“Vou contar uma história de uma casa, eu diria que se parece com a minha, mas acho que é algo mais antigo, mais próximo da praia, então vou dizer que é semelhante à sua. Dois andares, escada de madeira que range de madrugada por razão nenhuma, janelas intermináveis e a brisa do mar, a mesma razão que te fez escolher essa casa fez com que um jovem casal escolhesse a deles.

O casal ocupou a suíte e o quarto ao final do corredor era o do bebê, mas na primeira noite o casal foi acordado pelo choro do bebê de madrugada, a esposa se levantou e foi até o quarto; ainda deitado o marido escutou a voz da esposa através da babá eletrônica, não demorou muito para ouvi-la cantar.

E ele conseguia imaginá-la perfeitamente, segurando o bebê de 9 meses, sentada na cadeira, o balançando vagarosamente, lutando para ficar acordada, mas ainda cantando. Ele podia ver as bochechas rosadas de seu filho e escutar seu riso enquanto ela cantava.

E a voz para de soar através do aparelho, o marido fecha os olhos imaginando a esposa beijando a testa do bebê e o colocando de volta no confortável berço. O marido já está quase completamente adormecido quando a cama afunda e o braço de sua esposa envolve sua cintura.

Ele sorri.

E novamente seu sono é interrompido com o choro do bebê, ele resmunga que dessa vez ele irá cuidar da criança, que ela continue na cama, mas antes de ouvir uma resposta ou até mesmo antes de se levantar da cama, a esposa volta a cantar, sua voz agradável soando através do aparelho.

E aquela voz soando do quarto do bebê faz com que seu sangue gele, em horror o marido vira o rosto na direção da pessoa que estava ao seu lado, mas é tarde demais.

Sua esposa cantava para o bebê no quarto.

E ele tenta gritar para alertá-los, mas a mão se fecha em seu pescoço e seu último pensamento é sobre a esposa e o bebê”. Sanghyuk termina sua narração com um sorriso, mas Taekwoon não parecia assustado, talvez curioso.

“E o que acontece com a esposa e o bebê? ”. Pergunta mesmo sabendo que aquilo não era uma história real.

“Todos morrem”. Sanghyuk apenas dá de ombros. “A casa é assombrada, outras pessoas que se mudaram dizem ouvir o choro do bebê pelo corredor e as vezes uma canção, também escutam estalos no quarto, ninguém nunca morreu depois do casal, mas ninguém nunca quis ficar mais de uma noite na casa”.

Taekwoon olha para a casa diante deles. Uma casa estranha, era parte do cenário do trabalho em que eles estavam envolvidos, um trabalho de alguns dias, era a primeira vez que Taekwoon dormiria fora de casa, isso o deixava inquieto.

“Você não ficou com medo? Nem um pouco? Nem se pensar que vamos dormir nessa casa velha? ”. Sanghyuk pergunta tentando animar as coisas, Taekwoon estava muito sério e com uma expressão não assustada, não era divertido.

“Não, estou apenas triste”.

“Por quê? ”.

“Por causa do casal e do bebê”.

“É só uma história, não ligue para isso, não vou contar mais histórias de terror então”. Disse segurando sua mão, já arrependido de ter começado.

“É, mas... todos tem uma história e em algum momento ninguém mais vai se lembrar dela”.

Taekwoon foi dormir num quarto gelado e não familiar. Numa casa estranha e cheia de pessoas. Ele se sentia só. Ao fechar os olhos pensou em Ravi, pensou no garoto que tocava piano incrivelmente bem, de como ele sorria e ria, de como ele parecia estar vivo e que toda a situação era ridícula.

Sentiu um aperto no peito. Ele queria voltar para casa, queria voltar para casa e ver alguém que nem deveria estar lá.