessoas passando que ela se entretinha em uma melodia única que tomava toda a Paris. Nada naquele instante que antecedia seu momento de sorte interromperia as notas que dissonavam no ar.

   Foi um curto momento do jogo de azar e sorte que as músicas se cruzaram. De um antigo antiquário dois homens saíram carregando uma penteadeira, um breve minuto de distração e Marinette quase esbarrara com esses, sendo puxada por alguém no último seguno. O som da moeda atingindo o asfalto mudou a música e já não importava mais a face que a moeda cairá, o jogo era outro.

   - Desculpe-me! - Marinette disse as pressas, olhando para o tórax daquele que a salvou, onde um cheiro doce acompanhava-o.

     - Ah.. - Um som baixo revelando uma surpresa e Adrien puxou um dos fones de seu ouvido, sorrindo para a garota que acabara de ajudar. - Marinette, se machucou?

    A mão de Marinette segurava um dos braços daquele que a puxou, apertando-o ao ouvir o tom de voz desse. Para ela vivia um amor a beira do fanatismo aquela voz ressonava como a mais carinhosa das declarações. Seus olhos ergueram-se lentamente, observando aqueles lábios darem-lhe um sorriso mélico. O coração da garota acelerou, suas mãos momentaneamente tornaram-se trêmulas e todo o seu corpo reagiu àquele instante, caçando prolongar um pouco mais o curto momento junto a esse.

     - Eu.. Eu.. - Gaguejou, incapaz de formar uma sentença. Quando em sua pequena vida esperaria cruzar com Adrien naquela tarde de sábado? Sua mente tentou procurar nas lembranças do calendário detalhado que fez das atividades dele a razão dele estar ali, mas não conseguiu, apenas mordendo os lábios, admirando a forma da beleza diante de seus olhos.

    A risada de Adrien cortou as falhas linhas de pensamento de Marinette, onde o rapaz pousou a mão no ombro dela, sentindo a estranha falta da moeda que antes brincava entre seus dedos. “Que azar o seu de tê-la perdido”, pensou, masAdrien em toda a sua educação sempre aprendera que não havia razão para lamentar-se das perdas. Recuou um passo e o contato físico que tinham cessou, vendo os homens passarem com o móvel e carregarem-no em uma mini van. Levou a mão que antes pousava no ombro de Marinette aos próprios cabelos, deslizando-a entre os fios dourados.

     Os lábios de Marinette ganharam um sorriso e o seu olhar prosseguiu hipnotizado, cada pequeno gesto do rapaz era completamente sedutor e cativante. E como se o azar e a sorte brincassem, um empurrão de um desconhecido a levou novamente aos braços de Adrien.

    - Que rude - Adrien franziu o cenho, vendo o responsável correr pela rua apressado com uma pequena caixa em mãos.

    - Não o deixem ir! Não o deixem ir! - Gritou um senhor do interior do antiquário, quase caindo enquanto corria para a porta dessas, desesperando-se. - Ele me roubou! - Deu sua justificativa, mas o ladrão já virava a rua.

    As mãos de Adrien pousaram nos ombros de Marinette mais uma vez, mas seu olhar voltou-se ao percurso que o ladrão fizera, afastando a garota de si e deixando seus pés virarem pelo caminho que antes viera, correndo apressado na tentativa de capturar o responsável. Toda a situação apenas serviu para atordoar a garota, tinha uma incapacidade de concentração imensa diante de sua razão de viver, mas o alarde das pessoas ao seu redor ganhou rapidamente sua atenção.

    - Um ladrão? - Questionou, onde o homem concordou, com os olhos aflitos.

    Por mais que prosseguisse atordoada e maravilhada com o contato recém estabelecido o dever falou mais alto. Os pés de Marinette também moveram-se velozmente pelo trajeto que Adrien tomara. Não podia deixá-lo sozinho sair em busca de um ladrão, não sendo a si também Ladybug, a heroína mascarada.

    Marinette não correu mais de dois quarteirões antes de encontrar um beco para transformar-se. O saco com suas compras foi pousado ao chão, próximo a parede, onde atrás de uma caçamba de lixo parecia o local ideal para trocar de identidade, mas antes de ser capaz de fazê-lo os seus olhos - assim como muitos outros - foram tomados por um herói brilhante.

    O herói de preto sequestrava a atenção da plateia entre os saltos bem executados. Os dentes brancos exibidos em seu enorme sorriso delatavam sua felicidade momentânea diante da perseguição. Naquele momento a corrida entre o gato e o rato ganhavam cores invisíveis entre uma pirueta e dois mortais. Alguns aplaudiam o duplo twist carpado e o show seguia para entre os carros em movimento, expandindo-se para a pista.

     Marinette pousou uma das mãos acima do quadril, na lateral de seu corpo, deixando um suspiro escapar e um sorriso desabrochar em seus lábios. Aquele gato idiota estava capturando um ladrão ou brincando com seu alvo? Sua vontade de transformar-se esvaiu-se, querendo dar a chance do outro de reluzir. A apresentação continuava para desespero da presa, onde o controle do perseguidor parecia absoluto.

   Os sorrisos entre o público desvaneceu no momento que os pneus de um ônibus cantaram para chocar-se com o criminoso. Não foram todos os olhos atentos que notaram o instante final onde o caçador tomou o lugar de sua caça e o rapaz de negro foi atingido e arremessado a metros de distância.

    A música parou.

    Adrien sabia, mesmo sem ter visto: A face da moeda caiu invertida. Seu ciclo de azar havia sido rompido, onde dali pra frente não podia mais prever o seu próprio destino.


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Notas finais do capítulo

Espero que o prólogo não tenha ficado cansativo, a narração ficará mais suave nos próximos capítulos.

Agradeço a paciência em ler até aqui e não se possível deixem um comentário ou avaliação da fanfic.



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