Fado - Entre a Sorte e o Azar escrita por Theo Cavallone


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esse é o capítulo de introdução a trama, por isso pode ser um pouquinho cansativo - já que ele está focado em apresentar a situação inicial e não no relacionamento Chat Noir x Marinette..
Em compensação o próximo capítulo haverá mais envolvimento dos dois~
O ritmo da narração foi modificado para que o capítulo não ficasse muito cansativo e arrastado - estando simplificado.
Apreciem a leitura.



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O corpo de Marinette estava pesado, respirar era uma tarefa difícil e dolorosa. Tentou mover-se em vão, forçando-se a abrir os olhos, sentindo uma dor forte no estômago. Quando finalmente foi capaz de focar a visão, pode notar escleras verdes apavoradas voltadas para si e o corpo do garoto debruçado sobre o seu, encarando-a de uma distância mínima.

  - Hey, você es-está bem? - A voz de Chat Noir estava trêmula, completamente anormal se comparado ao tom confiante padrão, e até um pouco arrogante, que ele costumava usar.

    As lembranças da última ocorrência vieram a mente de Marinette, junto com um odor desagradável de podre. Chat Noir havia sido atingido por um ônibus, não é? E foi lançado em sua direção. Foi um momento apavorante para si, lembrava-se bem, onde não pensou em nada, apenas moveu-se rápido de braços abertos para recebê-lo, querendo segurá-lo antes que o impacto fosse mais grave. Como chegou a esse ponto? Ah, sim, o ladrão do antiquário.

     - Chat Noir.. - Chamou o nome dele, empurrando-o um pouco para fazê-lo sair de cima de si, conseguindo finalmente tomar fôlego.

     - Oh, desculpe - disse apressado.

    Os olhos azuis verificaram cuidadosamente a situação, avaliando-a. Seus corpos haviam aterrissado na caçamba de lixo, onde nesse exato momento a si sentia uma sensação desagradável nas costas, onde a sua blusa ficara úmida por culpa de alguns legumes podres. Não sendo trágico bastante a situação um dos seus pés estava dentro de um saco - que a si rezava estar guardanapos de papel e não papel higiênico -, tirando-o o quanto antes na esperança de não ter estragado sua sapatilha com coliformes fecais. Como se fosse o suficiente esse mesmo pé estava dolorido. Olhou para o garoto ao lado, onde ele olhava-o curioso e entretido, como se houvesse qualquer coisa a ser observada em si. Além disso, mesmo que agora sentado em sacos de lixo a aparência dele mantinha-se impecável, provavelmente por ter usado-lhe como escudo de proteção antes de afundarem na caçamba.

    As orelhas felinas no topo da cabeça do outro moveram-se quando seus olhos se cruzaram, permitindo um sorriso nascer nos lábios da garota no mesmo instante. Por pouco não gargalhou ao perceber a sua estupidez momentânea. O que tinha na cabeça? Queria interceptar o Chat Noir para protegê-lo? Quantas vezes já vira-o ser jogado de distâncias bem maiores e levantar-se sem qualquer arranhão? Ele estava transformado, é claro que não se machucaria. A si não estava de Ladybug para ajudar aquele gatinho imprudente, era só uma garota comum que de quebra devia ter uns trinta centímetros a menos que ele.

    - Não está machucada? Não foi a intenção.

    O herói ergueu a mão esquerda, deixando-a na vertical na linha do rosto, como um pedido de perdão. O terror que Adrien sentiu ao perceber Marinette caída debaixo de si foi enorme, principalmente quando tentou chamá-la umas duas vezes antes dela recobrar os sentidos. Era um herói, não um assassino. Já tinha agido de forma impulsiva uma ou outra vez, mas matar alguém? Não, isso era demais.

    - Já que está bem, vou indo, ainda há muitas pessoas para salvar. Foi um prazer revê-la, princesa, até mais! - Despediu-se, erguendo-se entre o lixo para pular para fora desse.

    Antes que o salto fosse executado, uma sensação estranha fez os dois sentirem um puxão em seus braços. Tanto os olhos esmeraldas quanto os turquesas se fixaram ao mesmo local, dando atenção a uma fina corrente - um cordão, provavelmente - que envolvia o pulso de ambos, prendendo-os. O rapaz de negro puxou um pouco o próprio pulso - onde a corrente os mantinha no máximo dez centímetros afastados -, esperando que isso pudesse desfazer o nó. A reação da jovem sino-franca foi a mesma, apenas esticando o braço na direção oposta. Ocorreu uma silenciosa insistência momentânea entre ambos, mas a corrente metálica parecia indisposta a ceder.

    - Eu solto - Marinette pronunciou-se, levando a mão direita ao metal, tentando afrouxar a corrente para pelo menos tirá-la de si, a parte dele esse poderia resolver.

     Os dedos pequenos da menina passaram por toda a corrente, estranhando não só a ausência de nós como também de um ponto específico que gerasse uma folga. Caçou no pulso do outro o mesmo, sem muito sucesso. Isso era completamente estranho, como uma corrente enrolou-se dessa forma no pulso delas? De onde ela viera, por sinal? Localizou uma caixinha de veludo caída próxima aos dois, recordando-se de tê-la visto com o ladrão. Foi o item roubado do antiquário? Pelo desespero do dono devia ser algo bem valioso.

     - É.. - O louro cortou o raciocínio de Marinette, afastando a mão dela para verificar a situação. - Façamos do meu jeito - sugeriu.

     Levou a mão livre a corrente, segurando-a firme, logo depois puxou a própria mão. Uma corrente fina daquelas, com a força que a si possuía, arrebentaria em instantes. Ou ao menos foi o que Adrien acreditou antes de começar a forçar, sentindo a mão escorregar pela corrente até o pulso da Marinette, empurrando-o enquanto puxava a própria mão.

    - Má ideia, má ideia - repetiu quando ele começou a empurrar seu pulso. - Está machucando - avisou-o logo antes que a si saísse dali de pulso quebrado.

     Um sorriso sem graça surgiu nos lábios dele, parando no mesmo instante. Força talvez não fosse mesmo a melhor opção ali, devia tentar usar a cabeça. Já tinha pensado que havia a matado, feri-la não era bem os seus planos. Olhou bem a corrente, mexendo um pouco nessa.. Parecia tão fina, como não se soltava?

     - Mais resistente do que pensei - brincou, sem perder o sorriso. - Tudo bem, apenas contratempos, vou resolver - acrescentou para tranquilizá-la.

     Foi impossível não olhá-lo com descrença. Quando o seu parceiro alguma vez tinha resolvido uma situação? Não que ele fosse completamente inútil, admitia que muitas vezes precisava da colaboração dele para vencer o inimigo, mas também não era exatamente novidade para ela esse estranho poder da atração daquele gato com correntes e amarras.. Agora lembrando, já tinha presenciado situações assim, não? Contra o Rogercop foi algemado a uma estante, contra o Copycat ao chão, Evilustrator em grilhões.. Estava esquecendo algo? Ah, cordas contra a Anti-bug.. Agora pensando ele também gostava de ser trancado, no frigorífico pela Lady Wifi, no museu em Copycat, em uma bolha contra o Bubbler, gaiola no senhor Pigeon, gaiola imaginária pelo Pantomine e também pelo cubo do Evilustrator. Os últimos, inclusive, acabou presa junto. Já estava se perguntando se os riscos em andar com aquele cevo de azar ambulante. Sentia-se até um pouco desesperada em lembrar de tantas situações que a inconsequência dele gerou, alguém devia di-

    - Cataclysm! - Chat Noir conjurou, arrancando Marinette de seu monólogo interno.

    Ele não faria isso, faria? Seria extremamente idiota usar a habilidade dele para tentar soltar um simples cordão. Isso sem falar que a Ladybug não estava ali para usar o Lucky Charm e dar um jeito de desfazer toda a destruição que ele causava.

    - Espera! Esse é o item roubado do antiqu- não teve tempo sequer de completar a frase, onde o gato virou a mão de forma que essa tocasse o centro da corrente.

     Não era um segredo algum para Marinette que o Chat Noir não era a pessoa necessariamente mais esperta do mundo, mas de que adiantava ele ter perseguir um ladrão se iria destruir o item que foi roubado? Preferiu nem argumentar, vendo as manchas negras tomarem a corrente, esperando-a apenas se desfazer para se soltarem. Agora já era tarde.. Esperava que ele ao menos explicasse ao dono sobre o incidente.

    A habilidade formou suas bolhas negras ao redor do objeto, mantendo-se ativa por alguns segundos, onde no primeiro sinal dela ter se encerrado o Chat Noir tirou a mão, querendo ver o resultado. Esse, entretanto, foi longe do esperado. A pequena corrente não mostrou o mínimo sinal de oxidação, pelo contrário, parecia até um pouco mais brilhante..

    - Ahm..? - A interrogativa foi seguida de um apito baixo do anel, indicando a contagem regressiva para acabar a transformação.

     Foi em algum momento entre o apito e o lustre perfeito prata que a realidade se mostrou dura aos dois. Cinco minutos eram o tempo que possuiriam antes da transformação ser desfeita e o Chat Noir voltar a sua identidade original. Se em cinco minutos não tirassem a corrente - uma corrente que nem o cataclysm foi capaz de romper - Marinette Dupain-Cheng descobriria como era a pessoa por trás do disfarce de gato.

    - Por que você usou a habilidade? Agora a sua transformação vai acabar! - Perguntou apressada. Não queria saber a identidade do Chat Noir, definitivamente não queria saber. - Por que você nunca pensa? Quantas vezes você já usou o cataclysm sem ser o momento certo? Se você parasse um momento e me escutasse, mas você nunca me escuta. Como você quer salvar alguém se você não consegue nem salvar a si mesmo?

   Marinette desabafou, falando tudo o que pensava de modo um tanto apressado, movendo a mão do outro de um lado para o outro enquanto gesticulava, levando-as ao rosto no fim - que para piorar fediam a lixo. Não entendia porque ele era assim, ele era bom lutando, tinha habilidades excelentes, era rápido e destemido, então por que ele não podia ter um pouquinho mais de paciência e cabeça?

     - É tão difícil assim pensar antes de agir? - Questionou-o, dando um suspiro longo.

   - Err.. Acabou..? - Perguntou, mordendo parte do lábio inferior, desacostumado a ser repreendido.

    Adrien jamais vira Marinette - que parecia fofa e tímida - falar desse modo, menos ainda pensaria que ela o faria para um símbolo de Paris. Era essa a impressão que o Chat Noir passava para os outros? Mas antes ela o achava legal, lembrava dela tê-lo dito. Em que parte ela deixou de lhe achar legal? Foi quando a acertou e a fez ser jogada no lixo? Ou depois de machucar o pulso dela? Mas em outras situações já tinha a salvo tantas vezes.. Agora pensando, ela nunca lhe mandou uma carta de agradecimento. Por quê? Bem, talvez fosse porque a si não tinha uma caixa postal para receber as cartas dos fãs, será que devia providenciar uma?

    Os punhos da Marinette se fecharam, bufando de raiva antes de dar-se conta que estava deixando-o acuado. Tudo bem, precisava se manter calma, ele não tinha culpa, foi um acidente. Iria se repetir isso mentalmente algumas vezes para não tentar culpá-lo, afinal, tinha sua parcela de culpa também.

    - Desculpe, vamos pensar em uma solução - disse, recuperando a postura.

    - O cataclysm nunca falhou - explicou-se, para que ela soubesse que não é como se a sua habilidade fosse inútil ou algo assim. O som do anel do anel se fez novamente, onde mais uma garra desapareceu, desesperando-os momentaneamente. - Isso é um gatastrofe!

    A situação já era desesperadora o bastante para que ele fizesse trocadilhos. Viu o medo tomar conta do Chat Noir, tentando pensar em uma solução. Tudo bem, Tikki sempre disse que a si era a Ladybug e que a sorte vinha de si. Devia ser capaz, não? Fixou o olhar em diferentes pontos, devia ter alguma coisa ali que pudesse ajudá-los.

    - Isso não pode estar acontecendo comigo. Não pode ser real, deve ser um pesadelo - disse em pânico, vendo a Marinette só olhando ao redor como se nada do que estava acontecendo ali importasse.

    O que faria agora? Ser desmascarado? Marinette contaria aos outros? Claro que contaria, era questão de tempo para ser a matéria principal do Ladyblog. O que viria depois? Acabaria no jornal, seu pai iria descobrir. Não, não, não! Seu pai não podia saber, ele mal deixava a si andar de transporte público e controlava tudo o que a si comia, até lhe forçava àquela dieta horrível sem glúten, o que dizer sobre combater o mal em Paris? Teria de largar a escola, voltar a estudar em casa, parar de ter amigos. Não, não, não! Não podia acontecer, era um pesadelo!

    - É culpa sua, maldita corrente! Como eu te odeio! Você está arruinando minha vida! Nunca mais vou poder ir a festas! Nunca vou casar com a Ladybug! Por que você não se quebra? Seu monstro!

    Mesmo com o rei do drama ao seu lado, Marinette prosseguia focada. Uma caixinha de veludo, uma caçamba de lixo.. Sacos plásticos negros, uma coisa peluda e estranha no canto da caçamba de lixo que a si esperava não ser o cadáver de um rato. Por Deus, por que ainda não tinham saído dali ainda?

    Mais um apito do anel e o tempo começava a se esgotar, mais dois minutos e a máscara do salvador de Paris cairia. Olhou-o, vendo-o desistir de xingar a corrente.

    - Se essa corrente sair em juro nunca mais comer nada com trigo escondido. Eu sou uma boa pessoa, trabalho direito, ajudo a cidade. Prometo nunca mais ter pensamentos maliciosos com a Ladybug, jogo até fora a camiseta que eu fiz dela. Não, a camiseta não, mas jogo fora a caneca.. Ah, eu adoro a caneca.

    Olhou com estranheza, Chat Noir tinha pensamentos maliciosos consigo? E que história era essa de camiseta e caneca? Ele era algo tipo de fã stalker? Chegava a ser ridículo, só faltava ele ter posteres e fotos da Ladybug pelo quarto.

    - Isso são as cinco fases da perda..? - Começou com negação, evoluiu para raiva e agora era barganha, só faltando depressão e aceitação.

    - Oh, muito perspicaz, princesa - elogiou Chat Noir, dando atenção a Marinette e sorrindo.

     Não que o seu desespero não fosse real, mas esperava que se chegasse logo na aceitação pudesse resolver essa questão sem arruinar a própria vida. Só não queria ter a própria identidade descoberta.

    Um novo apito e mais uma garra desaparecia. O tempo estava se esgotando..

    - Se tivesse algum meio de mantermos sua máscara, mesmo que.. É isso!

    Nem concluiu o pensamento, movendo-se e pulando para fora da caçamba, sentindo uma pontada dolorida no tornozelo. Torceu? Não tinham tempo para se importar com isso agora, precisava ajudá-lo.

    - Venha comigo - disse para que ele não fizesse corpo mole, fazendo Chat Noir colaborar

    Correu até o seu saco de compras, olhando o anel dele e vendo que não havia mais tempo. Puxou-o pela corrente, virando suas compras no chão e rasgando parte do saco de papel, fazendo dois furinhos e enfiando-o na cabeça do garoto. Não precisava mantê-lo transformado nem soltar a corrente por hora, bastava que não soubesse quem ele era. Depois, quando o kwami descansasse, ele poderia voltar ao normal.

    - O que? - Questionou ao sentir o saco na cabeça, mas foi bem a tempo.

    Como pétalas negras suas roupas desapareceram, dando lugar as suas vestimentas reais. Sua identidade continuou oculta com a máscara de saco de papel, onde Marinette olhou-lhe maravilhada pela efetividade da solução desesperada. Agora ninguém teria a mínima ideia de quem ele era.

    O rapaz hesitou no primeiro instante.. Ela não o reconhecia? Pelo jeito não.. Estava vestindo roupas bem comuns, até.. Sem falar que impossível ela tê-las notado quando se esbarraram, foi rápido demais. Bem, não era como se ela prestasse atenção em si. Aliviou-se, onde já ia brincar com a situação quando viu Plagg voando ao seu lado, pegando-o apressado e tacando-o dentro de suas roupas.

    - Você está fedor- Plagg ia reclamar do cheiro do Adrien, mas logo esse colocou a mão estrategicamente em uma costela, conseguindo apertar o kwami contra ela e calá-lo.

    - Fe..fe.. fefe.. - Ótimo momento para sua criatividade fugir. Tentou formar alguma palavra ou frase para parecer que a frase tivesse sido dita por si e não pelo kwami, não era como se ela pudesse ver os seus lábios se movendo para ter certeza. 

    - Hahaha - Marinette riu nervosa, o kwami dele era negro? Viu bem rápido.. A cor deles deviam implicar na cor das roupas. - Então, o que acha de fazermos uma pausa para o lanche? Depois podemos ir andando ao antiquário perguntar sobre essa corrente - Sugeriu animada, gesticulando um pouco, fazendo até dois dedos moverem-se no ar para imitar o andar de uma caminhada.

   - Excelente ideia, princesa. Um lanche agora seria a pausa perfeita para.. depois continuar salvando.. o dia.. - Adrien ergueu o braço livre a altura da cabeça, como se quisesse esconder-se um pouco. A voz no começo da frase trazia confiança, mas com cada palavra dita essa parecia fugir-lhe de si pouco à pouco.

    A situação já era crítica, mas não esperava ser tomado pelo constrangimento desse jeito. Sendo Chat Noir era um pouco mais fácil dizer o que queria, mas agora era só o Adrien falando coisas enquanto usava um saco de papel na cabeça. Estava morrendo de vergonha, se não tinha destruído a sua vida como Adrien tendo a identidade revelada no mínimo um pouco do orgulho do Chat Noir havia ido pelo ralo.

    - Está tudo bem..? - Perguntou preocupada, era só alimentar o kwami, não?

   - Sim, é só.. Que agora estou me sentindo o Papier Chat - respondeu-a, acabando deixando um pouco da timidez transparecer na voz.

   Um meio sorriso nasceu nos lábios da Marinette. Sério isso? Ele estava com vergonha por estar usando um saco de papel na cabeça? Certo que era estranho - e bem engraçado agora olhando -, mas não iria caçoar dele. Era uma medida desesperada para emergências apenas. Deixou o seu sorriso crescer, observando a forma que os ombros dele curvavam-se para frente mostravam que Chat Noir realmente tinha um lado inseguro - dando mais vontade de implicar com ele.

   - Acho que Miuasque de Papier soa melhor, não? - Não resistiu, rindo do trocadilho que criara.

   - Miausque de Papier.. Gostei - disse sobre o trocadilho com Masque de Papier. Para um improviso tinha sido realmente bom, normalmente a si aproveitava o tempo no carro indo para as suas aulas para criar os seus, então acabavam não sendo totalmente espontâneos.

   - O que quer comer? Alguma preferência específica? - Sua Tikki gostava especialmente de doces.

   Abaixou-se, recolhendo as suas compras, pegando também a caixinha de veludo do cordão. Assim que sairam do beco poderam ver o burburinho e confusão, onde as pessoas se reuniam ao redor do ônibus - que entrara com tudo em um prédio. Ao menos o ladrão já estava sendo detido por civis e, mesmo com o acidente do ônibus, não parecia haver feridos. Marinette começou a andar junto dele, sentindo o pé incomodar, tentando ignorar uma vez que ainda tinham grandes problemas a resolver.

    - Alguma coisa rápida e com queijo cairia muito bem, como.. aquilo ali! - apontou uma lanchonete fast food mais a frente. E era bom que Plagg comesse sem reclamar, não estavam em posição de serem seletivos.

   - Vamos então - concordou, seguindo junto dele.

   A distância a lanchonete era curta, mas foi o suficiente para atrair alguns olhares - o que era estranho, estavam em Paris, as pessoas deveriam aprender a não olhar pra qualquer maluco sujo e com um saco na cabeça. Um par de meninas passou próximo deles, sussurrando entre elas.

   - Olhe que nojento.. - Uma falou, onde a outra logo acotovelou-a de leve.

   - Deve ser por isso que o namorado dela usa um saco na cabeça - respondeu a outra, rindo com a amiga.

    - Oh, estão falando de você - Chat Noir animou-se bastante com o que ouviu. Por um momento até acreditou que falavam de si, mas não devia ser o primeiro a usar acessórios estranhos. Olhou para a Marinette, vendo a expressão dela fechada. - Não queria ser eu a te contar, mas tem uma coisa bem estranha grudada nas suas costas. - Algo meio molhado e grudento que cheirava mal

    - Eu sei - disse carrancuda, tinha sentido algo viçoso nas suas costas quando caiu no lixo, mas estava tentando não pensar nisso.

   - Podia ser pior.. Podia ser você com o saco na cabeça.

   Adrien tentou animá-la, se bem que dada a situação atual talvez usar um saco na cabeça não fosse tão ruim assim, estava com a identidade protegida contra rumores. A si já estava fedendo bastante por culpa do lixo, andar ao lado dela não estava ajudando muito. Quando entraram na lanchonete não tardaram em ir para a fila, onde felizmente essa estava bem vazia, aproveitando para fazerem o pedido.

   - O que vão querer? - Perguntou o atendente.

   - Quatro hamburgueres com queijo extra por favor, sem outros adicionais.

   - Mais alguma coisa?

   - Não, apenas isso.. Você quer alguma coisa? - Perguntou, olhando a lista de refeições disponíveis no painel.

   - Eu passo - respondeu Marinette, preferia, se possível, resolver isso logo.

   - Então só isso mesmo - confirmou, olhando para ela e vendo-a ainda segurar a caixinha e alguns tecidos - Ah, e se puder me dar um saco pra viagem, faço coleção - zombou da própria situação.

   - Certo.. - O atendente preferiu só concordar, terminando de registrar a compra. - Onze e vinte e cinco.

   - Um momento.

   Adrien começou a mexer nos bolsos a caça da sua carteira, não recordando-se onde a colocara. No bolso direito o seu celular e o seu Travelcard, no bolso esquerdo um papel que uma garota lhe deu com o telefone dela - e que a si não ligaria, óbvio. Atrapalhou-se tentando mexer no bolso de trás, usando a mão acorrentada para isso. O puxão fez com que a mão da Marinette fosse contra a sua nádega, criando um som oco quase como de um tapa.

   - Epa, vamos com calma, algumas áreas eu só libero depois do quinto encontro - brincou, fazendo em resposta Marinette puxar a mão dela e, consequentemente, a sua.

   As bochechas dela ganharam um tom rosado, não sentindo-se nada bem com isso, não o tocou de maneira proposital - a culpa foi dele por sair puxando o seu braço como bem entendia, estavam algemados. Não deixou-o continuar a procurar a carteira, enfiando a mão dentro de sua bolsinha para pegar algumas notas, entregando-o ao caixa.

    - Eu pago - disse logo, ainda desconsertada pela situação.

    Não queria aquele gato movendo a sua mão e fazendo brincadeirinhas de mal gosto. Foi um acidente e ele sabia bem disso, desnecessário falar alguma coisa a respeito. Tentaria controlar um pouco mais a situação - mesmo que isso limitasse os movimentos dele. Estava tentando ser legal com ele, ajudá-lo a manter a identidade dele em segredo, mas ele vinha com gracinhas.

   - Fico te devendo então - disse, notando tê-la deixado desconfortável.

    Os dois foram para a lateral do balcão, aguardando só entregarem o lanche. A quietude entre os dois tornou a espera lenta e incomoda. Quando o saco de papel foi entregue, Chat Noir repassou-o para Marinette para que ela guardasse as coisas dela, aguardando a entrega dos sanduiches. Ao recebê-los o garoto logo saiu abrindo os pães, retirando o queijo dele, onde o atendente tentou evitar de olhar a atitude estranha do rapaz.

    - Sou alérgico - justificou-se com a primeira mentira que lhe veio a mente.

   - Podia ter pedido só o queijo - mais fácil do que pedir para dobrarem e depois tirar tudo. O kwami dele gostava de queijo? Chegava a ser engraçado, uma vez que ele era um gato e não um rato..

   - Eles vendem só o queijo? - surpreendeu-se sinceramente, amassando o queijo junto e abaixando a mão, levando-a discretamente para dentro da sua blusa.

   Só porque não estava no painel de promoções não significava que eles não pudessem vender apenas o queijo.. Mas preferiu nem dizer nada a ele, Chat Noir tinha o seu próprio modo de pensar, era melhor deixá-lo continuar desse modo.

   - Vamos aproveitar e ir andando para o antiquário? - Perguntou Marinette, mudando o foco.

   O quanto antes fossem para lá melhor para os dois. Antes de chegarem lá ele poderia se transformar e entrar no local como Chat Noir. Sem falar que o seu dia estava ótimo por ter cruzado com o Adrien mais cedo, não queria arruinar o resto dele só por estar presa junto ao Chat Noir. Era sábado, podia não ter grandes planos, mas normalmente usava o dia para desenhar algumas coisas e confeccioná-las.

   - Mamãe, veja.. Ele está usando um saco na cabeça - um garoto puxou as vestes da mãe, apontando para o casal um tanto curioso, vendo-os seguir para a saída da lanchonete.

   - Não olhe, Jeune.. Não é educado - disse a mãe, vendo o filho tirar as coisas da caixinha do lanche para imitar o outro e colocar a caixa na cabeça. - Deus.. - O que tinha feito para merecer uma criança hiperativa assim?

   Marinette riu observando a cena, já ia comentar algo sobre ele ser um péssimo exemplo quando sentiu um dos sanduiches ser pressionados contra a sua boca. Sufocou por um instante antes de conseguir mordê-lo, segurando o pão e mastigando-o bem. Ele comeria mesmo os hamburgueres? Pensava que depois de pegar o queijo se livraria deles. Olhou-o, onde ele logo ergueu alguns poucos centímetros do saco de papel para comer um também, desviando o olhar de imediato para evitar vê-lo. Não podia descobrir a identidade dele, se descobrisse seria quase que obrigada a contar a ele também quem era e não tinha certeza se seria bom se outras pessoas soubessem que a si era a Ladybug.

  Quando chegaram próximo ao antiquário, Adrien devorou o seu último pedaço de hamburguer, dando os outros dois restantes a Marinette. Plagg já devia estar descansado, quando a si voltasse a ser Chat Noir poderia agir com mais liberdade - e tirar o saco da cabeça, claro. Depois era só acharem um meio de se livrarem da corrente e a si rezar para ela não ter percebido quem a si era.

   - Princesa.. Me acompanha? - Pediu, puxando um pouco a corrente, olhando ao redor e desviando-se do caminho só para encontrar um local que desse para se esconder.

   - Ah, se transformar? Fique à-vontade. Onde quiser, não vou olhar - disse, sorrindo. Finalmente.

   Foi atrás de uma cabine telefônica que Chat Noir conseguiu transformar-se. Marinette fez de tudo para não olhar, mas pode sentir o seu braço mover-se de formas quase bizarras enquanto o Chat Noir executava a sua transformação. O que ele fazia enquanto se transformava? Dançava ballet? Voltou o olhar apenas quando os movimentos cessaram, vendo-o só arrancar o saco de papel da cabeça, abrindo um sorriso radiante.

    - Princesa - cumprimentou-a, estando verdadeiramente aliviado.

   - É bom você-lo novamente, Chat Noir.


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Notas finais do capítulo

Deixem qualquer comentário :(
Amo comentários~
Podem comentar até "bolinho fofo" que eu curto~

E o meu plano era traduzir o nome das habilidades - fazê-las virarem "Cataclisma" e "Encantamento da Sorte", mas hesitei no último momento - então posso ter deixado passar acidentalmente algum nome traduzido.. Também me em manter o chamado da transformação no original, "Transforme moi", mas me pareceu bobo depois.. Então sintam-se livres em lerem como quiserem.